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E.C. Vitória
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Entrevistas
Sant'Ana mira Bahia consolidado em outros esportes e faz alerta para o futebol: "City precisa de suporte"
Por Ulisses Gama
Após comandar o Bahia no triênio 2015-2017, Marcelo Sant'Ana quer voltar a ser presidente do Bahia, agora em uma nova fase. Com a associação para manter e ao mesmo tempo lidar com o Grupo City no futebol, o candidato pensa em um futuro promissor com uma base forte de sócios e uma presença positiva em outras modalidades. Na opinião dele, trabalho e competência serão essenciais.
"Eu sou torcedor, mas na gestão temos que trabalhar alguns pontos. A questão dos esportes, a questão das embaixadas, preocupação com o plano de sócios, melhora na comunicação e transparência, mostrando o que o Grupo City já cumpriu em contrato, buscar fontes alternativas em receitas, procurar pouco a pouco diversificar as ações do clube para que ele finque, aos poucos, a sua bandeira como clube olímpico e social", disse, em entrevista ao Bahia Notícias.
Ao falar sobre o trabalho dos estrangeiros no futebol do Esquadrão de Aço, Sant'Ana apontou que faltou suporte da atual diretoria executiva no "ano zero" do grupo.
"Precisa de alguém que ajude no relacionamento e eu acho que não teve o suporte que ele esperava do Bahia ao longo do ano. Não estou lá dentro, não tenho representatividade para falar sobre sentimento do Grupo City e nem do Bahia, mas é um sentimento que tenho", apontou.
Marcelo Sant'Ana não fugiu de perguntas sobre o fato de ter sido empresário de atletas e de ter conquistado a fama de "brigão" enquanto liderou o clube azul, vermelho e branco. Confira a entrevista completa:
Por que você decidiu voltar a tentar a presidência do Bahia?
Foi uma decisão tomada com calma, com responsabilidade. Fui presidente no ciclo 2015, 2016 e 2017. Era um ciclo novo para o Bahia também. Fui o primeiro presidente eleito na era democrática para um mandato regular de três anos. O Bahia era um clube grande como continua, com torcida apaixonada, reconhecido nacionalmente, mas naquela época o Bahia não tinha organização, não tinha rumo. O Bahia pré-intervenção, o torcedor lembra a série de crises que o Bahia passava. A gente conseguiu, com erros e acertos, recuperar a credibilidade do Bahia, a dignidade dos funcionários e valorizar a marca do Bahia dentro do mercado. Recuperamos o patrimônio com Fazendão, Cidade Tricolor, terreno do Jardim das Margaridas... A gente conquistou todas as certidões negativas de débito municipal, estadual e federal, que na época garantiram o contrato com a Caixa e permitem que o Bahia tenha projetos com a Lei de Incentivo ao Esporte. Fomos citados por um consultor do Itaú como um dos cinco clubes do Brasil, se ele pudesse indicar, como um clube para se comprar ações. Justamente pelo trabalho de governança, transparência, comunicação que trouxemos. Além das questões de campo porque tudo tem que convergir para o resultado esportivo. Título baiano, acesso, Copa do Nordeste, a maior pontuação do Bahia nos pontos corridos. E o Bahia agora está no cenário com alguma similaridade. O Bahia, desde maio, tem uma SAF. É sócio minoritário e o clube precisa de um indicativo qual rumo vai tomar. Por contrato, o Bahia tem responsabilidade de cumprir o contrato com o City, colaborar com o relacionamento corporativo, mas o Bahia tem outro braço que é fincar a sua bandeira como clube olímpico e social. Em qual contexto? Em quais esportes? Como aumentar o orçamento que está previsto em R$ 4 milhões? É um contexto que o clube precisa ser posicionado. Dentro desse contexto, a gente se coloca como opção para o torcedor.
Como você enxerga o cenário de 10% no comando do futebol?
A parte de gestão no dia a dia é do Grupo City. Mas o representante do Bahia integra o conselho de administração. São cinco indicados pelo City e um do Bahia. Hoje, temos três estrangeiros e os outros dois ficam na operação do Bahia, que é o Raul Aguirre e o Cadu Santoro. A gente pretende, dentro desse conselho, pontuar a opinião do Bahia, preservar a identidade... Claro que a gente espera um crescimento da instituição, maior capacidade de investimento, profissionalismo que reflita em uma time mais competitivo e vencedor. E às vezes gosto de fazer brincadeiras para pessoa ter um cenário mais claro: um time de futebol são 11 jogadores e cada jogador representa mais ou menos 9%, que daria 99%. Se você joga com um a menos, faz diferença? Faz muita diferença. Na SAF eu entendo da mesma maneira. O Bahia tem que jogar com o time completo. Entendo que isso tem que ser conduzido dessa maneira. Defendo mais transparência e comunicação para que você reforce esse laço. A SAF existe desde maio. A gente tem a informação de que o City já pagou 60 a 70% das dívidas trabalhistas e cíveis, que era previsto. Se isso foi feito, porque não é comunicado? Isso mostra a seriedade do parceiro em cumprir o contrato. Tem uma previsão contratual de investimento mínimo em folha salarial. Está sendo feito? Por que não é comunicado? Para mim, esses pontos reforçam a parceria. Quando você sinaliza: 'o ano está abaixo, contudo eles têm feito investimentos, tem outros projetos que estão sendo implementados...', isso daria uma maior segurança para o torcedor, principalmente em ano de crise. Você daria dados objetivos e faria o papel fiscalizador. A gente acredita que isso tem que ser reforçado para o sucesso da parceria.
Por qual motivo você não tentou a reeleição após seu primeiro mandato?
Em 2017, quando a gente optou por não continuar, eu vinha cansado dos três anos de presidência. Hoje, quando o torcedor vê o clube mais organizado, as pessoas esquecem o contexto do Bahia naquela época. A gente teve que reorganizar o Bahia da porta para dentro como uma empresa. Não gosto de ficar pontuando isso, foi um momento passado, mas o Bahia não tinha fluxo de caixa. Quando perguntava quem era o sócio do Bahia, tinha que perguntar para uma empresa tercerizada... Esse era o cenário de dificuldade, aliada as viagens com o time, perdi jogos quando minha segunda filha ia nascer. Dos três anos que eu fiquei presidente, devo ter passado um ano fora de Salvador, somando viagens para o time, viagem à Brasília para resolver política, São Paulo para patrocínio, Rio de Janeiro para as questões da CBF. Para mim, o trabalho no Bahia tem que ter dedicação 100%. Isso é emocionalmente desgastante. Minha segunda filha ia nascer e eu sentia que minha esposa precisava de minha atenção. E o clube estava organizado. A gente tinha um clube campeão do Nordeste, maior pontuação nos pontos corridos, a gente tinha, dos titulares, nove jogadores com contrato... Jean, Capixaba e Zé Rafael com proposta para serem vendidos, 13º já pago, salário para pagar já no caixa do clube. O Bahia, no nosso entendimento, tava com o caminho sólido para continuar dando alegria para a gente que é tricolor. Preferi priorizar a minha família naquele momento.
Uma das suas missões será alavancar o número de sócios. Na sua gestão passada, você contratou Jorge Avancini e ele foi muito criticado. Acredita que foi um erro?
Na época ele tinha um histórico de sucesso no Internacional, o clube que tinha o maior número de sócios já registrado no futebol brasileiro e os gaúchos têm essa tradição em associação. Buscamos o profissional dentro desse contexto. O Sócio Esquadrão foi criado na nossa administração com ele como chefe. Se você entrar no site e ver a marquinha, é a empresa contratada na nossa época. A setorização é a mesma... Teve evoluções naturais, algumas ações que ajudaram, que foram o desconto da cerveja e a camisa... Na parte comercial, a gente saiu de um faturamento de R$ 2 milhões, R$ 3 milhões ano para superarmos R$ 12 milhões no último ano. De 2017 a 2023, esse número é o segundo maior. Críticas são naturais, faz parte. Nesse contexto atual, temos sim que desenvolver esse novo plano de sócio. Um conteúdo decisivo que a gente tinha, que é o acesso garantido, hoje está com a SAF. Mas existem outros mecanismo. A gente pode trabalhar com preços diferentes, a depender por exemplo da região que a pessoa mora , se é sexo masculino ou feminino... Você pode trabalhar com experiência, desconto em produtos, então você tem caminhos para fortalecer. Se a gente for abordar a questão da embaixada, dos sete primeiros nomes, três são de embaixada. Agora, durante a campanha, buscamos ouvir para valorizar os sócios que estão fora de Salvador... Quando eu era o presidente, a gente tinha um departamento de ligação com embaixadas, a gente sempre fazia matchday nas cidades, levando troféus, ídolos, mascote... Isso dá sensação de pertencimento para eles. A opção de comprar o produto e ele ser entregue em sua casa, é uma crítica que o pessoal que mora no exterior faz muito e ouviram a justificativa de que o frete é caro. Eles pontuam que, como moram longe de Salvador, será que não poderiam ter um benefício de uma ou duas partidas, quando abre venda exclusiva, o sócio que mora fora não pode comprar primeiro? Tem pontos de gancho que a gente pode valorizar e reconfigurar o nosso plano de sócio.
Na sua opinião, o que pesou para a queda brusca de associados no Bahia?
Sem dúvida nenhuma a falta de comunicação pesou muito. E aí eu agradeço a imprensa nesse período de eleição, que está trazendo esse debate com todos os candidatos. Aí eu uso esse dado que você trouxe. No dia da inscrição de chapa, eu estive na sede do clube junto com o candidato à vice, Rogério Gargur, e os funcionários sinalizaram que naquela época a expectativa era de ter 4500 a 5 mil sócios adimplentes, com condição de voto. A gente teve na semana passada a lista com 7800 adimplentes. Então 2800 pessoas se regularizaram em 30 dias. Pessoas que tinham mais de um ano como sócio. Esse número pode ser até maior. Então é um crescimento superior a 50% do que se tinha em 30 dias de campanha. Isso indica que a comunicação era ineficaz. Não dá pra responsabilizar o torcedor. Se o sócio não acompanhou naquela época, você tem que comunicar de forma recorrente. Você tem que comunicar sempre. Quando a gente vai para o barzinho, a gente não fala sobre os mesmos jogos do Bahia? Então você tem que trazer várias vezes o mesmo tema para no dia que a pessoa estiver disposta, ela ser saciada. A comunicação tem que ser estimulada, as redes sociais são discretas... Temos que debater isso com a profundidade que se exige para que o sócio se sinta importante. Se a gente aumenta a base de sócios, você aumenta a força do clube. A partir do momento que você fortalece o clube, no contexto dos 10%, a SAF vê a força que o clube tem pela representatividade do torcedor. Não podemos ter um descolamento tão grande. E aí eu pontuo que quando a gente criou o Sócio Esquadrão, na mesma época da parceria com as Obras Sociais Irmã Dulce, o Sócio Esquadrão era nome fantasia para você dizer que era sócio do Bahia. Era um nome comercial porque a gente ia usar o nome Esquadrão em vários produtos do clube. A ideia era ter essa marca comercial. Quando teve o desmembramento, o Bahia não criou um nome fantasia e as pessoas foram acostumadas a dizer que eram Sócio Esquadrão, acharem que eram sócios do Bahia. E hoje não é mais assim. É responsabilidade do clube comunicar. Você tem que dar isso mastigado ao sócio.
Você foi pioneiro nas questões de responsabilidade social com a parceria nas Obras Sociais Irmã Dulce. Como pretende seguir esse caminho se for eleito?
A gente iniciou esse trabalho com Irmã Dulce em outubro de 2015. A gente sentia a importância do Bahia devolver à comunidade esse carinho. Quando a gente fala de Bahia, a gente fala de baianidade. A situação é recíproca. Depois a gente teve avanços com a UNICEF, focado na formação pessoal dos atletas... Acredito que o Bahia teve um avanço nos últimos anos, mas vou continuar a ser transparente. Não acho que são concorrentes, mas prefiro que o Bahia seja reconhecido como clube vencedor, um clube campeão e que dê alegria ao seu torcedor, preferencialmente no futebol. Quando o Bahia foi fundado em 1931 por dissidentes da Associação Atlética e do Bahiano de Tênis, ele foi fundado para ser um clube de futebol. Ao longo dos anos teve sucesso em outras modalidades, mas o coração do clube é o futebol. Dá para trabalhar responsabilidade social e o sucesso esportivo de maneira que ambos valorizem a marca. Mas em qualquer dividida, o lado esportivo vai prevalecer.
Você tem sido questionado pelo fato de ser empresário de atletas. Como está a sua situação e a da sua empresa?
Era minha empresa. Agradeço pela pergunta porque é um tema que as pessoas têm duvida. E se as pessoas têm dúvida, quem está se colocando à disposição, tem que esclarecer. Não sou mais empresário de atleta, minha carteira não foi renovada. A FIFA mudou o sistema de regulamento de transferência e agenciamento de atletas. De imediato, algumas cláusulas foram implementadas e estão em vigor desde 1º de outubro. Para ser agente de jogador, você tem que ser agente FIFA. Só tem dois caminhos para ser agente FIFA: se até abril de 2015 você era agente FIFA e agora é fazer a prova para agente FIFA. Teve a prova em setembro e eu não fiz já visualizando essa possibilidade de ser presidente. A FIFA não reconhece mais pessoa jurídica, só pessoa física. Então a empresa não pode mais operar no mercado do futebol porque a FIFA e a CBF não reconhecem mais. A Fifa mudou a lei em dezembro de 2022. Alguns pontos já valeram de imediato e os demais valeram a partir de 1° de outubro. Não sou mais sócio, já foi registrado na junta comercial, não tenho participação no quadro acionário. Agora é só o Marcelo Barros e o que ele vai fazer com a empresa, é decisão dele. Fazendo um comparativo, embora eu ache que não tem nada a ver, eu fui dono de uma empresa por quatro anos. Fizemos marketing esportivo, trabalhava para comunicação de atletas, prestava consultoria aos clubes. Só tive dois atletas no Bahia em quatro anos e um único atleta em divisão de base. Quem comprou o atleta foi o Grupo City, que foi o Thiago. De maneira bem transparente, esse atleta rendeu ao Bahia um lucro líquido de R$ 7 milhões de reais. Foi o que rendeu. O Tillemont, a empresa que ele trabalhou por 20 anos, A Antonius, tinha entre 15 a 20 jogadores no Bahia, no sub-15, sub-17, júnior e profissional. Na época, ele que responderia pelos jogadores da própria empresa. Hoje quem determina é o City. Agradeço quando a imprensa faz esse questionamento, mas eu acho curioso quando os concorrentes falam. Porque se eles acham que tem esse conflito de interesse, poderiam ter impugnado minha candidatura. Se eles colocam minha idoneidade em xeque, eu fui presidente do Bahia por três anos e digo com tranquilidade que provavelmente sou o único presidente de 2000 para cá que deixou o Bahia tem ser nenhuma ressalva nas prestações de contas. Nunca foi questionado sobre minha honestidade. Se alguem quer questionar agora, está no direito e qualquer um faz sua campanha como entende. Mas não coloque apenas a minha, coloca a do próprio parceiro, o City. Alguém para fazer uma coisa errada, tem que fazer em parceria com alguém, principalmente quando você não tem a caneta. E eu, Marcelo Sant'Ana, acredito no Grupo City.
O candidato Leonardo Martinez acredita que o investimento do City pode mudar a depender do "ambiente" com o presidente eleito. Acredita nessa teoria?
Não entendo o que o candidato quis dizer sobre esse posicionamento. Cada um tem suas ideias, mas acreditava que a relação com o City era regida por um contrato. A partir do cumprimento desse contrato, é que entram questões de relacionamento que podem potencializar ou não as outras relações. Eu conheço o City desde 2016, que é quando fui pela primeira vez em Manchester. Tenho contato regular desde outubro de 2019 pelas minhas outras atividades. Não entendi a abordagem do outro candidato. Mas acredito na seriedade do City, confio que eles podem dar resultado que a gente espera, embora esse primeiro ano esteja abaixo da expectativa. Pessoalmente enxergo que eles perceberam durante o ano que a abordagem inicial foi equivocada. Porque a gente vê a mudança no perfil de jogador que chegou entre janeiro e abril para os jogadores que vieram na segunda janela. A partir da saída do Renato Paiva e a chegada de Rogério Ceni, você vê a mudança do perfil de liderança. Se trouxe um treinador que conhece o Brasil, com histórico de jogador, foram mudanças perceptíveis na linha de gestão. Tomara que essas mudanças representem a nossa continuidade na Série A.
O Grupo City está em seu "ano zero" e vive um processo de adaptação. Como você pretende colaborar?
Sua pergunta é bem precisa. É um ano zero, de transição, de conhecer coisas novas. Ele está dizendo que precisa de suporte. Precisa de alguém que ajude no relacionamento e eu acho que não teve o suporte que ele esperava do Bahia ao longo do ano. Não estou lá dentro, não tenho representatividade para falar sobre sentimento do Grupo City e nem do Bahia, mas é um sentimento que tenho. O City, anos atrás, tinham quatro funcionários do Brasil. Agora, se contar futebol masculino, feminino e base, são 400 funcionários aqui. Olha a mudança. O City é um grupo global com 13 clubes, experientes, com trajetória. Em Manchester eles são donos do clube e lidam com outros anos. O Campeonato Espanhol hoje tem o Girona, que o City é dono e La Liga é uma liga privada. Na MLS é uma liga privada e o New York City é privado, do City. No Brasil, a relação do Bahia é de privado com uma associação e quem controla o campeonato é a CBF, uma entidade política. No Brasil não é exatamente igual a vários contextos que eles trabalhavam. Tem algumas particularidades que se você não se adaptar, chega a conta e tem arestas a aparar. Eles precisam e desejam ter um relacionamento mais fácil.
Muitos dizem que o presidente Bellintani abandonou o clube. Qual a sua visão sobre a gestão dele?
Não posso usar a palavra "abandonou". Que ele não está se comunicando, sendo parceiro do torcedor na transparência do contrato, que a gente não sabe se foi feito encaminhamento, isso eu posso dizer. Usar a palavra "abandonado"... Acredito que os funcionários estão tentando fazer o seu trabalho, caberia ao Conselho Deliberativo ter uma postura mais firme na cobrança. Me preocupa é que projetos de lei de incentivo costumam ser apresentados em um ano para captar recurso no outro ano. Se o Bahia não apresentou projeto esse ano, no ano que vem a gente fica com a captação limitada. É um tempo que você perde. Você não contrata jogador sem saber quem vai ser o próximo presidente? Por que você não pode apresentar um projeto? Poderia discutir com o torcedor o papel da associação. Não poderia chamar o sócio para discutir o papel do Bahia? Quais esportes trabalhar? Quais as necessidades? Fazer uma pesquisa, marcar reuniões na Fonte Nova, fazer um debate público, um brainstorm. Até para se manter a mobilização. Poderia chegar dar uma série de possibilidades já discutidas. E isso não foi feito. Tomara que tenha uma reunião final de ano e a gente saiba o que foi feito nos últimos meses.
Você visitou a sede da associação. O que achou?
Quando fui lá, o coração ficou apertado. Quando deixei a presidência, contando com os atletas, eram 296 funcionários. Nessa visita, pude conhecer seis funcionários e é um contexto bem diferente. São duas salas comerciais, é um contexto diferente. O orçamento previsto é de R$ 4 milhões, a gente tem que ampliar essa receita. Temos que associar o Bahia no Ministério do Esporte e Comitê Brasileiro de Clubes. O Bahia tem que se aproximar da iniciativa privada para buscar patrocinadores, a gente tem que aumentar essa capacidade da associação para ter um trabalho mais assertivo nos outros esportes. Divido em alto rendimento, oportunidade de mercado e um lado mais de visibilidade, que é o apoio a atletas e competições. O esporte competitivo é um custo alto, necessita de infraestrutura. De maneira adequada, teríamos o Ginásio de Cajazeiras e a Arena Poliesportiva de Lauro de Freitas. Em alguns casos, o piso e as dimensões não são adequadas. Um esporte coletivo vai exigir custo fixo com atletas, comissão técnica, departamento comercial... No NBB, que é o Campeonato Brasileiro de Basquete, para se ter um time competitivo é R$ 2,5 milhões anos. O Flamengo investe de R$ 6 a 8 milhões. A Associação tem R$ 4 milhões de orçamento, não dá para fazer um esporte competitivo no curto prazo. Tem a sinalização da prefeitura de construir uma Arena Esportiva na Boca do Rio. Se tiver, seria interessante o Bahia ter autonomia da gestão do seu conteúdo ou do dia de evento, que aí você começa a ter receitas anexas com bilheteria, exploração de espaço publicitário, de repende com alimentos e bebidas, talvez estacionamento. Então temos que ter discussões equilibradas.
Você viveu embates fortes com a CBF e a FBF. Essas situações lhe deram a fama de "brigão". Acha que brigou com razão? Exagerou?
Eu tinha 33 anos na época, tenho 42. Estou mais experiente, mas tenho a mesma determinação de defender os interesses do Bahia. Se tiver que brigar com A,B e C para defender o interesse do Bahia, não tenha dúvida que Marcelo Sant'Ana vai continuar com o mesmo posicionamento. A partir do momento que você é o presidente, o torcedor espera que você defenda o clube, mesmo que isso te desgaste. Você tá ali para defender a instituição, não para pipocar. A omissão o torcedor já viu aonde leva o Bahia. Fui presidente do Bahia durante três anos e conheci quatro presidentes da Arena Fonte Nova. Será que a dificuldade era no Bahia ou na própria gestão do equipamento. Esse contrato que a gente brigou, o Bahia na época tinha um faturamento garantido de R$ 10 milhões e no nosso primeiro ano faturamos R$ 12,5 milhões, diminuiu o mínimo garantido, mas faturamos 12 milhões. Esse contrato renegociado permitiu a loja e museu do Bahia, que na época a gente não tinha capacidade financeira de fazer, mas a gestão de Guilherme fez. Trabalhar pelo Bahia às vezes gera desgaste. O Bahia era um clube que não era respeitado no mercado, tinha fama de mal pagador. Vou permitir que a pessoa não respeite o clube? Vou reposicionar e esse reposicionamento deixou muita gente desconfortável. Muita gente que tava na zona de conforto se beneficiava e ai tirou muita gente da zona de conforto. Muita gente não gosta de ver o Bahia protagonista, não. O Bahia é o maior clube da Bahia, mas tem outros clubes que buscam o seu espaço. E quando o Bahia cresce, incomoda. Cada um tem seu objetivo. Se eu voltar a ser presidente, vou respeitar todos os contratos que o Bahia assinou, mas vou defender o interesse do Bahia acima de qualquer coisa.
Como valorizar a marca do Bahia e cuidar da sua torcida que é nacional? Dizem até que o Bahia é o mundo.
Eu prefiro que o Bahia seja o mundo se ele ganhar o Mundial de Clubes. Dizer que o Bahia é o mundo na oratória é bonitinho, mas a gente tem um longo caminho a percorrer. Claro que se você botar isso como uma visão, é bacana, mas vamos estruturar, fazer cada coisa em uma área para fazer com que o clube seja nacional, dispute o mundial. Eu vou achar legal. Eu sou torcedor, mas na gestão temos que trabalhar alguns pontos. A questão dos esportes, a questão das embaixadas, preocupação com o plano de sócios, melhora na comunicação e transparência, mostrando o que o Grupo City já cumpriu em contrato, buscar fontes alternativas em receitas, procurar pouco a pouco diversificar as ações do clube para que ele finque, aos poucos, a sua bandeira como clube olímpico e social. Já tivemos grandes baianos no esporte e não conseguiram mudar a cultura. Ricardo, do vôlei de praia, para mim é o maior atleta da história da Bahia. Ele é ouro, prata e bronze em olimpíada. Ricardo nunca treinou em Salvador porque não tem cultura. É por falta de qualidade? Ele treinou na Paraíba e agora treina a equipe do México. Ana Marcela Cunha, Popó... Se eu começar a falar, vai aumentar a lista. Pouco a pouco o Bahia vai apoiar pela força da marca. O torcedor vai exigir a excelência porque o Bahia nasceu para vencer.
Como você projeta o futuro da associação?
