'Errei e peço desculpas', diz Lilia após repercussão negativa de crítica a Beyoncé
A historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz utilizou sua conta no Twitter nesta terça-feira (4) para se retratar sobre o artigo publicado na Folha de S. Paulo, no último fim de semana, em que criticava o recém lançado álbum visual da cantora estadunidense Beyoncé, Black Is King - em que a artista traz referências da diáspora africana e recria a saga de "O Rei Leão" . Lilia ainda ponderou dizendo que não é a única culpada pelo erro.
"Errei e peço desculpas aos feminismos negros e aos movimentos negros com quais desenvolvi, julgo eu, uma relação como aliada da causa antirracista", iniciou a escritora. "Assumo minha responsabilidade pelo artigo e não pretendo vencer qualquer discussão. Diante de uma situação dessas todos perdem", completou.
Ela afirmou que o título do artigo não foi uma escolha dela, mas sim do jornal paulista e que dessa forma o veículo também deveria "assumir sua responsabilidade". "É dela [Folha] a autoria do título e do subtítulo. Não falo em 'erro'; que Beyoncé 'precisa entender' ou de 'artifício holliwodyanno'. Agradeço aos que fizeram críticas construtivas, sigo aprendendo com elas".
Lilia, que também é fundadora da editora Companhia das Letras, foi rebatida nas redes sociais após a publicação do artigo que apontava um "erro" no projeto audiovisual de Beyoncé por "glamorizar negritude com estampa de oncinha" (reveja aqui). Artistas como a jornalista Maíra Azevedo (Tia Má), a cantora Iza e a atriz Luana Xavier se posicionaram em defesa do trabalho de Bey.
“O erro é uma mulher branca acreditar que pode dizer a uma mulher preta como ela pode contar a história e narrar a sua ancestralidade. A branquitude acostumou a ter a negritude como objeto de estudo e segue crendo que pode nos dizer o que falar sobre nossas narrativas e trajetórias”, afirmou Tia Má. “Lilia é uma historiadora, pesquisa sobre escravidão, mas está longe de sentir na pele o que é ser uma mulher preta. Beyoncé do alto da sua realeza no mundo pop nunca deixar de ser negra, mesmo sentada no trono em sua sala de estar. A branquitude segue acreditando que pode nos ensinar a contar nossa própria história. Enquanto todas as pessoas negras se emocionam, se reconhecem e se identificam, a branca aliada diz que Beyonce deixa a desejar! É isso! No final nós por nós e falando por nós”, apontou.
Já Iza escreveu: “Lilia Schwarcz, meu anjo, quem precisa entender SOU EU. Eu preciso entender que privilégio é esse que te faz pensar que você tem uma autoridade para ensinar uma mulher negra como ela deve, ou não, falar sobre seu povo. Se eu fosse você (valeu Deus) estaria com vergonha agora. MELHORE!”.
Logo após a repercussão negativa, Lilia chegou a fazer uma primeira publicação no Instagram em tom de desculpas. Segundo ela, apenas um aspecto de Black Is King foi analisado em seu texto para a Folha de S. Paulo. “Agradeço a todos os comentários e sugestões. Sempre. Gostaria de esclarecer que gostei demais do trabalho de Beyoncé. Penso que faz parte da democracia discordar. Faz parte da democracia inclusive apresentar com respeito argumentos discordantes. Já escrevi artigo super elogioso à Beyoncé, nesse mesmo jornal o que só mostra meu respeito pela artista. E por respeitar, me permiti comentar um aspecto e não o vídeo todo”, disse, recomendando a leitura completa do artigo, já que, de acordo com ela, o título também levou a uma "má compreensão".
“Dito isso, sei que todo texto pode ter várias interpretações e me desculpo diante das pessoas que ofendi. Não foi minha intenção. Continuamos no diálogo que nos une por aqui”, acrescentou Schwarcz.