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Podcast Bengalas: A importância da fisioterapia no cuidado com idosos

Podcast Bengalas: A importância da fisioterapia no cuidado com idosos
Foto: Divulgação
O episódio desta semana do Podcast Bengalas vai debater uma questão essencial no cuidado com idosos: o acompanhamento de fisioterapeutas. Nesta terça-feira (21), na conversa liderada pela consultora em planejamento e desenvolvimento humano Marta Castro, o fisioterapeuta Alan Santos é o convidado, enquanto a jornalista Marília Simões representa o Grupo de Apoio Bengalas - Comunidade de Apoio a Filhos de Pais Idosos. 

Entrevistas

Médico baiano é integrante da pesquisa que usa técnica de edição de genes no combate a anemia falciforme
Foto: Glenn Ramit / Innovative Genomics Institute

O baiano Bruno Solano, médico pesquisador da Fiocruz e especialista em terapia celular, é um dos integrantes de um estudo que busca  alternativas mais eficientes para reduzir custos de um tratamento para pacientes que sofrem com doenças de falciformes no mundo. Trata-se da técnica de edição de genes CRISPR para atacar doenças como a anemia falciforme, condição genética e hereditária que traz complicações graves, com prevalência na população negra. 

 

 

O CRISPR é uma ferramenta que permite editar com precisão o DNA de microorganismos, plantas e animais e fez com que à Jennifer Doudna e Emmanuelle Charpentier fossem vencedoras do Nobel de Química em 2020. 

 

O pesquisador baiano participa à frente do trabalho em um laboratório no IGI (Innovative Genomics Institute), nos Estados Unidos, fundado pela ganhadora do Prêmio Nobel de Química em 2020 Jennifer Doudna. Atualmente, os custos podem chegar a US$ 2 milhões por paciente.

 

Segundo o especialista, a pesquisa apresentou “resultados muito encorajadores” no combate a condição genética e hereditária, que atinge de 60 a 100 mil pessoas no Brasil. No Distrito Federal, Minas Gerais e Bahia (um caso a cada 650 nascidos vivos) como locais com alta incidência. 


 

“Essa tecnologia nova que a gente chama de CRISPR é um método novo que a gente consegue ir no ponto específico do DNA e fazer alterações e correções  de mutações e isso tem uma implicação direta em doenças genéticas como o caso da anemia falciforme. É uma técnica que está completando dez anos agora e a gente tem uma série de evoluções para que essa tecnologia seja aplicada a tratamento de doenças humanas como a anemia falciforme”, disse. 

 

 

“Aqui nos Estados Unidos já têm estudos avançados com o tratamento de mais de 70 pacientes com essa doença, com resultados muito encorajadores em termos de segurança do procedimento e da eficácia também no controle dos sintomas e em alguns casos até em cura funcional. Então são muito animadores os resultados, então nos próximos meses vamos ver uma aprovação da agência americana para comercialização”, explicou.   

 

Confira entrevista completa:  

 

Fatores de personalidade podem impactar no desenvolvimento de transtornos alimentares
Foto: Reprodução / Acervo Pessoal

Dados da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) indicam que cerca de 70 milhões de pessoas no mundo sejam afetadas por algum transtorno alimentar, incluindo anorexia, bulimia, compulsão alimentar e outros. 

 

Com o objetivo de chamar a atenção da população acerca destas condições, o 2 de junho foi formalizado como o Dia Mundial de Conscientização sobre os Transtornos Alimentares.

 

No estado, iniciativas como a do Grupo de Atuação em Transtornos Alimentares da Bahia (GATAB), formado por profissionais que atuam na área, reforçam a causa e prestam apoio, através da atenção a pacientes e familiares e na pesquisa desse grupo de transtornos.

 

Uma das integrantes é a psiquiatra Patrícia Lemos, que concedeu entrevista ao Bahia Notícias. Segundo ela, uma série de situações podem impactar no desenvolvimento destas condições, inclusive fatores de personalidade. Portanto, o tratamento também deve considerar o acompanhamento em diversas esferas. 

 

"Quando a gente fala de tratamento interdisciplinar, estamos falando de acompanhamento com, no mínimo, psiquiatra especializado, psicólogo e um nutricionista", pontuou a médica durante a conversa.

 

Ela ainda comentou acerca do risco de óbito, características do tratamento e locais de atendimento especializado em Salvador, além da prevalência e dos sintomas mais comuns.

 

Confira a entrevista completa: 

Assintomático, glaucoma é mais agressivo na população negra e pode ser prevenido de forma facilitada
Foto: Priscila Melo / BN

Estima-se que 1% a 2% da população global viva com o glaucoma nos dias atuais. No caso da população brasileira, a estimativa é de que 900 mil pessoas sejam portadoras da doença. Para conscientizar a sociedade sobre a necessidade de prevenção desta condição, é comemorado nesta sexta-feira (26) o Dia Nacional de Combate ao Glaucoma.

 

Para falar sobre o assunto, o Bahia Notícias convidou a oftalmologista Aline Uzel, da rede pública da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Salvador. Especialista no assunto, a profissional evidenciou a importância do acompanhamento contínuo e esclareceu quais são os fatores de risco para o desenvolvimento do glaucoma.

 

"Muita gente confunde achando que glaucoma é igual a pressão ocular aumentada, mas a gente tem alguns tipos de glaucoma, inclusive existe o glaucoma de pressão normal, em que a pressão está teoricamente normal, mas pra aquele determinado paciente ela pode estar sendo elevada e danificar o nervo ótico", esclareceu a médica sobre os mitos em torno do problema.

 

Segundo ela, a resolução da questão pode estar a poucos metros de casa, uma vez que os postos de saúde servem como porta de entrada para a realização de consultas preventivas e também do tratamento. "Para ter acesso, o paciente pode ir no posto de saúde e pedir para marcar um oftalmologista. Aí ele é direcionado", exemplificou a entrevistada.

 

Queria que a senhora me dissesse de forma sucinta o que, de fato, é o glaucoma.
O glaucoma é uma neuropatia ótica em que o maior fator de risco é o aumento da pressão intraocular. É uma alteração que dá no nervo e pode levar a cegueira, exatamente pela degeneração das células do nervo ótico. E, como eu disse anteriormente, a pressão intraocular é o maior fator de risco. 

 

Muita gente confunde achando que glaucoma é igual a pressão ocular aumentada, mas a gente tem alguns tipos de glaucoma, inclusive existe o glaucoma de pressão normal, em que a pressão está teoricamente normal, mas pra aquele determinado paciente ela pode estar sendo elevada e danificar o nervo ótico.

 

Qual a incidência do glaucoma na população mundial e na população brasileira? Temos esses dados?
Dados e números talvez eu não consiga te dar agora, mas, para você ter uma noção, é a patologia que é a maior causa de cegueira irreversível do mundo. Na Bahia a gente tem uma peculiaridade: o fato de ser um estado com a raça negra um tanto quanto predominante. E nos negros o glaucoma é muito mais agressivo. Então se não tiver controle, uma boa prevenção, a gente acaba tendo incidência de cegueira muito grande.

 

Existem doenças que atenuam essa condição ou outros fatores de risco?
Existem alguns fatores de risco. A pressão intraocular elevada, como eu falei, é um dos maiores fatores de risco, mas tem ainda o fator raça, a presença da miopia - que apesar de ser um fator de risco menor, é uma predisposição, porque o olho do míope é mais frágil -, o histórico familiar e há também o fator idade, porque existe um risco maior após os 40 anos.

 

Se a senhora pudesse indicar medidas de prevenção, quais seriam?
Vá ao oftalmologista! Parece um jargão, mas é a maneira mais fácil de poder prevenir o glaucoma. Ele não tem cura. É uma doença que tem controle, mas o maior risco é que ela é silenciosa. Então, o olho não dói, o olho não coça, o olho não arde, a pressão começa a aumentar, o paciente não sente e o nervo ótico está sendo danificado. O paciente vai perdendo a visão periférica, inicialmente, por isso que não percebe, vai diminuindo e ele só vai se dar conta quando já está tropeçando e se batendo nas coisas. A consulta regular ao oftalmologista é a maior prevenção que a gente pode fazer ao glaucoma. Porque no consultório a gente vai medir sua pressão, a gente vai ver seu fundo de olho, vai ver seu nervo ótico com detalhes, além de colher toda essa história. 

 

Se tratando de acompanhamento oftalmológico, o que seria uma frequência regular?
Quando o paciente é jovem, até 39 anos, uma vez por ano está tranquilo. Como sou especialista em glaucoma, eu aperto mais um pouquinho e aconselho que, após os quarenta ou se tiver história familiar, faça consulta a cada 6 meses.