A gente quer um clube mais forte, já posicionado em duas modalidades esportivas de uma maneira interessante, um clube podendo podendo produzir conteúdos e eventos em Salvador de excelência, valorizando o clube, tendo um plano de sócio estruturado e um clube disputando, no futebol profissional masculino, com capacidade entre os oito e dez do Brasil e no mata mata chegando aonde não chegamos, tentando algo mais. Tinha essa expectativa depois que saí da presidência, mas não vi. Então acho que a gente tem a possibilidade de atingir isso que a gente deseja. A gente tem visto outros clubes, Fortaleza, Athletico, clubes fora do eixo. Os mineiros estão aí, os gaúchos, temos que ser mais competentes e eficientes.
Faça as suas considerações finais.
Peço que conheça todos os candidatos, com suas ideias e propostas. Relembre o Bahia que a gente tinha antes da intervenção e antes da democracia. Esse Bahia que ajudamos a transformar, entre erros e acertos, temos as nossas dificuldades, mas fizemos esse clube crescer, tenho certeza que vocês viveram com a gente. Agora é um momento de construção do Bahia olímpico e social e fortalecimento no futebol profissional. A SAF, para ser completa, precisa que o Bahia saiba como participar e saiba se posicionar representando o interesse do torcedor e o contrato que foi assinado. Se você confia na gente, Marcelo Sant'Ana 31, junto com Rogério Gargur, e no Conselho Deliberativo, Revolução Tricolor, número 131. Obrigado, vamos em frente e Bora Bahêa!
Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias
Verhine planeja melhoria na relação com torcida do Bahia e mira associação com R$ 22 mi de orçamento em 2026
Por Ulisses Gama
Economista com anos de experiência na presidência do Conselho Fiscal do Bahia, Marcus Verhine foi mais um candidato à presidência do Esquadrão de Aço entrevistado pelo Bahia Notícias. Dono de um perfil técnico e com muita discrição, o gestor financeiro pensa em uma gestão participativa para a associação no triênio 2024-2026. Para ele, o principal caminho é escutar os sócios e entender o que é preciso para um futuro positivo.
"Tem que ser feito um planejamento estratégico e no dia 31 de janeiro tem que ser apresentado. Vamos fazer um workshop com os sócios e as sócias para coletarmos informações e desenvolver o nosso planejamento. Vamos criar um canal de escuta para levar contribuições para a SAF, ouvindo questões específicas de acessibilidade, nossa cultura... Além disso, eles serão consultados sobre a modalidade esportiva que vamos abraçar. Estamos tendo o cuidado de não anunciar o esporte que vamos abraçar por causa disso. Vamos fazer um levantamento, consultar os sócios, fazer o estudo de viabilidade, levar para o Conselho Deliberativo e aí sim vamos abraçar", explicou.
Conhecedor das finanças, Verhine quer fazer uma "escadinha" na receita da associação, que vai começar praticamente de baixo a partir do ano que vem. A missão é fechar o último ano de mandato com R$ 22 milhões.
"Nosso primeiro ano não vai ter resultados expressivos, será um ano de planejamento. Vamos buscar a captação, que não é simples... Não vamos ter um boom, mas estimamos uma receita de R$ 7,5 milhões no primeiro ano, no segundo ano R$ 14 milhões por conta dos esportes e no terceiro ano estamos estimando R$ 22 milhões", indicou.
Marcus Verhine também falou ao BN sobre a sua luta para colaborar na democratização do clube, sua experiência na visita ao Manchester City, a relação com o futebol e a cobrança pela participação dos associados no pleito do próximo sábado (2). Leia a entrevista completa:
Marcus, fale um pouco sobre a sua história com o Bahia e a motivação para se tornar presidente.
Eu sou um tricolor apaixonado como todos. A ligação vem desde a infância e aprendi no jogo contra o Santa Cruz [1981] que o impossível não existe e na semana passada, contra o Corinthians, mostramos que isso faz parte. Depois de muito tempo acompanhando nas arquibancadas, torcendo muito, acompanhando o título de 88, diversos jogos, passei a lutar pela democracia no clube. Fiz parte da Associação Bahia Livre, organizamos passeatas, participei da manifestação dos 50 mil em 2006, participei da organização da Conferência Gigante Tricolor em 2008 e em todo o processo da intervenção... De 2013 para cá, participei do Conselho Deliberativo e durante seis anos fui presidente do Conselho Fiscal do clube. Acompanhei todo o processo de construção da SAF, conheço bem o contrato, meu vice Rogério Silveira conhece mais a fundo e temos condições de fiscalizar o contrato, mas a intenção também é agregar valor, vamos criar um canal de escuta com o sócio para que o nosso time seja bem sucedido em campo.
Como foi o seu trabalho dentro do Conselho Fiscal do Bahia?
Foi um processo longo. O Bahia, após a intervenção, iniciou uma nova era de transparência. Muitos esqueletos estavam escondidos e os conselhos fiscais tiveram esse desafio. O primeiro foi o mais difícil porque enfrentou questões que ninguém sabia. Apareciam dívidas que a gente não sabia que existiam. Também acompanhei o processo todo e vi o desafio que o Conselho Fiscal da época enfrentou. Depois foi a questão de controle das contas, ver se os dados eram lançados, se isso refletia nos balanços. Depois acompanhei o processo de consolidação já com um mecanismo de acompanhamento chamado DRO, chancelado pela APFUT, o que ficou mais fácil de acompanhar. Tem questões específicas que fogem um pouco ao senso comum, como a amortização de passe de atletas, questões que acompanhamos. Nessa última gestão, o grande desafio foi a SAF, mas antes da SAF tivemos uma oportunidade de participar do acordo do Opportunity. Entendo que esse foi o maior erro recente da história do clube ao ser assinado em 2006. De forma resumida, o Bahia topou adquirir o controle do BASA pagando R$ 4 milhões, só que o clube estava na Série C e não tinha recursos. Comprometeu a receita de venda de atletas entre 2009 e 2023 para repassar ao Opportunity. Essa dívida era monstruosa, o Bahia foi à Justiça, teve uma briga grande, chegou a ganhar. Por conta disso, essa dívida não tinha sido contabilizada no balanço e finalmente, nos últimos anos, o Opportunity conseguiu reverter e já havia uma possibilidade real do clube ter que arcar com essa dívida, que já girava em R$ 116 milhões. Então foi muito importante esse acordo, me especializei nesse acompanhamento e foi uma felicidade ter esse acordo. Esse acordo viabilizou a constituição da SAF. Uma dívida histórica foi resolvida. Sobre a SAF, o que a gente acompanhou é que houve uma mudança enorme nas contas do clube. Isso está atendendo às expectativas. O clube teve um passivo muito maior que o ativo, então sempre tinha um saldo devedor. Logo após o closing, com o pagamento das dívidas da SAF, isso já inverteu. Hoje o Bahia tem um patrimônio positivo, o que é uma coisa histórica. Fiquei até emocionado quando vi. Já foram pagos R$ 200 milhões em dívidas e isso teve um impacto significativo nas finanças do clube.
Como melhorar a comunicação com o sócio do Bahia?
O desafio é grande, mas entendemos que é possível melhorar a comunicação com o sócio, fazer eles entenderem o papel deles e do clube. A função é engajá-los. Tem que ser feito um planejamento estratégico e no dia 31 de janeiro tem que ser apresentado. Vamos fazer um workshop com os sócios e as sócias para coletarmos informações e desenvolver o nosso planejamento. Vamos criar um canal de escuta para levar contribuições para a SAF, ouvindo questões específicas de acessibilidade, nossa cultura... Além disso, eles serão consultados sobre a modalidade esportiva que vamos abraçar. Estamos tendo o cuidado de não anunciar o esporte que vamos abraçar por causa disso. Vamos fazer um levantamento, consultar os sócios, fazer o estudo de viabilidade, levar para o Conselho Deliberativo e aí sim vamos abraçar. Também vamos redesenhar o plano de sócios, com novos parceiros, não só com descontos e sim experiências. Uma visita ao centro de treinamento, visita ao jogo... Vamos colocar também as embaixadas, que também servem como canal com os torcedores do interior. Elas também vão poder identificar parceiros no plano de sócios. Nosso primeiro ano não vai ter resultados expressivos, será um ano de planejamento. Vamos buscar a captação, que não é simples... Não vamos ter um boom, mas estimamos uma receita de R$ 7,5 milhões no primeiro ano, no segundo ano R$ 14 milhões por conta dos esportes e no terceiro ano estamos estimando R$ 22 milhões. Essa é a nossa rampa de receita.
Você sempre apresentou um perfil técnico, distante dos holofotes, mas se vê obrigado a apresentar um perfil político. Como tem sido?
Tem sido uma recepção boa. Nos últimos seis anos eu ocupei o Conselho Fiscal e até agradeço aos jornalistas por entenderem o meu papel, que não pode comentar nada sobre questões do clube. Entendo que é até uma coisa enfadonha falar de um parecer do Conselho Fiscal, que é uma questão muito técnica. Entendo que não ser uma pessoa da comunicação, fizemos uma comunicação institucional, com pareceres trimestais, estabelecemos uma parceria boa com o Conselho Deliberativo e a Diretoria Executiva. Tenho trânsito entre os grupos tricolores e o respeito deles. Entendo que no dia 2 de dezembro já podemos conversar com outros grupos e os candidatos para trabalhar nesse modelo de construção do clube. Sempre dou o exemplo de Pernambuco com o Porto de Suape. O Estado abraçou o Porto, independente do partido no poder. Precisamos desse norte. Esse planejamento tem que ser feito com a participação de todos para que se sintam representados. Caso eu saia e outra pessoa assuma, ela vai seguir essa trilha e não retroceder. Entendo que posso reunir os grupos, mesmo não tendo essa relação com a mídia. Acredito que tenho condição de reunir os grupos.
Como fazer com que o sócio do Bahia não tenha dificuldades já sofridas no passado?
Eu tava até comentando com o pessoal. Entrei na luta pela democratização do Bahia em 2004, mas só me tornei sócio em 2008. Fiquei quatro anos esperando. Na época do distrato com o Opportunity, não consegui participar da assembleia na Sede de Praia. Tentei convencer os sócios a não aprovar aquela loucura, mas não deu certo. Nessa época só era sócio quem passava por um filtro. Era uma coisa incrível. Não é a mesma coisa agora, mas está tendo uma falha de comunicação grande. Após o closing, muitos sócios não sabiam que eram mais sócios, outros achavam que não eram mais. Entrei em contato com uma pessoa e achava que ela ia poder votar, fui verificar e ele não é mais sócio da associação. Foi uma situação muito complicada na comunicação. Isso tem que ser alterado. A medida é criar um plano de comunicação específico, que seja fácil de explicar e mostrar o papel deles nesse processo.
Como promover a inclusão dentro do clube?
Lembrando que o clube tem sete funcionários, só para todos estarem na mesma página. O clube tinha um orçamento de R$ 200 milhões. Em 2019, no último ano normal do Bahia, se a gente atualizar os valores, passa de R$ 200 milhões. Você sai desse patamar para R$ 4,5 milhões. O corpo de funcionários mudou muito. São sete funcionários, está prevista a contratação de um gerente de projetos e ele vai ter papel fundamental na captação de recursos. Ele será selecionado de forma aberta ao mercado, não será indicação minha, terá metas a cumprir. A ideia nossa é dar diversidade. As pessoas às vezes confundem, acham que é política partidária e não existe isso. Um ambiente que tem diversidade está propício a inovação. Uma empresa que aposta na diversidade cresce, os funcionários ficam satisfeitos. As pessoas querem isso das organização. É uma questão de recursos humanos e vamos abraçar, até porque temos compromisso em uma sociedade melhor. Vamos aderir ao selo da diversidade étnico-racial da Prefeitura de Salvador, vamos aderir ao pacto global da ONU. Todas as organizações grandes do planeta fazem parte e você tem que fazer parte. Eu trabalho na Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB) e ela é signatária, o SEBRAE também é. Não há custos para o Bahia, mas é a sinalização de compromisso com essa agenda, que é importante, pensando na parte prática, para a captação de recursos. O relatório de sustentabilidade também é importante, vamos procurar grandes empresas para participar e elas exigem das organizações. Tem que estar documentada, seguindo os indicadores. Será uma ferramenta de gestão e captação de recursos.
Como você enxerga os 10% do Bahia dentro da SAF liderada pelo Grupo City?
É importante esclarecer. o Bahia tem 10% da SAF, mas ele participa do Conselho de administração, que é composto por quatro pessoas, três são indicadas pelo City, sendo que são representadas por uma pessoa chamada Alexandre Nogueira e a outra é o presidente do clube. Esse conselho se reúne a cada três meses, recebe relatórios mensais da diretoria de futebol, ele aprova o trabalho de futebol, tem acesso a todos os contratos, ele opina sobre as contas e ele é responsável também pela governança da SAF. Em agosto, o Conselho Deliberativo indicou o seu representante no Conselho Fiscal da SAF. O representante foi eleito pelo Conselho Deliberativo e até hoje não tomou posse. Os outros dois membros do Conselho Fiscal, indicados pelo City, já tomaram posse. Por que que o representante do clube não tomou posse? O conselho de administração poderia ser convocado de forma extraordinária e o presidente do clube pode fazer a convocação e poderia ter atacado essa questão. Ele é responsável pela governança e é importante que o Conselho Fiscal da SAF funcione. Por enquanto, ele está capenga. Ele pode influenciar no futebol, recebe relatório mensais, ele vai acompanhando o plano de trabalho, ele sabe os jogadores que serão contratados... Ele vai cobrar o planejamento. Se não estiver entregue, ele vai cobrar.
Como você avalia o processo de gestão de Guilherme Bellintani?
Até o closing, eu estava no Conselho Fiscal até outubro... Até o closing existiu um trabalho grande na transição, que não foi fácil. Houve uma migração de ativos e passivos de um dia para outro, não é exagero. Vão de vez. Então é uma operação complexa, tudo tem que ser lançado de forma correta. Depois do closing, vejo Vitor participando dessa transição, mas o clube de fato ficou em segundo plano. Foi contratada até uma empresa pra fazer essa comunicação com os sócios, mas não foi bem sucedido. Como falei, a questão do Conselho Fiscal da SAF não tem explicação porque não aconteceu. É papel do presidente do clube zelar. Também acompanhei as reuniões do Conselho Deliberativo e vi vários conselheiros querendo discutir o futuro do clube, mas não aconteceu. A diretoria tinha o modelo de fazer o "Repensando o Bahia", mas não foi feito. A gente vai fazer isso, mas poderia ser feito agora. Era o momento ideal para fazer. Acredito que deixou a desejar.
Na função de presidente do Conselho Fiscal, você esteve em Manchester para representar o Bahia. Como foi a experiência?
Foi uma experiência muito interessante. Chegamos lá na quinta-feira e o jogo foi no sábado. Visitamos o centro de treinamento do City, conversamos com vários membros de diretoria, tivemos várias reuniões... Ficou claro para mim a importância do matchday, que é a terceira maior receita do City. Eles exploram todos os espaços do estádio para levantar recursos, experiências... A inclusão com áreas de acessibilidade, espaço para pessoas com autismo. É um espaço que junta a comunidade local. Os campos são perfeitos e um dos campos, que está até em azul, é para a comunidade. Tem muita gente empregada da comunidade e eles pagam acima do teto. Há um senso de pertencimento e eles têm um item de sustentabilidade, da relação com a cultura. O interesse deles aqui é de longo prazo, não é uma questão limitada ou comercial apenas. A divisão de base do Bahia já tem a capoeira, que é um esporte não olímpico. Eles têm o cuidado de identificar com a nossa cultura. Temos as cores do nosso estado, uma história linda, o primeiro representante do Brasil na Libertadores, primeiro campeão brasileiro, temos um sistema democrático perfeito. Entendo que eles têm essa preocupação. Tanto que tiveram uma reunião aqui e ficaram maravilhados com a torcida. O pessoal ficou atrás da Bamor e ficou louco. Eles sabem que aqui é diferente e entendem que aqui há uma possibilidade real de ter um novo Manchester City.
A sua campanha solicitou ao Bahia a inscrição no Comitê Brasileiro de Clubes. Qual a importância dessa adesão?
São os três grupos que me apoiam, o +Bahia, Independente Tricolor e O Bahia é de Todos e Todas que fizeram essa solicitação e que foi abraçada pela mesa do Conselho Deliberativo. É importante a gente ingressar o mais rápido possível no Comitê Brasileiro de Clubes. Eles recebem recurso da loteria e outra parte é direcionada para o Comitê Brasileiro de Clubes Paralímpicos. O primeiro ano é de adaptação, você não consegue recurso de imediato. Os recursos começam a chegar no segundo ano, com viagens e questões específicas para os esportes que vamos abraçar. Então será uma importante fonte, mas não será a única e nem a principal. A nossa principal fonte será de parcerias com empresas privadas, já fizemos o mapeamento, vamos propor projetos, procurar os parceiros do City, que já sinalizaram interesse. Há interesse de fincar raízes aqui. Vamos explorar o matchday e na sequência, no último ano de gestão, para ter o nosso espaço próprio. Será um local para o sócio e a sócia usufruir.
Particularmente, você tem alguma preferência por algum esporte?
Tem modalidades que eu gosto bastante, não queria antecipar, mas vou responder... Quando eu era adolescente, andava de skate. Um escudo do Bahia no skate ficaria lindo. Tem muitos atletas talentosos que precisam de apoio, então tenho um carinho especial. Mas vou ouvir o sócio e a sócia. Temos uma ligação boa com o basquete, mas é uma questão que será ouvida pelo sócio e sócia. A decisão será técnica.
Você sempre fala em gestão participativa no Bahia. Como promover unidade com tantos grupos?
Acredito que todos devem participar desse modelo de atuação. Caso eu não seja eleito, estarei à disposição para ajudar. Lutei dez anos pela democratização do clube. Sempre foi assim. As assembleias gerais, que eram bem tumultuadas, nós organizávamos e tomávamos a rasteira da presidência. Mas a gente queria organizar porque a gente não aceitava. Mesmo que a gente não conseguisse aprovar o que conseguia. Minha vida foi e está sendo de dedicação ao clube. Acho que todos os grupos precisam estar envolvidos e por ocupar uma questão mais técnica, no Conselho Fiscal, me dá uma facilidade de conversar com diferentes grupos. Os candidatos me respeitam nos debates, não vi ninguém me atacar, sabem meu histórico e entendo que posso conversar com os quatro.
O Bahia perdeu muitos sócios recentemente. Você teme um esvaziamento na votação do sábado?
Tenho essa preocupação. Na última assembleia geral, foi um número muito pequeno, bem reduzido. A votação foi baixíssima. Houve uma falha de comunicação e tem gente que não sabe que é sócio. Lutamos muito pela democratização do clube, então é importante que o sócio participe e viva o clube, pois precisamos estar fortes, fiscalizar a SAF e também viver o Esporte Clube Bahia. É o nosso patrimônio, carrega nossas cores e precisa ser fortalecido sempre. Peço que o sócio participe e se possível, vote no 88.
Como você sonha a associação em 2026?
Sonho com um caminho claro, legítimo, que todos saibam o caminho a ser trilhado, com um projeto de ginásio já apresentado e com pelo menos 20 mil sócios em dia fiscalizando, participando ativamente da vida do clube e o nosso time se destacando em campo.
Deixe suas considerações finais.
Nação Tricolor, estamos chegando na reta final de campanha, estamos construindo um novo modelo. Precisamos de todos os sócios e sócias nesse projeto. Reúno as condições para tocar esse projeto, tenho competência técnica, sou gestor, economista, tenho história no clube e um projeto a ser apresentado. Gostaria que todos se juntassem ao 88. Não se esqueçam da segunda estrela. Bora Bahêa!
Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias
Martinez detalha propostas para o Bahia e afirma que investimento do City vai depender do presidente eleito
Por Ulisses Gama
Presidente do Conselho Deliberativo do Bahia, Leonardo Martinez foi um dos nomes que conduziu o processo da SAF do Bahia. Neste fim de ano, ele tenta se tornar presidente do Esquadrão de Aço. Em entrevista ao Bahia Notícias, o advogado relatou a sua experiência e disse estar pronto para assumir o cargo no triênio 2024-2026. A votação será realizada no próximo sábado (2).
"Entre os candidatos, sou o que tem uma relação mais próxima a essa nova realidade do Esporte Clube Bahia. Houve a cisão e foi criado o Bahia SAF, fui presidente do Conselho que conduziu esse processo, tive um triênio movimentado, com atuações históricas, recorde de realizações de reuniões, conduzi a SAF, a expulsão de Marcelo Guimarães Filho, conduzi a reforma dos diplomas legais, estatuto...", disse.
O gestor também disse ter uma relação próxima com o Grupo City e reafirmou a teoria de que o conglomerado pode mudar a sua ideia de investimento a partir do presidente eleito. Martinez argumenta que o "ambiente" pode ser diferencial para a confiança de Ferran Soriano e companhia. Vale ressaltar que o contrato assinado neste ano tem um investimento pré-definido partindo de R$ 1 bilhão nos próximos 15 anos. Apesar da afirmação, não há registros públicos ou apurados pelo Bahia Notícias que indiquem a possibilidade de alteração das cifras a serem aplicadas pelo grupo na associação durante a regência do contrato.
"Se você tem um ambiente propositivo, de fluidez... O City vê o Bahia como a menina dos olhos, de forma positiva. Mas se eu tenho um presidente que mobiliza milhões de pessoas... O presidente pode influenciar para o bem e para a forma de criar tumulto, espuma... A tendência é que o sócio busque um caminho saudável. Pra quê [o Grupo City] investir em um esporte que está dando dor de cabeça?", pontuou.
Martinez também falou de planos para fortalecer o número de associados, o trabalho com torcedores do interior do estado, a busca por outros esportes e maneiras de captar recursos financeiros. Leia a entrevista completa:
Como surgiu o objetivo de se tornar presidente do Bahia?
Eu sou presidente do Conselho Deliberativo ainda, com muito orgulho. Entre os candidatos, sou o que tem uma relação mais próxima a essa nova realidade do Esporte Clube Bahia. Houve a cisão e foi criado o Bahia SAF, fui presidente do Conselho que conduziu esse processo, tive um triênio movimentado, com atuações históricas, recorde de realizações de reuniões, conduzi a SAF, a expulsão de Marcelo Guimarães Filho, conduzi a reforma dos diplomas legais, estatuto... Para além disso, tenho uma experiência comprovada com as associações. O Esporte Clube Bahia sempre foi uma associação, mas a partir da cisão do departamento de futebol, temos uma identificação forte com o terceiro setor. Fui vice-presidente e colaborador da AMA, tivemos resultados alcançados, a implementação, autoria e execução de termos de fomento, destravamos o projeto da sede própria, um sonho antigo... A sede será entregue até abril de 2024, com quatro, piscina olímpica, sala de aula... Essa experiência em associações me credencia a ajudar o Bahia, sem submeter o clube a riscos.
Você fala muito em "terceiro setor", enquanto outras campanhas evitam o termo. O que falar desse novo momento da associação?
Lamento essas campanhas que tratam um processo tão sério de informação com ilusão com o torcedor. Buscam trazer a paixão do torcedor, mas não posso iludir. Não posso dizer que o próximo presidente vai ter controle sobre o futebol. O City Football Group investiu R$ 1 bilhão e tem 90% do contrato. Isso quer dizer que quem toma as decisões é o City. Mas ter um bom relacionamento com o City é muito importante porque você vai, de forma assertiva, cobrar o que está previsto em contrato. Nenhum candidato vai dizer que vai tapar os olhos. A verdade é que todos os candidatos tem compromisso de fiscalizar o contrato. Tem candidato que busca, o ex-presidente Marcelo Sant'Ana, quer trazer uma veia, experiência no futebol que não reflete a realidade. Ele foi presidente do Bahia no primeiro ano e o Bahia ficou em 9º na Série B, no segundo ano subiu em quarto lugar graças ao Náutico, que perdeu para o rebaixado Oeste... Pós presidência, tornou-se empresário que não conseguiu emplacar, não conseguiu ser diretor executivo no Athletico e no ABC. Agora, depois de renunciar ao Conselho Deliberativo, dez dias depois de se afastar da empresa, ele volta para tentar ser presidente. Perguntei a ele se ele volta a ser empresário se perder. Ele não responde. Me preocupo muito, antes de ser candidato, como torcedor, por causa de algumas campanhas ilusórias. A gente precisa acompanhar o futebol do Bahia, mas não pdoemos vender ilusões para o sócio. Precisamos de um presidente que saiba captar recursos, foi isso que fiz enquanto era gestor, captei mais de R$ 20 milhões, e precisamos de um presidente com bom relacionamento. O City precisa se relacionar com alguém que não votou contra.
