“Podemos sempre abrir possibilidades”: Estilista quilombola Dih Morais estreia na passarela da Fancy Africa em Moçambique
O estilista quilombola Dih Morais estreou, na última quarta-feira (24), na passarela da Fancy Africa, em Moçambique, com a coleção “Quilombo Barro Preto”. O desfile contou com performance ao vivo da cantora africana Delta Acacio Cumbane e reuniu modelos locais, nomes da África do Sul e a modelo baiana Leticia Nascimento.
Para viabilizar sua participação, Dih Morais buscou apoio financeiro por meio de uma campanha virtual. Os custos da viagem e da produção foram estimados em R$ 30 mil.“Não tive nenhuma ajuda, governamental ou de empresas, só foi possível porque a minha rede de amigos/seguidores viu que seria possível”, esclareceu Dih em entrevista ao BN Hall.
Durante a conversa, ele também expõe a falta de apoio e negação do acesso dos pretos as oportunidades, deixando claro que não realizou a coleção sozinho. “Quando conquistamos algo, também são conquistas coletivas, quando eu desfilei, eu levei à passarela meninos e meninas quilombolas, pretos, periféricos, mulheres pretas e o fazer manual de cada uma delas”, afirmou o estilista”, celebrou.
Dih destacou ainda o significado da estreia no continente africano. “Estar em África em um evento desse e ser o primeiro é fazer lembrar que podemos sempre abrir possibilidades para que outros conquistem e entendam que é possível sonhar. Mas, sobretudo, nunca esquecer de quem somos e viemos. A minha vinda à África também é sobre retorno e reconexão”, concluiu.
PROCESSO CRIATIVO
Dih foi até sua cidade natal de Jequié, na Bahia, visitar o Quilombo onde nasceu e viveu, para coordenar a equipe de artesãs que produziu os looks desta coleção. Dih optou pelas mãos pretas locais para fomentar também a economia do Quilombo Barro Preto, onde parte de sua família ainda reside. Sua avó e ancestral viva, a Mainha, é a grande homenageada.
Dos materiais de sua coleção, a cabaça, que Dih foi pioneiro em trazer às passarelas em 2022 e tornou tendência, remete à herança africana diaspória e ancestralidade; o algodão em crochê e franjas enaltece a artesania e a manualidade; a palha da costa evoca a religião de matriz africana e sua resiliência e resistência; por fim, o linho alude à escolha dos escravizados que, ao comprarem sua liberdade, vestiam-se desse tecido nobre para indicar seu novo status social.
A paleta de cores busca estar o mais próximo dos tons naturais e terrosos, crus e marrons, com poucos momentos de explosão de cores, em vermelho e preto. Algumas peças trazem uma estampa em couro exclusiva, desenhada por Dih Morais, que trará nesta coleção ainda de sua autoria as icônicas bolsas de cabaça, que transitam entre a moda e a decoração, tendo desfilado já em muitas passarelas pelo Brasil e Milão, Itália.
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