Cármen Lúcia defende luta do STF pela democracia e diz que "a ditadura é o pecado mortal da política"
Escolhida pelo novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, para fazer o discurso de saudação à posse, a ministra Cármen Lúcia, única mulher a compor a Corte, fez um forte discurso em defesa da instituição e da democracia. Cármen Lúcia falou logo após o ministro Fachin ter sido empossado pelo presidente anterior, Luís Roberto Barroso, na solenidade desta segunda-feira (29).
Cármen Lúcia disse no seu discurso que o STF se mantém íntegro e coeso na sua atuação e que os juízes da Casa têm clareza dos desafios do seu tempo. A ministra mais uma vez ressaltou a importância da Corte na defesa da democracia e acrescentou que o presente momento exige dos juízes atenção à garantia de direitos.
“Alternam-se os juízes sem que se altere a instituição, seus compromissos e responsabilidades com a sociedade”, afirmou Cármen Lúcia sobre a posse de Fachin e também do ministro Alexandre de Moraes como vice-presidente.
A ministra também citou na sua fala os políticos que, nas palavras dela, tentaram dar um golpe de Estado no Brasil.
“Os juízes desta casa têm ciência das específica tribulações de nosso tempo, que impõem ininterrupta vigilância dos princípios e valores da democracia, tão duramente conquistada no Brasil, e recentemente novamente agredida, desconsiderada, ultrajada por antidemocratas em vilipêndio antipatriótico e abusivo contra o estado de direito vigente. A ditadura é o pecado mortal da política”, disse a ministra.
Para a ministra, com a ditadura extinguem as liberdades, violentam-se as instituições, introduz-se o medo e define-se o “preço vil da covardia” nas mentes e nos comportamentos da sociedade. A ministra condenou qualquer movimento que possa esvaziar a cidadania de seus ideais de igualdade e justiça para todas as pessoas.
“O ambiente democrático é o único que permite florescer em liberdades e frutificar em igualdades. A discórdia e desavença são venenos fermentados pelas ditaduras”, seguiu Cármen.
O momento de forte polarização e radicalização de discursos de lado a lado da política, e que levou inclusive à aplicação de sanções do governo dos Estados Unidos aos ministros do STF, também foi indiretamente citado no discurso da ministra.
“Esta poderia ser mais uma posse, das 62 que agora se completam. Mas neste caso a posse de novos dirigentes do STF tem um tom mais forte da gravidade especial do momento experimentado no mundo e, em especial, no país. Este Supremo tem a função específica de guardar a constituição e, com ela, guardar-se e resguardar-se, em última instância no direito, a ordem jurídica a prevalecer no Brasil”, disse.
“A sinalização do equilíbrio pelo apego às normas e aos processos de direito adquire relevo de demonstração e apreço pela institucionalidade posta na Constituição da República a demonstrar com esse gesto que este STF mantém-se íntegro em sua conformação e coeso em sua atuação”, reforçou Cármen Lúcia.
Ainda segundo a ministra, a democracia não é incumbência única do STF, é de toda cidadania. “Em tempos de radicalismos febris vazios e inúteis, os perigos estão mais próximos do desgaste mais profundo em detrimento dos valores democráticos.”
Para a ministra, a gravidade do momento histórico impõe especialmente aos juízes o dever de voltar sua atuação à garantia de direitos e concórdia. “O caminho dos encontros humanos está na conciliação entre os diferentes”, afirmou.
Sobre o novo presidente, ministro Fachin, Cármen Lúcia disse ter certeza de se tratar de “um homem bom”, o que o faz um “bom juiz”. E, que ele não propõe teorias fora do Direito, é ameno e cordato na convivência.