 

Os instrumentos de diagnóstico são acessíveis? Existe uma rede específica de atenção ao glaucoma, por exemplo?
Temos uma rede do SUS que dá esse suporte. No estado há o Hospital Roberto Santos, no âmbito federal existe o Hospital das Clínicas e a nível municipal a gente tem alguns postos de saúde com o atendimento oftalmológico, além do Multicentro Carlos Gomes, do Multicentro do Vale das Pedrinhas e várias clínicas parceiras que são credenciadas. Para ter acesso, o paciente pode ir no posto de saúde e pedir para marcar um oftalmologista. Aí ele é direcionado. Além dos que citei, Salvador tem hospitais filantrópicos como o Santa Luzia, o Humberto Castro Lima e o Santa Izabel.

 

Como ele é identificado por profissionais oftalmologistas? Há algum tipo de exame?
Bom, quando a gente chega na consulta básica do oftalmologista, a gente vai ver a visão do paciente e colher a história. A anamnese é uma coisa muito importante pra diagnóstico de qualquer patologia. Depois que a gente faz a parte do ajuste da visão, medimos a pressão dele, já partimos para a primeira parte que nos direciona para o glaucoma, então aí vemos o fundo do olho. Se é um paciente que está com a pressão elevada ou tem o nervo ótico suspeito, encaminhamos para os exames específicos de glaucoma, que são: campo visual, retnografia, paquimetria, OCT, gonioscopia. E tudo isso está disponível na rede pública de saúde. 

 

Recapitulando o que conversamos: para além da diminuição do campo de visão, não há sinais, correto? 
Esses sintomas [da diminuição do campo de visão] só aparecem quando já está muito grave, porque não há sinal algum. O risco do glaucoma levar a cegueira é exatamente o fato dele ser assintomático. Para o paciente chegar nesse ponto, ele tem que ter ficado muito tempo sem ir no oftalmologista. Muitas vezes a gente vê pacientes indo em optometristas, principalmente no interior e em bairros de periferia, com técnicos que não são médicos. [É necessário lembrar que] o exame oftalmológico é um ato médico e esses procedimentos estão sendo realizados de maneira ilegal. Então, o pessoal vai, faz só o exame de óculos, passa na ótica e compra, sem o devido acompanhamento. Com isso ele não está vendo o fundo do olho, acha que está sendo examinado e na verdade não está fazendo um exame correto.


 
Quando diagnosticado, o glaucoma é enquadrado em um tipo, não é?
Vou te falar os mais comuns. O glaucoma crônico de ângulo aberto é o mais comum e o que a gente faz agora a campanha de prevenção de forma ativa. Tem o glaucoma de ângulo estreito, que são aqueles que por ter um ângulo mais estreito, por algum motivo a pupila dilata, fecha o ângulo e tem uma crise aguda de glaucoma. Tem o glaucoma congênito também, que é quando a criança já nasce com. Temos o glaucoma infantil e juvenil, que é quando o paciente, na fase da infância ou na adolescência, vem a desenvolver a doença, mas que não é tão comum. Tem o pigmentar, o secundário, o corticogênico... temos então alguns tipos e o ideal é que a gente verifique mesmo no consultório.

 

Como é feito o tratamento?
Hoje a gente inicia, a depender do paciente, com a aplicação do laser - que tem tido um bom resultado para glaucoma inicial a moderado e hipertensos oculares - e partindo daí a gente vai para o medicamento. Mas, como todo tratamento clínico, se não há uma resposta, passamos para a cirurgia. Dentro da cirurgia a gente tem algumas opções, a exemplo da colocação de dispositivos e da trabeculectomia. Enfim, nós temos uma infinidade de procedimentos que podem dar condições ao paciente.

Diagnóstico que é preciso: Olivette Borba, coordenadora do Lacen, fala sobre ações do Fique Sabendo
Foto: Jefferson Peixoto / Secom PMS

Responsável por ações de orientação e detecção de infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s) como HIV, Sífilis e Hepatites no Carnaval e durante outras festividades em Salvador, a coordenadora do Laboratório Central do município, Olivette Borba, acompanha de perto os índices de positividade na capital baiana.

 

Segundo ela, em entrevista ao Bahia Notícias, a última edição da folia da soteropolitana apresentou uma estabilidade no quantitativo de pessoas que descobriram, através do projeto Fique Sabendo, viver com o vírus da imunodeficiência humana (HIV) e um aumento no número de pacientes diagnosticados com sífilis.

 

A situação, ressaltou a profissional, se deve ao desinteresse da população acerca dos serviços disponibilizados pela rede pública durante todo o ano. "Na nossa rede temos mais de 150 unidades que fazem teste para ISTs e que a pessoa pode simplesmente chegar lá e pedir para fazer o teste. A gente sente essa falta de interesse", comentou.

 

Para ela, o surgimento de novos métodos de prevenção como o esquema PrEP e a PEP surgem como novos aliados, de modo que cada vez mais uma quantidade maior de pessoas tem aderido a tais fármacos. 

 

"A gente mudou o questionário do Carnaval e vimos que tinha pacientes fazendo PrEP e tinha gente que desejava fazer. E isso também foi uma orientação que a gente fez", salientou. 

 

Queria que você me explicasse o que é o "Fique Sabendo" e em quais ocasiões o programa é executado.

Ele envolve, além da testagem de  várias ISTs (HIV, sífilis, hepatite B, hepatite C, etc), orientações acerca da prevenção delas. Então, no projeto, a gente tem também o aconselhamento. Toda pessoa, mesmo estando negativa, é aconselhada. Nesse momento ela tira dúvidas, fala sobre as suas rotinas sexuais e outras coisas da sua vida. Há uns cinco anos nós entramos com a parte do tratamento para sífilis no próprio momento da detecção, com a aplicação da primeira dose da penicilina e o encaminhamento para nossos serviços de saúde. O Fique Sabendo, além do Carnaval, é desenvolvido em algumas ocasiões aqui na cidade. Na Parada LGBT, por exemplo, estamos sempre presentes, além  de ações em dezembro, porque é o mês de prevenção e combate ao HIV. Distribuímos também preservativos e ensinamos a usá-los, porque muita gente não conhece o modelo interno, e produzimos dados. No Carnaval é onde temos uma maior adesão. É quando a gente atende o maior número de pessoas e com isso a gente consegue obter alguns dados, a exemplo do tipo de público, o índice de positividade que a gente tem na nossa cidade e até mesmo a prevalência.

 

Quando o projeto surge e a partir de qual política pública ele se origina?

Temos ele em Salvador há mais de dez anos. Sendo que houve um intervalo de dois anos que a gente não utilizou. Durante a época da Copa do Mundo de 2014 foi um sucesso, fizemos inclusive uma parceria com a prefeitura de Aracaju, que veio para aqui para fazer com a gente, já que não houve jogos lá. Desde lá temos acompanhado o cenário, a positividade e a gente tem visto que para sífilis os índices estão crescendo. Por isso é tão importante esse diagnóstico, né? 

 

Quanto ao último Carnaval, qual foi o resultado dessa ação de vocês nos circuitos e quais públicos vocês identificaram durante o período? 

O módulo do Fique Sabendo na Barra fica bem no local mais frequentado pelo público LGBT, então foi o público que mais procurou o serviço lá. O da Praça da Piedade não, a gente atendeu diversos públicos. No entanto, o projeto surge como uma oportunidade para um público que dificilmente procura o serviço de saúde, como pessoas em situação de rua, possa ser acolhido. O índice de positividade para HIV esse ano continua na mesma média de 2020, que foi de 2,24. Em 2020 foi 2,5. Então está na mesma média, mas a gente ainda considera alto. A gente pôde perceber que algumas pessoas que iam lá fazer os exames já conviviam sabidamente com o HIV, já estavam fazendo tratamento e foram lá para verificar as outras doenças. Algumas pessoas que procuraram a gente que eram sabidamente positivas disseram ter descoberto a doença lá, em anos anteriores da ação. Isso dá um certo orgulho de estar fazendo esse serviço. Com relação à sífilis, a gente teve um aumento de mais de dois pontos percentuais, quando comparado a 2020. Esse ano a gente teve 13% de positividade. Isso daí é o que mais me chama a atenção. 

 

O que vocês, enquanto Laboratório Central, identificam com relação a esse aumento? Ao que se deve?

