Promotor à frente da ação da transferência de Marcola está no topo da lista do PCC desde 2018
O promotor paulista Lincoln Gakiya está no topo da lista de sentenciados à morte no suposto plano de ataques do PCC contra autoridades brasileiras. Segundo os serviços de inteligência do governo de São Paulo, o jurista estaria entre os chamados “decretados”. As informações são da Folha S.Paulo.
De acordo com integrantes dos serviços de inteligência, Gakiya tomou o primeiro lugar de mais odiado pelo PCC do ex-secretário da Segurança Pública Antonio Ferreira Pinto. Até 2018, Ferreira Pinto liderava tal lista por causa de ações letais da PM contra membros da facção, realizadas durante a gestão dele (de março de 2009 a novembro de 2012). O ex-secretário continua na lista, mas estaria atrás de Medina.
Essa mesma lista contém o nome do senador Sergio Moro (União). Os motivos para o ex-juiz entrar na “mira” do PCC ainda estão sendo analisados por integrantes das forças de segurança de São Paulo. Até o final de 2022, o nome de Moro não constava na lista dos serviços de inteligência paulista sobre os "decretados".
Integrantes do Ministério Público de São Paulo envolvidos na ação desta quarta (22) afirmam que o plano de ataque contra autoridades seria um desdobramento da ação investigada pela PF que resultou na operação Anjos da Guarda, no final do ano passado, que teria desmantelado um suposto plano de resgate de líderes de organização criminosa presos nas penitenciárias federais.
Como não conseguiram resgatar Marcola, o principal alvo do "plano A", tentariam um "plano B": atacariam e sequestrariam autoridades como forma de conseguir liberá-lo em uma "troca de reféns".
Isso enfraqueceria a tese de que ele poderia ter entrado na mira da facção criminosa por ter participado da transferência de presos ao sistema federal em 2019.
Em outubro de 2022, o promotor Lincoln Gakiya chegou a rebater a afirmação, feita pelo ex-juiz em uma entrevista, de que a transferência de Marcola teve participação de Moro. O promotor afirmou que coube ao Ministério da Justiça somente providenciar a logística para a remoção dos presos, em cumprimento à ordem da Justiça estadual.
"Não há e nem poderia haver nenhuma ingerência do governo federal, seja através do presidente Bolsonaro, seja através do ministro Moro nessa remoção, até porque, como já mencionei, não lhes cumpria fazê-lo. Portanto é mentirosa a afirmação de Moro que após dois meses de governo eles ‘determinaram’ a remoção do Marcola para o sistema federal", disse em mensagem à Folha.
HISTÓRICO DE AMEAÇAS
Gakiya é o coordenador do principal grupo do Ministério Público de combate ao crime organizado, tendo assumido o posto em 2018. No mesmo ano da posse, assinou os pedidos de transferência de integrantes da cúpula da facção para o sistema federal, entre eles o de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como principal chefe do grupo.
Conforme o jornal, os órgãos de Inteligência do governo paulista detectaram, antes mesmo de o pedido ser acatado pelo judiciário, a fúria de criminosos contra o promotor. Uma carta apreendida em dezembro de 2018 apresentava uma ordem do PCC para matar o promotor.
Na carta também havia o nome do coordenador de presídios da região, Roberto Medina, como outro alvo e integrante da lista de “decretados”. A mensagem foi encontrada com duas mulheres que deixavam a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo
Ao menos mais duas mensagens com teor semelhante foram apreendidas pela polícia no sistema prisional paulista, uma delas em 2020, na penitenciária de Mirandópolis (594 km de SP), quando os chefes já estavam no sistema federal. A carta tinha cobranças para a morte de ambos e foi encontrada com um detento que falaria com um advogado dele.