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Após empréstimo de R$ 95 mi, STEC questiona eventual mudança em modelo de ônibus do transporte complementar de Salvador

Por Ana Clara Pires

Foto: Alana Dias / Bahia Notícias

Aprovado pela Câmara Municipal de Salvador na última quarta-feira (1º), o projeto de lei que autoriza a Prefeitura a contratar um empréstimo de R$ 95 milhões junto à Caixa Econômica Federal (CEF) abriu um novo capítulo nas discussões sobre o futuro do transporte complementar da capital baiana. 

 

O recurso, proveniente do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), será destinado à renovação completa da frota do Subsistema de Transporte Especial Complementar (STEC), os conhecidos “amarelinhos”, mas a definição sobre o modelo dos novos veículos pode se tornar um ponto de divergência entre a prefeitura e o sindicato que representa o setor.

 

Segundo informações obtidas pelo Bahia Notícias, a Secretaria de Mobilidade (Semob) estaria inclinada à possibilidade de trocar o modelo dos veículos. A gestão municipal deve avaliar a possibilidade de substituir o atual modelo, de maior porte, por modelos menores, semelhantes aos utilizados no sistema Integra, que seriam mais adequados a determinadas rotas e teriam menor custo operacional.

 

A possibilidade, no entanto, não é bem recebida pelo STEC. O presidente da empresa, Ivanildo Ramos, afirma que a mudança pode comprometer o conforto e a acessibilidade dos passageiros, especialmente das pessoas com deficiência.

 

“Esses veículos menores são mais frágeis e têm menos acessibilidade. A porta do meio, no modelo atual, é usada exclusivamente para o elevador. Se reduzirmos para dois acessos, a mobilidade das pessoas com deficiência será comprometida”, explica Ramos.

 

Segundo ele, os ônibus atualmente em operação têm 9,6 metros de comprimento, capacidade para 15 toneladas, 23 assentos e três portas, sendo uma delas equipada com elevador para cadeirantes. O dirigente também rebateu a justificativa de que veículos menores seriam mais econômicos.

 

“Não creio que seja preço, porque a diferença é muito pequena. O STEC já opera há 28 anos e conhece bem sua ferramenta de trabalho. O modelo atual é o mais adequado para o sistema”, completou.

 

Atualmente, o STEC transporta cerca de 60 mil passageiros por dia — número que já chegou a 100 mil quando a frota contava com 291 veículos. Hoje, são 180 ônibus em circulação, e Ramos estima que a adoção de veículos menores poderia reduzir a demanda entre 20% e 30%.

 

O projeto foi aprovado por ampla maioria na Câmara, recebendo apoio até mesmo de parlamentares da oposição. As vereadoras Aladilce Souza (PCdoB) e Marta Rodrigues (PT) manifestaram voto favorável, ressaltando a importância da renovação da frota para a melhoria da mobilidade urbana e do conforto dos usuários.

 

O presidente da Casa, Carlos Muniz (PSDB), destacou que o empréstimo é essencial para evitar um reajuste nas tarifas do transporte público.

 

“O subsídio não é para os empresários, é para que o povo não pague mais caro na passagem. Para que não houvesse o aumento de 6,03%, o prefeito fez o pedido à Câmara para aprovarmos o subsídio”, afirmou Muniz.

 

O líder do governo, vereador Kiki Bispo (União), classificou a aprovação como “um marco para o transporte público de Salvador”. "O meu encaminhamento é que possamos, nesta tarde histórica, votar pela aprovação deste projeto que melhora o transporte público na cidade”, disse o parlamentar.

 

A única manifestação contrária veio do vereador Hamilton Assis (PSOL), que defendeu a implantação gradual da tarifa zero como alternativa ao modelo de subsídios.

 

Conforme o projeto aprovado, os R$ 95 milhões serão usados exclusivamente para a aquisição de 180 novos ônibus do STEC, com previsão de entrega até junho de 2026. O cronograma, divulgado pela Semob, prevê também a renovação de 700 veículos no total, somando os sistemas STEC e STCO (Subsistema de Transporte Coletivo por Ônibus).

 

O presidente do STEC afirmou que o sindicato aguarda uma reunião com a Semob para discutir o modelo final dos veículos e acredita que o diálogo prevalecerá. “Acredito que o secretário vai nos chamar para conversar, ponderar os prós e contras. A população quer ônibus mais confortáveis e acessíveis, e essa também é a vontade do prefeito”, afirmou Ramos.

 

Em conversa com o Bahia Notícias, o secretário municipal de Mobilidade, Pablo Souza, contou que ainda não existem diálogos sobre esse tema, e que a secretaria ainda está concentrada em realizar a licitação para a compra dos novos ônibus da Integra, cujo empréstimo foi aprovado antes pela Câmara. "Então, a gente está fechando os detalhes para a gente poder publicar o resultado da licitação ainda na próxima semana."

 

"Essa primeira etapa da licitação da Integra, está sendo para gente também um aprendizado. Porque a prefeitura há 40 anos não faz aquisição de ônibus. Então a gente tá entrando no mercado, fizemos um pregão eletrônico com ata de registro de preço. Esse processo fez com que a gente conseguisse um preço que foi o menor preço de compra do país esse ano. É uma coisa fenomenal, isso vai garantir que a gente consiga trazer 100 ônibus a mais", explicou o secretário.

 

Pablo completou afirmando que as análises dos possíveis modelos irão começar "na segunda quinzena de outubro". "A gente tem a compreensão de que é um serviço complementar e de que precisa ter essa natureza complementar. Não são ônibus do padrão do Integra. Se tratam, de fato, de ônibus menores do que faz aquele primeiro e última uma milha de bairro, mas a tipologia desses ônibus a gente ainda não tem uma definição, porque isso precede aí um estudo, uma análise de nossa equipe."

 

"A gente também está contratando uma empresa de consultoria com expertise na área para que ela possa nos apoiar na decisão da modelagem dessa repaginação que a gente precisa dar para o STEC. O STEC é um serviço que sofreu muito com a pandemia, já chegou a ter 300 ônibus, hoje tem 180, são veículos com a idade média maior do que 12 anos. Então a gente vai estar aproveitando esse momento para a gente poder repensar um pouco esse serviço, trazendo mais qualidade no atendimento, trazendo uma complementaridade."

 

O secretário também informou que Salvador foi a única cidade brasileira a apresentar um pedido de empréstimo para renovar a frota complementar. "E o próprio governo federal pediu para a gente um momento, para a gente poder explicar um pouco nesse processo de seleção do PAC, né? Qual era o nosso projeto, qual é o nosso objetivo".

 

Por fim, Pablo Souza finalizou informando que a prefeitura traçou uma meta para que a nova frota comece a circular a partir de junho de 2026. "Após todo processo licitatório, a gente vai partir para a compra de ônibus, é uma coisa complexa. Dentro desse próprio processo, você tem as possibilidades de empresas que têm interesse em interpor recurso, aquelas coisas que fazem parte do próprio rito licitatório. Então, a gente trabalha com esse prazo de junho, que a gente acha que é um prazo bem factível, mas é um prazo que a gente vai precisar estar acompanhando e, se for necessário, ajustar", finalizou.

 

A renovação da frota do STEC ocorre em meio a um momento de reestruturação do transporte público em Salvador, após a pandemia de Covid-19 e a queda na demanda de passageiros. Desde 2015, o sistema complementar é responsável por atender rotas alimentadoras e bairros periféricos, operando de forma integrada com o sistema principal.