Acredito que seja pela falta de tratamento. As pessoas não buscam o serviço, que é gratuito, ofertado para todas as pessoas pelo SUS. Na nossa rede temos mais de 150 unidades que fazem teste para ISTs e que a pessoa pode simplesmente chegar lá e pedir para fazer o teste. A gente sente essa falta de interesse. Chegamos a ficar felizes que durante o Carnaval quem mais procura o Fique Sabendo é o público masculino, mas no restante do ano é esse mesmo público que foge dos nossos serviços. Por isso a gente faz atividades como o Sábado do Homem, que sempre tem testagem para IST, porque a gente entende que talvez seja porque estejam trabalhando e não vão até o local.

 

Me fala um pouco sobre os testes que vocês têm disponíveis?

No Fique Sabendo a gente só trabalha com teste rápido, né? Existem vários fluxos de diagnóstico de HIV. E um deles é através do teste rápido, onde você pode fazer o teste com duas marcas diferentes. Os outros são testes de triagem, mas que têm uma especificidade de mais de 90%. 

 

Uma vez que a pessoa é diagnosticada com IST, qual o fluxo que ela segue para que possa fazer o tratamento? 

No Fique Sabendo, a partir de 2015, a gente teve um ganho muito considerável, porque a gente ficava com aquele dado do paciente positivo, fazia busca ativa com as pessoas, mas achávamos isso insuficiente, aí a gente resolveu marcar consulta lá mesmo, no local da testagem. Então a gente protege a agenda dos médicos, pega algumas consultas dos médicos da nossa rede especializada ou de algum prestador que a gente tenha para atender e lá no Fique Sabendo mesmo a pessoa que apresenta resultado positivo, tanto para hepatite B ou C, quanto para HIV, já sai com sua consulta marcada. 

 

E quem é diagnosticado com sífilis já recebe ali mesmo a penicilina, não é?

Isso. Se a pessoa desejar pode iniciar o tratamento lá, com a primeira dose da penicilina. 

 

A gente tem visto nos últimos anos o surgimento de alguns métodos de prevenção, inclusive com a utilização de antirretrovirais como a PEP e o esquema PrEP. Vocês percebem a influência desses fármacos na redução de resultados positivos?

Acho que as pessoas, estão sabendo cada vez mais desses esquemas PEP e PrEP. A gente mudou o questionário do Carnaval e vimos que tinha pacientes fazendo PrEP e tinha gente que desejava fazer. E isso também foi uma orientação que a gente fez. 

"Ele quis tirar as pastas da Saúde e da Educação de escolhas políticas", diz Ana Paula Matos sobre ida para pasta
Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias

Pouco tempo antes de completar dois meses à frente da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a vice-prefeita Ana Paula Matos (PDT) ainda comenta sobre sua indicação para a pasta.

 

Segundo ela, a escolha do prefeito Bruno Reis (União) aconteceu com base numa perspectiva que considerasse a nomeação de um quadro técnico - assim como foi para a Secretaria Municipal da Educação (SMED).

 

"Ele disse que ia buscar os técnicos mais experimentados, que tinham dado entregas e que tinham um perfil com cada pasta", afirma a pedetista durante conversa com o Bahia Notícias.

 

Ligada a pautas sociais, Ana Paula é administradora, formada em Direito, funcionária de carreira da Petrobras e também já exerceu a função de professora de cursos de graduação e pós-graduação e foi a convidada de março para um bate-papo sobre os desafios da gestão.

 

Ao site, ela conta que seu esforço tem sido em dar respostas para o município que sejam pensadas pela equipe que lhe auxilia e pelos usuários que utilizam o serviço público de saúde municipal. Nesse processo, seu maiores aliados têm sido o diálogo e a escuta.

 

"Estou impressionada positivamante com a capacidade dessa minha equipe, mas, sobretudo, tenho consciência de que a gente pode melhorar em diversos pontos. E eles tambêm têm", desenvolve Matos.

 

Os três anos de pandemia devem agora servir como um parâmetro de mudança. Se ao longo deste tempo a atenção da SMS se deu na resolução da crise sanitária, na emergência, agora deverá ser numa atenção preventiva.

 

"Isso significa que na Diretoria de Atenção à Saúde eu tenha que dividir a atenção primária, onde estão as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidades de Saúde da Família (USF), com a atenção especializada, onde eu tenho alta e média complexidade, urgência e emergência", exemplifica, ao tratar da necessidade de reorganização da secretaria.

 

A primeira metodologia aplicada por ela foi um mapeamento da rede, através de um sistema, com o diagnóstico da estrutura física das unidades, aspectos relacionados aos recursos humanos empreendidos e outros detalhes que possibilitem uma compreensão das deficiências e potencialidades dos equipamentos de saúde.

 

A implementação deste esforço, explica a vice-prefeita, fará com que a administração possa ter em um segundo momento informações sobre a qualidade do serviço prestado. "Se já está bom, tem que ser ótimo", defende ela.

 

Nessa chegada, as tratativas com o governo do estado - apesar das diferenças político-partidárias - não têm sido um impeditivo. "A secretária Roberta [Santana] tem nos ajudado na regulação de pacientes, em algumas estratégias nas diversas áreas, inclusive na Vigilância Sanitária", revela.

 

No decorrer dos mais de trinta minutos de conversa, a titular fala sobre a criação da política municipal para distribuição de cannabis medicinal, discorreu acerca do desafio das filas de atendimentos especializados e cirurgias eletivas que aumentaram durante a pandemia e esclareceu alguns pontos sobre seu futuro na política.

 

Confira a entrevista completa aqui: 

Membra da transição do governo e nova titular da Sesab, Roberta Santana faz diagnóstico da saúde na Bahia
Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

Administradora por formação, a secretária de Saúde da Bahia, Roberta Santana, entende muito das questões técnicas relacionadas ao órgão estadual de gestão da saúde que assumiu no início do mês enquanto titular e que já integra a equipe desde 2021.

 

Baiana de Feira de Santana, Santana já foi chefe de gabinete da pasta durante o mandato da médica Adélia Pinheiro e conduziu neste intervalo a diretoria-geral no enfrentamento da pandemia causada pela Covid-19. 

 

Durante este período, atuou reorganização da rede de assistência à saúde, com a implantação de estrutura e reforço nas unidades hospitalares para assegurar o atendimento à população.

 


Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

 

Convidada pessoalmente pelo governador Jerônimo Rodrigues (PT), ela conta essa atribuição se deu por conta da sua trajetória como servidora, com passagens por diferentes pastas, como a Embasa, a Companhia de Engenharia Ambiental da Bahia (Cerb) e a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano (Sedur). 

 

Também estão no seu currículo a coordenação da presidência da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) e a cadeita de diretora-geral da Secretaria Estadual da Educação (SEC), onde atuou diretamente com o atual chefe do Executivo baiano.

 

"Acho que fiz uma trajetória de degraus. Acho que é importante a gente passar um pouco do operacional para depois chegar em um nível mais estratégico. Acho que são etapas", definiu a entrevistada.

 


Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

 

Em sua primeira entrevista para o Bahia Notícias, Roberta Santana falou sobre potencialidades, desafios e até mesmo gargalos na área que agora assume, respondeu sobre assuntos que dizem respeito ao cenário que encontra, mas também como pensa o futuro. 

 

Para ela, sua nomeação corresponde a uma representatividade feminina no governo e se configura como seu maior desafio profissional. Apesar disso garantiu que irá, ao longo do tempo que estiver na cadeira, trabalhar "com muita responsabilidade, muito afinco, muito compromisso e muito amor".

 

Confira a entrevista completa: 

"Trabalhadores e gestores não têm informação com esse olhar da diversidade racial", considera coordenadora do CTESPN, Ubiraci Matias
Foto: Leonardo Rattes / GOVBA

Há quatro décadas na Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), Ubiraci Matias acompanhou de perto todo o percurso do Sistema Único de Saúde (SUS), desde a sua construção, com 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986, até os dias atuais, em que novos desafios estão sendo postos aos usuários, autoridades e demais partes envolvidas. 

 

Lotada na Diretoria de Gestão do Cuidado (DGC) da secretaria, é da equipe que integra a responsabilidade pela coordenação de processos de formulação, implantação, implementação e avaliação de políticas e programas estaduais de saúde que tenham como finalidade a qualificação e a ampliação do acesso à saúde, tendo em vista as chamadas linhas de cuidado.

 

Uma dessas linhas é da saúde da população negra, política de atenção que nasce da luta dos movimentos sociais aos quais a própria Ubiraci teve intensa participação, sendo ela uma das ativistas da delegação brasileira que foi à Conferência de Durban - encontro realizado em 2001, na África do Sul, que culminou na formalização de uma agenda mundial de combate ao racismo e todas as formas de discriminação racial.

