Alban critica sinalização de novos aumentos na Selic e defende aprovação do corte de gastos para reduzir dólar
Por Edu Mota, de Brasília
A retomada de um ciclo de forte alta da taxa oficial de juros pelo Banco Central, além de contribuir fortemente com a desaceleração do crescimento econômico, não ajuda efetivamente no controle da inflação. A opinião foi dada pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, durante entrevista para apresentar os dados do relatório Economia Brasileira 2024-2025, divulgado nesta terça-feira (17).
Para o presidente da CNI, a decisão recente do Comitê de Política Monetária, de aumentar em 1% a taxa Selic, prejudica de forma igual o consumo, os investimentos e o desenvolvimento do mercado de trabalho.
“A alta dos juros deve conter o consumo e os investimentos, devido à menor concessão de crédito; mas há outros fatores, como a evolução mais lenta do mercado de trabalho, depois de três anos bastante positivos; e a redução do impulso fiscal, ou seja, as compras dos governos federal, estaduais e municipais”, disse Ricardo Alban.
O documento divulgado pela CNI afirma que o Banco Central vai manter o ciclo de aperto monetário pelo menos até a metade do ano que vem, com redução a partir do segundo semestre. A entidade projeta que a taxa Selic vai fechar 2025 em 12,75%, meio ponto percentual acima do patamar ao fim de 2024.
De acordo com a entidade, devido à redução do crescimento da demanda interna, a indústria deve se expandir em cerca de 2,1% no ano que vem. Já a indústria de transformação tende a subir 2%. Se a expectativa se confirmar, serão dois anos consecutivos de alta do setor, o que não ocorre desde o biênio 2017-2018.
Na entrevista, Ricardo Alban também criticou a sinalização emitida pelo Comitê de Política Monetária, com a divulgação da Ata da última reunião, sobre a possível elevação dos juros nas próximas duas reuniões do colegiado, já em 2025.
"Eu não me lembro, em nenhum momento de reuniões do Copom se especificarem os aumentos das próximas duas reuniões. Eu não me lembro de ter visto isso. E ainda puseram uma especificação alta. Eu sempre vi que era dado que existe um viés de alta, um viés de baixa ou um viés neutro. Essa especificação ajuda na expectativa da inflação e do controle da economia? Eu creio que não", disse Alban.
Além da questão dos juros, durante o lançamento do Relatório, o presidente da CNI falou também a respeito da desvalorização acelerada do real frente ao dólar. Para Ricardo Alban, a alta do dólar deve arrefecer com a aprovação das propostas de contenção de gastos que o governo Lula encaminhou ao Congresso e que estão sendo votadas nesta semana.
"Eu acredito que o dólar deve arrefecer com o andar um pouquinho dos acontecimentos, principalmente com essas medidas para conter os gastos. Elas estão no caminho certo? Elas são suficientes? Provavelmente não. E, provavelmente, ficam menos do que suficientes", colocou Ricardo Alban.
Outra crítica feita pelo presidente da CNI se referiu ao anúncio da isenção do Imposto de Renda para ganhos menores de R$ 5 mil mensais. Para Ricardo Alban, o anúncio de forma conjuntura com os projetos do corte de gastos gerou um equívoco que contaminou os formadores de opinião e gerou impacto no mercado, estimulando movimentos especulativos.
"Eu acho que houve um grande equívoco dentro da nossa leitura, que foi a medida de acompanhamento da medida com relação ao Imposto de Renda, que é um efeito para 2026 e terminou criando mais ruídos de entendimentos do que qualquer outra coisa", concluiu o presidente da CNI, Ricardo Alban.