Como conseguir alavancar o número de sócios da associação?
Precisamos melhorar muito a comunicação entre sócio e Esporte Clube Bahia. Hoje muitas pessoas não sabem se são sócias da associação. Precisamos engajar o torcedor,ter a nossa sede própria. Consegui a sede própria da AMA e vamos conseguir a sede do Bahia. Já temos o projeto, está nas minhas redes sociais, vamos gerar pertencimento, envolver os ídolos nesse projeto para dar dignidade e resgatar a história, o senso e torcedor raiz. Precisamos miscigenar a nossa cultura com a nova realidade. O City tinha dinheiro para comprar um clube do zero, mas eles não queriam isso. Queriam um clube forte, com torcida e cultura. O nosso papel é fazer essa mediação, trazer esses benefícios com a nossa cultura. Nós vamos trazer essa identidade cultural para dentro da associação, vamos ser os porta-vozes, trazer o Grupo City para além do que está no contrato. Pretendo implementar na minha gestão um fortalecimento do Bahia da Massa e Bermuda e Camiseta, atrelado ao sócio da associação e da SAF. Isso será encaminhado para fortalecer o sócio que baixa renda para garantir novas vagas. São dois CNPJ'S diferentes, mas o Bahia SAF pode contratar a associação, basta ter entendimento de qualidade para que isso aconteça. Iremos ter no Grupo City um parceiro para fortalecer a associação.
Como é a sua relação com o Grupo City? Falou com algum deles durante esse período eleitoral?
A relação com o Grupo City é construída. Não se faz de um minuto para outros. A partir de comportamentos, você avalia e vai fortalecendo uma relação. Desde antes da realização do contrato, tenho uma relação honesta com o Grupo City. Nem de permissividade como presidente do Conselho Deliberativo, mas houve momentos em que precisei dialogar. Houve um momento que não abria mão de que os conselheiros tivessem acesso integral ao contrato e que a comissão provisória da SAF tivesse acesso em tempo real. Inicialmente, não era esse o formato. O Grupo City entendia que por questões estratégicas de mercado, a diretoria e a mesa diretora poderiam ter acesso. Eles entendiam que quanto mais pessoas, mais chances de vazamento. Apesar de defender que o sócio também deveria ter acesso, conseguimos chegar ao meio termo. Todos os conselheiros tiveram acesso ao contrato na Arena Fonte Nova, os componentes da comissão provisória tiveram acesso em tempo real e eu, enquanto presidente do Conselho, tinha acesso em tempo real. Também exigi que a diretoria criasse um canal de perguntas e respostas para os sócios, além de disponibilizar advogados para tirar dúvidas dos sócios. Naquela época, foi o máximo possível. Naquela época poderia fazer tumulto e terminar sendo responsável por inviabilizar o negócio. Construímos uma relação honesta, onde eles sabem que eu defendo o interesse do Bahia, mas que não vou criar tumulto. É uma relação positiva, de respeito mútuo e tem tudo para fortalecer. Tenho contato com as principais lideranças, assisto os jogos no mesmo camarote de Raul Aguirre, CEO. Já tive diálogos com Ferran Soriano, sempre com muita franqueza. Ele percebe sinceridade de minha parte, sem nenhum tipo de interesse ou criando caos para o sócio.
Como você pretende trabalhar com as embaixadas do clube?
Nosso plano de gestão tem a expansão do alcance territorial, que visa fortalecer a relaão com os sócios do interior, embaixadas e um diferencial meu é de que tudo que digo, tem uma história escrita por mim mesmo. Quando digo que tenho experiência em associações, isso pode ser verificado na AMA, quando digo que sou um presidente de Conselho que tenho equilíbrio, isso pode ser visto na forma que conduzi as reuniões, a convivência com dez grupos políticos. Quando falo de fortalecer os sócios do interior, não é uma promessa de campanha que vou fazer e sumir. Eu instituí as reuniões híbridas, que permite a participação do sócio do interior. Hoje ele pode ser conselheiro por conta das reuniões híbrida. Nossa gestão também fortaleceu a situação dos ex-jogadores de futebol do Bahia. Vamos utilizar os ídolos para fortalecer essa relação com o torcedor. Toda essa movimentação gera força, engajamento. Teremos esportes no Bahia e com sistema de acesso garantido, vamos ter um clube de vantagens da associação e teremos isso graças a nossa relação com o City. Vamos atrelar produtos do futebol, trazendo benefícios para quem for sócio da associação e do Bahia SAF. Aposto no fortalecimento desse relacionamento para atrair e dar robustez para o nosso quatro de sócios.
Sua campanha tem sido marcada por muitas rusgas com o ex-presidente Marcelo Sant'Ana. Teme que isso atrapalhe a questão propositiva na eleição?
Preciso lhe dizer que antes de ser presidente do Conselho, sou torcedor e estou disposto a defender o Bahia com toda a minha força. E eu não tenho dúvida que a eleição de Marcelo Sant'Ana traz risco para o Esporte Clube Bahia. Por falta de capacidade, falta de experiência... Ele mesmo admitiu ter um conselho consultivo feito por pessoas que não apoiam mais ele. Pessoas que ajudaram ele em outro momento não estão mais pelo estilo dele. Marcelo tem uma péssima relação com o Grupo City, que é o grupo que tem 90% do nosso futebol. Quanto a essa questão propositiva, penso que não. Óbvio que essas declarações certamente vão ser colocadas na chamada de uma matéria e vão render cliques, mas eu não deixo de falar sobre minhas propostas. As pessoas acabam sendo atraídas pela polêmica. Meu plano de gestão tem dez pilares. Tenho uma história como gestor de associações e presidente do Conselho do Bahia. Se eu tivesse um milímetro de dúvida sobre minha capacidade, não iria colocar meu nome à disposição. Não tenho interesse financeiro e político.
Você tem uma boa relação com os ídolos do clube. Como tem sido esse contato?
Primeiro, é uma relação fraternal mesmo. Sou filho de ex-jogador, convivi com os ídolos e tenho responsabilidade em ter o apoio deles. Esse apoio veio porque eles sabem exatamente o que irei fazer. Eles sabem do amor que tenho, até irracional. Estou em um momento pessoal e financeiro tranquilo e me expor para me tornar presidente é chamar porrada que normalmente você não tomaria normalmente. Eu sou pai de família, tenho filho com autismo... E sempre procurei colocar amor em tudo que faço. Os ídolos estão comigo e é bom lembrar que eles são de uma época que não era o glamour que tem hoje. Ronaldo Passos atuou 18 anos no Bahia, Douglas deve a vida dele ao Bahia, todo mundo sabe a gratidão que Douglas tem por não entrar em um avião que ganhou. É um cara que jogou oito anos no Bahia e ganhou sete títulos. É algo que me honra e traz grande responsabilidade.
Particularmente, qual a opinião do candidato sobre outros esportes na associação?
Penso muito que teremos bons resultados com boxe, temos um ídolo que é Hebert Conceição, podemos ter bons resultados com maratonas aquáticas e natação. Podemos ter um termo de cooperação com a prefeitura de Salvador na piscina olímpica. Posso citar basquete, mas isso é um mero pensamento do presidente. Não dá pra criar ilusões. A gente precisa cumprir o estatuto, a legislação e trazer o que ter pertinência técnica... Vamos ouvir o sócio e seguir todo esse percurso que eu disse pra você.
Você chegou a pedir para os sócios "não arriscarem o futuro do Bahia" durante as eleições por conta do investimento do City para 2024. A depender do presidente eleito, esse investimento pode mudar?
Em relação ao investimento, isso está atrelado ao ambiente. Se você tem um ambiente propositivo, de fluidez... O City vê o Bahia como a menina dos olhos, de forma positiva. Mas se eu tenho um presidente que mobiliza milhões de pessoas... O presidente pode influenciar para o bem e para a forma de criar tumulto, espuma... A tendência é que o sócio busque um caminho saudável. Pra quê investir em um esporte que está dando dor de cabeça? Pra quê se 'aporrinhar' tanto com alguém que possa estar dando problema, confusão. O que acontece pode gerar repercussão positiva e negativa. O Grupo quer repercussão positiva.
Como você avalia a condução do Bahia após a passagem de bastão para o City?
Depende da fase. Quem conhece o contrato, sabe que tínhamos que cumprir 16 etapas para ter o closing. Essas etapas foram cumpridas de forma correta, antes do prazo e precisamos reconhecer o empenho para isso. Não é simples. São muitas etapas, altíssima complexidade. Logo após o closing, se iniciam diversas outras etapas burocráticas e que não dão tanta visibilidade. O momento era de prender esforços para garantir isso. Mas se você me perguntar sobre essa terceira parte, a diretoria poderia ter feito movimentos para estruturação da associação. A pedido de outro grupo político, encaminhei o pedido de inscrição no Comitê Brasileiro de Clubes para que possamos, por exemplo, receber recursos da Caixa. Enquanto presidente e candidato, poderia não dar notoriedade e arquivas, mas tenho que pensar no bem do Bahia. Deferi e encaminhei no mesmo dia. Não quero criar espuma política e problema. Acho que a diretoria já deveria ter feito isso, mas temos que reconhecer o lado positivo. O "Repensando o Bahia" poderia ter sido feito, teve o pedido, mas temos que olhar para a frente. Se eu for presidente, a associação vai ser forte. Se você me perguntar se eles deveriam ter contratado, eu diria que não. Se você pega um profissional gabaritado que sabe que o presidente está no último mandato e que três meses depois irá sair, fica difícil fazer contrato. O que eu digo enquanto presidente do Conselho tem repercussão. Muitas das cobranças eu faço de forma institucional. Se a resposta for coerente, me dou por satisfeito. Não vou para a imprensa criar tumulto. Em parte, concordo, mas acho que eles poderiam ter feito um pouco mais.
Como você avalia a gestão de Guilherme Bellintani no Bahia?
Avalio de forma honesta. Poderia ser, enquanto candidato que não tem apoio de Bellintani, poderia tratar ele como uma pessoa que deve ficar longe, mas preciso ser honesto. Bellintani tem as qualidades dele, foi Bellintani que trouxe o Grupo City, deixando com dívidas quitadas, alavancou o número de sócios no Bahia e Guilherme tem um defeito em relação ao futebol. Ele poderia ter delegado, até porque ninguém é bom em tudo. Respeitosamente, não é a praia de Guilherme. Mas acho que foi um presidente positivo. Se eu for eleito, apesar dele não me apoiar e de não ter direcionamento dele, já que ele apoia Ferretti, não tenha dúvida de que vou procurar Guilherme Bellintani para ajudar o Bahia.
E o Grupo City?
Como torcedor, óbvio que a gente estava achando que com o Grupo City, iríamos ter resultados fantásticos em campo e eu me encaixo. Mas se você para pra analisar com equilíbrio, isso não é possível, não é o esperado. Tenho certeza que o Grupo City tem história e quando disse para você que essa é a melhor SAF do Brasil, não tenho dúvida nenhuma. Temos o melhor parceiro do mundo e você pode me cobrar. O Grupo City deu certo, a SAF deu certo e o Bahia é um multicampeão do Brasil.
Você tem Fernanda Tude como vice na sua chapa. Qual será o trabalho para as mulheres no clube?
O 100% Bahêa é um grupo que tem uma atuação forte. Fernanda Tude, além de mulher, tem alta capacidade. É advogada, empreendedora, conhece o futebol como poucos, tem 15 anos de experiência em associações e o 100% Bahêa tem uma característica de que não fazemos apenas o cumprimento de número mínimo. Sempre colocamos mulheres maior do que o obrigatório e em posição de eleição. Tem grupo que adiciona nas últimas posições. Acho que é simbólico e não admiti retirar essa obrigatoriedade enquanto presidente do Conselho. É assim que nós vamos ampliar. Fernanda Tude vem para trazer a participação da mulher e incluir todas as minorias. O Bahia é um clube do povo, com pessoas de todas as formas e é isso que vamos fomentar e fortalecer no nosso plano de gestão. Pretendo incluir pessoas com deficiência na nossa equipe, também vamos inserir mulheres. Isso vai depender também do orçamento com a nossa gestão, porque temos responsabilidade financeira. O Bahia não é lugar de cabide de emprego. Teremos pessoa com competência técnica e representatividade. Queremos todos e todas com qualificação.
Recentemente, a campanha apresentou o projeto de uma grande sede social para receber os associados e conselheiros. Pode falar mais sobre a ideia?
Quem não me conhece viu aquilo ali e ficou se perguntando se vai dar certo. Já quem me conhece diz que realmente. É uma repetição de uma história que já escrevi. Quando eu comecei na Associação dos Amigos do Autista, tinha o sonho da sede própria e muitos diziam que não era possível. E hoje temos um projeto em execução na Estrada do Curralinho, uma sede sendo levantada, com projeto inicial de R$ 14 milhões e hoje R$ 18 milhões com os aditivos. Uma sede de uma associação que não tinha nenhuma renda, vivia sempre uma situação difícil e hoje nós temos uma sede que está sendo construída e será inaugurada no dia 2 de abril de 2024, dia mundial do autismo.
Como reforçar a marca Bahia no Brasil e ao redor do mundo?
É mais um ponto que não fica só na promessa, também fica na minha história. Sou presidente do Conselho Deliberativo que, na reforma estatuária, trouxemos a preocupação com as cores e a marca do Bahia. Se o sócio acessar o estatuto do clube, vai ver que até o código pantone de cor está presente, para garantir as cores e nossa identidade. Nós iremos crescer de dentro para fora, expandir nossa marca. Não conheço um empresário que não queira ligar a sua marca com a do Bahia. O Bahia é muito forte, nossa marca é forte e ela deve fazer parte da sociedade e das pessoas que torcem para o Esporte Clube Bahia.
Como pretende colaborar na relação do Grupo City com Federação Bahiana de Futebol (FBF) e Confederação Brasileira de Futebol (CBF)?
Temos um ex-presidente que teve um relacionamento tumultuado com a CBF e Federação Bahiana de Futebol. Tenho uma rede de relacionamento muito boa e tenho os ídolos ao meu lado. Tenho pessoas que viveram a história do futebol... Além do relacionamento com os gestores do futebol, tenho pessoas que irei me socorrer se eu precisar do apoio. Irei pedir apoio e nos colocaremos à disposição do Grupo City que tem a sua rede de relacionamento. Mas em momento algum vou criar ilusão de que é o presidente que vai definir os rumos do futebol. Ele será um facilitador, alguém que irá intermediar. Sem passar imagem de brigão e conflituoso.
Você afirma que os candidatos não devem iludir a torcida sobre o trabalho no futebol, mas o presidente participa de um conselho consultivo no City. Como define essa participação com a SAF?
Não é pequena. É uma grande de administração. O conselho de administração é de quatro pessoas, com uma do Bahia. O representante do City responde por uma pessoa e o presidente da associação na interlocução. É a pessoa que vai dialogar e sabendo que não há conflito de interesse, um passado de empresariado e interesse outros, isso já dá um caminho fluído. A verdade é que por mais que você possa deliberar e opinar, a decisão é de quem tem a maioria das cotas. É importante ter um caminho de bom relacionamento e influenciar positivamente. É levar o sentimento da torcida para dentro desta mesa. Foi que fiz na viagem para Manchester. Encontrei Ferran Soriano e disse o que achava sobre Renato Paiva. Por conta dessa impressão, o grupo tomou essa ou aquela decisão? Não. Mas é diferente da pessoa ouvir minha opinião e pensar 'será que ele pensa isso mesmo ou quer me indicar um técnico?'.
Qual é o objetivo para entregar o Bahia em 2026?
Pretendo entregar com patrimônio material e imaterial muito mais forte, robusto, organizado, com direcionamento de crescimento no esporte e mais do que isso: no senso de pertencimento do sócio do Esporte Clube Bahia. Falam que vamos cuidar apenas de 10%. Espero que daqui a alguns anos, a gente possa ter ciência da força do Bahia.
Deixe suas considerações finais.
Hoje estou aqui para agradecer a vocês. Sou presidente que você conhece: equilibrado, responsável e que sempre atuou no melhor para o Bahia. Estamos em uma eleição polarizada. Não dê voto para aquele candidato que você sabe que não tem chances. Seu voto pode ser decisivo para que o candidato que não seja o melhor saia vencedor. Vote em Leonardo Martinez porque você terá alguém que quer o melhor para o Bahia, experiência comprovada e que vai lutar para ter o coração tricolor na Diretoria Executiva.
Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias
Baraúna projeta "resgate da credibilidade" com o sócio do Bahia e critica gestão Belllintani: "Omisso"
Por Ulisses Gama
Radialista com grande experiência na cobertura do Bahia e conselheiro do clube, Jaílson Baraúna quer representar o torcedor do Esquadrão de Aço na função de presidente. Com Raimundo Nonato como vice, ele faz parte da chapa Um Novo Bahêa, de número 79. Com o sonho de ser escolhido pelo associado no próximo sábado (2), o candidato concedeu entrevista exclusiva ao Bahia Notícias e disse que um dos principais objetivos é cuidar da associação com responsabilidade e "resgatar a credibilidade" com o torcedor.
"O Bahia é do povo, feito pelo povo. Quem é o sócio do Bahia? É o povo. A gente tem que estar perto do povo. Eu não posso falar de cor se não a tenho. Como vou falar de pobreza se nunca fui pobre? Como vou falar de arquibancada se nunca estive lá? O que fez o sócio estar longe é justamente isso. Pessoas que sequer vão na arquibancada ou vão de três em três anos para fazer campanha, mas no dia a dia não estão nem aí para o povo", disse.
Crítico ferrenho do atual presidente, Guilherme Bellintani, Baraúna afirmou que a gestão "abandonou" o clube após a assinatura de contrato com o Grupo City, que assumiu o futebol do clube.
"Pensam um Bahia e trabalham para um Bahia pequeno. Quando tiveram 210 milhões de orçamento, rebaixaram o clube. São pequenos, pensaram o Bahia pequeno, agiram o Bahia pequeno e prejudicaram o próximo presidente, independente de quem seja. Deveria ter um mínimo de estrutura e não tem. De 8h às 17h só tinham isso para fazer? Abertura de empresa o seu contador não faz? O contrato não estava assinado? Só dava para pensar no closing? É uma desculpa esfarrapada!, esbravejou.
Baraúna também foi questionado sobre busca de receitas para a associação, trabalho em parceria com o Grupo City, presença dos negros dentro do clube e a escolha por outras modalidades esportivas.
Por que você decidiu se candidatar à presidência do Bahia?
Por ver por dentro aquilo que você não queria que estivesse acontecendo. Um Bahia mal administrado, abandonado, um presidente omisso que se acha no direito de apresentar um candidato tendo errado tanto e feito mal desportivamente. Um cara que gerou prejuízos que estão contabilizados. Quem quiser, pode ver na prestação de contas. O passivo do Bahia quando Marcelo Sant'Ana saiu era de 87 milhões. Quando ele entregou para a SAF, estava acima de 270. São quase 200 milhões de prejuízo acumulados ao longo da gestão de alguém que era visto como Midas. De ver tudo isso no Conselho e ver o sistema dizer amém, a gente quis sair para mostrar que o povo tem voz, vez e capacidade de gerir o clube e impor uma gestão que tem que ser técnica e que pode ter pimenta com a paixão. Tudo aquilo que se faz com paixão, se dá algo mais e é esse "algo mais" que queremos dar ao Esporte Clube Bahia.
Na sua opinião, qual vai ser a principal missão do próximo presidente do Bahia?
Resgatar a credibilidade, a comunicação com o sócio. O Bahia tem 50 mil sócios transferidos para a SAF e só 7 mil para a associação. Por que tanta distância? Como essa distância aconteceu? Ela acontece pela falha de comunicação, pela ausência do presidente. Você já viu o presidente no setor Norte? Leste? Ladeira da Fonte? Você só vê o presidente em evento de marketing, cercado por seguranças. O Bahia é do povo, feito pelo povo. Quem é o sócio do Bahia? É o povo. A gente tem que estar perto do povo. Eu não posso falar de cor se não a tenho. Como vou falar de pobreza se nunca fui pobre? Como vou falar de arquibancada se nunca estive lá? O que fez o sócio estar longe é justamente isso. Pessoas que sequer vão na arquibancada ou vão de três em três anos para fazer campanha, mas no dia a dia não estão nem aí para o povo. Por ver tudo isso, a gente precisa fazer com que o sócio participe de fato da vida do clube.
Como atrair os sócios para a associação?
Já tivemos um tempo atrás o plano de descontos. Esse plano foi transferido e depois vou entender melhor essa situação. Vamos imaginar que você tem um menino e que você pague de mensalidade 800 reais. Se a gente consegue ter uma parceria com essa escola, ela oferece um desconto de 10%. Estamos falando de 800, então 80 reais, que equivale a quatro mensalidades do sócio. É vantajoso para o sócio pagar os 20 do sócio? É, porque ele ganha quatro todo mês. E no final de um ano, ele tem 48 mensalidades economizadas e pagou 12. É buscar parcerias para reestabelecer. Não é uma ideia minha, mas é uma reedição do que já teve, mas foi abandonado. É uma reedição de parcerias com bares, restaurantes, escolas, faculdades e dar corpo a isso. Além de me comunicar com o sócio, ele vai ter benefício no bolso. Quando você economiza no bolso, sobra 20 para pagar a associação e colaborar com o projeto.
Baraúna, você é o único candidato negro dessas eleições. Como vê a inserção dos pretos dentro do Bahia?
Zero. O Bahia tem um núcleo de ações afirmativas onde o diretor do núcleo fala de discriminação, mas ele, com todo respeito, é branco de olhos azuis. Me diga um diretor negro do Bahia. Não tem nenhum! Não posso falar de inserção, acolhimento, cuidado com o povo negro, se não tenho nenhum negro na minha gestão. É acolhimento para ganhar curtida? Para ganhar voto na eleição? É só para isso que o negro serve? Mas quantos negros teriam capacidade? Eu conheço vários e não tem nenhum. Temos baianos com história fantástica que poderiam ser coordenadores da divisão de base do Bahia. Mas não são. E a maior representatividade de base no Brasil é um baiano. Tirando os dois que estão comandando o clube, não temos ninguém representando os baianos. Estamos nesse pleito para isso. Nós somos a cor dessa cidade. Não a cor da pele, mas sim a cor de quem constrói o Bahia. Quem construiu o Bahia é o negro, branco, pobre, trabalhador, assalariado. Nós representamos tudo isso. O Bahia não tem cor específica, mas falando do povo preto, não tem ninguém em cargo de comando. Talvez você encontre o motorista, o mecânico, o faxineiro, mas o gerente, supervisor e diretor, esqueça.
Como será o seu trabalho com as embaixadas?
A nossa facilidade é falar do que a gente vive. Vocês acompanham. As embaixadas, para eles, servem como massa de manobra. Eles aparecem pontualmente, como você disse, em um jogo do Campeonato Baiano. Não é todo ano que o Bahia joga em Alagoinhas, Feira ou Juazeiro, depende de um sorteio. É só isso? O novo estatuto do Bahia diz que a embaixada é um braço da associação, mas eles só usam isso para pegar voto. Todo mundo procura as embaixadas de três em três anos. O que você pergunta para o cara da embaixada? Pergunta a dor, as dificuldades... Oferecemos isso como projeto na nossa chapa de conselho no ano passado. Fingiram que acataram e não implementaram. Sendo presidente, vamos buscar fazer a caravana tricolor, que é levar o clube onde o torcedor está. Qual a regularidade disso? Vai depender de orçamento, estudo. Se depender da gente, uma vez por mês estaremos em algum lugar. Vamos conversar, entender e perceber aquele espaço. Propor, falar, é simples, mas eles não têm boa vontade. A relação tem que ser permanente e contínua.
Como trabalhar junto ao Grupo City e fiscalizar o cumprimento do contrato?