 


Foto: Leonardo Rattes / GOVBA

 

Soteropolitana do Engenho Velho de Brotas, seu primeiro contato com a área se deu antes mesmo de fazer parte da equipe direta da pasta, quando era vinculada ao Centro de Referência Estadual de Atenção a Saúde do Idoso (Creasi), e fez movimentações por uma maior representatividade de pessoas negras nas fotografias de homens e mulheres da terceira idade que eram expostas nas dependências da unidade. "Não vi fotografias de pessoas negras ali. Só via idosos brancos", pontuou. 

 

Ela, que também é coordenadora de cursos na Escola de Saúde Pública da Bahia (ESPBA) e do Comitê Técnico Estadual de Saúde da População Negra (CTESPN), conta que foi a partir dali que surgiu o convite para integrar o quadro de servidoras da DGC, a fim de colocar em prática as diretrizes da política de atenção à saúde da população negra, que naquele momento estava sendo gestada. "Precisavam de alguém que tivesse expertise nessa área", relembrou a técnica em entrevista ao Bahia Notícias.

 

"Eu me vejo, exatamente, a partir dos meus preceitos ideológicos de que nós não somos iguais. Sou muito pautada na socialização do marxismo, então isso traz para mim uma reflexão muito grande de que o sujeito tem que ser tratado dentro das suas particularidades", contou, dando conta que foi devido a isso que foi convocada para a missão que executa hoje.

 

Quando conversou com a reportagem, em novembro, quando nos recebeu na sede da Sesab, estava sendo comemorado o mês da consciência negra, que nas palavras dela deve servir como um "momento de mobilização", a fim de diminuir a desigualdade entre pessoas negras e brancas, em detrimento de qualquer visão folclórica.

 

Para ela, alguns parâmetros de mudança e vias de ação são possíveis no contexto de racismo institucional e estrutural, um deles é a ênfase ao conhecimento, através de atividades de educação permanente de gestores e servidores no intuito de prepará-los para a execução de políticas públicas e no atendimento da população, com suas particularidades e complexidades. 

 

"A maioria dos trabalhadores e gestores não têm informação com esse olhar da diversidade racial que existe no estado da Bahia e no Brasil. Eles estão ocupados com questões extremamente técnicas", classificou Matias.

 


Foto: Leonardo Rattes / GOVBA

 

Como as políticas tocadas pela DGC se inserem no contexto da universalização da saúde pública brasileira?

No SUS, quando a gente constitui 8ª Conferência [Nacional] de Saúde, a gente debate a questão da equidade muito focada, objetivamente, no indígena e na população negra. Isso vem junto com o Sistema Único de Saúde [SUS]. No decorrer do tempo, na regulamentação, essa equidade foi deixada de lado e passou-se a trabalhar muito a intersetorialidade, a compartimentação do conhecimento, a questão da doença, e o SUS foi tomando uma dimensão de visão "hospitalocêntrica" que não é a base do sistema de saúde. Ele é pautado na atenção básica, que é onde se faz a prevenção. 

 

É com a regulamentação que há uma divisão federativa e traz esse desenho da responsabilidade federativa, que é o governo federal, o governo estadual e governo municipal. Com essa visão tripartite, os estados ficam responsáveis pela alta complexidade e a atenção básica fica com os municípios. Foi nesse contexto que eu vivi e acho que é por aí que a gente precisa estar, na atenção básica e na gestão do cuidado, para melhoria da qualidade de atendimento a essa população que historicamente foi excluída. E aí entra não só a população negra, é a indígena, a cigana, os que estão privados de liberdade, a população LGBTQIA+, as pessoas em situação de rua e também todas as comunidades tradicionais. 

 

Nós temos uma lei nacional que estratifica as comunidades tradicionais de terreiro não só como religião, mas sim como um povo tradicional, que está na sua essência a sua religiosidade. Temos essa particularidade na saúde que trabalhamos com uma ideia de territorialização - que é uma outra política que no Brasil só a Bahia parece ter mantido.


Em 2001 você foi à Durban. Agora, mais de duas décadas depois, como você observa a questão racial no país?

Sim. Fiquei lá durante trinta dias, justamente para fazer esse movimento a nível internacional e, de uma certa forma, dizer que existe racismo no Brasil, porque até ali não tínhamos essa declaração do governo. Da mesma maneira, agora, há uma negação disso. Ele continua racista, apesar de ter declarado e assinado o resultado da conferência. 

 

A Bahia, por exemplo, é uma signatária da Década Internacional do Afrodescendente, até 2024. Quando se faz uma atividade pela Sepromi e as unidades - que são as secretarias - têm que fazer as ações de qualificação para seus usuários, seus funcionários em relação a questão racial é porque o estado assinou esse compromisso. Não é um folclore, a gente deixou e ser um. 

 

O Novembro Negro não pode ser tratado como um folclore. É um momento de mobilização para que a gente possa diminuir a desigualdade entre negros e brancos que ainda é muito forte. 

 

É perceptível a existência de um racismo estrutural em nossa sociedade. Como é que ele influencia o pensamento gestor no âmbito da saúde pública?

Ainda é muito incipiente a visão de gestão com relação ao combate ao racismo institucional e estrutural. Eu parto do princípio de que há uma desobrigação, mas também uma falta de informação. A maioria dos trabalhadores e gestores não têm informação com esse olhar da diversidade racial que existe no estado da Bahia e no Brasil. Eles estão ocupados com questões extremamente técnicas. Isso se dá porque na formação de uma escola, de uma faculdade, de enfermagem, medicina ou de qualquer profissional de saúde, até mesmo do professor, não teve a questão racial como instrumento de transformação pedagógica.

 

A política de educação permanente, que é obrigação do gestor, tem que ser implementada tendo em seu eixo principal o racismo estrutural e institucional para reforçar as políticas públicas. Porque se você não colocar técnicos com conhecimento para gerenciar essa política, fica difícil avançar.


Considerando agora esse atendimento na ponta: o racismo, de alguma maneira, cria barreiras que impedem o acesso ao sistema de saúde pública?

Existe um despreparo de profissionais, principalmente no quesito raça-cor. É obrigação do profissional que está na ponta, no posto de saúde, pegar a inscrição da pessoa que será atendida e estar preparado par interpelar o usuário no que diz respeito a sua cor e estar preparado também para a ignorância daquele usuário, porque na maioria das vezes ele não tem informação sobre isso. Em algumas situações perguntar ao paciente como ele se declara chega a ser uma ofensa, em outras a pessoa que está atendendo se omite por ter uma religião contrária e marca no formulário como "ignorado". Isso dificulta a destinação de recursos, de botar dinheiro na política de saúde da população negra. E acaba impactando no planejamento financeiro, de ações, de uma atenção básica mais qualificada. Consequentemente, se você tem essa ponta mais preparada, vai ter uma alta e média complexidade mais robusta. 

 

Em todo o Brasil, temos uma Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN). Ela foi criada em 2006 e representa um marco nesse cuidado para um público específico e na mitigação das vulnerabilidades envolvidas. Qual o impacto dessa política em um território como a Bahia?

Impactou muito e continua a impactar. Ela tem se mantido porque gestores e trabalhadores precisam ter conhecimento e compreendam o que é essa política. Meu desejo é que cada unidade de saúde, tanto do município quanto do estado, tenha um núcleo de educação permanente.

 

A PNSIPN nasce de um esforço da sociedade civil organizada, de gestores e outras pessoas ligadas a essa agenda da saúde. Qual o papel dessas iniciativas em prol dessa política ainda hoje, depois da implementação?

Nosso papel até janeiro é resistir. Temos que resistir até a posse do presidente Lula, principalmente os movimentos sociais. Todo o povo brasileiro que quer uma democracia, que quer reestruturar o país que perdemos nesses últimos quatro anos, vai ter que resistir. E de várias formas. Se unindo, principalmente, mesmo na diversidade de opinião. 


Quais são as ações ou os mecanismos disponíveis para a promoção da saúde da população negra?

A primeira coisa que eu disse e vou repetir, porque para mim é fundamental, é a formação do trabalhador. Se não fizer isso não existe ação que possa ter impacto. Você tem que ter qualificação. Aí entra também a oferta de emprego e renda, educação sanitária, entre outras políticas públicas de melhoria de vida para essa população que historicamente está excluída. 

 

É necessária a estruturação de políticas da atenção básica em todos os níveis, dialogando intersetorialmente de forma integrada com os programas. Nesse contexto existe a constituição de legislações, como o programa de combate ao racismo institucional, a implantação dele, a política de saúde da população negra, a política de assistência religiosa e o plano plurianual. 

