Prestes a "deixar" Olodum, João Jorge quer reconstruir Fundação Palmares: "Ideal é R$ 250 milhões, nós temos R$ 24 milhões".
Por Anderson Ramos / Rebeca Menezes
Com a posse como presidente da Fundação Palmares prevista pra março, João Jorge se prepara para deixar as funções administrativas do Olodum. A despedida do Carnaval, por exemplo, acontecerá nesta terça-feira (21). Mas os planos para reconstruir a instituição federal já estão a todo vapor.
A ideia, segundo ele, é "iluminar a Fundação Palmares e fazer coisas criativas e novas", buscando parcerias com empresas, estatais e privadas, nacionais e internacionais, para financiar a cultura afrobrasileira. Para João Jorge, que esteve nesta segunda-feira (20) no Camarote Brahma, apesar da Fundação ter um orçamento maior este ano, ainda não é o suficiente: "O ideal é R$ 250 milhões, nós temos R$ 24 milhões".
A situação se complica por causa do desmonte sofrido durante a gestão do presidente Jair Bolsonaro, que avaliava como exagero muitas pautas defendidas no órgão. "Na Fundação Palmares, a situação é pior. Porque a instituição que todo governo anterior atacou diariamente. Foi uma tentativa de sepultar uma experiência prazerosa dos afrobrasileiros. Então agora Margareth, eu, Zulu [Araújo] e outros vamos ter que reconstruir o sistema", avaliou o futuro presidente.
"A Palmares é importante porque é uma instituição criada em 1988 para cuidar de quilombos, terreiros de candomblé, patrimônio afro-religioso, e também ter uma noção de civilização. Nós precisamos ser civilizados. O que a gestão anterior fez: apagar nomes de personalidades como Gil, Leci Brandão, Milton Nascimento; trocar o símbolo da Fundação... Não fez nenhum projeto interessante. Ou seja: foram quatro anos perdidos", reforçou.
O presidente do Olodum falou ainda sobre a discussão da dificuldade de financiamento dos blocos afro na Bahia. "A queixa tem recorrência histórica e apenas algumas empresas ajudaram no Carnaval. Então fica o ônus pra prefeitura e pro governo do Estado muito duro. Fora o Olodum, o Ilê e o Gandhy, a maioria dos blocos afro não teve patrocínio. E eles são parte desse sistema. Aliás, a parte mais interessante desse sistema. É preciso corrigir isso, que é uma distorção do Carnaval de Salvador, do Rio, de Belo Horizonte...".