Criaram essa fantasia. Não é função do presidente ser fiscal. Para isso, existe o conselho fiscal da SAF. Cabe ao presidente fiscalizar? Cabe ao presidente ter conhecimento. Criaram a fantasia de que é só isso. O presidente faz parte do conselho de administração. Eu sou dono de uma empresa. 'Ah, mas você só tem 10%'. E daí? Deixei de ser dono? Porque tenho 10%, tenho que chegar lá de bermuda e camiseta, colocando o pé em cima da mesa? Qual a função do presidente? Ele faz parte do conselho de administração, com três do grupo City. A função é propor, dialogar, debater, conversar, entender o funcionamento da sua empresa. O fato de ser minoritário não lhe dá o direito de ser omisso. O City entrou com 1 bilhão e entramos com as outras coisas. Quanto demandaria fazer um CT como Dias D'Ávila? Quanto tempo levaria o City criando um time para subir até a primeira divisão? Quanto demandaria para o City disputar competições nacionais? Quanto tempo levaria para ter a sala de troféus que temos? A torcida que temos? Qual o valor disso? Tem um bem material que não tem como ser calculado de forma taxativa, mas somos nós que cuidamos disso. É um valor maior que 1 bilhão. Todo esse valor está lá colocado. O Bahia não entrou com o dinheiro, mas entrou com tudo isso que representa muito mais e eles têm que fazer valer. Como a gente faz? Acompanhando, opinando, propondo, estando presente não omisso, permissivo. E observando através do conselho fiscal. A função não é pedir relatório no ar condicionado. Também temos direito. Temos que entrar com ordem, respeito, coerência.
Você vai participar do futebol do clube?
Você não tem essa prerrogativa de comando, é do Grupo City. Mas a prerrogativa de saber das coisas. É perguntar como estão as coisas, entender o planejamento do futebol. Ele vai acatar a sua sugestão se ele quiser, mas são quatro. Três vão votar contra você, mas o não você já tem. É convencer com bons argumentos que a sua opinião é válida.
Como tem visto o trabalho para a entrada do Bahia em outros esportes?
Ele só tem pedido voto para o candidato dele. Só. Para a associação, não fez nada. Por que nada? A associação está no zero. Não cabia ao presidente atual ter alguns estudos de viabilidade para facilitar a vida do próximo presidente. Ele tem a associação para virar SAF em dezembro. Não poderia ter destacado alguém para começar a pensar a associação, já que era um caminho sem volta? Se eu sei que é um rito burocrático, porque não destacou pessoas para pensar o próximo momento? O presidente que vai entrar não sabe para que lado o Bahia vai. O Bahia sequer se inscreveu nos conselhos de ações sociais. Um movimento bobo, tolo, um ofício enviado. Nada! O presidente chegou e disse que era opção dele não fazer nada. Vou dizer que isso é bom? Eu quero implementar a natação. Como será isso? Qual será a viabilidade? Não tem planejamento. Não tem uma folha de papel dando norte para nada. Os estudos de viabilidade deveriam ter sido feitos, já que ficaram um ano coçando e cheirando, desfilando simpatia. Eu o apoiei para a reeleição porque entendi que era a melhor condição para tocar o clube. Mas quando você acessa as contas desse pós momentos, você olha que fez errado. Ele descansou de uma imensa maioria no Conselho para fazer bobagens e bobagens. O próximo presidente vai ter que pensar tudo do zero e isso não é certo.
Você tem preferência pelo basquete. Como fazer isso viável?
A gente pensa do ponto de vista de participação e econômico e financeiro. Quando a gente fala do basquete, é a maior liga do país. O futebol é comandado pela casa da Mãe Joana. Você sabe quando será a última rodada do Bahia? Casa da Mãe Joana. Você não sabe nada. No basquete, você sabe o primeiro e o último jogo, com dia, horário e local. A liga é organizada, com parceria da NBA, que desenvolve ações bilaterais, com participação de 87 milhões de brasileiros, com vários participando nas redes sociais do NBB e os que assistem regularmente. Temos transmissão no canal aberto, fechado e streaming. Todos os jogos transmitindo, com parceiros diretos e participação na montagens dos times. Temos patrocinadores que dão nome á liga. Quando você vê esse universo, lhe interessa. É um esporte de massa. Teremos em breve uma Arena com 12, 15 mil pessoas. Imagine você indo para um jogo de basquete e ver um Bahia competitivo, com 15 mil pessoas vibrando? Já vinha conversando antes de ser candidato por ser um caminho viável, economicamente falando.
Qual vai ser o trabalho para tornar a associação rentável?
Deixa eu parafrasear uma letra do Ilê Ayiê: 'Cada pedaço de chão, cada pedra fincada, um pedaço de mim'. Não é Baraúna sozinho. São várias pedrinhas que vão calçar essa via, pavimentar essa via para buscar novos parceiros. Temos pessoas que militam no mais alto nível de construção e captação de recursos, tanto no recurso do mercado formal como através das leis de incentivo ao esporte. Temos um grupo de pessoas do mais alto nível, com militância em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, que já vivenciam isso no seu dia a dia, captando recursos para projetos. Já temos apoio dessas pessoas. O que não posso é pedindo algo sem ser nada. Porque você não vai dar nada a alguém que pleiteia, mas vai confiar em quem está lá. O mandato existindo, temos pessoas capacitadas para fazer a busca.
Baraúna, você é conhecido pelo seu trabalho como repórter e conselheiro, mas também passou uma imagem polêmica após a discussão com o técnico Renato Paiva. Como você pretende mudar essa imagem?
Nada melhor do que o meu entrevistador falar do que sou fora desse cenário. Eu não ligo a câmera e começo a gritar, pular no pescoço de ninguém... Eu brigo pelos ideais que tenho. E uma coisa é certa: ninguém vai pisar no Bahia. Ninguém vai tratar o Bahia como ele não mereça ser tratado. A mesma vontade que acham que briguei com Paiva, tenho para brigar com qualquer um pelo Bahia. O que a gente tem que adequar é o meio de fazer. Não sou Hebert Conceição para sair na mão. Vou brigar nas ideias, no argumento, juridicamente, com ideias, essa é a forma. Por trás da câmera, existe o pai, filho, companheiro... Mas gosto de receber o que entrego. Sou bem falado por meus companheiros de Conselho porque meu trabalho é esse. Naquele momento, ainda que subindo o tom de forma equivocada, pedia aquele tipo de atuação. Na busca pelo melhor para o Bahia, vocês vão ver aquele Leão, com vontade de buscar o melhor para o Bahia.
Como será o trabalho do presidente para ser o elo de ligação do Bahia com as entidades FBF e CBF?
É tentando fazer esse elo de ligação. Conheço Ednaldo Rodrigues, Ricardo Lima... A convivência como repórter faz a gente saber da trajetória de Ednaldo, desde diretor do interior até vice-presidente, presidente... A gente sabe a trajetória das pessoas. A gente pode auxiliar, caso necessário. Não vamos nos enxerir em nada. A gente entende que, por conhecer as pessoas, a gente pode auxiliar.
É possível entregar uma associação fortalecida em 2026?
É possível. Sendo diferente, praticando tudo que falei. Não adianta prometer e não fazer, essa é a pior parte. Pega o plano de gestão da atual administração e veja o que foi feito. Estamos falando de gestão. O que é que foi feito? Não estou prometendo nada, estou falando de coisas que posso realizar. Posso fazer a aproximação com o sócio, posso implementar uma ou duas modalidades, posso colaborar com o City... Não adianta apresentar 20 pilares e fazer três. Prefiro fazer três e ser parabenizado por cumprir esses três pilares. Estou aqui para quebrar paradigmas, furar essa bolha. Muitos estão pela vaidade de ser presidente do Bahia. Estou por ser torcedor. Eu quero ser de fato a expressão de quem represento, que é o torcedor e sócio. Garanto a você que a gente colocando em prática o plano de descontos, não teremos só sete mil sócios, mas 14, 15, 20, 30... O torcedor vai entender que é benéfico ser sócio, que o bolso agradece, que o filho dele agradece por ter um clube social para estar no final de semana. Estamos conversando, mas tem que ter um segundo momento, que é a realidade.
Como você avalia o trabalho do Grupo City no Bahia?
São três avaliações distintas de um só momento. Não posso imputar ao Ferran Soriano responsabilidade se ele colocou pessoas que para ele eram competentes para fazer as coisas acontecerem e não fizeram. Posso questionar a escolha, dizer que ele escolheu mal, mas a culpa não é dele. No planejamento estratégico ele pensou em Raul Aguirre e Cadu Santoro, pessoas que trabalham a anos e tem a confiança. Não fizeram. Ele avaliou bem, mas execução mal. Raul Aguirre veio para ser o CEO. Ele tem pertinência no futebol? Tem. Mas está ali para cuidar do clubem estrutura, departamentos, das contas, finanças, parceiros, muito mais que só futebol. Cadu Santoro faltou perspicácia na escolha do treinador. Ele se deixou ouvir por pequenino e pequenez, fez uma escolha ruim, se deixou ouvir quando queimam Gilberto, que teria sido útil, na não manutenção de Davó, Ignácio e outros, que são melhores do que os que estão aí. Davó daria mais dor de cabeça a Everaldo. Gilberto? Muito melhor que Everaldo, com uma história. Um estaria forçando o outro a estar em alto nível. Ignácio fez uma Libertadores de alto nível, enquanto Kanu deixa de subir em uma bola para reclamar de uma falta e a gente toma um gol. Atuações que poderiam ter sido diferentes por questão de escolha. Quem fez essas escolhas? Cadu e o cidadão que saiu. Esses dois prejudicaram o Bahia. O primeiro por gastar mal e o segundo por indicar mal quem vir. A indicação por trazer Chávez por R$ 16 milhões. Não seria melhor trazer Reinaldo de graça? 'Ah, mas Reinaldo é velho'. E o Grêmio disputando título gastando um terço do que gastamos. E aí? Levo vocês ao debate. Estou apresentando situações de times com resultado gastando menos que o Bahia. Futebol é feito de escolhas e as dele não deram certo. Pra mim, ele escolheu mal.
Qual a sua avaliação da gestão Bellintani? Por que você define Bellintani e Ferraz como "pequenino e pequenez"?
Péssima. Defino por pequenino e pequenez porque traduzem esse pensamento. Você acha que ele ouviu de quem que a briga era contra o rebaixamento? Você acha que Cadu Santoro diria isso? Ele ouviu de quem? Fui eu que botei no vestiário de Pituaçu que a meta era de cinco pontos em seis jogos? Fui eu que quando questionado sobre a posição do Bahia sempre se falava em orçamento? Quando se pensa dessa forma, se pensa pequeno. Pelo outro estar junto e apoiar em tudo, é pequenez. Pensam um Bahia e trabalham para um Bahia pequeno. Quando tiveram 210 milhões de orçamento, rebaixaram o clube. São pequenos, pensaram o Bahia pequeno, agiram o Bahia pequeno e prejudicaram o próximo presidente, independente de quem seja. Deveria ter um mínimo de estrutura e não tem. De 8h às 17h só tinham isso para fazer? Abertura de empresa o seu contador não faz? O contrato não estava assinado? Só dava para pensar no closing? É uma desculpa esfarrapada! Que ajuste é esse? Tem algo fora do contrato que não foi dito para a gente? Você passa sete meses fazendo nada? Não posso deixar de chamá-los de pequenino e pequenez. Um cara que disputa três finais do Nordeste e ganhou uma. E a que ganhou foi fora. Em casa não soube o que fazer, não tinha expressão facial para isso, ficava que nem barata tonta. Liberou Anderson, Tiago Pagnussat para trazer Wanderson por R$ 2 milhões, que deu um prejuízo recente de R$ 10 milhões em ações trabalhistas... Lucas Fonseca, Rossi, Mano Menezes, Elias... Posso avaliar isso bem? Eu tô trazendo dados, gente. Não tenho nada contra a pessoa, gosto da pessoa dele, mas estou falando do meu clube que ele geriu mal. Não consigo gostar de quem trata mal o meu clube. Não tenho esse cinismo. Nunca me chamou para a casa dele. Aliás, me chamou quando queria que eu o apoiasse para reeleição. Ele estabeleceu tudo que estava no plano de gestão deles e não cumpriu. São pessoas que não merecem minha credibilidade e meu respeito enquanto gestores.
Muitos criticam a busca intensa pela presidência do Bahia. Dizem que os candidatos procuram somente o salário de R$ 30 mil. Como vê essa opinião?
Discordo. É um trabalho que está lá posto. Cabe ao próximo presidente que não é só pelos R$ 30 mil. Se fosse menos, para mim dá no mesmo. Tenho meus ganhos como radialista e profissional de educação física. No Bahia, existe o retorno da dedicação exclusiva pelo seu trabalho. Não é por causa disso, e sim pelo Bahia. Mostrar que o Bahia vai além do futebol, além desse descaso atual. Desde a era democrática estabelecida, o Bahia é comandado pelos mesmos grupos. Nos últimos seis, esses estado deplorável que estão deixando o grupo. Não estou falando do meu amigo Marcelo Sant'Ana, estou falando do contexto político. A Revolução Tricolor e o Simplesmente Bahia estão há dez anos no clube. É esse modelo que você quer? Porque não sair desse sistema? Só esses dois comandaram. Pode ser diferente? Cabe ser diferente? Eu acho que cabe.
Faça suas considerações finais.
A gente fala a nossa verdade, olhando no olho e falamos do que podemos efetivamente fazer. Não vim vender sonhos e impossibilidades. Vim vender a fala de uma pessoa que tem capacidade de cumprir o que está falando e fazendo valer o dinheiro que é posto na associação. O primeiro compromisso é comigo. Tenho que me reconhecer e ao me reconhecer, reconheço o torcedor. Eu farei valer cada centavo administrado por nós e em cada passo que dermos como Esporte Clube Bahia.
Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias
Emerson Ferretti valoriza papel do cargo de presidente do Bahia: "É dono do futebol também"
Por Ulisses Gama
Ídolo do Bahia dentro do campo por muitos anos, Emerson Ferretti agora quer defender o Tricolor na gestão do esporte. Candidato à presidência do clube pela chapa União Tricolor, o ex-goleiro e hoje comentarista esportivo pensa em fazer uma associação forte para o futuro. Em entrevista ao Bahia Notícias, ele falou sobre os seus planos e destacou que o papel do mandatário tem muita utilidade, mesmo com o futebol estando nas mãos do Grupo City. As eleições serão no próximo sábado (2).
"Então, se você enfraquece a atuação do presidente do Esporte Clube Bahia, você está enfraquecendo o próprio clube. Você está entregando o poder todo ao sócio que é majoritário, ok, mas ele não é dono sozinho e o presidente do clube traz a voz e o sentimento de milhões de torcedores. Olha a importância disso", disse.
Com passagem pelo Ypiranga na função de presidente, Emerson destacou que um dos objetivos é fortalecer a marca do Esquadrão de Aço por Salvador.
"Fincar a marca Bahia no coração da Bahia. Pelourinho é o coração da Bahia, é onde todos os turistas do mundo que vêm a Salvador passam e eles vêm todos os patrimônios e materiais da Bahia. Eles vêm o acarajé, a baiana, a música, a capoeira e não veem o Bahia", explicou.
O postulante também destacou outras propostoas, além de falar sobre a sua relação dentro da política do clube e uma possível ligação entre ele e o atual presidente, Guilherme Bellintani. Confira a entrevista completa:
Por que Emerson Ferretti é o nome ideal para ser presidente do Bahia?
Eu tenho falado muito sobre isso. A gente já está em campanha há 20 dias e foi uma preparação de longo tempo. A ideia não surgiu agora. Eu sempre gostei de gestão. Com 17 anos, eu já estava na faculdade de administração em Porto Alegre, só que não consegui me formar porque aos, 20 anos, eu já era goleiro titular da equipe profissional do Grêmio, mas eu sempre gostei de estudar muito. Durante a minha carreira profissional, eu sempre estudei, busquei me informar e me qualificar. Sempre procurei, nos clubes que eu jogava, em especial o Bahia, porque eu tinha uma abertura maior, pelo fato de ser ídolo, então, eu conversava com a diretoria, entendia um pouco mais da gestão do clube e, antes de encerrar minha carreira de atleta, eu voltei para faculdade de administração, em Salvador. Em meus dois últimos anos como atleta, eu frequentei a faculdade. Parei de jogar em 2007 e me formei em 2009. Além da formação em administração, eu sou pós-graduado em gestão esportiva e já fiz vários cursos de especialização de gestão esportiva e gestão do futebol. Fui me qualificando porque eu gosto de estudar e gosto de gestão. A ideia de ser presidente do Bahia eu sempre tive. Enquanto atleta, o Bahia foi o clube que eu me identifiquei, passei a amar, criei uma identificação muito rápida com o clube e com a torcida, e passou a ser um projeto de vida após encerrar minha carreira. Logicamente, eu me preparo para pleitear esse cargo, que é muito importante. Após minha carreira de atleta ser encerrada, eu tive outros trabalhos. Aliás, exerço alguns até hoje. Já faz 15 anos que sou comentarista de rádio e TV aqui na Bahia. E eu fui para prática na gestão com o Ypiranga onde foram oito anos de muito aprendizado. Eu pude botar na prática o que aprendi na faculdade. Tinha o conhecimento teórico fresco e, no Ypiranga, dentro de uma recuperação de uma marca, de uma estrutura física, porque o Ypiranga não tinha nada, a gente conseguiu fazer muitas coisas e, principalmente, salvar o clube de fechar as portas. Essa foi a grande conquista do trabalho no Ypiranga. Hoje, o clube está vivo, reformado, tem patrimônio e isso me credenciou. Fora isso, eu tive trabalhos na Prefeitura de Salvador, na preparação da cidade para a Copa do Mundo, o maior evento esportivo que Salvador já teve, eu acompanhei e ajudei a preparar a cidade. Trabalhei no Governo do Estado, na Sudesb, que é o órgão que cuida do esporte na Bahia e trabalhei no Comitê Organizador da Copa América em 2019, que também veio para Salvador. Então, eu tenho uma larga experiência dentro do universo desportivo, como atleta, como gestor, como imprensa. Para ser exato, são 44 anos dentro do universo do esporte e uma preparação muito longa para hoje estar pleiteando o cargo de presidente do clube que eu amo. Do lugar onde eu escolhi viver. Eu amo a Bahia, nunca escondi isso. Então, une paixões: o Bahia, a Bahia, a gestão e uma preparação para tudo isso.
Desde a cisão entre Bahia SAF e Bahia Associação, se criaram muitas teorias. Muitas pessoas pensam de várias formas diferentes sobre o presidente da Associação Esporte Clube Bahia. Qual a importância desse cargo além do sentimento que você tem pelo clube?
Diminuir a participação do presidente eu acho que é pensar pequeno, né? É você entregar o poder todo ao outro sócio.O que aconteceu foi que esse esse ano nasceu o Bahia SAF, que é uma empresa privada e que o Esporte Clube Bahia transferiu todos os ativos de futebol para essa empresa e 90% das ações dessa empresa foram compradas pelo Grupo City, diga-se de passagem, o melhor parceiro que o Bahia poderia ter atraído, porque ele é o maior gestor de clubes do mundo. Então, hoje, nós fazemos parte de um grupo mundial que domina o futebol mundial porque tem 13 clubes ao redor do mundo e com resultados muito relevantes. Daqui a pouco, eu vou trazer as transformações em todos os clubes que o grupo City entrou como administrador. Então, se você enfraquece a atuação do presidente do Esporte Clube Bahia, você está enfraquecendo o próprio clube. Você está entregando o poder todo ao sócio que é majoritário, ok, mas ele não é dono sozinho e o presidente do clube traz a voz e o sentimento de milhões de torcedores. Olha a importância disso. Olha a responsabilidade de ser a voz, de ser a pessoa que vai representar o clube junto ao sócio, ao parceiro Grupo City no Bahia SAF, que cuida do futebol, que é onde a maioria dos torcedores estão interessados, né? Eles querem ver a bola entrar, querem ver a bola na rede. É isso que o torcedor quer. Então, o torcedor tem que entender isso: o Bahia é dono do futebol também, junto com o City e fortalecer o clube, fortalecer esse presidente é um dos deveres que o torcedor e o sócio têm para a gente poder ajudar o Grupo City a transformar a realidade do Bahia num curto espaço de tempo para que o Bahia volte a ter conquistas relevantes.
A Associação, a partir do ano que vem, começa praticamente do zero. Hoje, a Associação tem somente uma sede administrativa e um setor financeiro onde as coisas estão sendo organizadas. Se fala numa possibilidade de orçamento de quatro milhões a partir do ano que vem, contando já com os dois milhões e meio que são oferecidos pelo Grupo City. Como tornar, já a partir do ano que vem, essa Associação rentável e próspera para o futuro do clube?
Esse é o desafio do próximo presidente. Essa receita que a gente imagina é uma receita básica que dá para manter um trabalho básico de manutenção, de um quadro de funcionários reduzido, de uma sede, mas todos os outros projetos a gente vai ter que buscar receitas em outros lugares para poder executá-lo. Já tem vários caminhos para serem executados, por exemplo: a criação da Fundação, que, logicamente, passa pela aprovação do Conselho Deliberativo, mas a partir do momento de criada a Fundação, você pode receber doações diretas de empresas, de pessoas físicas, você pode fazer parcerias com entes públicos, Prefeituras, Governo do Estado, Sistema S, Ministério Público, Defensoria Pública. Você pode ter patrocínios diretos de empresas. Então, você traz através de projetos bem elaborados e com o braço social que a Fundação vai atuar, você traz recursos para usar na Fundação. Nos projetos olímpicos, da mesma forma. O Bahia hoje não tem nenhuma estrutura física para poder iniciar um trabalho no ambiente olímpico. A gente vai precisar construir do zero. Passa por projetos bem elaborados aprovados, principalmente, nas leis de incentivo federal e estadual, e também passa, logicamente, pela captação de patrocínio. Nós já estamos em contato com uma agência de marketing expert em marketing esportivo de modalidades olímpicas, com quase 20 anos de atuação no mercado e a gente já tem algumas ideias em relação a projetos que a gente já quer iniciar, porque não podemos perder tempo. Logicamente tem algumas modalidades que precisam ter um investimento menor, que são modalidades individuais e podem ser as primeiras a serem absorvidas por esse novo Bahia Olímpico. Mas tem as modalidades coletivas, que demandam maior investimento e que, logicamente, precisam ter projetos e patrocínios por trás. Paralelo a isso, falando de estrutura física para ter as modalidades olímpicas vai ser necessário fazer parcerias tanto com o poder público, Prefeitura, Governo do Estado, como também instituições privadas, como clubes... Porque eles já têm essa estrutura física. Existe estrutura física na cidade que você pode utilizar, mas, logicamente, para o Bahia utilizar e fazer um trabalho de formação de atletas, montagem de equipes, disputa de competições e até criar competições esportivas. Pro Bahia ser um criador de competições esportivas você precisa ter a parceria para usar as infra estruturas, apesar de muita coisa já estar aí na natureza, né? Por exemplo, a gente tem uma orla, uma costa muito grande que você pode ter vela, remo, surf, vôlei de praia. Você tem aí várias modalidades que a natureza já nos beneficiou, gratuitamente, e tem a estrutura física da cidade, com quadras de tênis, quadras de basquete, basquete 3 por 3, quadras de vôlei, ciclismo, pistas de skates. Tem muitas estruturas que podem ser utilizadas. Eu acho que o Bahia entrando forte no ambiente olímpico vai motivar e fomentar a modalidade olímpica. Outra coisa que a gente precisa para aumentar as receitas é motivar o torcedor a se associar ao clube, com uma comunicação bastante eficiente para que ele entenda que se associando ele está fortalecendo o clube. Trazendo benefícios para o sócio. Uma rede de benefícios que hoje o sócio do Esporte Clube Bahia não tem. A rede de benefícios ficou toda com o sócio torcedor, que pertence à SAF. É trazer para o sócio do clube essa rede de benefícios para motivar o torcedor a se associar. E também quando tiverem modalidades olímpicas, eu acredito que vai motivar o torcedor porque vão ter vantagens em relação a todos esses produtos que podem ser criados com as modalidades olímpicas.
Existe um mundo de modalidades olímpicas, mas, hoje, a preocupação do torcedor do Bahia, sem dúvidas, é a próxima partida de futebol, o resultado positivo, os três pontos. Isso passa pelo Grupo City, que hoje comanda o futebol do clube. Como você enxerga esses primeiros momentos do grupo City e, caso seja eleito, qual vai ser o seu caminho para fiscalizar e acompanhar o cumprimento deste contrato?