 

No ano de 2019 a gente conseguiu, por exemplo, no estado da Bahia, instituir no quinto compromisso [do plano plurianual] a promoção da equidade e humanização no cuidado da saúde da população historicamente excluída e estigmatizada, tendo como iniciativa apoiar tecnicamente os municípios no desenvolvimento de ações de atenção à saúde da população negra. Quando a gente chega em 2022 o governo estabelece, no seu terceiro compromisso do seu programa de saúde, potencializar a Rede de Atenção a Saúde (RAS), porque sem ela a gente não vai conseguir resolver a questão da regulação, que é um problema para a Sesab. 

 

Então, o terceiro compromisso ele avança. E avança de tal maneira que quer aprimorar as ações. E estamos nesse processo, através da política de anemia falciforme, da política de pessoas com albinismo - duas doenças prevalentes na população negra -, mas com muita dificuldade porque a gente depende dos municípios para que eles deem assistência. 

 

No início de 2020, 784 profissionais do SUS foram qualificados na atenção à saúde rural. Os profissionais que participaram daquela formação passaram a ver os usuários de uma maneira diferente. Outros 1267 profissionais de saúde receberam capacitação na atenção da saúde da população negra. Não é pouca coisa para a estrutura que a gente tem nos municípios, ainda incipiente na compreensão da educação permanente e do racismo institucional.


Muito se fala sobre a anemia falciforme, sobre a diabetes tipo 2 e até mesmo a hipertensão, mas as mulheres negras são as maiores vítimas de violência obstétrica. De qual maneira a política de saúde para a população negra dá conta de tal dimensão, relacionada com o processo de assistência médica?

Tem uma rede de parto e puerpério. Dentro dela a gente tem aprimorado também a qualificação dos trabalhadores e trabalhadores. Existem propostas objetivas, junto com a estimulação do parto normal. Temos uma área técnica dentro da DGC que trabalha com a saúde da mulher e com o parto e puerpério, no controle das maternidades, que tem feito muita conscientização.


No âmbito da saúde da população negra, como é que a estratégia do estado tem dado atenção aos agravos relacionados com a saúde mental?
O município é quem é responsável pela atenção básica da doença mental. O estado é responsável pelas clínicas de tratamento e emergência. O Hospital Especializado Juliano Moreira e as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) são alguns dos equipamentos disponíveis. O município tem que estar preparado e ele recebe dinheiro do governo estadual e federal para isso, quando ele se torna de municipalização plena.

 

A população carcerária no brasileira, atualmente, é composta por aproximadamente 820,6 mil pessoas. Deste total, 67,4% são negras. E o cuidado com a população carcerária, como é que fica aqui na Bahia?

Temos uma área técnica. Estamos em um processo de transição, que está demorando, houve mudança agora, que é para a Sesab tomar conta da saúde dentro do sistema carcerário. Até então, essa é responsabilidade da Seap [Secretaria de Administração Penitenciária]. 

 

Como está a implementação da PNSIPIN entre os 417 municípios da Bahia?

Só um [município implementou a política]. Falo com tranquilidade. É Lauro de Freitas.

Avanços na medicina possibilitam aos portadores de psoríase uma vida sem a doença
Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

Há mais de 40 anos trabalhando em uma das duas unidades de referência no tratamento de pacientes com psoríase da capital baiana, a médica Vitória Rêgo já viu de perto muitas histórias e comprovações de que a doença, carregada de estigmas e implicações na qualidade de vida, pode sim não ser uma realidade cotidiana na vida dos pacientes.

 

"É uma doença que muitas vezes precisa de um acompanhamento multidisciplinar. Assim, a gente fala que atualmente o paciente não precisa viver mais com psoríase. Nossa missão é que a gente possa controlar naquele paciente a doença", explica ao Bahia Notícias.

 

Responsável pelo Serviço de Dermatologia do Ambulatório do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (HUPES), unidade pública da capital baiana ligada ao Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), a profissional conta que viu de perto "o quanto evoluiu o tratamento da psoríase". "Antes não tinha nada e hoje o quanto a gente pode fazer pelo doente".

 

O setor comandado por Vitória é ligado à Universidade Federal da Bahia (UFBA), instituição de ensino onde Vitória Rego leciona e lidera ações de pesquisa e extensão na área da dermatologia.

 

No Brasil, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), cerca de 3 milhões de pessoas vivem com a doença inflamatória, que pode provocar lesões em diversas partes do corpo, como mãos, couro cabeludo, pés e unhas. Em todo mundo, estima-se que 190 milhões de indivíduos tenham alguma forma da psoríase.

 

Ela não tem cura, como afirma a entrevistada, mas o acompanhamento multidisciplinar pode fazer com que os sinais desapareçam e as implicações negativas na qualidade de vida e nas relações sociais, causadas pelo estigma, sejam reduzidas. A psoríase é de origem genética e pode acometer todos os públicos, sendo mais comum entre os 20 e 40 anos e entre 50 e 70 anos.

 

Estima-se que apenas 5% dos pacientes acometidos esteja em tratamento. Para Vitória, o Dia Mundial e Nacional da Psoríase, celebrado neste sábado (30) é uma oportunidade que "serve para que as pessoas se atentem para algo que até muito pouco tempo atrás era alvo de preconceito", que há tratamento e o problema é controlável. 

 

Qual é o perfil dos pacientes com psoríase atendidos pelo Serviço de Dermatologia do Ambulatório Magalhães Neto?

O ambulatório de psoríase do Hospital Universitário Professor Edgard Santos é uma unidade de referência em psoríase para o estado da Bahia. Então a gente tem um volume muito grande de pacientes. Estimamos que hoje a gente tenha cerca de 800 pacientes matriculados. A gente tem um ambulatório que funciona na quarta-feira, de manhã e de tarde, para onde são drenados os pacientes, normalmente, com maior gravidade, no sentido da extensão da doença. O perfil de atendimento é de pacientes com formas mais exuberantes da doença. Atendemos cerca de 50 pacientes por semana, sendo que cada um deles retorna para o atendimento num intervalo de dois a três meses, mas isso vai depender do tratamento que ele faz ou da medicação que ele usa.

 

Qual a incidência dessa doença hoje no Brasil? Há algum fator atenuante para ela?

A psoríase, na verdade, é uma doença genética com fatores ambientais e associada com outras doenças pode haver uma piora. Há hoje um aumento da incidência porque aumentou-se o conhecimento sobre ela. Estima-se que cerca de 1% a 3% da população mundial seja portadora da doença. 

 

Ela é mais recorrente em alguma faixa etária específica ou atinge todos os públicos? 

Ela atinge todos os públicos, mas ela é muito mais frequente entre o adulto jovem, em pessoas com idade entre 20 e 40 anos, e entre a faixa que vai dos 50 aos 70 anos. É bem rara na infância e na terceira idade. Ela tem um caráter genético, mas não é hereditária. O paciente pode não nascer com psoaríase - e a maioria não nasce mesmo -, no entanto, a grande maioria tem um histórico familiar.

 

Quais são os cuidados que um paciente deve ter durante esse processo de tratamento?  

Ela é uma doença inflamatória que acomete a pele e as articulações. As características principais são as placas vermelhas descamativas, que são tímidas às vezes. Temos diagnósticos diferenciais que, como eu disse, podem envolver também as articulações. O paciente com comorbidades, doenças cardiovasculares e com sobrepeso podem ter um agravamento do quadro. A gente tem um arsenal terapêutico enorme para tratar o paciente com psoríase. São métodos que vão desde a forma leve da doença, que você usa medicamentos locais, injetáveis,fototerapia, toda orientação do paciente em relação a qualidade de vida, exposição solar, atividade física, a parte lúdica da vida, remédios para as formas mais exuberantes e tudo mais. É uma doença que muitas vezes precisa de um acompanhamento multidiscplinar. Assim, a gente fala que atualmente o paciente não precisa viver mais com psoríase. Nossa missão é que a gente possa controlar naquele paciente a doença.

 

Além do Magalhães Neto, no sistema público de saúde baiano, quais é a estrutura disponível para o atendimento de portadores da psoríase?

Em Salvador, o paciente com psoríase vai ter na atenção básica o atendimento inicial. Por ser um hospital terciário, o nosso hospital não funciona no formato "porta aberta". O paciente com suspeita de qualquer doença de pele faz a consulta, geralmente, com médicos que não são especialistas. Sendo diagnosticada a doença que precisa de acompanhamento no HUPES eles são regulados. A partir do momento que é direcionado para lá, ele vai ter um acompanhamento completo da doença. Temos todas as opções de tratamento e a disponibilidade de prescrever todo o arsenal. Os pacientes com a forma leve da doença podem ser tratados na própria Unidade Básica de Saúde (UBS), sem necessidade de ser encaminhado para o Hospital das Clínicas. A gente tem dois serviços especializados no tratamento das formas mais graves da psoríase em Salvador, o HUPES e o Santa Izabel.  

