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Ex-senador afirma que ponte é solução “rodoviária e inadequada” e propõe sistema aquaviário como alternativa

Por Francis Juliano

Foto: Divulgação

O ex-senador e especialista em planejamento urbano-regional Waldeck Ornélas voltou a criticar o projeto da Ponte Salvador-Itaparica, classificado por ele como uma iniciativa “inadequada em termos de temporalidade e localização”.

 


Waldeck Ornélas | Foto: Reprodução / Redes Sociais

 

Em entrevista ao Bahia Notícias, Ornélas reafirmou a posição contrária à construção da ponte e defendeu a implementação de um sistema de transporte coletivo de passageiros na Baía de Todos-os-Santos como solução mais eficiente para a mobilidade e o desenvolvimento econômico da região.

 

Segundo o ex-senador, a ponte tem um caráter basicamente rodoviário, em que beneficia apenas o tráfego de veículos, e não atende às necessidades da população que se desloca entre as cidades. “A ponte resolve o problema do fluxo veicular, mas não o da mobilidade cotidiana das pessoas. A revitalização econômica do entorno da baía só ocorrerá com um sistema eficiente de transporte de passageiros”, afirmou o também ex-ministro da Previdência do governo FHC ao Bahia Notícias.

 

Ornélas argumenta que o empreendimento, orçado atualmente em R$ 11 bilhões, deveria ser reavaliado. Ele destacou que o custo final pode ser ainda maior, já que estudos de fundação indicam a necessidade de intervenções mais profundas do que o previsto inicialmente.

 

“Meu receio é que apresentem um novo orçamento. Por isso, questionei em um artigo recente ‘quanto custa não fazer?’. É essencial compreender o impacto financeiro total dessa obra”, observou.

 

O ex-parlamentar também lembrou que já existe um sistema de transporte aquaviário na Baía de Todos-os-Santos, com rotas que conectam Salvador a cidades como Madre de Deus, Maragogipe e Cachoeira, as duas últimas no Recôncavo. Para ele, o modelo precisa ser aperfeiçoado e integrado a outros modais terrestres, e não substituído por uma ponte que privilegia apenas o transporte individual.

 

“A Baía de Todos-os-Santos é um recurso natural extraordinário e subutilizado. Temos um complexo portuário amplo, com potencial para reativar a economia local, como demonstra o caso do estaleiro Paraguaçu [Maragogipe], que pode gerar cerca de sete mil empregos. Isso exige soluções de transporte voltadas para os trabalhadores, e não apenas para automóveis”, completa Ornélas.

 

O ex-senador também comparou o projeto à Ponte Rio-Niterói, construída nos anos 1970. Para ele, o contexto atual é completamente diferente. “Naquele período havia uma metrópole na outra margem. Hoje, o cenário é outro, e o pedágio seria inviável para boa parte dos usuários. Estamos repetindo um modelo de desenvolvimento ultrapassado”, afirmou.

 

Waldeck Ornélas frisou que a posição contrária ao projeto não é recente. Desde 2019, ele publica artigos e notas técnicas em que critica a proposta, especialmente após a redução do vão central da ponte, que, segundo ele, comprometeu a viabilidade náutica da Baía de Todos-os-Santos.

 

“Tenho tratado desse tema há anos, antes mesmo da assinatura do contrato. Sempre defendi que a prioridade deve ser um sistema integrado de transporte de passageiros, capaz de impulsionar a economia local e melhorar a mobilidade de forma sustentável”, concluiu.