Primeiro, eu queria destacar, que ficou pendente na última resposta, o trabalho das Embaixadas, de pessoas que moram longe de Salvador, amam o Bahia e também são muito importantes, porque fomentam a marca Bahia, criam novos torcedores, se associam... Tem um movimento fora de Salvador de torcedores tricolores organizados nessas embaixadas que a gente precisa fortalecer também e aproximar o clube deles. É um dos nossos projetos e eles podem ser os nossos olheiros em relação a atletas olímpicos. Podem ser nossos parceiros nessa caminhada também. Falando do futebol, a expectativa criada pelo torcedor, a partir do momento que o Grupo City tomou conta do futebol do clube, foi muito alta e os resultados estão bem aquém. Mesmo ficando na Primeira Divisão, a avaliação vai ser que os resultados esportivos foram aquém da expectativa criada. Como eu sou do futebol, eu entendo que no futebol a gente não aperta um botão e muda uma realidade de uma hora para outra. Pode acontecer, pode, mas não é o comum. É um processo, é um trabalho, que você vai fazendo ajustes, porque erros são inerentes ao processo e você vai fazendo ajustes. Às vezes você trabalha, trabalha, e o resultado vem daqui a dois, três anos, mas vêm, o importante é ter os resultados. Essa expectativa criada foi muito em função do que o Grupo City já transformou, por exemplo, o Manchester City, que é o maior campeão inglês nos últimos 15 anos, que é o período que o Grupo City comanda o Manchester City. São sete títulos ingleses e um da Champions League em 15 anos. Ele transformou a realidade de um clube que fazia 44 anos que não era campeão inglês. O grupo City botou o Melbourne City para ser campeão australiano pela primeira vez em 2021. Fez o Mumbai City ser campeão indiano pela primeira vez em 2021. Fez o New York City campeão pela primeira vez da MLS em 2021. Yokohama Mariners, também, campeão japonês depois de muito tempo e, hoje, o Girona é líder do Campeonato Espanhol, clube que até então era irrelevante no futebol espanhol e, hoje, é líder à frente dos gigantes Real Madrid e Barcelona. Então, essa capacidade do Grupo City de transformar a realidade dos clubes, logicamente, veio para o imaginário do torcedor tricolor e eu não tenho dúvidas que vai acontecer. Só que o primeiro ano é um ano de ajustes. O Grupo City, inclusive, não conhece bem o futebol brasileiro. Está chegando agora. E é daí a importância de ter um presidente que seja oriundo do futebol. E aí eu acredito, que é uma vantagem que eu carrego em relação aos outros concorrentes. Por toda a minha experiência que eu já listei aqui na primeira pergunta. São 44 anos dentro do futebol. Eu conheço o futebol brasileiro. Essa experiência pode ajudar muito nesse trabalho junto ao Grupo City. É um trabalho em conjunto de dois sócios que precisam conversar. É uma experiência que o Grupo City não pode desprezar. Eles têm a expertise, o poder financeiro, mas a gente conhece o futebol brasileiro e a gente conhece o Bahia, a torcida do Bahia. Já fui atleta do clube durante seis anos. A gente junta isso e fortalece o trabalho. É nesse sentido que a gente pensa em trabalhar com o Bahia SAF.
Muito se fala sobre o Bahia ser o mundo, mas pouco se vê o Bahia fora de Salvador, aqui na Bahia, no interior, digamos assim, Eu vejo que você foca também numa interiorização do Esquadrão. Como seria essa interiorização? Como fazer com que esses sócios continuem associados à Associação. Como seria essa estratégia de interiorização do clube?
O nosso slogan, inclusive, é o Bahia é o mundo, o Bahia é do povo. Até para respeitar a identidade do clube, a essência do clube, de um clube popular. Então, o Bahia é o mundo, mas o Bahia é do povo. E o povo não está só aqui em Salvador, o povo está por toda a Bahia. Inclusive, fora da Bahia. A gente tem muitos torcedores do Bahia em São Paulo, por exemplo. Quando a gente vai jogar lá é impressionante porque tem muitos baianos, mas tem muito simpatizantes também. É impressionante como o torcedor do Bahia ocupa os estádios lá em São Paulo e em outros lugares do Brasil. No interior do estado, logicamente, a gente precisa fazer um trabalho de motivação. Naturalmente, eles já existem, torcedores tricolores, porque eles são baianos e o Bahia é uma das forças do futebol da Bahia, então, naturalmente, já tem, mas, logicamente, que a gente compete com outros grandes times, inclusive do futebol brasileiro e hoje em dia do futebol mundial. A presença do Bahia no interior precisa ser reforçada e, principalmente, o diálogo com as embaixadas. Domingo passado, eu estive em um evento, no segundo Encontro das Embaixadas, um torneio que eles fizeram em Feira de Santana. Participaram oito Embaixadas e a gente teve a oportunidade de conversar com todas elas e ouvir um pouco da demanda. Eu acho que passa, primeiro, por aí. Ouvir as Embaixadas, que conhecem a realidade de cada lugar. A Embaixada de Senhor do Bonfim, de Capim Grosso, de Alagoinhas, de Feira de Santana, de Quixabeira. Eles conhecem a realidade local e podem trazer para nós quais são as necessidades e a partir daí nós trabalharmos juntos. Eu cresci na divisão de base do Grêmio e o Rio Grande do Sul, para mim, é o lugar que melhor trabalha essas questões de Embaixada. Ainda tem a figura dos Consulados lá. Grêmio e Inter são, talvez, os dois times no Brasil que melhor trabalham isso. Toda cidade do Rio Grande do Sul tem a Embaixada do Inter, a Embaixada do Grêmio, o Consulado do Inter, o Consulado do Grêmio e o trabalho deles é muito forte. Eles criam eventos, levam as divisões de base do Grêmio, do Inter para jogar lá. Eles têm atividades culturais, sociais. E essa expertise deles a gente pode trazer. Eu tenho acesso, eu cresci dentro do Grêmio. Eu tenho acesso ao Grêmio, eu tenho acesso ao Inter, ao Juventude, e a gente pode fazer um benchmarking para entender como eles agem, ouvir as embaixadas do nosso interior e adaptar a nossa realidade. Isso precisa ser feito e aí a gente vai estar fortalecendo o trabalho no interior e as embaixadas vão ser um braço do Bahia em cada lugar trazendo novos torcedores, gerando receita, vendendo produtos, criando eventos culturais e sociais, eventos esportivos, com a participação do clube. A gente também pode trazer essas embaixadas para os jogos do Bahia aqui, na Fonte Nova, em algum momento do ano. Fazer com que esse encontro das embaixadas possa ter uma vez no ano em Salvador. Quem sabe disputar um torneio dentro da Fonte Nova, que é onde o Bahia joga. Tem muita coisa boa que pode ser feita, mas, logicamente, a gente precisa, primeiro, entender as necessidades deles. Abrir um canal de comunicação para entender o que eles precisam.
Emerson, a sua chapa é uma união tricolor de alguns grupos políticos e um deles é o Simplesmente Bahia, que é o grupo do atual presidente Guilherme Belintani. Como você avalia a gestão dele e com você encara, de repente, uma possível pecha de continuísmo com a sua candidatura?
Inclusive, os concorrentes tentam colocar isso. Primeiro, Bellintani teve seus erros, mas eu acho que ele teve muitos acertos na gestão. Ele pegou o clube com 14 mil sócios e está entregando com mais de 50 mil. Ele pegou o clube com 80 milhões de orçamento e está entregando com quase 200 milhões de orçamento. Ele criou a loja, a marca própria, a Esquadrão. Ele criou a loja do clube. Ele criou o museu do clube. Criou o núcleo de ações afirmativas, que encheu de orgulho o torcedor tricolor. Tem muita coisa boa e, talvez, a maior conquista desta gestão foi trazer o maior grupo de gestão de futebol do mundo, que é o Grupo City, para ser parceiro do Bahia. Então, tem muita coisa boa. Eu sou um candidato independente, não sou filiado a nenhum dos grupos políticos do Bahia, eu não fazia parte da política do Bahia até pouco tempo atrás, quando começou a se materializar a ideia da candidatura. Eu precisei me aproximar das pessoas que fazem a política do Bahia, porque qualquer candidato precisa ter uma chapa de 100 conselheiros para poder escrever a sua candidatura. Eu precisava ter acesso às pessoas que fazem a política interna do Bahia e eu não sou filiado a nenhum grupo, como eu falei anteriormente. Eu estou indo com a chapa 123, que é a chapa do Bahia na Veia, que foi o primeiro grupo que entendeu que o Emerson era o melhor nome para concorrer à presidência. Eu conversei com todos os grupos, talvez, eu não tenha conversado só com o 100% Bahia, que desde o início teve Leonardo Martinez como candidato, mas todos os outros grupos, eu conversei, me coloquei à disposição. Fui sabatinado por alguns deles e estou indo com quem entendeu que o Emerson era o melhor nome. E aí são quatro grupos: O Bahia na Veia, a Nova Ordem Tricolor, a Convergência Tricolor e o Simplesmente Bahia, e eu tenho como meu vice, o Paulo Tavares, que foi um consenso desses quatro grupos, que ele seria o melhor nome para compor a chapa comigo, justamente pela expertise dele dentro do Bahia. Ele é um dos dois únicos conselheiros que desde 2013, desde a intervenção, fez parte de todas as gestões, inclusive, foi Conselheiro Fiscal no primeiro mandato de Bellintani. Ele conhece muito bem o clube e todos os números, toda a máquina do Bahia e como ela funciona. Ele vem complementar, além de ser um empresário bem sucedido, que entende muito de gestão, e foi um consenso dos quatro grupos. Eu estou muito satisfeito com a escolha. Bellintani e Vitor, a atual diretoria, não se manifestou, se mantendo neutro até então e, para mim, eu estou feliz porque eu estou indo com gente que acredita no que eu acredito para o Bahia, que é o sucesso da SAF. Eu votei a favor, defendo esse trabalho que foi feito. Vou trabalhar para desenvolver a SAF junto com o Grupo City e quem acredita nisso também tem me apoiado.
Foram oito anos no Ypiranga, entre 2010 e 2017, muito tempo de clube. Qualquer gestor tem os seus erros e os seus acertos. Qual o seu principal acerto, no comando do aurinegro, e qual o seu principal erro?
Eu vou até expandir, qualquer gestor não, qualquer pessoa em todos os momentos da vida profissional, pessoal, com os amigos, a gente erra, acerta. Logicamente que erros acontecem, até pela inexperiência. Eu fui atleta a minha vida toda, apesar de ser formado, foi a minha primeira experiência na prática. Se gestores experientes erram, porque eu, que estava na minha primeira experiência como gestor, não iria errar? Claro que houve erros, mas eu acho que a maior conquista e o meu maior legado no Ypiranga foi ajudar, trabalhar e, talvez, ser o principal elemento desse processo de salvar o clube. O clube estava fechando as portas. O clube não tinha uma caneta, uma bola. O clube não tinha nada. O clube tinha dívidas. A Vila Canária, o seu único patrimônio, seu Centro de Treinamento, já havia sido perdida. E hoje você vê a realidade do Ypiranga completamente diferente. A Vila Canária é do Ypiranga, foi recuperada na nossa gestão. A Vila Canária está reformada, hoje tem um campo de grama sintética, tem refletor, tem arquibancada. É um ‘estadiozinho’ que comporta jogos de pequeno porte. O clube está vivo e essa foi a grande conquista. O clube voltou aos campos enquanto eu era gestor. Quando eu cheguei o Ypiranga fazia 10 anos que não disputava um Campeonato Baiano. A gente conseguiu, sem dinheiro, e sem uma equipe qualificada colocar o time novamente em campo. Isso já foi uma grande conquista também. Mesmo sem estrutura. Tiveram dias que a gente acabou de treinar 6 horas da tarde e não sabia onde ia treinar no outro dia porque a Vila Canária estava numa situação degradada e Salvador é carente de campos de futebol. Essa era a situação que a gente enfrentou no Ypiranga e a gente conseguiu muitas coisas. Inclusive, a gestão é elogiada por, praticamente, toda a imprensa na época. Foram muitas conquistas. Sobre os erros, talvez, a inexperiência, né? Pois eu fui aprendendo com o andamento do trabalho, porque eram muitas situações novas que eu precisava resolver. Eu, como presidente, precisava tomar à frente e resolver. Logicamente, nem todas foram corretas. O maior erro, eu não sei se eu considero um grande erro, mas eu percebi que, nas primeiras conversas, as pessoas achavam que o Ypiranga já tinha fechado as portas e aí eu deduzi que a gente precisa mostrar à sociedade que o Ypiranga está vivo e qual é a melhor forma? Botar o time para jogar, mesmo sem condição, então, já no primeiro ano, a gente botou o Ypiranga para jogar e o torcedor quer os times vitoriosos, mas a gente botou para marcar território, para mostrar para sociedade que o Ypiranga está disputando, então, ele está vivo, porque era muito difícil conseguir apoio, no início, só falando que o Ypiranga não tinha morrido. Eles precisavam ver o Ypiranga jogando uma competição. Então, a gente botou o Ypiranga, nos primeiros anos, sem dinheiro, mas botou só para disputar. E quando você coloca um time em campo, você é cobrado pelo resultado. É que nem um jogador quando entra em campo, às vezes ele está machucado, está com problema em casa, não está bem emocionalmente, mas a partir do momento que ele entra em campo, é cobrado pelo desempenho. Ninguém quer saber se ele está com problema, se ele está dentro de campo, tem que desempenhar. O Ypiranga foi a mesma coisa. Existem cobranças em relação ao desempenho do time de futebol do Ypiranga, mas de pessoas que não conhecem a realidade do clube e a dificuldade de colocar o time em campo, ainda mais de buscar resultados, sem dinheiro.
Como você visa manter os atuais associados junto à Associação? E melhor, como você busca trazer novos parceiros e novos sócios para Esporte Clube Bahia?
Primeiro, precisa ter uma comunicação muito aberta, muito franca e direta com o torcedor, com o sócio. O clube precisa melhorar. Nem o clube, nem o Grupo City fizeram uma comunicação eficiente neste ano. É um dos pontos fracos que a gente observou. Isso precisa ser melhorado para que o torcedor se sinta pertencente, participativo. A segunda coisa é trazer uma rede de benefícios para o plano de sócios do clube para que o torcedor perceba vantagem em se associar, além de fortalecer o clube, gerar receita, mas que ele tenha vantagem para se associar. E a partir daí, você fazer parcerias. Como eu falei, a gente vai ter parcerias nas modalidades olímpicas. A partir do momento que o Bahia tiver times disputando competições, o engajamento do torcedor é automático. Então, você ter um time de basquete do Bahia, o torcedor tricolor vai ao ginásio assistir. O Bahia faz uma competição de ciclismo, na cidade, o torcedor tricolor que gosta da modalidade vai participar. Se tem um time de vôlei de praia, o torcedor tricolor vai prestigiar. Então, você começa a engajar o torcedor de outras formas. A partir daí, você cria produtos dessas modalidades, comercializa esses produtos. Isso tudo vai gerando receita e vai atraindo parceiros. A marca Bahia é muito forte e tem condição de transformar a realidade olímpica da Bahia. Se trabalhar certo e trazer parceiros, empresas privadas, iniciativa privada, para junto do Bahia e assim potencializar. A marca Bahia precisa ser muito bem explorada, no bom sentido, para potencializar esse trabalho.
Emerson, principalmente nesse começo do trabalho do Grupo City no Bahia, o presidente da Associação e o vice-presidente também, servem como fios condutores das relações com as entidades do futebol, como a CBF, a Federação Baiana. O próprio exemplo disso é a presença do vice-presidente, Vitor Ferraz, em uma reunião com o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, o Cadu Santoro, diretor, e o CEO do Grupo City, o Raul Aguirre. Como você enxerga o atual momento da relação do Esporte Clube Bahia com a CBF, que é a entidade máxima, e na sua visão, caso seja eleito, como você pretende melhorar essa relação?
Eu acredito que tudo passa por diálogo sempre. Não é brigando que a gente vai conseguir ter o respeito ou conseguir algumas coisas. Ter diálogo não é baixar a cabeça, não é ser submisso, é se posicionar, mas com diálogo. Você pode se posicionar sem brigar. Então, eu acredito muito no diálogo, se posicionando. A gente tem, hoje, na presidência da CBF um baiano que conhece muito bem a realidade, as pessoas que fazem o Esporte Clube Bahia, que tem uma boa relação com o clube até porque foi presidente da nossa Federação por muitos anos e a gente tem esse canal de comunicação aberto. O acesso à CBF, a Edinaldo, então, isso pode ser feito com muito diálogo sempre. Não é ser beneficiado pela CBF, mas sim ser respeitado. Isso a gente tem que buscar ao máximo através do diálogo e agora, com o Grupo City que é um player internacional, que tem poder, que tem força e que precisa ser ouvido nessa interlocução com a CBF.
Emerson, enquanto jogador você viveu a realidade de um Bahia como clube empresa na parceria com o Opportunity. Eu queria que você trouxesse um relato de como você via o trabalho naquela época e como isso pode ser útil é pro seu trabalho como presidente e, principalmente, na relação com jogadores. Querendo ou não, o presidente vai ter uma presença no setor construtivo do City e vai ter esse relacionamento com atletas. Você que tem uma experiência, tem um diálogo com jogadores, pode ser importante nisso?
Sim, eu acredito que os jogadores vendo o presidente como sendo um deles. O presidente foi um de nós que já esteve aqui. Eu acho que eles vão criar uma uma aproximação, uma empatia grande em relação a isso. O BASA, que era o Bahia SA, da minha época, tinha um formato diferente do que foi constituído agora com o Bahia SAF e quem comandava o futebol do Bahia não era o pessoal do Opportunity, eram as mesmas pessoas que já estavam. Então, na prática não mudou muito o dia a dia, as decisões. Tinha o dinheiro, essa retaguarda, mas o dia a dia era as mesmas pessoas. Então, não tinha muita diferença. Somente em um ano, em 2004, que parece que o Opportunity tomou mais à frente, colocou pessoas na gestão para poder tomar as rédeas do clube um pouco mais. Era diferente a configuração.
Já existem esportes que vocês estão querendo iniciar na Associação ou eles ainda vão ser estudados?
O primeiro passo é filiar o Bahia em todas as federações que existem. A gente não tem essa informação ainda, se o Bahia é filiado as variadas federações. Este é o primeiro passo. Filiar também ao Comitê Brasileiro de Clubes, que faz parte do Sistema Nacional do Esporte, recebe verba das loterias, 0.46% das loterias, e essa verba é repassada aos clubes que desenvolvem trabalho olímpico. Então, o Bahia precisa ser inserido nesse meio. A partir daí, iniciar a construção de projetos de modalidades coletivas porque elas demoram um pouco mais, precisam de mais dinheiro. A construção do projeto precisa ser imediata e aí o estudo de viabilidade se vai ser basquete, vôlei, handebol, o que vai ser mais viável, o que pode trazer recursos para o clube, o que pode trazer engajamento para a torcida e o que pode trazer visibilidade e também parceiros comerciais. Qual modalidade dessas coletivas têm maior potencial para trazer essas quatro coisas: parceiros comerciais, visibilidade, receita e engajamento do torcedor. E, logicamente, títulos porque o torcedor quer ganhar sempre, né? E que a gente precisa, quando colocar as equipes, serem equipes competitivas, porque não pode ser colocado só por colocar, o torcedor quer vencer. As modalidades individuais podem ser iniciadas imediatamente. Você pode ter tênis de mesa, um trabalho de formação de atletas de tênis de mesa. É um esporte que demanda muito pouco investimento financeiro e estrutura física mínima. Então, você já pode iniciar um trabalho dentro de uma modalidade olímpica, por exemplo, com o tênis de mesa. Skate, já tem as pistas na cidade. Você faz uma parceria com a Prefeitura e você utiliza a estrutura física que já tem. Surf, já existem vários atletas. Vôlei de praia. Tem modalidades que você já pode começar de imediato e a gente já tem conversado com pessoas desse ambiente olímpico aqui, na Bahia, para que a gente não perca tempo. O boxe já existe um trabalho muito forte aqui na Bahia sendo feito. Por que não o Bahia montar a sua equipe de boxe? Absorver esses atletas que já fazem um trabalho bacana. Nesse primeiro momento, são coisas que não são tão simples assim, mas tem menos dificuldade de acontecer. Então, essas modalidades de imediato já podem ser absorvidas.
Emerson, no seu plano de gestão, você fala em ouvir o torcedor. E, ter um canal aberto, ouvir essas opiniões, ouvir as sugestões do torcedor. O que você tem de plano para, de fato, ouvir o torcedor, receber esse anseio do tricolor que é tão apaixonado e participativo?
Criar canais de comunicação que sejam fáceis para o torcedor e criar uma equipe de comunicação dentro do Esporte Clube Bahia, que atenda essa demanda. Esse é o primeiro momento. Eu já tenho, junto com Paulo, gente já tem conversado, tendo sucesso na eleição, já parte da gente o contato com as Embaixadas, nos apresentando, nos colocando à disposição, já marcando reuniões para ouvi-las, com as torcidas organizadas, por mais que o Bahia não possa prometer algumas coisas porque a Arena Fonte Nova não é do Bahia, mas a gente precisa ouvir para entender, o que eles precisam, porque daí a gente pode interceder por eles junto a Arena, junto ao Grupo City. São vários players, vários stakeholders do Bahia que a gente precisa ouvir e o torcedor também. É criar esses canais, ouvir e trazer essas informações para que a gente possa, primeiro, responder, porque o torcedor quando entra em contato com o clube e não tem uma resposta, a frustração é muito grande, porque o sentimento é de desprezo. O torcedor se sente desprestigiado, desprezado pelo clube. É tomar um cuidado, e é uma dos nossos pilares, o cuidado com o sócio, o cuidado com o nosso torcedor e para cuidar deles, a gente precisa ouvi-los. Esse é o entendimento. E dizer que eu não vou fazer igual a outros que já fizeram. Primeiro, eu tenho 24 anos de Bahia. Eu sou um cara muito aberto ao diálogo e eu não vou mudar isso depois que eu pegar a caneta do Bahia. Eu circulo na cidade, eu me relaciono com a torcida desde quando eu era goleiro do Bahia, eu falo com as pessoas. Eu não vou mudar porque não vai mudar nada na minha pessoa o cargo que eu vou ocupar. Vou continuar sendo o mesmo Emerson e isso vai para dentro da minha gestão.
Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias
Emerson, você tem vivido um cenário diferente nos últimos dias. Um cenário de acirramento político em busca desse cargo tão importante, não só para as pessoas que o disputam, mas também pros torcedores que fazem parte da vida deste clube. Como você tem avaliado esse cenário político? Esse momento em que você tem que debater ideias, discutir e também ouvir algumas coisas, como acontece em qualquer campanha.
É uma novidade para mim essa briga louca, né? E que às vezes esquece de discutir projetos, o futuro do clube, que é o principal objetivo, para desqualificar o outro, o seu concorrente. Isso a gente vê na na macropolítica, nas eleições para presidente do país e acaba se repetindo na micropolítica, porque não deixa de ser uma política. É novo para mim todo esse processo, mas a partir do momento que eu desejei e sonhei em ser presidente do Bahia, eu sabia que eu teria que passar por esse momento. E eu me preparei para isso. Por mais que algumas situações causem estranheza, sejam novas, mas eu me preparei para isso e eu acho que o objetivo final, que é justamente fazer um trabalho, que encha o torcedor de orgulho, vale a pena porque a gente tem um mês de campanha, mas depois vai ter três anos de gestão para poder encher esse torcedor de orgulho. Então, vale a pena você aguentar tudo isso. Até porque você precisa se mostrar, falar de ideias, mostrar que você é capaz, de fazer uma boa gestão, e, logicamente, a campanha é para isso. A gente está querendo mostrar, falar com o torcedor, se mostrar capacitado para poder defender o Bahia novamente. Eu que já fui campeão dentro de campo, já fui capitão do time, levantei troféu de bicampeão do Nordeste dentro do estádio do maior rival. Eu que já senti o que é ser campeão pelo Bahia, quero muito voltar a sentir esse gostinho, não mais dentro de campo, mas de uma outra forma, ajudando o clube a voltar a ser campeão, a ter conquistas relevantes.
Emerson, te agrada a forma como clube vem sendo conduzido depois do closing com o Grupo City?