 

Quais são as implicações da psoríase na vida da pessoa e como ela se manifesta?

As lesões são predominantes no cotovelo, joelho, couro cabeludo. São várias formas, como a palmoplantar (nas mãos e nos pés). Existem pacientes que só tem no couro cabeludo, pacientes que só têm lesões nas unhas. Mas ela pode se manifestar no corpo inteiro, inclusive ao mesmo tempo, que é a o que a gente chama de prodrômico, que é uma das formas mais graves. Pode ser que uma pessoa tenha uma lesãozinha no cotovelo a vida toda e nunca tenha se preocupado em tratar.

 

O maior problema da psóriase é o impacto na qualidade de vida das pessoas, porque quando você tem uma doença de pele as pessoas acham que é contagiosa e não querem chegar perto. Às vezes coça, então o paciente fica se coçando. Ou é uma área exposta, que as pessoas veem em perguntam.  Fora isso, muitas vezes acontecem implicações na vida afetiva e nas relações sociais. Fazemos toda uma orientação quanto a isso, através de psicoterapia, até para que a pessoa aceite a doença. Algumas doenças de pele você trata o paciente, outras você trata o acometimento. Quando se tem uma micose, você passa uma pomadinha e em 20 dias você vai ficar bem. Com a psoaríase não é assim, você trata o paciente. Porque, apesar de ser uma só doença, ela se comporta de maneiras diversas, tem várias formas e o próprio paciente também se comporta de modo diferente. Alguns pacientes que mesmo fazendo uso de medicações mais novas não têm uma boa resposta.


Você falou sobre o avanço nas medicações e nos tratamentos. Qual é o custo disso e quais as respostas possíveis após esse progresso "farmoterapeutico"?

Mesmo os fármacos mais novos, que são os biológicos que a gente chama, que atuam na cadeia inflamatória. Mesmo com eles, não quer dizer que a doença vai ficar controlada, porque tem paciente que começa com um e perde a resposta, faz com outro e perde a resposta. Tem tudo isso. São medicamentos que você vai usar para a vida toda, são de alto custo e precisam que o Sistema Único de Saúde (SUS) ou os convênios banquem. Uma terapia biológica pode custar, R$ 5 mil reais, uma ampola, a cada 15 dias de uso. Sem dúvidas, hoje, o paciente com psoríase tem um cenário, vamos dizer assim, mais iluminado com relação ao tratamento que era disponível há dez anos atrás.

 

De onde vem esse Dia Nacional e Mundial da Psoríase? 

Acho que, como outras doenças, a exemplo da dermatite atópica, que a gente também está celebrando agora o mês mundial, e a epidermólise bolhosa, que é altamente estigmatizante, há uma necessidade de se chamar a atenção para a psoríase. São doenças que as pessoas não sabem que não são contagiosas. Um dia nacional e mundial de conscientização serve para que as pessoas se atentem para algo que até muito pouco tempo atrás era alvo de preconceito. É uma data para mostrar que podemos abraçar alguem com psoríase, que há tratamento e uma disponibilidade de medicamento, e que ela é uma doença controlada.

 

Você falou dessa trajetória no Serviço de Dermatologia e do acompanhamento cotidiano da doença enquanto profissional. O que viu ao longo desse tempo?

Trabalho na UFBA há exatamente 42 anos. Sou professora na universidade, sou chefe do Serviço de Dermatologia, então a gente consegue acompanhar de perto o quanto evoluiu o tratamento da psoríase. Antes não tinha nada e hoje o quanto a gente pode fazer pelo doente. E, como qualquer doença de pele, acho que isso é importante, é essencial o acolhimento do paciente. Só temos doenças graves no HUPES. Ao todo, são nove turnos de ambulatório. Não de psoríase, mas de diversas complicações. Nenhum delas é de porta aberta. As doenças leves não conseguem nem chegar no hospital. A gente prima, que para que esses pacientes, até pela dificuldade de chegar, sejam acolhidos e tratados - sempre que possível, porque nem sempre conseguimos. Mas estamos lá, com uma equipe, para e encolver, aconher e mostrar. Sempre falo, temos pacientes hoje que estão sem nenhum sinal da psoríase - assim como temos de outras doenças - e que são acompanhados o tempo todo porque às vezes se desestabilizam, o estresse está alto. O emocional é um ponto importante para a psoaríase, pode ser um gatilho de piora, da mesma maneira que a obesidade ou o uso de algum medicamento também são. Ao longo desse tempo de existência do ambulatório participamos também de diversas pesquisas sobre psoríase.

'Setembro Verde' surge a fim de convocar a sociedade para participar da doação de órgãos
Foto: Marina Nadal / BN

Cerca de 7,4 mil brasileiros desempenharam o papel de doadores de órgãos no ano passado. Para aumentar o número de pessoas e/ou famílias a terem essa mesma iniciativa, durante todo este mês é celebrado o mês de conscientização para a doação de órgãos, células e tecidos, o "Setembro Verde".

 

Para falar sobre esse assunto, o Bahia Notícias conversou com Eraldo Salustiano de Moura, cirurgião e responsável pela Coordenação do Sistema Estadual de Transplantes (Coset).

 

O órgão, subordinado à Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), possui uma estrutura organizacional complexa, a qual compreende a Coordenação do Sistema Estadual de Transplantes, a Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos (CET) e as Organizações de Procura de Órgãos.

 

É a Coset que tem competência sobre a coordenação da política de transplantes no estado, supervisionando as atividades, planejando, gerenciando, executando, acompanhando e fiscalizando as ações e condições para a a retirada de órgãos, partes e tecidos do corpo humano para fins de transplantes ou enxertos.

 

Ao site, o médico ressaltou a necessidade, não somente do mês, como a criação do Dia Nacional, comemorado nesta terça-feira (27). Para ele, é necessário que mais pessoas se conscientizem sobre o processo de doação, assim como a oportunidade serve como um passo para a disseminação de conhecimento e informação.

 

"Com o desenvolvimento da medicina, cada vez mais, a gente consegue que muitas doenças possam ser tratadas com transplante. As leucemias, por exemplo, que não respondem ao tratamento de quimioterapia, radioterapia, os linfomas, que não respondem a esse tratamento, hoje é permitido que pessoas com essas condições voltem a ter sua vida normal", destacou o entrevistado.


Ele também explicou sobre a dinâmica de funcionamento do serviço público, a essencialidade do Sistema Único de Saúde (SUS) e outros aspectos da evolução científica ao longo dos últimos 30 anos.

 

Coordenador, de onde surge a necessidade de se criar uma data para a conscientização sobre a doação de órgãos?

Isso decorre da necessidade de chamar a atenção da população. Transplante é uma atividade que depende da sociedade. Se a sociedade doa, ela própria é beneficiada com o transplante. Por exemplo, hoje a gente consegue transplantar muitos órgão para pessoas que estavam fadadas a morrer precocemente ou ter uma qualidade de vida muito limitada. Com o transplante a gente consegue permitir que essas pessoas voltem a ter uma qualidade de vida normal. Essa data foi criada e hoje no Brasil a gente comemora o mês de incentivo à doação de órgãos, e no dia 27 de setembro o dia nacional. Nesse período a gente faz uma atividade mais intensa com o objetivo de levar para a sociedade, para os profissionais da saúde, a informação sobre o processo de doação e transplante. 

 

Qual o balanço que a comunidade médica faz sobre o advento do transplante no Brasil?

Com o desenvolvimento da medicina, cada vez mais, a gente consegue que muitas doenças possam ser tratadas com transplante. As leucemias, por exemplo, que não respondem ao tratamento de quimioterapia, radioterapia, os linfomas, que não respondem a esse tratamento, hoje é permitido que pessoas com essas condições voltem a ter sua vida normal. Da mesma maneira são as doenças cardíacas em fase terminal, as doenças hepáticas e as doenças renais. Atualmente, o que a gente busca é estar levando essa informação para que mais pessoas se predisponham a doar. Porque esse processo só é permitido com a autorização de parentes de primeiro e segundo grau ou o cônjugue. É importante que as pessoas informem em vida a vontade de ser um doador. 

 

Na Bahia, quais são os números que dão conta do volume ou da fila de pessoas que aguardam pela doação de órgãos?

