Nova luta: Com diária de R$ 110, cordeiros buscam inclusão no projeto de Tarifa Zero para Carnaval de Salvador de 2026
Por Bianca Andrade
Os cordeiros que atuam no Carnaval de Salvador tem uma nova pauta para debate além do valor da diária, que atualmente está estipulada em R$ 110, o último valor pago aos profissionais na folia de 2025.
Após serem contemplados em alguns pleitos apresentados desde 2023, como ponto de apoio, seguro de vida e EPI, os profissionais buscam um novo direito junto a Prefeitura, a inclusão da classe na Tarifa Zero, que permite que trabalhadores do Carnaval não paguem o transporte para desenvolver o trabalho na festa.
A causa, que já foi pauta na Câmara Municipal de Salvador, através da proposta apresentada pelo vereador Jorge Araújo, encontra dificuldades de ser atendida.
Em entrevista ao Bahia Notícias, Matias Santos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Cordeiros, Fiscais, Pessoal de Apoio e Coordenadores das Entidades Carnavalescas do Estado da Bahia (Assindcorda), pontuou o processo de cadastro dos profissionais de corda já está sendo feito por eles, mas não há garantia da contemplação por parte do município.
Foto: YouTube
“Os cordeiros não foram contemplados nessa questão da tarifa zero. A gente mandou alguns ofícios para Semop [Secretaria Municipal de Ordem Pública] e estamos nessa busca, porque nós já estamos cadastrando os profissionais, recolhendo nome, CPF, data de nascimento, para enviar a Prefeitura, porque isso é de suma importância para nossos colaboradores. Nós nos propomos a fazer um sistema e cadastrar todos os cordeiros que estão ligados a gente, alguns blocos que já estão organizados conseguiram cadastrar esses profissionais que já atuam há algum tempo, já temos uns 3 mil ou 4 mil cadastrados.”
Para Matias, é essencial que os profissionais consigam ser abraçados pela iniciativa, já que a diária dos cordeiros tem como base o valor de 2025, de R$ 110, e com o desconto do transporte, o valor pode chegar a R$ 90, em caso de integração sem o cartão de passagem.
“Os blocos não vão dar mais do que é o acordado, que é o EPI, a diária e a questão do lanche, eles não pagam transporte por fora para ir trabalhar. A garantia do profissional é a diária do cordeiro lá no local de trabalho. Então, muitas das vezes o cordeiro acaba invadindo ônibus, pulando borboleta, porque ele só vai receber o valor da diária no final do trabalho. Como é que paga o transporte de forma antecipada? E quando a gente acaba descontando esse dinheiro da passagem, o valor pode cair para 90 reais.”
Uma das principais dificuldades encontradas para que os cordeiros sejam incluídos nesse benefício é a questão do cadastro. Atualmente, o cadastro está acontecendo através do próprio Assindicorda. Os profissionais podem buscar os representantes de bairro para realizar o cadastro, apresentando nome completo, CPF, data de nascimento e comprovante de residência.
“A prefeitura não nos deu subsídio para fazer esse cadastro, o único apoio que nós estamos tendo é de alguns bancos ligados à Central do Carnaval, que são 27 blocos, o que gira em torno de 8 mil cordeiros ou mais, então, eles estão nos auxiliando nesse cadastro. A nossa dificuldade é sentar com a Prefeitura para fazer essa fusão de informações para que a prefeitura detenha essas informações e consiga incluir a tarifa zero.”
Foto: Arquivo Pessoal
Os pontos são os mesmos apresentados na Câmara de Salvador no projeto do vereador Jorge Araújo. A justificativa dada pelo edil para a adesão dos cordeiros a Tarifa Zero é a importância da função no Carnaval de Salvador.
“Esses profissionais enfrentam desafios significativos, especialmente em relação à locomoção entre suas residências e os circuitos do Carnaval, Muitos cordeiros têm dificuldade para arcar com os custos do transporte público, agravando ainda mais suas condições de trabalho. Esse projeto de lei visa garantir um mínimo de dignidade a esses trabalhadores, oferecendo um incentivo fundamental para que possam se deslocar de forma segura e gratuita", defende.
Na proposta apresentada na CMS, é informado que o benefício seria dado aos trabalhadores por meio de um cartão de gratuidade dado pela Semob, com direito a quatro passagens diárias, destinadas ao deslocamento até o circuito do Carnaval e exclusivo para o período do evento.
"Além de promover a justiça social, a iniciativa está alinhada com os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da valorização do trabalho", afirma o vereador.
O projeto ainda aguarda deliberação. Esta foi a última atualização da tramitação da proposição PLE-64-2025, do dia 3 de dezembro.
Em novembro deste ano, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, e o prefeito de Salvador, Bruno Reis, assinaram Pacto Intergovernamental de Promoção do Trabalho Decente, do Empreendedorismo e do Desenvolvimento Econômico no Carnaval de Salvador.
A iniciativa como objetivo fortalecer as políticas públicas voltadas à valorização do trabalho decente, à inclusão produtiva e à melhoria das condições laborais de trabalhadores que integram a cadeia produtiva do Carnaval de Salvador.
Entre as pautas propostas pelo Assindicorda que foram contempladas pela iniciativa estão o centro de convivência e acolhimento, um espaço para que os profissionais que atuam na festa consigam descansar entre um turno e outro e consigam tomar banho, além de um restaurante popular próximo ao ponto de descanso.
Matias pontuou ainda que as propostas apresentadas pela Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia (Setre) no Carnaval de 2025 serão mantidas para 2026. “Não tem nada a ver com a questão política, mas isso precisa ser dito, existe um programa do governo do Estado para atender essa categoria com ampliação para o atendimento de 10 mil profissionais”, citou.
Quanto a questão da diária, o representante do Assindicorda afirmou que, até o momento, o valor base está em R$ 110, mas em alguns blocos acabam pagando um valor a mais, como é o caso do Camaleão. Haverá uma nova assembleia para bater o martelo.
“Já fizemos uma proposta, os blocos fizeram uma contra-proposta, vamos ter uma assembleia para analisar, e atualmente o valor tá entre R$ 110,00. Isso aí é o mínimo e bloco, por exemplo, pode negociar e pagar a mais. A gente estabelece o mínimo, porque cada um querendo pode colocar um valor com base nessa diária.”
Foto: Assindcorda
Para 2026, está entre os planos do Assindcorda que o pagamento da diária dos profissionais seja feito via PIX para garantir a segurança dos cordeiros nos circuitos da festa.
“Estamos com algumas ideias, entre elas, o pagamento da diária via PIX, pensando nessa questão da segurança do profissional. Os blocos vão continuar tendo o controle através dos lacres, e o pagamento continuaria sendo feito no final do circuito, mas não precisaria ser em dinheiro vivo. Já tivemos relatos de violência e ameaças por essas questões.”
