Banda Garotos Podres diz que foi alvo de inquérito pela música 'Papai Noel, Velho Batuta'
Um inquérito policial está pondo a banda de punk rock paulista Garotos Podres sob investigação por supostamente incitar a violência, segundo seus membros. A denúncia teria sido feita após um show no primeiro semestre, mas só agora ganhou repercussão nas redes sociais, onde fãs e nomes ligados à área da cultura vêm manifestando apoio ao grupo.
O principal alvo é a canção "Papai Noel, Velho Batuta", lançada originalmente em 1985. Nela, o vocalista Mao canta que o bom velhinho, chamado de "porco capitalista", "rejeita os miseráveis" e que quer sequestrá-lo e matá-lo por isso.
Os quatro membros da banda teriam sido interrogados remotamente. O empresário que contratou o show em questão também teria sido ouvido pela Polícia Civil, dizem os músicos.
Segundo a denúncia, a letra seria uma forma "subliminar da cultura da violência" e atacaria crenças religiosas cristãs. Outras canções e falas ditas no show também estão sob investigação, segundo trechos do inquérito aos quais a reportagem teve acesso.
A íntegra dos documentos, porém, não foi divulgada. Segundo os membros da banda, a orientação do advogado é que detalhes como o autor da denúncia, o local onde a apresentação ocorreu e a unidade policial onde o caso foi registrado sejam mantidos em sigilo.
De acordo com os integrantes, o inquérito foi concluído recentemente e, agora, eles aguardam decisão do Ministério Público quanto ao arquivamento ou eventual denúncia.
Em suas redes sociais, a Garotos Podres têm ironizado o episódio e republicado as várias mensagens de apoio que vem recebendo, como as do diretório de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, do Partido dos Trabalhadores e do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica.
Há duas semanas, "Papai Noel, Velho Batuta" ganhou ainda um clipe em animação, que provoca os detratores da faixa. Nele, os músicos dizem que a banda foi alvo de "uma intimidação jurídica arquitetada por patriotários bozolóides de extrema direita".
Numa apresentação no Sesc Belenzinho, em 27 de setembro, Mao já havia falado ao público sobre o episódio. "Essa semana, a delegada, por videonferência, perguntou para o Negralha, que é o nosso baterista, sobre essa canção. O que ele respondeu? O Negralha teve que explicar para a delegada de polícia que o Papai Noel não existe", diz ele em registro do show.
"Pior que é sério isso, 40 anos depois do fim da ditadura militar nós fomos inquiridos num processo inquisitorial, questionando as letras", continuou, antes de dizer que o processo se trata de um caso de censura.