Aqui na Bahia a gente está em torno de 2.800 pessoas necessitando de transplante e com certeza tem mais pacientes que precisariam de transplantes que não chegam aos profissionais médicos pra identificar as doenças que podem ser tratadas com transplante. Existem profissionais especializados, credenciados pelos Ministério da Saúde, que podem referenciar esses pacientes para que aí possam entrar na fila de transplante. 

 

Estamos realizando hoje, em média, 50 procedimentos sendo realizados por mês, mas é um número que vem crescendo nos últimos anos. Entretanto, há uma necessidade muito maior para atender. Essa fila é grande, mas não é real. Na realidade, como eu disse, temos mais pacientes que com certeza precisam. E outra coisa é que, quanto mais vamos reduzindo a lista de espera, mais pessoas vão entrando.


Se tratando de procedimento legal e outras questões estruturais, como acontece a realização de transplantes? 

O processo de doação e transplante envolve toda a sociedade, envolve a estrutura hospitalar e os profissionais. A maioria dos hospitais hoje, principalmente os maiores, contam com comissões intra-hospitalares de doação de órgãos e tecidos para transplante. São profissionais que são capacitados para ofertar às famílias, no momento que perdem seus parentes, a possibilidade de doar e poder ajudar outras pessoas e ressignificar aquela perda.

 

Além das comissões a gente tem um grupo específico que acompanha vários hospitais e que chamamos de organização de procura de órgãos. Essa articulação é responsável por assessorar essas comissões no quesito de apoio mesmo. Elas estão em todos os hospitais da rede estadual e da rede privada. É obrigatório por lei que esses estabelecimentos tenham essas comissões. São elas as responsáveis por todas as atividades de identificação de um potencial doador, de realização de entrevistas familiares e tudo mais. 

 

A partir desse trabalho é que a central de transplantes entra com a parte logística. No momento que se tem a doação, esse doador é cadastrado no Sistema Nacional de Transplante e com isso vai se identificar quais são os receptores que são compatíveis com ele.

 

O processo de doação e transplante no Brasil é custeado pelo Sistema Único de Saúde?

Temos um dos sistemas mais justos no Brasil. Somos referência no para o mundo em relação. Temos o maior sistema público de transplantes do mundo. E somos o segundo país do mundo em número de transplantes, todo financiado pelo SUS. Isso é importante para que a população entenda a necessidade da saúde públcia para o atendimento desses pacientes. 

 

Temos visto pesquisas sobre o desenvolvimento de órgãos mecânicos e sintéticos, assim como os transplantes feitos com órgãos animais. O que hoje já é realidade no Brasil?

O transplante é uma atividade que a gente ainda não tem uma produção de órgãos em laboratórios. Nem o sangue, que é um tecido que a gente faz transfusões, conseguimos ainda produzir uma versão em laboratório com qualidade suficiente para substituí-lo. Várias tentativas são feitas pelo mundo e alguns resultados interessantes estão sendo obtidos, como os órgãos artificiais. Os pacientees com doenças cardíacas graves, por exemplo, podem contar com bombas cardíacas até que encontrem um doador compatível. Isso já é uma realidade no serviço público.

 

Quanto a pesquisa com animais, o que a gente chama de xenotransplantes, elas já acontecem em vários experimentos. Recentemente, tivemos um transplante renal e cardiáco através da utilização de órgãos de um porco geneticamente modificado. Mas esse é um avanço do ponto de vista experimental.


Quais são os entraves para a doação de órgãos? Há algum fator cultural ou de infraestrutura que seja um dificultador?

A dificuldade é de conhecimento, né? Eu sempre defendo que a educação e a informação são as únicas estratégias que a gente tem para mudar e melhorar o mundo. Com o transplante não é diferente. É uma atividade relativamente recente. Começamos a transplantar em um volume maior a partir da década de 1980, então temos pouco mais de trinta anos. Por isso o "Setembro Verde" aqui no Brasil, porque o processo de conhecimento depende muito dessa informação. O objetivo é que o país se mobilize para informar o que é o transplante, qual a importância dele.

 

O pós-transplante também é um momento delicado, dada a compatibilidade do órgão, o tratamento medicamentoso… Como o paciente é acolhido e quais ferramentas estão à disposição dele nessa etapa? 

Todas atividades que envolvem o pré-transplante, o transplante, o pós-transplante são pagas pelo Sistema Único de Saúde. Todas as pessoas que passam pelo procedimento são acompanhadas com toda assistência, não só médica, da equipe que realizou o transplante, mas também com relação aos medicamentos necessários para evitar rejeição.

Tabela SUS e piso de enfermagem ameaçam continuidade do legado de Santa Dulce
Foto: Adriana Patrocínio / OSID

Há 63 anos, nascia na Bahia as Obras Sociais Irmã Dulce (OSID). Liderada pela religiosa que anos depois ficaria conhecida como a primeira Santa do Brasil, a instituição fundamenta-se, naquele momento, no apoio aos mais vulneráveis da cidade de Salvador. 

 

Com mais de 7 mil servidores nos diversos braços de assistência, responsável pela realização de mais de 23 mil cirurgias e pelo atendimento de 3 milhões de baianos, a OSID atualmente é uma das maiores instituições filantrópicas do país e chama a atenção de artistas como o escritor Paulo Coelho e o ator Paulo Gustavo, que quando vivo fez doações milionárias para a entidade.

 

Da mesma dimensão que é o raio de atuação também é a dívida da OSID, que acumula mensalmente um déficit de R$ 1,3 milhões mensais e poderá, com a implementação do piso nacional dos profissionais de enfermagem, cerca de R$ 4,5 milhões.

 

Em entrevista ao Bahia Notícias, a superintendente das obras sociais e sobrinha do "Anjo Bom da Bahia", Maria Rita Pontes, conta sobre o abismo financeiro e os desafios que outras organizações em todo o Brasil enfrentam.

 

"Com a pandemia a situação piorou, porque bateu em cheio a inflação dos insumos da área de saúde, os medicamentos subiram muito e também a inflação que todos nós conhecemos do dia a dia e que impacta diretamente numa obra que tem 727 e além disso outros núcleos de atendimento como na educação", revelou a gestora. 

 


Foto: Bruno Leite / Bahia Notícias

 

Para que a gente tenha uma dimensão do que são as Obras Sociais Irmã Dulce, queria que você me dissesse os números desta instituição. Qual o perfil de atendimento? Quantas pessoas passam por aqui? 

A OSID é uma das maiores instituições filantrópicas do nosso país. Ela, anualmente, atende a três milhões de pessoas no estado da Bahia, realizamos três milhões e meio de procedimentos ambulatoriais, somos responsáveis por 23 mil cirurgias e também quarenta e três mil internamentos no estado da Bahia. 

 

Falei um pouquinho da área de saúde, os grandes números, mas na área de educação nós temos hoje uma escola de educação em tempo integral com 940 alunos, no município de Simões Filho. São crianças que nesse espaço, além da escola fundamental até o 9º ano, também participam de oficinas de artesanato, cerâmica, oficinas de arte-educação, cinema, teatro e mais a orquestra Neojiba, uma parceria que eu acho que é de fundamental importância para essas crianças que precisam de disciplina e de autoestima. O que a gente vê depois da pandemia é muito sofrimento nas famílias, as crianças muito agressivas. Então ali é um espaço que oferece tudo isso e também o atendimento odontológico, assistência social para as famílias e um trabalho direcionado às famílias.

 

Fora isso, nossa instituição tem um trabalho também reconhecido pelo Ministério da Saúde na reabilitação, no atendimento especializado de jovens, adultos e crianças. Temos um centro de pesquisa que foi referência na vacina contra a Covid, através de uma parceria com a Pfizer. Trabalhamos muito também a parte do ensino médico, no ensino multidisciplinar. Por tudo isso eu acho que é uma obra que ela tem o reconhecimento da sociedade pela sua credibilidade, transparência e especialmente com sua preocupação de salvar vidas, transformar vidas.

 

Atualmente a gente vê um cenário de dificuldades. Ele não é novo para as filantrópicas, porque nós temos uma dificuldade histórica. Qual a situação financeira de vocês?

Muito difícil. A gente vem atravessando uma crise atrás da outra por conta do subfinanciamento do SUS. Mas, nos últimos cinco anos, por conta da falta do reajuste do nosso contrato do SUS com o Ministério da Saúde, a gente vem atravessando essa grave crise financeira. Com a pandemia a situação piorou, porque bateu em cheio a inflação dos insumos da área de saúde, os medicamentos subiram muito e também a inflação que todos nós conhecemos do dia a dia e que impacta diretamente numa obra que tem 727 e além disso outros núcleos de atendimento como na educação. 

