Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias Holofote

Coluna

Olhando para cima, Ancelotti viu Jean Lucas com régua e compasso dado pela Bahia e pelo Bahêa

Por Bia Jesus

Foto: Reprodução / Instagram / Jean Lucas

Demorou 34 anos para o torcedor do Bahia voltar a se ver representado na maior seleção do mundo. Já acostumada a ser deixada de lado quando o assunto é convocação, a nação Tricolor parecia conformada com a ausência de Jean Lucas e Luciano Juba na lista inicial de Carlo Ancelotti para os jogos contra Chile e Bolívia, pelas Eliminatórias da Copa de 2026. Mas, o destino resolveu virar o jogo. A lesão de Joelinton abriu espaço, e o nome do camisa 6 do Esquadrão ecoou como um grito de afirmação: o Bahia está, novamente, no mapa da Seleção.

 

“Furamos a bolha”, disse Caio Alexandre ao companheiro de clube. E a expressão talvez resuma mais do que parece. Por décadas, a Seleção Brasileira viveu numa redoma, onde seus olhares são, quase sempre, voltados para o eixo Rio-São Paulo-Minas-Rio Grande do Sul. Era como se o mapa do futebol nacional tivesse um recorte invisível, mas cruel, que excluía tradições, talentos e culturas forjadas em outras regiões do país. Um reflexo, em parte, do que aconteceu historicamente fora do campo: a migração forçada de milhões de nordestinos para o Sudeste, em busca de oportunidades negadas em sua própria terra.
 

 

Jean na Fonte Nova. | Foto: Rafael Rodrigues / EC Bahia

 

No futebol, não foi diferente. Jogadores do Nordeste precisavam sair de casa, vestir camisas do eixo e brilhar em outros gramados para, só então, serem reconhecidos como dignos da amarelinha. O olhar do Brasil sempre parecia atravessar o mapa do país de cima para baixo — mas nunca de baixo para cima.

 

É nesse contexto que a convocação de Jean Lucas ganha um simbolismo especial. Ela é, claro, o reconhecimento do talento individual do jogador. Mas é também a consolidação de um movimento que o Bahia tem encampado com coragem: o êxodo ao contrário. Se por décadas o caminho natural era ir para o Sudeste em busca de grandeza, agora o Bahia mostra que é possível pensar grande a partir do Nordeste. A campanha “Pensar grande, é pensar fora do eixo” não é apenas marketing: é um reposicionamento histórico. É devolver dignidade e centralidade a um clube que representa um povo que já deu régua e compasso ao Brasil em tantos sentidos.

 

O chamado de Jean Lucas à Seleção é um recado para os jovens da base do Tricolor, que não é preciso sair daqui para ser visto e lembrado. É também um aviso para o mercado da bola, Salvador pode ser, sim, um dos destinos preferenciais para quem sonha vestir a camisa pentacampeã. Além disso, sobretudo, um gesto de memória e reparação: lembrar que o futebol nordestino é parte inseparável da cultura brasileira.

 

Então, Ancelotti, beleza que o Rio de Janeiro continua lindo. Mas Jean Lucas mandou um recado embalado na voz do Tricolor Gilberto Gil:

 

“Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço
A Bahia já me deu régua e compasso...”

 

Para os que esqueceram, que se lembrem. O Bahia voltou ao mapa. E agora, do Rio a São Paulo, de Minas ao Rio Grande do Sul, e de cada canto do Brasil, o povo tricolor grita: aquele abraço!