Negros, jovens e com filhos: Estudo revela perfil dos traficantes no Brasil
Por Eduarda Pinto / Paulo Dourado
A maioria das pessoas envolvidas com tráfico de drogas no Brasil são negros, jovens e com filhos. É o que apontam os dados coletados pelo Data Favela, instituto de pesquisa fluminense, que revelou dados sobre a vivência de pessoas envolvidas com o tráfico de drogas por meio do estudo Raio-X da Vida Real, divulgado nesta segunda-feira (17).
A primeira parte do estudo se dedica a compreender como funciona a dinâmica social de pessoas ligadas a contravenção nas favelas brasileiras, tendo como base as favelas mapeadas pelo último Censo do IBGE, em 2022. A pesquisa se baseou na distribuição censitária do IBGE para a distribuição dos entrevistados, sendo que maioria deles está no Sudeste (43,3%) e Nordeste (28,3%).
A pesquisa traçou o perfil de 3.954 entrevistados, abordados presencialmente entre os dias 15 de agosto e 20 de setembro em favelas de todas as regiões do país. Segundo os dados demográficos, 21% dos entrevistados foram mulheres e 79% foram homens. Entre os entrevistados, o maior grupo (24%) tinha entre 22 e 26 anos e cerca de 19% tinham entre 19 e 21 anos. Até 17% dos entrevistados são pessoas entre 27 e 31 anos e até 13% tinham entre 32 e 36 anos durante a pesquisa.

Gráfico elaborado por Eduarda Pinto e Alana Dias / Bahia Notícias com base nos dados do Data Favela
Assim como os dados censitários das favelas, a maior parte dos entrevistados foram pessoas negras, cerca de 74% eram pessoas negras entre pretas (43%) e pardas (31%). As pessoas brancas eram 22%, enquanto as pessoas amarelas eram 3%.
ORIGENS
A maior parte dos infratores entrevistados, cerca de 80%, nasceram em favelas. Dentre esses, 53% afirmaram que estão “na mesma favela desde que nasci” e 26% responderam que cresceram na favela, mas hoje vivem em outra. Os outros 20% dos entrevistados, 14% disseram não ter nascido numa favela, mas hoje vivem lá. Apenas 5% não nasceram, nem cresceram em favelas.
Estes mesmos traficantes responderam questões sobre a sua criação: a maior parte, 78%, cresceu em um núcleo familiar, núcleos esses que possuem, em sua maioria, uma figura central feminina, entre mães, avós e até mesmo tias. Em números mais detalhados, sendo que cerca de 35% deles foram criados por um pai e uma mãe. 30% foram criados apenas por uma mãe e apenas 8% foram criados por um pai. Apenas 7% foram criados por uma avó.

Gráfico elaborado por Eduarda Pinto e Alana Dias / Bahia Notícias com base nos dados do Data Favela
No que diz respeito a outros vínculos afetivos, o estudo do Data Favela buscou informações sobre a parentalidade e os casamentos de pessoas envolvidas no tráfico de drogas. A maior parte, ou cerca de 52%, dos respondentes disseram ter filhos.
Entre esses, 28% têm apenas um filho, 33% possuem dois filhos e 20% declararam ter três filhos, 8% têm quatro filhos, 6% têm 5 filhos e 3% têm mais de 5 filhos. Metade dos entrevistados respondeu ter um companheiro ou companheira, no entanto, 26% declararam ter mais de uma companheira. Sobre a criação dos filhos, cerca de 84% afirmam que não deixariam os filhos entrarem para o crime.
CAMINHOS DO CRIME
Em outra parte do levantamento, o estudo questionou os entrevistados sobre as razões que os impedem de deixar o crime. Dividido por regiões, a Bahia aparece na liderança quando o motivo é o risco de vida. Do outro lado, São Paulo foi o estado em que essa justificativa apareceu menos, com 16%.
No cenário nacional, ao serem perguntados “o que mais impede você de sair do crime?”, metade dos entrevistados (50%) apontou fatores ligados à ordem econômica. Dentro desse grupo, 33% disseram que não conseguem outra fonte de renda e 17% afirmaram que não conseguem sustentar a família. Entre os estados em que o peso da questão econômica é mais forte estão Maranhão, com 95%, Roraima, com 80%, e o Distrito Federal.

Gráfico elaborado por Eduarda Pinto e Alana Dias / Bahia Notícias com base nos dados do Data Favela
De acordo com o Data Favela, 58% das pessoas ligadas ao crime no país afirmaram que deixariam essa vida se tivessem oportunidade. Das alternativas capazes de motivar essa saída, aparecem empreendedorismo, emprego formal (CLT) e trabalho com flexibilidade, cada um mencionado por 57% desse grupo.
Quando a pergunta foi “o que faria você deixar de trabalhar com o crime?”, 22% responderam que abririam o próprio negócio, 20% disseram que aceitariam um emprego com carteira assinada e 17% afirmaram que um trabalho com horários flexíveis os afastaria do crime. Na outra ponta, também 17% declararam que não deixariam o movimento em nenhuma circunstância.
Em relação ao empreendedorismo, a Bahia foi o estado que menos citou a possibilidade de abrir um negócio próprio, com 11%. São Paulo ficou no topo, com 25%. Já sobre a CLT como alternativa para abandonar o crime, os entrevistados da Bahia aparecem acima da média nacional de 20%. Com 22%, o estado ocupa a sexta posição. No ranking, o Rio Grande do Sul lidera com 49%, seguido pelo Distrito Federal (39%), Rondônia (31%), São Paulo (30%) e Santa Catarina (26%).
EDUCAÇÃO E RELIGIÃO
No que diz respeito a escolaridade, a maior parte deles possui ensino fundamental incompleto, um total de 35% dos entrevistados, que disse ter estudado até a 7ª série. Com ensino fundamental completo seriam 22%, que concluíram até o 8º ano. 16% dos entrevistados teriam ensino médio incompleto, ou seja, estudaram até 2º ano do EM; 13% tem ensino médio completo e apenas 4% chegaram ao ensino superior.
Em questionário, um grupo relevante de traficantes entrevistados contou sobre sua trajetória escolar. O grupo mais relevante, cerca de 55% disseram “sim?, enquanto 45% responderam “não?. Entre aqueles que disseram gostar do ambiente escolar, 29% disseram que era pela merenda e 28% responderam gostar de aprender coisas novas. 16% responderam que era pelas professoras ou profissionais da educação e 8% citaram aulas de artes.
Gráfico elaborado por Eduarda Pinto e Alana Dias / Bahia Notícias com base nos dados do Data Favela
A pesquisa questionou a religião dos infratores entrevistados. O maior grupo é o de cristãos, sendo mais de 48% do total, com 29% deles sendo católicos, seguidos por 19% se considerando evangélicos. Outros 22% são adeptos a religiões de matriz africana, sendo 14% umbandistas e 8% candomblecistas. 15% são ateus ou não possuem religião e outros 1% são acredita em Deus.