 

Então, nossas dificuldades aumentaram muito e com a notícia, agora em agosto, do novo piso da enfermagem esse cenário ficou ainda mais impactado. 

 

Temos um déficit que, com o piso da enfermagem passa para R$ 4,5 milhões. Nesse final do primeiro semestre conseguimos, pela sensibilidade do governo do estado, um aporte no nosso contrato do plano operativo, que são das metas, de R$ 1,7 milhões como um incentivo pelo trabalho e isso diminuiu o déficit da época. Só que com o novo piso da enfermagem a gente salta de R$ 1,3 milhões para R$ 4,5 milhões. 

 

É uma preocupação muito difícil você ter esse aumento. A gente, desde da abril deste ano, nós entramos com uma nova campanha "Um Milhão de Amigos", que tem nos ajudado a aumentar a média de doações para R$ 450 mil por mês, mas você chegar a R$ 4,5 milhões em pouco espaço de tempo para cobrir esse débito...

 

Esse débito que você fala, de R$ 4,5 mi é mensal, não é? O acúmulo disso dá quanto? 

Hoje, nesse primeiro semestre ainda sem o piso da enfermagem, de janeiro a junho, nós tivemos um déficit de R$ 13 milhões. Ainda sem o piso da enfermagem, projetado, seria de R$ 26 milhões até dezembro. Com o piso, até dezembro, nós teremos R$ 42 milhões.
 

É impraticável. Nenhuma empresa consegue, mesmo reduzindo seus custos, sobreviver. Essa é a nossa preocupação. A gente espera que o STF consiga junto com o Congresso uma solução. Se essa solução vier de Brasília, para cobrir esse piso, a gente consegue ultrapassar com campanhas para cobrir nosso déficit até que haja, para todos os filantrópicos, uma reavaliação da tabela do SUS, que está congelada há vinte anos. O nosso contrato está sem reajuste há cinco anos. Qual a empresa que consegue sobreviver assim? 

 

A implementação do piso para as filantrópicas e Organizações Sociais acontece agora, não é? 

Para nós é agora. Para o setor público ainda é em janeiro, então eles têm um tempo ainda de tentar uma solução. Para nós ficou um tempo muito curto até para negociar com o estado ou com o governo federal. 

 

Na semana passada o ministro da Saúde fez uma visita relâmpago aqui. Ele estava em Salvador, nós pedimos para passar por aqui, mas ele disse que isso é lei. A gente sabe, mas a instituição não consegue fabricar dinheiro. Vivemos com muita dificuldade. A obra faz muito com pouco, só que essa pouco agora ficou nada.

 


Foto: Bruno Leite / Bahia Notícias

 

Estivemos na entrega do Hospital Metropolitano na semana passada e acompanhamos esse processo de vocês assumirem o equipamento após muita dificuldade do governo do estado em colocá-lo em funcionamento. Gerir aquela unidade não traz nenhum impacto negativo para a saúde financeira da OSID? 

[Impacto] financeiro nenhum, porque o governo do estado cobre todas as despesas. Inclusive, em caso de desequilíbrio no contrato, eles avaliam imediatamente e cobrem.
 

Por que a gente aceita o Metropolitano numa situação dessa? Já estava em curso essa conversa com o governo do estado e a obra também tem como missão atender as pessoas mais necessitadas do SUS. Não ganhamos nada por isso, mas somos ressarcidos pelas despesas que tivermos lá nas diversas áreas e isso nos dá força, cria musculatura para que você possa negociar. 

 

Com essa gestão de unidades externas da prefeitura e do estado a gente ganha visibilidade. Inclusive, pessoas daquela região passam a conhecer o trabalho a missão de Irmã Dulce. Então tudo isso é importante. Eu acho que se ela estivesse aqui hoje estaria também apoiando, porque ela atenderia onde estivessem os mais necessitados.

 

Só para entender: nestes hospitais externos vocês não são remunerados com base nos valores da tabela SUS, certo?

Não. É um contrato com o estado. Os valores dos salários que a gente pratica aqui são os mesmos de lá. O CNPJ é o mesmo, mas a gente não tem perda por esse trabalho. Não há desequilíbrio no contrato.

 

Eu vi que vocês estão numa articulação com outras entidades católicas em prol de uma sensibilização dos presidenciáveis para que incluam a pauta do reajuste dos valores repassados pela realização de procedimentos em todo o país. Mas como está essa articulação entre vocês e as instituições filantrópicas baianas? 

Também, estamos juntos, porque nós achamos que essa causa é muito justa. Os enfermeiros precisam ser mais valorizados, o pleito é justo, mas a gente acha que deve ter um aporte do Ministério da Saúde para que possamos fazer frente a esse pagamento, encontrar uma fonte de custeio.

 

Vocês assinaram um manifesto. Já houve algum aceno dos/das presidenciáveis? Eles/Elas incluíram a demanda das entidades nos planos de governo? 

Nosso intuito é chamar atenção do governo federal para o trabalho que as instituições católicas fazem. A gente sente que há um clima de incertezas, do que pode acontecer. Então nos reunimos para pedir a revisão da tabela. É um movimento que também estamos participando, com grandes instituições católicas, para que a gente também possa fazer nosso apelo, nosso grito de alerta.

 

Alguns presidenciáveis assinaram, concordaram em rever, e governantes também, então a gente espera. Esse movimento está acontecendo muito forte no Sul do país, mas é bom para ajudar os irmãos aqui do Nordeste. Às vezes o grito de lá é mais forte, ecoa com mais força.

 


Foto: Bruno Leite / Bahia Notícias

 

Temos observado na cobertura de saúde um aumento exponencial de pacientes com diabetes e câncer que tiveram seus quadros de saúde agravados após a pandemia por conta do negligenciamento no tratamento destas doenças. O que vocês têm observado aqui com relação aos pacientes que chegam? 

As filas aumentaram bastante. Estamos tentando dar conta disso com a equipe de profissionais, principalmente cirurgiões, procurando ampliar o número de procedimentos, mesmo que não seja através de mutirões, mas estendendo mais o tempo de funcionamento do centro cirúrgico.

 

Uma coisa que ontem conversava com a secretária de Saúde [Adélia Pinheiro] e que quando cheguei em casa encontrei um bilhete de um barraqueiro da praia é sobre uma questão que não temos esse serviço [na OSID], mas que aflige muito todas as pessoas que fazem hemodiálise, é que as clínicas estão deixando de atender. E é exatamente pelo mesmo problema do subfinanciamento do SUS. As clínicas estão fechando as portas, ameaçando não prestar mais atendimento, e esses pacientes estão ocupando leitos nos hospitais, que não podem dar alta dos pacientes porque se eles forem para casa buscar um atendimento ambulatorial não vão conseguir porque eles foram descadastrados. A situação é gravíssima.

 

Têm outros serviços, que não me cabe falar, mas esse me sensibilizou muito, porque a secretária falou e quando eu cheguei em casa recebi esse pedido desesperado de um pai de família que a esposa está internada e não pode ir para casa porque senão pode morrer. Precisamos de um movimento para que o governo olhe para a saúde. Caso contrário, vamos ter um caos enorme no país, principalmente nos estados mais pobres.

 

Diante dessa sensibilização e da necessidade dos pacientes em hemodiálise, você pretendem abrir um setor específico?

Não é tão fácil assim. Há vinte anos a gente tentou abrir, mas tivemos dificuldade de credenciamento. É um setor muito fechado. Agora seria mais difícil ainda porque nem recursos nós temos. Os equipamentos são caros. A gente tem até um projeto que foi feito para uma área aqui do 4º Centro, que ficaria embaixo do banco de sangue. O projeto não avançou por falta de interesse dos gestores também. Mas eu considero um dos assuntos mais importantes no subficanciamento do SUS. Tem áreas que, mesmo que não seja da nossa atuação, vejo como prioridade.

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Entenda como uma roupa desenvolvida para os astronautas russos pode tratar pessoas com distúrbios neuromotores

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Foto: Divulgação
No filme “Extraordinário”, o personagem principal Auggie se imagina usando um traje de astronauta na escola e sendo aclamado pelos alunos. Fora das telas, crianças e adolescentes com distúrbios neuromotores podem viver esse sonho usando uma roupa especial, desenvolvida para os astronautas russos utilizarem no espaço. Essa vestimenta terapêutica, chamada de Suit, é usada no método Therasuit, que consiste em um programa reconhecido mundialmente como um dos mais eficientes nos tratamentos de reabilitação para crianças com paralisia cerebral. A Clínica Espaço Kids é pioneira na Bahia, desde 2011, aplicando esse método fisioterapêutico.