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Autora e paliativista, Ana Claudia Quintana reflete necessidade de sensibilizar população sobre Cuidados Paliativos

Por Victor Hernandes

Fotos: André Carvalho / Bahia Notícias

Pensar na morte, na despedida de amigos e familiares, no momento de partida do mundo, ainda é um paradigma para uma grande parte da sociedade. Se falar em cuidados e tratamentos para amenizar a dor desse processo, por muitas vezes, é de desconhecimento de muitos brasileiros. 

 

No entanto, a médica paliativista e autora, Ana Claudia Quintana, inverteu a perspectiva do senso comum e refletiu sobre a finitude da existência, para que a população entenda a importância e o verdadeiro significado dos Cuidados Paliativos, e vivam bem até o dia da partida. 


Considerada uma das maiores referências sobre Cuidados Paliativos no Brasil, a escritora esteve em Salvador, na noite desta quarta-feira (24), para conduzir uma palestra sobre “Dignidade até o fim: uma conversa necessária”. O evento da Florence, hospital de transição e referência nacional em Cuidados Paliativos e Reabilitação Intensiva, com unidades em Salvador e Recife, ocorreu no Cerimonial Rainha Leonor (Pupileira) e contou com a presença de profissionais de diversas áreas de saúde e entusiastas da médica. 

 

Em entrevista ao Bahia Notícias, antes do começo da iniciativa, a escritora comentou a relevância dos cuidados paliativos no segmento. Ela destacou como eventos e discussões sobre o assunto mostram o interesse em aprender e discutir sobre a dignidade das pessoas durante a vida, não apenas na hora da morte.

 

“Eventos como esse mostram que as pessoas querem ouvir sobre esse assunto. A gente não vai ter um evento como esse no meio da semana, no final do dia, com tantas pessoas se empenhando, se não tiver interesse público. Isso mostra que existe, de fato, uma coisa muito poderosa dentro da sociedade. De querer falar e ouvir falar sobre isso, de discutir, de levar para dentro de casa - para conversar sobre a importância dos cuidados. Essa consciência sobre a dignidade das pessoas durante a vida delas, não é só na hora da morte. Mostra também que os profissionais de saúde estão errados, quando dizem que as pessoas não querem falar sobre o assunto. As pessoas querem, precisam e a gente tem que acompanhar essa necessidade”, disse Quintana. 

 

 

Reconhecida pela abordagem sensível e humanizada, ela defendeu como hospitais especializados em cuidados paliativos são importantes para quebrar preconceitos e garantir a qualidade de vida dos pacientes. 

 

“Penso que hospitais como o que a gente tem aqui em Salvador, com a melhor qualidade, tanto do público quanto do privado, a exemplo da Florence - mostra que os outros estados do nosso país, deveriam ter isso em todas as unidades com mais de 50 leitos. É necessário ter profissionais qualificados para identificar e cuidar de pessoas nessa condição de extremo sofrimento. O cuidado paliativo já ultrapassou essa história de que é exclusivamente para os 5 minutos finais de vida. As pessoas que ainda têm este preconceito, não falam sobre isso antes da doença aparecer. É mais um motivo para conversar sobre o assunto enquanto está todo mundo saudável dentro de casa. Quando a hora chegar - o que não tem como a gente impedir que isso aconteça, estará todo mundo na mesma página da necessidade de cuidar”, observou Ana. 

 

A especialista ainda abordou sobre o que é preciso para expandir os cuidados paliativos no Brasil, incluindo ações políticas e projetos que visam a formação de equipes e a criação de políticas públicas funcionais. A arte e a escrita também são ferramentas importantes para disseminar o conhecimento sobre o tema e sensibilizar a sociedade.

 

“A gente tem a necessidade de olhar para todas as camadas que podem mudar a realidade da nossa cultura e da nossa sociedade. Tenho trabalhado nessa dimensão da arte da escrita, porque na hora que escrevi o livro furei a bolha da área da saúde. O livro já tem mais de um milhão de cópias e a gente tem isso como o cotidiano do profissional mais jovem. Ele está buscando isso”, considerou. 

 

“Esse assunto precisa chegar na política. Temos um grande preconceito no nosso país em relação a isso. É por isso que a gente passa o que passamos, pois é claro, se a gente não faz, alguém vai fazer, e vai fazer mal feito. Nesse movimento, desde a pandemia, tenho me envolvido muito com a questão de proporcionar esse espaço de discussão dentro do universo da nossa política, para que a gente tenha, de fato, políticas públicas funcionais. [...] Precisamos ter a formação de equipes, de professores nas universidades, as diretrizes de ensino da medicina rodarem. Necessitamos que a psicologia faça a mesma coisa, a fisioterapia, a enfermagem. Existe a necessidade de envolvimento de cidadania, pois é preciso pensar no cuidado dos brasileiros, não só das altas tecnologias, para a gente conseguir não fazer tratamentos mirabolantes, mas sim cuidar das pessoas no meio da vida”, finalizou.