Eu entendo que esse ano a prioridade toda foi o fechamento do negócio, que foi realizado em maio. Então, até maio eram necessários os últimos ajustes para que entregasse o Bahia SAF para o Grupo City. A partir daí, poderia, sim, ter iniciado um trabalho do clube já preparando para a próxima gestão. Não foi. Eu não conversei com o Guilherme, nem com o Vitor, para entender o porquê que não aconteceu. Talvez, eles não quisessem iniciar projetos, que talvez o próximo presidente não se interessasse em continuar. Então, eles preferiram deixar para que o próximo presidente, realmente, meta a mão no trabalho. Não que eles não tenham colocado. Como eu falei, a grande conquista deles foi trazer o Grupo City. A gente tem uma sede, hoje, que a gente pensa em trocar, mas não iniciou um trabalho efetivo, poderia ter iniciado, mas foi uma escolha da diretoria e a gente começa o trabalho, sem problema, a partir do momento que for eleito. A gente começa o trabalho e isso não é problema.
Quais as suas considerações finais?
Eu já deixei bem claro, desde o primeiro momento, as minhas qualificações, o meu preparo de muitos anos, a minha experiência dentro do futebol, são 44 anos, e isso me credencia estar pleiteando esse cargo. Então, eu não caí de paraquedas. Eu me preparei para estar aqui, eu tenho projetos que a gente já construiu, já estamos conversando com pessoas, com instituições que possam fazer com que a gente não perca tempo. Eu sou um amante do futebol, amo o Bahia, amo a Bahia e escolhi aqui para ficar. Sou o primeiro ex-atleta do clube a se candidatar à presidência. É um marco. Pedrinho, a torcida do Vasco entendeu que ele, por toda sua experiência, como atleta do clube no futebol, seria importante. Eu acho que isso abre uma nova era para ex-atletas ocuparem espaços de decisão dentro do futebol brasileiro, dentro dos clubes, e eu venho nesse caminho. Logicamente que a gente precisa se preparar para e eu estou preparado. E eu já defendi o Bahia, o torcedor do Bahia já viu o Emerson. Já se identificou com o Emerson, como um tricolor. A cidade de Salvador já me entregou o título de cidadão soteropolitano, já reconheceu os serviços que eu prestei à sociedade. Já me abraçou, já me acolheu. Eu sou mais um baiano, eu sou mais um tricolor que quer muito ver o Bahia muito forte e eu me preparei para isso. É por isso que dia 2, a gente está confiante que a chapa número 12, que é a minha e de Paulo Tavares, vai poder comemorar para iniciar um trabalho de dignidade, que enche o torcedor de orgulho.
Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias
Fábio Mota avalia que maior acerto da gestão foi não ceder à pressão por demissão de Condé
Por Nuno Krause
Presidente do Vitória, Fábio Mota avalia que o maior acerto que teve em 2023 foi não ceder à pressão para demitir o técnico Léo Condé durante a Série B. Em entrevista exclusiva ao Bahia Notícias, o mandatário rubro-negro declarou que se orgulha de ter se mantido o treinador que sagrou-se campeão brasileiro com o clube.
"O maior acerto que eu tive foi ter mantido Léo Condé até o fim do campeonato, não ter ouvido pressão. Eu tinha convicção e certeza e que daria certo com ele", destacou.
O momento de maior questionamento a Condé foi entre as 12ª e 16ª rodadas da Série B, quando o time perdeu quatro jogos de cinco. No entanto, Mota garante que não teve nenhuma dúvida de que daria certo.
"Mesmo que perdesse para o Novorizontino [na 17ª rodada, partida vencida pelo Leão por 2 a 1], ele não sairia. Iríamos até o fim da Série B com ele. Sabíamos que daria êxito", disse.
Durante a entrevista, o presidente do Vitória pontuou ainda que a prioridade é se classificar para a Copa Sul-Americana em 2024. Inclusive, o Campeonato Baiano e a Copa do Nordeste, torneios que são disputados no início do ano, devem ficar em segundo plano.
"Não podemos entrar [na Série A] com a mentalidade de não cair (...) Vamos brigar pelo título do Baiano e da Copa do Nordeste, mas se tiver que abrir mão para se classificar para a Sul-Americana, com certeza essa será a prioridade", disse Mota.
Ele também explicou porque projeta um orçamento superior a R$ 210 milhões em 2024 e revelou alguns nomes que deseja manter do atual elenco do Leão. Zeca, Camutanga, Rodrigo Andrade e Osvaldo estão entre eles.
Confira a entrevista completa:
O Vitória começou o ano eliminado de três competições e terminou campeão. Qual foi a chave para a virada rubro-negra?
Ficou claro que, em 70% dos jogos que o Vitória levou a virada, tanto na Copa do Nordeste quanto no Campeonato Baiano, ela se deu depois dos 25 minutos do segundo tempo. Tínhamos um problema de preparação física. A partir daí, Diego [Kami Mura, preparador físico] chegou e implementou uma metodologia nova, competitiva, muito vinculada às escolas de São Paulo. Mantivemos quase o mesmo elenco, fizemos contratações pontuais em posições que tínhamos carência. Usamos muito a criatividade, já que o Vitória não tinha grana. Fomos buscar jogadores bons por um custo menor. Montamos uma estratégia que vai desde o pagamento de salários adiantados, para reanimar a equipe e mandar um aviso ao mercado de que o Vitória é uma instituição respeitada, que cumpre com suas obrigações, que tem nova direção. Investimos para viajar um dia antes e voltar um dia depois [em jogos fora de casa]. Isso foi muito importante porque deu para os jogadores descansarem. Dentro dessa linha, equipamos todo o nosso setor de fisiologia, fisioterapia e academia. Compramos uma série de equipamentos no montante de mais de R$ 2 milhões. A bola não entra por acaso e as pessoas às vezes não enxergam o planejamento que foi executado por fora. Nada disso foi sorte. E o ponto fundamental: a torcida ter abraçado o projeto. Quando cheguei, tínhamos uma média de 3.800 pagantes. Hoje, passa de 26 mil em uma Série B. Tínhamos quase 4 mil sócios, hoje passamos de 33 mil. A torcida é a grande responsável por essa transformação, por acreditar no projeto que apresentamos e por levar o Vitória da Série C à Série A e sacramentar com o título.
Depois da saída de João Burse, o que motivou a escolha de Léo Condé? Existiram outros nomes na pauta naquele momento?
Quando fomos contratar o treinador, o perfil era: que conhecesse a Série B, que tinha identificação com a base e que tinha resultados. Condé foi quinto colocado no ano passado [comandando o Sampaio Corrêa] com uma estrutura mínima. A folha era metade da nossa. Fizemos o convite. Ele foi o primeiro da lista e o primeiro que aceitou. Quando chegou, foi dentro da crise. Não creditamos [os primeiros] resultados ruins a ele. O maior acerto que eu tive foi ter mantido Léo Condé até o fim do campeonato, não ter ouvido pressão. Eu tinha convicção e certeza que daria certo com ele.
O momento de maior questionamento ao trabalho de Condé foi quando o Vitória perdeu quatro jogos de cinco na Série B. Houve alguma dúvida da parte da diretoria naquele período?
Dúvida zero, e ele sabe disso. Sempre teve a tranquilidade para trabalhar. Mesmo que perdesse para o Novorizontino [na 17ª rodada da Série B], ele não sairia. Iríamos até o fim da Série B com ele. Sabíamos que daria êxito, resultado. Condé é estrategista, monta a equipe de acordo com o adversário. Não joga bonito. Veio para ganhar o jogo. Não quer saber se o time adversário teve 90% de posse de bola se com 10% ele ganhou. Assim deu certo. Ficou 80% da Série B como líder do campeonato. Saiu apenas duas rodadas do G-4. O Vitória tem 72 pontos, outro recorde que batemos, e o segundo colocado tem 64. É incontestável a campanha.
Em 2023, o time que disputou o Campeonato Baiano não foi o mesmo da Série B. Esse planejamento será feito novamente em 2024, quando o patamar será diferente?
No ano passado, trocamos quase a equipe toda. Ficamos só com quatro jogadores do time da Série C para a Série B. Neste ano, temos uma base e uma referência dessa base. Contra clubes do Nordeste na Série B, só perdemos uma partida [para o CRB] e vencemos todas as outras. E é evidente que, também diferente do ano passado, nosso recurso é maior neste ano. Só não podemos montar o time do Campeonato Brasileiro em janeiro. Temos um primeiro trimestre muito deficitário. O Campeonato Baiano melhorou muito, aumentou sua receita, mas o futebol continua caro. O Vitória vai arrecadar 20% do que gasta em todo o Campeonato Baiano, com a folha que temos hoje. Vamos fazer contratações, com algumas ações de troca. A ideia é que se contrate de oito a dez jogadores. A ideia é entrar para ganhar o Baiano e o Nordeste, mas com um time mais barato.
E quais são as metas do Vitória na Série A e na Copa do Brasil?
Na Série A, a ideia é se classificar para a Sul-Americana. Não podemos entrar [na Série A] com a mentalidade de não cair. Na Copa do Brasil, esperamos ter um time forte para brigar.
O senhor já falou, em entrevistas recentes, que projeta um orçamento de R$ 200 milhões a R$ 300 milhões em 2024. Em 2023, o orçamento foi de R$ 61 milhões. Dentro do planejamento, quais são as fontes de receita para sanar esse aumento?
O orçamento é uma previsão do que você vai gastar. A receita da televisão era de R$ 8 milhões [na Série B], vai para perto de R$ 80 milhões [na Série A]. O projetado do orçamento passado nunca foi essa média de público. Com certeza na Série A será bem maior. A ideia é que tenhamos mais sócios. Os patrocinadores que já estão têm renovação de cláusula contratual com um valor bem maior que agora. E os que vão chegar serão com valores bem maiores. Não podemos ter um orçamento menor que R$ 210, R$ 220 milhões para brigar pelo título do Baiano, do Nordeste, para se classificar à Sul-Americana.
Alguns nomes do atual elenco já foram ventilados para uma possível renovação, como Zeca e Osvaldo. O senhor confirma que existe o interesse do Vitória na continuidade desses atletas?
Temos uma base. Do time titular, Lucas é do Vitória, Wagner, Dudu, Matheusinho, Iury Castilho, Mateus Gonçalves, Zé Hugo. É evidente que temos interesse em Camutanga, Zeca, Railan, Rodrigo Andrade, Osvaldo. A ideia é manter essa base para o Campeonato Baiano, para a Copa do Nordeste. As contratações que faremos agora serão pensando na Série A.
Para jogadores chegarem, outros têm que sair. Já há uma projeção de quais?
Vamos concluir o campeonato. Falta um jogo ainda. A grande maioria dos contratos vence no dia 30 de novembro.
Em relação à Arena Barradão, a ideia é começar o projeto mesmo em 2025? Como estão as obras da duplicação da Rua Artêmio Valente e do novo estacionamento, que são exigências dos investidores?
As condições já começaram. O estacionamento novo já começou e as placas da nova obra da Artêmio Valente já estão fixadas. O governador assistiu ao jogo [Vitória x Sport, no último sábado (18)] aqui e disse que deve dar a ordem de serviço no início de dezembro. A empresa já esteve aqui para procurar o local da instalação do canteiro da obra. Isso melhora bastante para os investidores. Enquanto isso, fazemos nosso dever de casa. Demos entrada com o projeto na prefeitura. Precisa de todos os alvarás. Da mesma forma, estamos fatiando o projeto, que é grande, de R$ 350 milhões. Nosso diretor de Patrimônio continua conversando com Ivan Smarcevscki, arquiteto da obra. A ideia é fazer por etapas. Começar pela cobertura até finalizar. Não sabemos se conseguiremos o dinheiro todo de uma vez só. Se tudo correr bem, começamos a obra no segundo semestre de 2025.
E como está o andamento das obras pontuais no estádio, como camarotes, telão, banheiros, academia, etc.?
Estamos concluindo oito camarotes e duas salas. O banheiro feminino está nos finalmentes. Em mais 30 dias concluiremos o banheiro. Todas essas obras estão em comum acordo com o projeto da Arena. Amanhã começamos a construção de um novo prédio. Do lado direito, teremos um prédio de três andares. Faremos a sede da TV Vitória, com estúdio para podcast, com câmeras, equipamentos. A ideia é que essa obra dure de três a quatro meses. Estamos fazendo a academia do Leão. Os seis campos estão prontos, os vestiários estão concluindo, assim como o bar temático. Começamos a arquibancada. Esperamos até o fim do ano concluir toda a academia de futebol.
Os sócios do Vitória votaram e 87% foi favorável ao uso da estrela sobre o escudo para simbolizar o título da Série B. Qual é a sua opinião de torcedor sobre o tema?
Minha opinião sempre foi favorável. Não é um título qualquer. Depois da mudança da Série B, quando se colocaram apenas 20 clubes, se você pegar o histórico dos que ganharam, são os grandes: Grêmio, Palmeiras, Botafogo, Vasco, Corinthians. É o primeiro clube baiano a conquistar um título nacional por pontos corridos. A estrela tem que estar sim no uniforme, mas não sou dono do Vitória. Fiz questão de, mesmo não precisando, consultar o sócio-torcedor, que decidiu. A partir de janeiro, o uniforme do Vitória terá a estrela.
O Vitória vai conquistar o título do Campeonato Baiano?
Vamos entrar para ganhar. Pela grandeza, vamos brigar. Mas nossa prioridade é classificar para a Sul-Americana na Série A. Vamos brigar pelo título do Baiano e da Copa do Nordeste, mas se tiver que abrir mão para se classificar para a Sul-Americana, com certeza essa será a prioridade.
A rica lista de lutadores baianos comprova a tradição do estado nas artes marciais. A Boa Terra, com a sua ginga particular, é celeiro de atletas que transformam o ringue em habitat natural e viram referências de superação, disciplina e muita força de vontade.
Um dos grandes nomes dessa lista é Antônio Rodrigo Nogueira, o Minotauro, multicampeão de MMA (sigla em inglês para Artes Marciais Mistas) e mundialmente conhecido como um dos maiores lutadores da história. Nascido em Vitória da Conquista e atual embaixador internacional do UFC (Ultimate Fighting Championship), a principal organização de MMA do mundo, Minotauro, que também se dedica ao ramo de negócios e à ações sociais à frente do Instituto Irmãos Nogueira, está em Salvador para a apresentação do Minotauro Energy Drink, a sua marca de energéticos, já conhecida no Rio de Janeiro e São Paulo e que agora desembarca em Salvador.
Figura fundamental na popularização do MMA no Brasil, Rodrigo Minotauro esteve na redação do Bahia Notícias e falou, entre outros assuntos, sobre a força da Bahia nas artes marciais, lembrando do icônico treinador Luiz Dórea, formador de diversos lutadores na lendária Academia Champion. “Os gringos nunca tiveram uma corda do Chiclete para brincar”, comentou aos risos.
“A Bahia é um celeiro de atletas. Tem o Popó, o Robson Conceição, o Hebert Conceição, a Amanda Nunes… O porte físico, o atleticismo do baiano é animal. Os gringos nunca tiveram a corda do Chiclete para brincar (risos). O baiano é grande, atleta, se dá bem em todos os esportes. Seja na capoeira, que também é um celeiro, porque é uma luta ágil. Muita gente já praticou capoeira e o boxe está enraizado na Bahia. Luiz Dórea já formou todos os grandes campeões. Pessoas de fora vêm treinar com ele. Já fui para Cuba com Dória pela seleção brasileira em duas oportunidades. Lá, todos os treinadores, gente da França, de Gana… e o Dória era treinador de seis países. Ele dava aula em Cuba, que tem toda uma tradição enorme no boxe”, disse o ex-lutador de 47 anos.
Dono de grandes feitos esportivos, como ser o único lutador na história a ganhar os cinturões dos pesados no UFC e no Pride, Minotauro lembrou da luta do soteropolitano Jailton Almeida "Malhadinho" contra o estadunidense Curtis Blaydes, no próximo dia 4 de novembro, pelo UFC São Paulo, e disse que é "como se o Vitória, ou o Bahia, estivesse na final do Campeonato Brasileiro".
Mas o legado de Rodrigo Minotauro não se limita apenas aos ringues. Junto com seu irmão gêmeo, o também ex-lutador Antônio Rogério Nogueira, o Minotouro, a dupla está à frente do Instituto Irmãos Nogueira, que já atendeu cerca de 15 mil crianças em mais de quatro estados diferentes em parceria com o projeto Esporte para Além das Fronteiras, que tem a proposta de colocar artes marciais nas escolas públicas. Além disso, há também a Academia Team Nogueira, dona de 13 títulos mundiais e que já formou quase 200 faixas pretas.
"Comecei no judô em Vitória da Conquista e foi no boxe onde conheci o Luiz Dórea, um super ídolo, treinador de Popó, Cigano, Anderson Silva... O Dória é o maior caça-talentos do esporte baiano. Tive uma grande carreira, são quatro títulos mundiais, além do UFC e do Pride tem os títulos do World Extreme Fighting (WEF) e do Rings: King of Kings, outros dois grandes eventos. Uma geração de lutadores do MMA geralmente dura seis anos. A gente conseguiu virar duas gerações. A minha carreira foi de 15 anos. Eu, o Anderson, entre outros, fomos até aos 40 em alto nível, entre os primeiros do ranking, a gente conseguiu resistir e é um esporte duro pro nosso corpo. Mas além de fazer isso, eu, o Rogério, deixamos um legado. Colocamos uma academia, a Team Nogueira, que tem 13 títulos mundiais como academia, não só minha, como do Anderson, Junior Cigano, Rafael Feijão, os irmãos Patricio e Patricky Freire… Nós fizemos um time. Botamos um Instituto, o Instituto Irmãos Nogueira, que entrou num projeto, o Esporte para Além das Fronteiras, que coloca as artes marciais nas escolas públicas. Estamos em quatro estados diferentes, atendendo 15 mil crianças. Isso é legado. Formamos vários outros campeões. É algo coletivo, a academia Team Nogueira tem 20 mil alunos. Dos nossos alunos, já são quase 200 faixas pretas, 800 graduados, então a gente conseguiu espalhar, através da arte marcial, muita coisa".
Durante a conversa, Minotauro ainda falou sobre a importância de manter uma vida saudável, os projetos que toca após deixar de ser lutador e os momentos mais marcantes da longa e vitoriosa carreira. Confira abaixo a entrevista completa:
Minotauro, é um prazer te receber na redação do Bahia Notícias. Como está sendo a atual estadia em Salvador?
Nunca perdi as raízes aqui da Bahia e estamos voltando com um produto que é muito legal, muito bom, popular, o energético Minotauro, entre 8 e 10 reais, então, a gente fala com muita gente. E é gostoso. O nome “Minotauro” nasceu na Bahia e a gente fez algo muito bacana no lançamento do energético aqui em Salvador, colocando um octógono no mercado e recebendo os fãs para entrar no ringue comigo, para ter mesmo esse contato com o público baiano. Foi uma volta com o pé direito em um momento tão bom porque no dia 4 de novembro, o UFC vai estar em São Paulo e o atleta baiano, Jailton Malhadinho, vai estar lutando no 'main event' (a luta principal da noite). Comparando com o futebol, é como se o Vitória, ou o Bahia, estivesse na final do Campeonato Brasileiro.
Como estão os projetos depois de ter pendurado as luvas?
Eu sou embaixador do UFC. São 108 atletas brasileiros contratados, um recorde dos 590 em toda a organização. Eu faço parte da comunicação desses atletas com a organização. Indico talentos, eu sou olheiro também. Fazemos eventos, represento a marca UFC. Trabalho no escritório de segunda a sexta, sentado na cadeira. Hoje trabalho mais do que trabalhava antes.
E a rotina de treinos? Qual a importância de manter uma vida ativa e saudável para o público geral, não só pros atletas?
Tem muito ex-atleta que para de treinar totalmente, que não está ganhando dinheiro, não está competindo e fala "vou treinar para quê?". O treino é estilo de vida. Eu sempre fui da cultura de acordar de manhã, fazer uma corrida. Minha religião é fazer uma atividade física pelo menos uma hora por dia. Quando eu vivia disso, eu treinava duas vezes por dia, uma vez de manhã, uma vez à noite. A galera que não tem tempo para treinar, faz uma caminhada, uma respiração. O que é uma corrida? Você precisa apenas calçar um tênis e ir para rua procurar um lugar para correr. Pelo menos, tenha um hobby. Quem puder fazer uma capoeira, pegar uma prancha de surfe, um boxe três vezes por semana... Atividade física é mais importante que só o físico, é nosso mental.
Qual a sua relação com o futebol? Sente simpatia por algum time?
Eu simpatizo com o Vasco, gosto do Flamengo, São Paulo, Corinthians... Quando o Flamengo ganha não sou aquele vascaíno que torço contra. Flamengo ganhando eu acho muito maneiro porque é uma torcida maravilhosa. Eu morei no Rio e tenho vários amigos flamenguistas. Torço para qualquer time da Bahia. Da Bahia, gosto do Vitória, mas eu sou um cara que sou baiano. Eu vou torcer pela Bahia.
Como você lida com o lado mais midiático? Hoje em dia, inclusive, estão acontecendo várias lutas de ex-lutadores contra influencers. Como você enxerga esse fenômeno?
Eu acho muito legal. O atleta em si é um produto. Ele se vende o tempo inteiro. Eu dependo de quantas pessoas me assistem. O fã é um consumidor da sua imagem. É muito legal esse negócio que os influencers estão entrando. Esse evento chamado FMS, o Fight Music Show, é de um primo meu, o "Mama". Já está na terceira edição, o último foi no estádio do Athletico-PR, com cerca de 12 mil pessoas. O Popó tinha 500 mil seguidores, lutou com o Whinderson foi pra 2,5 milhões.
Já pensou em participar do Fight Music Show?
Eu, por ser embaixador do UFC, tenho um contrato. Eu sou diretor do UFC hoje em dia. E sou um 'senhor', né? (Risos). Eu operei o quadril, tive um acidente na minha visão, não consigo mais desempenhar em alto rendimento. Não penso em lutar mais, mas estou sempre no Instagram, treinando, ensinando golpes.
Quais momentos da sua carreira você considera os mais importantes?
São várias lutas. Uma com o Mirko Cro Cop (em 2003), que a gente conseguiu levar a Glória Maria para assistir a luta. Foi um marco pra gente, um esporte que ninguém via aqui e o Fantástico fazer duas matérias de 16 minutos. Foi o ‘boom’ do esporte. Não tinha matéria no jornal, nada. É uma luta que tenho um carinho incrível. Outra foi com o Bob Sapp (em 2002), 'monstrão', 171kg, estádio para 108 mil pessoas, duas TVs televisionando o mesmo evento. E quando o UFC veio para o Brasil, em 2011, na luta contra o Brendan Schaub, evento que pela primeira vez teve transmissão na TV aberta. São três lutas que eu tenho um carinho.
Você foi campeão pelo Pride e pelo UFC. Quais as diferenças de cada evento?
O esporte mudou bastante. No Pride era um show de arenas abertas. E o UFC é um show para televisão. O ‘canhão’ do UFC vai para para 1.2 bilhões de lares. O UFC é maior na TV e por isso você tem que botar mais regras. O Pride era mais sem regra. O UFC o tempo é menor, a comissão de exames de cabeça, de braço, o cara te olha inteiro. O esporte tem mais cuidado com o atleta e eu fiz parte dessa transição.
Conta um pouco mais sobre os objetivos do Instituto Irmãos Nogueira.
Nos Emirados Árabes, o jiu-jitsu é matéria obrigatória. Tem 850 faixas pretas brasileiras dando aula lá. Se você passar em árabe e perder em jiu-jitsu, você perde de ano. Ai você fala 'pra que tanta gente lutando?' São valores. O moleque tem uma mentalidade melhor, uma autoestima melhor, ele é mais controlado quando ele treina. Cria-se um livro com a metodologia e a gente tem um projeto muito parecido: são 55 minutos de aula e 5 minutos chamado de momento do mestre. O mestre vai falar todo dia sobre um valor. Um garoto desse escutar sobre 'empatia', ele vai conquistando valores através do esporte. Educação através das artes marciais. A gente está em cinco cidades e quer entrar em mais cidades. Itabuna, Itapetinga, Itambé, aquela região do sul. Estamos mostrando o projeto e nossa intenção é formar cidadãos.
E pro futuro, o que podemos esperar de Rodrigo Minotauro?
Eu moro em São Paulo e estou por aqui sempre. A nossa ideia é fazer pré-projetos esportivos aqui em Salvador através da Minotauro Energy Drink. Com jiu-tistu, capoeira, artes marciais. Então, a gente está em Salvador sempre. Trazendo essa comunidade da luta para conhecer nosso projeto. Nosso projeto é um energético, mas é um estilo de vida, que é academia, malhação. Queremos colocar as lutas nas escolas. Salvador é minha terra, oxe (risos).
