Estudo mostra que mais de 4 mil aves colidiram com janelas de vidro nas Américas em 70 anos
Por Redação
Um estudo publicado nesta semana no periódico Ecology revelou que 4.103 aves colidiram com janelas de vidro ao longo de sete décadas em 11 países da América Central e da América do Sul. A pesquisa, liderada por dois brasileiros e um cientista da Universidade de Helsinque, na Finlândia, identificou que mais de 500 espécies foram impactadas, incluindo algumas ameaçadas de extinção, entre 1946 e 2020.
O levantamento aponta que 2.537 aves morreram imediatamente após os choques e 1.515 foram resgatadas vivas e encaminhadas a centros de reabilitação. De acordo com os pesquisadores, os acidentes estão relacionados, em grande parte, a períodos de migração e reprodução das espécies.
No Brasil, foram registrados 1.452 casos, com destaque para espécies ameaçadas, como o gavião-pombo-pequeno (Buteogallus lacernulatus), a cigarrinha-do-sul (Sporophila falcirostris) e a saíra-pintor (Tangara fastuosa), todas endêmicas da Mata Atlântica.
A pesquisa foi conduzida por Augusto João Piratelli, da Universidade Federal de São Carlos, Bianca Ribeiro, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, e Ian MacGregor-Fors, da Universidade de Helsinque, com a colaboração de mais de 100 cientistas, incluindo diversos brasileiros.
Flávia Guimarães Chaves, pesquisadora do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) e uma das colaboradoras do estudo, explica que os vidros representam uma ameaça significativa para as aves, que não percebem essas barreiras. “Na cidade de São Paulo, foram 629 colisões de aves. Não havia muita diferença se o vidro dessas residências ou prédios era translúcido ou reflexivo”, destacou.
Segundo ela, os resultados podem ajudar na formulação de políticas públicas, normas de construção e campanhas de conscientização para reduzir esses impactos. “Um passo importante para tornar as cidades mais amigáveis [para as aves] são ações simples como a aplicação de adesivos nos vidros, como bolinhas numa distância entre 10 e 15 centímetros, de forma simétrica, que fazem com que as aves possam enxergar esses vidros. Outra possibilidade é utilizar cortinas antirreflexo e persianas nas janelas. No período da construção ou reforma, pode-se optar por vidros que sejam serigrafados, que possuem faixa UV na sua composição e são enxergadas pelas aves”, explicou.