Motta se reaproxima de Lindbergh de olho em apoio do PT na Câmara
Às vésperas do recesso parlamentar, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), se reaproximou do deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) de olho no apoio da bancada do PT. "Para mim, o jogo está zerado", disse Motta à Folha. Eles tinham rompido em novembro, após desentendimentos sobre a condução da Casa.
Os dois entraram em conflito por causa do projeto antifacção, apontado como principal resposta de Lula à crise na segurança pública após megaoperação no Rio. Motta escolheu como relator o deputado Guilherme Derrite (PP-SP), aliado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
A relação já era tensa mesmo antes disso. O grupo do presidente da Câmara se queixava da atuação de Lindbergh, acusando-o de buscar desgastar a imagem da Casa junto à opinião pública.
A situação se agravou ainda mais quando Motta decidiu pautar o projeto de lei de redução das penas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outros condenados pelos atos golpistas, aprovado com apoio da oposição e de parte da base do governo.
Lindbergh protestou na tribuna e afirmou que o presidente estava "perdendo as condições de continuar" no cargo e que poderia responder por crime de responsabilidade. Motta rebateu, nas redes sociais, que precisa "proteger a democracia do grito, do gesto autoritário, da intimidação travestida de ato político".
Passados os momentos mais tensos, e cassados os mandatos dos agora ex-deputados Carla Zambelli (PL-SP), Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Alexandre Ramagem (PL-RJ), ambos voltaram a conversar por telefone.
Um encontro presencial ocorreu nesta sexta-feira (19), na residência oficial do presidente da Câmara. Conversaram sobre a crise, os desentendimentos sobre as pautas e prometeram dialogar mais. Também combinaram de tentar se encontrar no fim do ano na Paraíba, estado de Motta e da família do líder petista.
"Nunca tive problemas pessoais com o Hugo. Minhas divergências foram as pautas, que foram muito duras, como a dosimetria, o PL antifacção e a cassação do [deputado] Glauber Braga [que acabou suspenso pela Câmara]", afirmou Lindbergh à reportagem. "Acho que a relação no próximo ano será muito melhor", disse.
Motta disse à Folha que o problema nunca foi pessoal, mas de discordância de mérito sobre os projetos e de alguns comportamentos. A conversa serviu para apaziguar estas divergências e "zerar o jogo". "Tenho enorme respeito pela bancada do PT", afirmou.
Lindbergh segue líder do partido até 2 de fevereiro, quando o Congresso volta de recesso e o deputado Pedro Uczai (RS) assumirá como representante da bancada do PT. Apesar de deixar o cargo, ele deve se manter influente –é um dos petistas com mais força nas redes sociais e marido da ministra Gleisi Hoffmann, da SRI (Secretaria de Relações Institucionais).