Coordenador de base da CBF, Branco exalta Copa 2 de Julho e avisa: "Vamos chegar mais fortes em 2026"
Por Ulisses Gama
Aos 59 anos de idade, Cláudio Ibraim Vaz Leal ainda é facilmente reconhecido nas ruas. "Como esquecer daquele chute?", diz um fã nas ruas de Salvador. A todo momento, um cumprimento, uma lembrança e um abraço tomam conta do homem que foi um dos heróis do Brasil na Copa do Mundo de 1994. Passe o que passar, Branco quer seguir deixando o seu legado, principalmente na função de formador de atletas.
Na sua segunda passagem como coordenador de base da Seleção Brasileira, o eterno lateral-esquerdo está no cargo desde 2018 e vem ajudando na maturação de jogadores que hoje já vestem a camisa amarelinha. Em visita à redação do Bahia Notícias, o multicampeão falou sobre o trabalho que é feito para os jovens atletas. Ele está na capital baiana para acompanhar os meninos do sub-15 na Copa 2 de Julho.
"O trabalho tem fluído muito bem, com profissionais competentes. O futebol brasileiro é um seleiro e eu costumo dizer, com todo respeito, que os jogadores no Brasil caem das árvores, são jóias a serem lapidadas. Os clubes se estruturaram e estão se estruturando em questões de CT (Centro de Treinamento), dando estrutura de trabalho aos profissionais e aos atletas. Isso é uma coisa que eu sempre agradeço aos presidentes de clubes, a terem essa estrutura para formar grandes jogadores, lapidar essas joias. Quanto à CBF, ela dá toda estrutura para a gente exercer nosso trabalho. O presidente Ednaldo nunca negou nada para a gente, muito pelo contrário, o presidente está sempre incentivando", disse, em entrevista ao BN.
Conhecedor dos caminhos de uma Copa do Mundo, Branco acredita que o Brasil vai chegar muito mais forte em 2026. Curiosamente, uma das sedes da competição será os Estados Unidos e o jejum de mundiais vai chegar em 24 anos, cenário que ele conhece muito bem.
"Em 2026 o Brasil vai chegar muito mais forte que o Catar. Isso não tenha dúvida. Você pega a geração olímpica é espetacular. Você pega a geração sub-20 também. O próprio sub-17. Opções a gente vai ter", destacou.
Além disso, Branco também falou ao Bahia Notícias sobre a chegada de Fernando Diniz ao comando da Seleção Brasileira, o trabalho com o presidente Ednaldo Rodrigues, o drama vivido com a Covid-19 em 2021, entre outros assuntos. Confira a entrevista completa:
Branco, como você avalia o trabalho de prospecção e formação de atletas que vem sendo realizado atualmente na CBF?
Primeiro, é um prazer voltar a Salvador, a Bahia. Aqui eu tenho uma história grande, joguei Copa América aqui, em 1989. Agora estamos aqui na 2 de Julho, que é uma referência no Brasil. Sempre foi o maior torneio sub-15, que antigamente era sub-17, com o grande Sinval [Vieira] na frente, mentor desse torneio todo. Gostaria de agradecer a todos que apoiaram para o acontecimento. Foram mais de 250 clubes numa seletiva no interior. Isso faz com que a gente tenha mais opção de observação, de formação da futura Seleção Sub-15. Essa é a segunda preparação e a gente defende o título Sul-Americana Sub-15, além de sermos o campeão do mundo sub-17. Esses torneios vão ser praticamente em paralelo: a sub-15, na Bolívia, e o sub-17, na Indonésia, no final do ano. O trabalho tem fluído muito bem, com profissionais competentes. O futebol brasileiro é um seleiro e eu costumo dizer, com todo respeito, que os jogadores no Brasil caem das árvores, são joias a serem lapidadas. Os clubes se estruturaram e estão se estruturando em questões de CT (Centro de Treinamento), dando estrutura de trabalho aos profissionais e aos atletas. Isso é uma coisa que eu sempre agradeço aos presidentes de clubes, a terem essa estrutura para formar grandes jogadores, lapidar essas joias. Quanto à CBF, ela dá toda estrutura para a gente exercer nosso trabalho. O presidente Ednaldo nunca negou nada para a gente, muito pelo contrário, o presidente está sempre incentivando. Isso faz com que a gente forme seleções de qualidade. Esse ano a gente ganhou o Sul-Americano Sub-17 e o Sub-20, o Sub-20 invicto. Infelizmente o Mundial, que talvez tenha sido um dos mais fáceis dos 9 anos que eu disputei aqui dentro, como jogador e coordenador, a gente perdeu para Israel, mas vida que segue. O Brasil tem formado muitos jogadores de qualidades, tanto é que na última Copa, do título olímpico, 7, 8 jogadores foram pro Catar com o Tite.
Como esse trabalho é dividido para que a formação seja feita da melhor forma possivel?
São etapas. Estamos aqui em Salvador com garotos de 14, 15 anos, que daqui a pouco serão titulares com 18, 19 anos dos seus times principais. O exemplo é Endrick e Vitor Roque e outros tantos. É importante ter o pedigree de Seleção Brasileira. Acostumar a cantar o hino de chuteira inúmeras vezes, acostumar desde cedo vestir a camisa e ter orgulho de defender a seleção que tem a hegemonia do futebol no mundo que é o Brasil.
A Seleção sub-15 está em Salvador para a disputa da Copa 2 de Julho. Como tem sido o trabalho por aqui?
Pra você ter uma ideia, da última convocação até agora, aqui tem 14 jogadores que pela primeira vez chegaram à Seleção e estão vestindo a camisa. Pra você ver como é importante esse tipo de torneio pra garotada acostumar. Tem sido muito positivo. Dudu está tendo a oportunidade de observar esses atletas para formar o time que ele quer levar pro Sul-Americano.
Branco acompanha o time sub-15 do Brasil na disputa da Copa 2 de Julho | Foto: Maurícia da Matta / CBF
Mais jogadores da Região Nordeste estão aparecendo nas seleções de base. O Bahia, por exemplo, tem o goleiro Arthur Jampa no sub-15. Como tem sido essa observação?
É a segunda vez que eu passo nessa função. A primeira foi lá atrás, que a gente ganhou o Mundial Sub-17, Sub-20, e o Brasil ganhou a Copa com o Felipão, em 2022. Muita gente não sabe, mas o Brasil é o único país que tem a tríplice coroa, por ter ganhado os três mundiais. Só o Brasil tem isso, é importante frisar. Eu sempre fui um cara que olhei pro Brasil inteiro. A gente foi campeão do mundo com um jogador chamado Ederson, um meia, que jogou na Inter de Milão e acabou a carreira aqui no Flamengo. O técnico era o (Marcos) Paquetá, que ganhou o Mundial Sub-17 e 20. Ele falou 'tem um menino lá no RS (que hoje é o CT do Inter da base, em Alvorada), um meia que joga muito, mas joga em um time pequeno, eu não sei como a gente faz para convocar'. E eu disse: ele não é filiado da federação gaúcha, ele não está registrado na CBF? Por que não convocá-lo? Não tem problema. O jogador pode ser bom, no grande, no médio e no pequeno. E o Ederson foi convocado, foi campeão do mundo, em Helsinki, na Finlândia, contra a Espanha. Foi um time que tinha Arouca, Ederson, Jonathan, que era do Cruzeiro, lateral, na época ele era meia. Isso é um exemplo que a gente não tem que olhar só para um certo tipo de região. Agora mesmo o Ceará estava comemorando que o primeiro jogador deles foi convocado para seleção brasileira. Lógico que a gente não pode ser hipócrita de dizer que têm clubes grandes com muito mais estrutura e competem muito mais que clubes médios ou pequenos, que não tem calendário anual. Isso é uma realidade que a gente tem que falar, que é importante o jogador está sempre competindo. O mais importante é a gente oportunizar a todos. Aí depende deles. Agora mesmo foi convocado um menino do Novorizontino, que foi pro amistoso contra o México no Sub-17. Todos querem chegar aqui, como eu lá atrás, garoto, queria chegar à Seleção.
Você falou que jogadores no futebol brasileiro caem de árvores. É um país formador de atletas. Num processo "fácil" para que eles cheguem, qual o principal desafio?
Eu digo que os maiores formadores do mundo são África e América do Sul e o comprador é a Europa. Sempre foi. Hoje mais do que nunca pela questão monetária, a diferença do euro e do dólar… Você vê que as SAFs estão vindo pro Brasil e estão comprando os clubes, o Bahia é um exemplo. A gente sempre vai formar e isso não vai parar. Por exemplo, Bahia e Vitória sempre foram referência. O Vitória sempre foi uma grande grife, como o Santos, Xerém (o Fluminense), Athletico-R, Palmeiras agora melhorou com a chegada do João Paulo, que é espetacular, meu amigo, grande profissional, Inter e Grêmio. Tem muitos grandes clubes formadores. O grande respiro de um clube é a base e sempre será. Como é a Seleção Brasileira, eles começaram com 14, 15 anos e daqui a pouco estão na principal. É uma caminhada, é a base, o alicerce pro futuro, não só no esporte, na nossa vida em geral. Como o José Roberto Guimarães, do vôlei, diz, e eu fui lá em Tóquio, o único título que me faltava era a medalha de ouro. Eu saí da minha crise da covid, uma situação que eu ressuscitei… Deus existe, Deus é grande… Aí eu fui visitar o Zé e eu disse: 'Zé, você é tricampeão olímpico, eu queria tocar em você pra ver o seu segredo. Como é que ‘tu’ faz? Tem três medalhas, eu não tenho nem uma.' Aí ele disse 'posso fazer uma coisa?' Eu disse 'pode'. Aí ele se abaixou no meu pé esquerdo e falou assim: 'deixa eu tocar no seu pé esquerdo que eu não ganhei uma Copa do Mundo de futebol pelo Brasil e você ganhou'. Foi uma brincadeira, quebrou o gelo. Aí ele falou assim: 'dizem que a gente tem sorte, mas não tem isso. O grande segredo é estar preparado para a oportunidade'. E pior que é isso mesmo. Essa frase me marcou muito. Não só no esporte, na nossa vida, no dia a dia, temos que estar preparados para as oportunidades, e eu acho que o grande segredo é esse. O exemplo que ele deu é espetacular.
São jogadores que estão aparecendo neste momento para a Seleção Brasileira principal. Você falou do Endrick, do Vitor Roque... Como você está observando o futuro desses meninos para 2026, nesse ciclo que está tendo muita cobrança.
Em 2026 o Brasil vai chegar muito mais forte que o Catar. Isso não tenha dúvida. Você pega a geração olímpica é espetacular. Você pega a geração sub-20 também. O próprio sub-17. Opções a gente vai ter. Nós vamos pra 24 anos de novo, que nem em 94 e ironicamente de novo nos Estados Unidos. Nada é por acaso. O Brasil tem muita qualidade e material humano vai ter, não tenho dúvida. Não é de hoje que eu falo que em 26 vamos chegar muito forte. Eu não tenho dúvida disso, escute o que eu estou falando.
Que conselho você poderia dar a esses atletas que são experientes e vão jogar a próxima Copa em meio às cobranças?
A cobrança na Seleção sempre foi e sempre será. Logicamente que o Brasil, na nossa geração, bateu três finais consecutivas, 94, 98 e 2022. De três, ganhou duas e chegou a uma final. Pra tu ver que a gente é forte. A única coisa que eu que joguei três Copas e falo para todas as seleções quando a gente se reúne é que o individual aparece com a força do grupo. Não se ganha só, se ganha com todos. Até porque seleção que começa não acaba. Não adianta, uma andorinha só não faz verão. É todo mundo fechado. De mão dada, a gente fica mais forte, e acho que tem que ser assim em 26.
Branco visitou a redação do BN | Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias
A CBF anunciou oficialmente a contratação de Fernando Diniz para o cargo de técnico. Qual sua opinião sobre a chegada dele?
Queria parabenizar o presidente Ednaldo pela escolha e é por merecimento dele (Fernando Diniz). É a valorização do treinador brasileiro. Eu não vi ninguém falar isso de ontem pra hoje quando ele foi anunciado. Todo mundo está reclamando que tem muito estrangeiro, mas o presidente Ednaldo valorizou um brasileiro, que é de uma geração jovem, que tem um sistema que a maioria admira como o Fluminense joga. 'Ah, vão esperar o Carlo Ancelotti', mas nesse tempo aí o Fernando tem uma grande oportunidade. E é aquela história: estar preparado para a oportunidade. Sabe lá, né? Futebol é um negócio que é de momento e a grande oportunidade dele é essa. Por merecimento, foi muito bem escolhido. É um cara jovem, com uma metodologia espetacular. Eu conheço pessoalmente, é um cara muito legal e, acima de tudo, muito disciplinado naquilo que faz e a gente tem que ter disciplina nas melhores famílias.
Como é trabalhar com Ednaldo Rodrigues? Como tem sido essa relação com o presidente?
Pra mim falar do Ednaldo é muito confortável porque eu conheço o presidente há muitos anos desde a Federação Bahiana. Um cara humilde, tranquilo. Está fazendo a sua gestão, tem as suas ideias. Tem que respeitar. Chegou ao comando do futebol brasileiro não por acaso, ele tem uma escola desde garoto, foi jogador, teve um ‘tempão’ de presidente aqui. A gente torce muito por ele e a gente vai trabalhar para reconquistar o campeonato mundial. O Brasil, como eu te falei, tem 16 títulos mundiais: cinco na principal, cinco na Sub-20, quatro na Sub-17 e duas nas Olimpíadas. A gente é muito forte. Não tenho dúvida que o presidente Ednaldo já está trabalhando no melhor sentido para gente chegar muito forte na Copa de 26. Ele tem dado apoio a todas as categorias, não só masculino, como feminino, futsal, beach soccer, enfim, todas as situações.
Para encerrar, mande um recado para os leitores do Bahia Notícias.
Queria mandar um abraço para todos os leitores do Bahia Notícias. Agradecer pelas orações que fizeram por mim na minha crise de covid. Eu sei que foi uma comoção nacional, não posso deixar de frisar isso. Até internacional porque eu joguei muitos anos fora do Brasil. Queria agradecer a todos pela corrente que foi feita. Hoje estou aqui de volta muito mais forte que antes, em todos os sentidos. Dar um beijo no coração de todos. Obrigado pelo carinho de sempre, aqui em Salvador, na Bahia, e que Deus abençoe. Acima de tudo, saúde. Boa sorte aí a todo mundo e 'tamo' junto.
Com visão de atleta e coach, Marcos Santos fala dos planos ao assumir a presidência da Federação Baiana de Fisiculturismo
Por Leandro Aragão
No final do ano passado, o então vice-presidente da Federação Baiana de Fisiculturismo (IFBB-BA), Marcos Santos, recebeu a notícia de que Marília Sassi estava de saída do cargo de presidente. A conversa com a própria Marília foi ganhando forma de uma espécie de "bomba" quando ela propôs que ele assumisse a vaga. Se desdobrando entre a função de vice, atleta da modalidade, personal trainer e pai de família, não estava nos planos de Marcão ganhar mais uma função naquele momento. Porém, após parar para refletir, resolveu "pular de cabeça" para retribuir tudo o que o esporte lhe deu. "Se chegou ao meu colo, é porque tenho condições de dar conta". Foi com esse pensamento que ele, aos 42 anos, aceitou o desafio.
Em visita à redação do Bahia Notícias, o novo presidente da IFBB-BA falou um pouco dos seus planos para o mandato que terá duração de três anos. Com olhar de atleta e treinador pretende melhorar a vida dos associados, principalmente em relação aos campeonatos e eventos, além de desenvolver mais o esporte, que se tornou olímpico e fez parte da programação dos Jogos Pan-Americanos de 2019, em Lima, no Peru.
Você foi vice-presidente na diretoria anterior, teve a eleição e chegou à presidência da IFBB-BA. Como é que foi esse processo?
Antes eu era apenas atleta, mas mesmo assim já tinha participação atuante em ajudar a federação a achar local para pesagem, organizar espaço para realizar os eventos, patrocínios para alguns alunos meus, porque sou educador físico também. Sempre estava participando de forma ativa dentro da federação mesmo como atleta. Foi quando surgiu a eleição da antiga presidente Marília Sassi, que me convidou para ser vice-presidente dela e eu aceitei a proposta. Realizamos o campeonato no ano passado, conseguimos alguns apoios bacanas com o governo do estado. Ela não tinha mais condições de continuar na presidência por motivos pessoais, problemas familiares que precisava resolver e também por novos projetos na vida dela. Aí ela me fez o convite para que eu continuasse como presidente após a saída dela. De início, não era o que eu queria, por conta de ser atleta, ficaria difícil de conciliar a vida de atleta, personal trainer, pai de família com a de presidente, fica muita demanda para pouco tempo do nosso dia. Mas pensei direitinho e vi que tinha aquela retribuição pela gratidão que tenho pelo esporte. É hora de retribuir tudo que o esporte fez na minha vida de positivo. Então aceitei, pulei de cabeça, reuni uma nova equipe para poder direcionar melhor os eventos. Tem o Campeonato Baiano agora em junho e estamos na correria para organizar o campeonato. Aceitei essa missão. Se chegou ao meu colo, é porque tenho condições de dar conta.
Foto: Gabriel Lopes / Bahia Notícias
Como você falou que vai tentar retribuir o que o esporte fez por você até hoje, quais são suas ideias para retribuir isso?
Dentro do esporte tem sempre aquela chateação, aquela mágoa de quem vive os bastidores do esporte. O atleta não tinha aquele reconhecimento que ele deveria ter, sendo a principal atração do evento. O atleta é quem faz o show, se não tem atleta não tem campeonato, não tem festa e nem show para o público. Então, existem algumas queixas do atleta em relação a estrutura em si que é oferecida para que eles participem do campeonato. Tenho alguns projetos onde a ideia é que a gente consiga apoio suficiente do Governo do Estado, da Prefeitura e dos empresários para que esse atleta tenha que pagar para competir. Porque a realidade do esporte amador hoje é essa, ele paga para competir. E o público que vai assistir esses campeonatos, também não deveria pagar para participar e nem para prestigiar o atleta. Deveria ser algo beneficente. Entrar com um quilo de alimento, fraldas, coisas do tipo. Para que a gente possa fazer uma campanha de doação do esporte para várias instituições que têm e precisam desses mantimentos. Essa seria a ideia, que o atleta não precisasse pagar para competir e que o público pudesse, com sua família, ver o campeonato, porque é algo grandioso e mágico. Só quem participa e assiste um campeonato de fisiculturismo, consegue perceber como está além de corpos fortes e malhados, como dizem. Tem todo um projeto também social que a gente pode estar desenvolvendo, não só para o fisiculturismo, como também para outros esportes. O esporte transforma a vida de um indivíduo, não tem como não transformar. Eu sou a prova viva disso.
Você fala dos atletas pagarem para competir em relação a inscrição, não é isso?
Isso, da inscrição. Ele já paga a filiação normal à federação. Ainda assim tem que pagar para subir em cada campeonato que vá. A federação precisa dessa verba para viabilizar o aluguel do espaço, toda a estrutura que a gente tem para poder fazer o campeonato, a gente entende que a federação precisa dessa verba. Porém era bom que os governantes, que têm verba para isso, financiassem e patrocinassem os eventos esportivos. Só que a gente ter acesso a essa verba, hoje eu vejo como presidente, como é difícil, como é burocrático isso acontecer, entendeu? Por conta disso as federações acabam cobrando a inscrição do atleta para poder realizar um campeonato onde ele vai ser a atração principal. Imagine, Ivete Sangalo, Bell Marques terem que pagar para tocar, entendeu? É bem desse jeito.
Foto: Gabriel Lopes / Bahia Notícias
Sim, agora nessa questão também da parte financeira, o que eu converso com atletas que disputam campeonatos é que a preparação é muito cara, mas a premiação, o retorno ao conquistarem um título é muito baixo. Muitos deles, às vezes, decidem não competir mais por causa disso. Quais são as suas ideias para melhorar essa questão?
Eu tenho buscado cada vez mais apoio de empresas privadas e de governo. Eu tenho uma reunião logo mais com o pessoal da Setur [Secretaria de Turismo] para poder promover o turismo através do esporte dentro do estado. Quanto mais apoio a gente tiver, vamos conseguir fazer uma premiação melhor aos atletas. Mas essa premiação não pode ser em dinheiro, porque se trata de esporte amador. E no caso do esporte amador, ele não pode receber premiação em dinheiro pode fazer premiação em dinheiro. Eles podem receber premiação em televisão, motocicleta, coisas assim. Mas em verba, dinheiro na mão do atleta, infelizmente é lei no Brasil e o esporte amador infelizmente ele não pode ser premiado em dinheiro. Principalmente se tratando de esportes olímpicos, é que não pode mesmo. O nome diz, esporte amador, tem que ser realmente por amor ao esporte. Realmente, quando o atleta não consegue entender isso, ele chega no campeonato e ganha, ele vai ganhar um troféu, uma medalha e um pote de suplemento. Um pote de suplemento ele vai gastar em duas semanas de preparação. Então não paga nem um terço do que ele investe para poder chegar no palco com um físico competitivo. Então, até ele virar profissional e poder receber como atleta profissional que recebe dinheiro, os top 5 de cada categoria que for premiado ali, vai receber uma quantia em dinheiro, mas o atleta amador infelizmente dentro do nosso Brasil, não podemos fazer pagamento em dinheiro.
E conseguir um patrocinador para que ele dê um ano de patrocínio ao campeão?
Pronto! É isso que a gente tem buscado. Vai ter uma bolsa na academia durante o ano, vai ganhar uma televisão, uma moto ou vai ganhar a suplementação do ano, né? Esse é o apoio que a gente precisa buscar.
Então, quando você era atleta já vinha ajudando a federação. Como é que você recebeu a missão de última hora, quando Marília Sasse falou para você assumir, o que você pensou?
A gente fez uma reunião com a Confederação Brasileira de Fisiculturismo, com a Federação Baiana e ela falou que não tinha mais condições de continuar como presidente. Foi logo antes do Natal e até então também fiquei preocupado, porque não fazia parte dos meus planos assumir agora como presidente. Eu tinha outros planos, com competições e outros eventos que eu tenho para fazer. Aí fui pego de surpresa, né? Mas conversando com todos os outros membros da federação, os conselheiros e a presidente da Confederação Brasileira, eles conseguiram, né? Eu deixei claro que assumiria a posição de presidente, mas desde que todo mundo participasse, porque uma andorinha só não faz verão. Então, todos da equipe se mostraram muito muito prestativos. Eles têm sido também muito prestativos, uma equipe cada vez mais unida. Nunca esteve tão próxima a federação toda, conselheiros, árbitros, dirigentes, sempre estão muito próximos, alinhando todo o pensamento, com relação a promover o melhor evento e está tendo um maior cuidado agora com o atleta, contato direto através do WhatsApp para poder ter essa aproximação que não existia. Existia a presidência, o atleta. Não é para ser assim. É para gente estar cada vez mais próximo, escute o atleta, melhore cada vez mais os eventos. Dê uma estrutura melhor para o atleta dentro do evento e até fora do evento também. Eu consegui um médico para poder acompanhar os atletas, independente da época do ano desde que seja atleta da federação. A gente vai ter um médico que é o mesmo médico que me acompanha há mais de anos, Dr. Pedro. Ele vai estar acompanhando também os atletas na federação. Nutricionista também, conseguimos a doutora Girlane Oliveira, que também vai estar acompanhando. Então vamos buscar ao máximo dar o suporte ao atleta da federação, sem precisar ter um custo para o atleta. Sem precisar ele ter que buscar, "Poxa, vai precisar fazer exame médico ou pagar uma consulta". Então, vamos procurar ao máximo fazer de tudo para conseguir parceiros para que diminua o custo dele na preparação até o campeonato. O máximo que a gente puder fazer, vamos fazer.
Foto: Gabriel Lopes / Bahia Notícias
Você fala muito dos eventos, das competições, dos atletas já estabelecidos. Seguindo essa linha, você tem alguma ideia de captar novos atletas? Tem muita gente na academia que começa a treinar, aí vai treinando um pouquinho mais pesado, vê resultado e resolve subir no palco.
Hoje a gente conseguiu um espaço, né? Como o esporte olímpico, antigamente era visto como estilo de vida, né? O fisiculturismo hoje se tornou esporte olímpico, então vamos poder representar o Brasil nas Olimpíadas, nos Jogos Pan-Americano. Já começamos desde 2019, tivemos atletas brasileiros disputando. O Brasil e o nosso estado tem uma quantidade de atletas muito grande e com um físico muito competitivo. Através do esporte olímpico, a gente consegue apoio direto com a Sudesb, com o FazAtleta. A gente tem um meio de conseguir verba para que esses atletas tenham interesse de participar. Ele participando como atleta olímpico, ele tem um pagamento mensal para se preparar. A ideia é trazer essa visão para as pessoas, porque muita gente não sabe que hoje em dia o fisiculturismo se tornou um esporte olímpico. Pensam que é só o boxe, futebol, entre outros. Mas não, o fisiculturismo também está entre os esportes olímpicos. E a gente tem esse projeto de ampliar ainda mais essa essa situação para que a gente consiga fazer uma equipe baiana, para junto com a equipe brasileira disputar as Olimpíadas e os Jogos Pan-Americanos.
E como vai ser essa a classificação para os Jogos Olímpicos ou Pan-Americanos?
Ele passa primeiro pelo Campeonato Baiano, fica entre os top 3. Vai para o Brasileiro e também se classifica entre os três. Depois tem o Sul-Americano e ele se classifica entre o top 3. Aí temos categorias específicas para disputar as Olimpíadas. Categoria Bikini Fitness na feminina, temos a Games Classic na categoria masculina e a Men 's Physique também na categoria masculina. Aí os campeões, quem tiver o melhor destaque dentro desse cenário de competições, será convocado pela Confederação Brasileira de Fisiculturismo para fazer parte da equipe brasileira para disputar. Eles serão selecionados nas seletivas.
Como é que foi para a comunidade do fisiculturismo saber que o esporte dela se tornou olímpico?
Foi meio que 50% positivo, 50% negativo. Porque a gente olha o fisiculturismo e a primeira coisa que a pessoa acha que para ter um físico daquele tamanho tem que usar um monte de esteroides anabolizantes e tal. Dentro do esporte olímpico você precisa fazer exames antidoping, né? E no fisiculturismo já há muito tempo a gente faz exames antidoping no Brasileiro e no Sul-Americano justamente para conseguir espaço como esporte olímpico. Então muita gente, alguns treinadores e alguns atletas não queriam que fosse justamente por causa do uso de esteróides. Mas tem como a gente ter um acompanhamento médico, usando hormônios bioidênticos para que a gente consiga ter uma melhor performance física. Em todos os esportes, independente da modalidade, precisa de uma performance física melhor do que de um indivíduo normal, que não pratica esporte físico competitivo. Então, tem que ter um acompanhamento médico para que isso aconteça. Esse acompanhamento médico encarece a preparação do atleta amador. Por isso que eu busquei essa parceria com um médico, justamente para facilitar isso. Para que consiga organizar o protocolo do atleta para que ele faça o exame antidoping e não seja pego no antidoping e nem tenha nenhum tipo de substância proibida. Tem um mundo de substâncias proibidas no antidoping em relação ao atleta. Então, conseguimos esse apoio para ficar mais fácil. Então muitos atletas não concordaram com a ideia de virar esporte olímpico e outros sim, porque conseguem entender a grandiosidade e visibilidade que o esporte vai ter como esporte olímpico. E o número de pessoas que não vem para o esporte, porque tem a visão marginalizada de que o esporte é feito do uso de esteróides anabolizantes, onde não é bem assim. Mas muitas pessoas ainda tem essa imagem quando vê um cara forte, quando vê um atleta e esquece que sem um bom treinamento, sem alimentação apropriada, sem um bom descanso, nada que use vai dar o resultado ao atleta. Muito pelo contrário, vai destruir a saúde do atleta e nem vai ter vida útil para poder competir. Então, tem todo um contexto em volta. Quando falou que ia virar esporte olímpico, porque já vinha há muito tempo essa tentativa, foi um divisor de águas dentro do esporte muito grande. Alguns atletas concordam, outros não concordam e fica essa balança. Só que eles tem que começar a entender que a visibilidade para o esporte é absurda, os benefícios que eles vão ter. Eles só vão conseguir o Bolsa Atleta, o FazAtleta, apoio da Sudesb justamente por ter se tornado esporte olímpico. Antes, os incentivos financeiros do governo federal, estadual e prefeitura nunca iriam chegar ao esporte. A gente ia continuar sendo apenas 1% da população mundial que, graças a Deus, não mais, porque hoje cresceu bastante. Antes eles não conseguiam entrar para o FazAtleta, podia fazer o que fosse. Era muito difícil conseguir essa bolsa, justamente por não ser esporte olímpico. É a primeira negativa que que era essa: "Ah, vocês não fazem parte do quadro de esporte olímpico". Para conseguir uma verba na Sudesb: "Vocês não fazem parte parte do quadro de esporte olímpico". A gente é a única federação ligada ao Comitê Olímpico do Brasil (COB). Foi maravilhoso para o nosso esporte.
No FazAtleta tem aquelas categorias de benefício por ranking cada ranking...
Isso! Cada ranking vai ter uma bolsa melhor. O valor da bolsa só aumenta.
Como são essas divisões?
Você é atleta estadual e nacional, aí recebe um valor da bolsa. Atleta internacional recebe o teto máximo da bolsa, porque tem o custo da viagem internacional, sua equipe que vai viajar com você. A gente organiza todo um projeto anual para o atleta e dentro dele classificamos se vai competir o regional, o nacional, os internacionais que vão ter durante o ano. Montamos o projeto e mandamos para o FazAtleta. Infelizmente precisamos de uma empresa para poder financiar 80% desse valor, né? É do governo do estado que ele reduz o ICMS das empresas e 20% a empresa coloca do próprio bolso, né? A gente depende dessa empresa para poder direcionar essa verba. Seria bom se fosse algo direto para o atleta, mas infelizmente não. Só o Bolsa Atleta, que é do governo federal, que é direto para o atleta, não depende da empresa. Mas primeiro ele precisa ser atleta ranqueado internacionalmente para poder conseguir o Bolsa Atleta.
Em 2018, fizemos uma matéria mostrando a rixa entre a IFBB e a National Physique Committee (NPC). Gostaria de saber sua visão desse racha. Entrevistando alguns dos seus atletas, eles disseram que você era contra isso. Como presidente da IFBB-BA tem alguma ideia de como contornar essa situação?
Essa união das federações existia há muito tempo atrás, mas acabou justamente por ter se tornado esporte olímpico. A NPC é uma liga e a IFBB é uma federação, se juntaram como um corpo só. Só que quando se tornou esporte olímpico, o dono da NPC nunca concordou com isso, porque ele percebeu que iria perder uma fatia desse bolo da parte financeira. Por causa de interesses financeiros ele decidiu sair da IFBB e seguir sozinho com a NPC. Daí toda a separação e foi no mundo inteiro isso. Eu acho que isso só enfraquece nosso esporte, porque alguns atletas ficaram na IFBB, outros voltaram para a Nabba (Associação Nacional de Fisiculturistas Amadores, em português) e outros com a NPC. A única forma de unir isso seria organizar os calendários com competições próximas tanto da NPC quanto da IFBB para que o atleta pudesse competir nas duas, sem ter nenhum tipo de punição ou penalidade. Acho que seria a única forma de fazer isso. Porque unir novamente acho muito improvável para uma coisa que aconteceu a nível mundial, por conta de questões financeiras. Eles não se preocuparam com o esporte. Virou esporte olímpico, quais são os benefícios que vai ter e eles não se preocuparam com isso, só com a parte financeira dele, que é empresário. Porém, Santorra, da IFBB mundial, se preocupou com o esporte. Porque ele lutou até o fim para virar esporte olímpico. Quando o fisiculturismo foi criado, foi pensando em virar esporte olímpico um dia. Graças a Deus, foi realizado o sonho de quem criou. Mas o empresariado pensa diferente, não está preocupado com o sonho de quem criou algo, está preocupado em lucrar apenas. Hoje Bruna Miyagui é a responsável pela NPC aqui na Bahia, muito minha amiga e fiquei responsável pela Federação Baiana. Vamos alinhar os calendários, os eventos e até a parte da premiação vamos ver se a gente consegue premiar de forma grandiosa todos os eventos que vão acontecer aqui dentro [da Bahia], para que atraia atletas de outros estados virem competir aqui em Salvador, na Bahia. Quanto mais alinhados a gente estiver com relação a premiar o atleta de forma melhor, organizar eventos maiores aqui dentro, promover feiras fitness através da IFBB ou da liga NPC. Antigamente a gente tinha a Fitness Brasil que a IFBB trazia, mas acabou. Aí vai ter o ISA em São Paulo, que é uma feira grandiosa na América Latina, mas não vem para Salvador. Temos o centro de convenções agora depois de um tempo sem, e podemos fazer grandes feiras aqui, mas se tiver essa parceria. Tanto ela pode organizar as feiras com o apoio da IFBB, nem que seja um apoio indireto, mas que o atleta seja o beneficiado. Para um atleta competir hoje tem que pagar R$ 700. É um absurdo isso. Muita gente que é fisiculturista vem de classe média, vem de gente que não tem condição financeira bacana. Paga o almoço ou faz dieta, ou compra Whey ou compra carne. A maioria tem filhos, tem família, tem todo um custo envolvido. Aí vai competir e tem que pagar inscrição de R$ 500, 600, 700. É surreal. Ainda mais quando tem viagem, passagem aérea cara, hospedagem, tudo isso. A federação brasileira sempre consegue alojamentos quando os atletas vão viajar. Quando eu viajava para fora do país pela IFBB Elite Pro, eles davam alojamento. Tudo isso reduz o custo absurdamente. A gente quer fazer alguma coisa com a federação regional, para conseguir os apoios necessários. O atleta vai viajar para disputar o Brasileiro em São Paulo agora em agosto, e aí onde ele vai ficar?
Você é atleta e treinador...
Agora como presidente da federação não vou mais poder preparar atleta.
Era justamente isso que ia perguntar.
Já não vou mais poder preparar atletas, porque termina influenciando de alguma forma e para evitar que tenha peso na consciência dos árbitros, por mais que a gente confie neles, é melhor que não aconteça isso para não ter nenhum tipo de influência. Então, não preparo mais atletas. Posso treinar como personal trainer, mas preparar como coach, não posso mais.
Foto: Gabriel Lopes / Bahia Notícias
Na questão do fisiculturismo entrar como esporte olímpico, onde 50% dos atletas e treinadores aprovaram e os outros 50% não, por causa dos exames antidoping. Como é essa relação entre saúde e o uso de anabolizantes, que sabemos que é prejudicial?
Quando o atleta tem um médico acompanhando, toda dosagem que ele vai fazer, o tanto de proteína que ingere na dieta, o quanto de hormônio que vai precisar utilizar, porque está deficiente. Todo esse trabalho é acompanhado pelo médico. Então, o atleta faz uma bateria de exames antes de fazer a preparação para o médico do esporte direcionar: "Olhe, não coma mais proteína. Se tem muito carboidrato e se aumentar isso pode desenvolver uma pré-diabetes e diabetes". Tudo isso com o consumo do alimento, não é por causa do hormônio ou algo do tipo não. Tudo precisa de um acompanhamento médico. O que acontece em relação ao esporte é que as pessoas procuram entrar no esporte, fazem tudo que um atleta está fazendo sem antes passar por um médico. Então, vira uma bomba relógio. Ele pode desenvolver diabetes e não sabe por quê. Pode ter um AVC e não sabe por quê. Pode ter um problema cardíaco... Então, tem todo um cuidado que o atleta tem que ter, porque senão ele não dura. Compra tudo [anabolizantes], o colega dele está usando, está comendo, copia a dieta do colega. Então assim, precisa ter um nutricionista, precisa ter um médico do esporte, precisa do coach para direcionar com relação à categoria. Todo esporte de alto rendimento, infelizmente não tem como ser 100% saudável. O treinamento é além do que uma pessoa normal é capacitada a fazer, o descanso, tudo é diferente. Não tem como comparar. O cara que vai jogar tênis no final de semana, não vai comparar com um tenista profissional. Guga teve várias cirurgias, porque ele sabia que para ser um atleta competitivo de alto rendimento, vai ter que correr esse risco. No fisiculturismo, para que você diminua o risco, tem que ter o médico ali colado com você. Porque você ingere mais proteína do que o normal, deveria ingerir 2 kg para uma pessoa normal ter hipertrofia. Um atleta come mais do que 2 kg de proteína por peso corporal. Até a ingestão proteica do atleta é superior ao que uma pessoa normal deveria fazer. Então, o que ele tem que fazer para não sobrecarregar o fígado e os rins? Porque vai haver uma sobrecarga. Então, o médico vai direcionar para que não sobrecarregue. Problema cardíaco, se tiver um abuso de hormônio, vai hipertrofiar o coração. Vários atletas já morreram por problema no coração, porque não teve o acompanhamento médico devido e tem que ter. Se o cara resolver entrar no fisiculturismo ou qualquer outro esporte de alto rendimento, vai precisar de acompanhamento médico para saber se vai suportar o treino. No fisiculturismo, se o cara não tiver uma recuperação boa do treino que ele faz ou devido às competições para voltar a competir de novo no ano, três ou quatro vezes, ele não aguenta. Precisa mais do que nunca procurar um médico do esporte que viva o esporte para poder ver se ele pode ou não seguir no esporte. É a primeira coisa que eu digo. E nada de copiar o que o amigo está fazendo, tomando 10g de proteína... Esqueça! Pegar dieta na internet, olhar o que blogueiro está fazendo, esqueça! Ali, alguém prescreveu para ele. Quando eu posto meus treinos, não falo o que estou fazendo. Já evito, porque a galera quer copiar o treino que estou fazendo achando que vai ficar igual. É horrível isso. Infelizmente a rede social veio com esse poder, tem o lado bom e o lado ruim. As pessoas querem copiar tudo o que vê. Antes de qualquer esporte tem que procurar um médico para ver articulações, porque senão vai se machucar. Tem que ter um profissional acompanhando, um coach para se preparar para saltar. O fisiculturismo não é diferente. Com relação a essa divisão, foi justamente por ter muitos atletas que acham que não precisam passar pelo médico. Só o que o coach disser, o que o amigo faz está valendo, está ficando grande, mas não é só ficar grande. É que fique forte, grande de forma saudável. O cara quer ter filhos, quer ver os netos e como é que faz?
No fisiculturismo também tem a questão das poses, que contam nas disputas dos campeonatos.
É tudo bem ensaiado. É tão cansativo quanto os treinos. Exige um cardiorrespiratório muito grande. Até essa parte tem que ser orientada. Tem que treinar o cardio e a pose logo depois do treino para se condicionar melhor quando chegar no palco. É tudo muito complexo o fisiculturismo. E tem que ter um acompanhamento e direcionamento de alguém que entenda e viva aquilo. Porque senão, não adianta.
Capitã na Copa América, Rafaelle projeta Mundial e pede maior investimento no futebol feminino da Bahia
Por Nuno Krause
Capitã na conquista da Copa América, a zagueira Rafaelle é a principal representante da Bahia na seleção brasileira feminina de futebol. Revelada pelo São Francisco do Conde, a jogadora de 31 anos atua pelo Arsenal desde 2021 e é figura constante nas convocações da técnica Pia Sundhage para a equipe nacional.
Em conversa com o Bahia Notícias, Rafaelle projetou a disputa da Copa do Mundo Feminina, marcada para acontecer entre 20 de julho e 20 de agosto, e da Finalíssima, que ocorrerá em 6 de abril, contra a Inglaterra, em Wembley. O torneio coloca frente a frente as seleções campeãs da Copa América e da Eurocopa. Os ingressos estão esgotados.
“Vai ser um momento histórico não só para o futebol inglês, mas para o futebol feminino. Jogar nesse estádio, com a torcida, vai ser muito especial (...) Elas [as inglesas] vêm de um ano muito bom, ganharam a Euro e não perderam nesta temporada. É a seleção a ser batida”, destacou.
Além disso, fez uma análise sobre a atual situação do futebol feminino na Bahia. Em sua visão, as coisas vêm evoluindo, mas é necessário maior investimento.
“Vemos que a Bahia é um celeiro de atletas. Infelizmente, ainda temos muito a desenvolver. Se comparar o futebol baiano ao paulista, por exemplo, tem muita diferença”, lamentou.
Outros assuntos abordados foram a influência da técnica Pia Sundhage na evolução da seleção brasileira, o legado que atletas como ela, Marta, Formiga, Cristiane e outras deixam para as futuras gerações, e o momento mais marcante de sua carreira.
Confira a entrevista completa:
Você foi a capitã da Seleção Brasileira na conquista da Copa América de 2022. Qual foi a sensação de levantar uma taça por seu país?
Foi uma honra. Primeira vez levantando um título como capitã da Seleção Brasileira. Acho que não há um orgulho maior para o atleta, ainda mais em uma competição tão importante como foi a Copa América, que nos classificou para a Copa do Mundo deste ano e para a Olimpíada do ano que vem. Vai ficar marcado para sempre na minha carreira.
Você esteve fora das duas últimas convocações da técnica Pia Sundhage, por causa de uma lesão no tornozelo. Voltou a atuar já no final do ano pelo Arsenal. Tudo certo com a lesão? Já está 100% recuperada?
Tive uma fratura do segundo metatarso, mas já voltei a jogar. Lesão acontece. É uma das coisas que podem tirar uma atleta importante de uma competição, mas faz parte da nossa profissão. Estamos em ação o tempo todo. Aqui na Europa, o calendário é bem cheio, temos praticamente dois jogos por semana, e estamos sujeitas a esse tipo de coisa.
Em 6 de abril, o Brasil vai disputar a finalíssima contra a Inglaterra, em Wembley. O torneio coloca frente a frente os campeões da Copa América e da Eurocopa. Qual sua expectativa para essa partida, que acontece em solo inglês, que você já conhece?
Estamos com muita expectativa por esse jogo, o estádio está com os ingressos esgotados. Pressão da torcida inglesa, elas vêm de um ano muito bom, ganharam a Euro e não perderam nesta temporada. É a seleção a ser batida. Vamos participar dessa festa, é um jogo muito importante. Elas vão estar com a torcida a favor, mas eu estou observando as jogadoras. Algumas companheiras de time que vamos jogar contra. Vai ser um momento histórico não só para o futebol inglês, mas para o futebol feminino. Jogar nesse estádio, com a torcida, vai ser um momento muito especial.
De que forma ter um palco como Wembley impacta na evolução do futebol feminino?
É importante ter grandes palcos, com grandes públicos, para mostrar que o futebol feminino hoje tem visibilidade, atrai marcas, patrocínios, isso é muito importante. Antigamente, o pessoal via o futebol feminino como só dando despesa. Hoje, acho que é o esporte do futuro. Tem crescido bastante, a tendência é crescer ainda mais.
A última partida entre Brasil e Inglaterra foi em 2019, no torneio SheBelieves. As inglesas venceram por 2 a 1 naquela ocasião. São times diferentes agora, em 2019 você mesma não estava em campo. Quais são as dificuldades que o Brasil vai encontrar dessa vez e de que forma superá-las?
A seleção da Inglaterra tem crescido bastante. É fruto do investimento que eles fazem na liga, que é muito sólida. Os grandes clubes apostam bastante no futebol feminino. Isso fortaleceu o Campeonato Inglês, e acabou fortalecendo a seleção. São sempre grandes jogos, elas estão acostumadas a esse nível de jogo no dia a dia. Então a seleção inglesa chega muito bem não só para essa Finalíssima, mas para brigar pelo título mundial. A nossa dificuldade vai ser essa. Elas estão em atividade, não pararam no final do ano. Mantivemos o campeonato durante o inverno. Algumas atletas do Brasil que jogam no Brasil, nos EUA, ainda estão de férias. Fisicamente, elas chegam à frente para esse jogo, mas temos que fazer o nosso jogo, temos que jogar em cima da nossa habilidade, trabalhar com bola e deixar elas correrem.
Como você avalia o legado de atletas como Marta, Cristiane, Formiga e qual é o futuro do futebol feminino após a aposentadoria delas?
Marta, Cristiane, Formiga têm deixado um legado muito legal para quem está chegando. Não sou tão novinha assim, também. Joguei com elas bastante, peguei um pouco dessa experiência. Essa vontade, esse amor com os quais elas sempre jogaram pela seleção é algo que inspira. Hoje, vemos que o futebol cresceu bastante, muitas meninas têm uma realidade bem melhor. Quando eu comecei, era tudo muito mais difícil. Mas acho que Marta ainda tem muito o que jogar pela seleção. Não só como líder, mas como atleta, ela tem muito a agregar.
2023 também é ano de Copa do Mundo Feminina, na Austrália e na Nova Zelândia. O Brasil caiu nas oitavas de final na última edição, para a França. O que você acha que falta para esse tão sonhado título vir? Está confiante para esse ano?
Infelizmente, na Copa de 2019, eu estava machucada. Tive uma lesão no ligamento do joelho, não pude participar. Mas acho que, de lá para cá, muita coisa mudou. Muita coisa na CBF mudou. Estamos passando por um momento de renovação na seleção. Muitas meninas mais novas chegando. A chegada de Pia também agregou muito. Principalmente no meu caso, o sistema defensivo tem sido bem mais coeso, não tem sofrido muitos gols. Estamos lutando para melhorar ofensivamente, para poder brigar com essas seleções do top-5 da Fifa.
Muito se fala também sobre o trabalho da técnica Pia Sundhage. Ela teve muito sucesso com a seleção sueca, e chegou para mudar o futebol brasileiro de patamar. Os títulos de maior expressão, como Copa do Mundo e Olimpíada, ainda não vieram. O que você, como jogadora, poderia destacar do trabalho de Pia? Quais foram as mudanças que ela implementou e como você avalia elas?
Melhoramos bastante na parte defensiva, mas temos muito a melhorar como grupo, principalmente ofensivamente. Desde que ela chegou, temos mudado não só o modo de jogar, mas ela tem introduzido jogadoras mais jovens. Ela gosta desse futebol mais veloz, com mais intensidade, mais rápido. Sentimos falta um pouco de uma Cristiane, uma jogadora mais de área. Marta está machucada, não jogou a última Copa América, mas espero que na Copa ela esteja de volta. É justamente essa mistura das mais experientes com as mais jovens que vai ajudar a gente a conquistar títulos lá na frente.
Você foi revelada pelo São Francisco, da Bahia, e hoje está no Arsenal. Como você avalia essa evolução na carreira?
Fui revelada no São Francisco do Conde. É uma mudança muito grande, de um time no interior na Bahia para hoje jogar no Arsenal, em uma liga que cresce bastante. Hoje, temos jogos com 40 mil, 50 mil pessoas no estádio do Arsenal. É muito legal ver essa evolução. Para mim, é gratificante. A geração de hoje ainda não se deu conta do quanto crescemos, do quanto evoluímos. Pra quem começou lá atrás, quando não era tão visível assim, é um orgulho muito grande.
O investimento no futebol baiano é maior, mas ainda assim não é o ideal. Como você enxerga essa evolução? Está no ritmo que você gostaria?
Sempre falo que o futebol baiano tem muito potencial. Temos grandes jogadoras que serviram e servem a Seleção Brasileira. Vemos que a Bahia é um celeiro de atletas. Infelizmente, ainda temos muito a desenvolver. Se comparar o futebol baiano ao paulista, por exemplo, tem muita diferença. O Bahia tem investido bem mais que o Vitória, tem apostado mais no futebol feminino. O Vitória tem que melhorar isso. É triste, porque já tiveram meninas que estavam no Vitória sem receber. Mas acho que a Bahia tem potencial, falta investimento. Precisamos dos times baianos disputando com os times de São Paulo.
Rafaelle tem 75 jogos pela seleção brasileira, oito gols marcados - bons números para uma zagueira. Tem algum que você considera mais marcante?
Um gol que me marcou bastante foi o gol no Maracanã. Estávamos nas quartas de final da Olimpíada, contra a Austrália. Estava com minha família toda na torcida, minha mãe estava no estádio. Jogar uma Olimpíada no Brasil, com a torcida do lado, fazer aquele gol de pênalti foi uma sensação que nunca vou esquecer. Fiquei preocupada com minha mãe no estádio, nervosa. Pensei: "Se eu perder esse pênalti, ela vai infartar".