Entenda as siglas e jargões da COP30, como 1,5°C, TFFF e GGA
Líderes mundiais, diplomatas, acadêmicos e ativistas de mais de uma centena de países participam, em Belém, da COP30, a conferência das Nações Unidas sobre mudança climática. Mais importante fórum mundial sobre o tema, o evento acontece de 10 a 21 de novembro.
São esperados aproximadamente 50 mil participantes, segundo a organização. As discussões abordarão temas como adaptação a eventos climáticos extremos, redução de emissões de carbono e financiamento.
Decisões tomadas ali têm o poder de definir o futuro da humanidade e o nível de devastação no planeta. Apesar de tamanha relevância, pode ser difícil acompanhar o andamento das negociações, já que o tema é repleto de jargões e siglas, numa grande "sopa de letrinhas" diplomática.
Confira abaixo os termos mais comuns da reunião.
1,5°C
O número mais importante das discussões climáticas. É o objetivo mais ambicioso do Acordo de Paris, que se propõe a limitar o aquecimento global à temperatura média de, preferencialmente, 1,5°C e, no máximo, 2°C até o final do século. Cientistas consideram a meta mais ousada essencial para conter as consequências mais drásticas das mudanças climáticas, inclusive o desaparecimento de pequenos países insulares.
Relatórios mais recentes consideram praticamente inevitável que esse limite seja ultrapassado consistentemente nos próximos anos. Apesar disso, o quadro é reversível: um corte substancial nas emissões de gases de efeito estufa faria a temperatura do planeta cair no longo prazo.
O balanço geral feito pela UNFCCC em 2023 apontou que, apesar de avanços, a humanidade caminha para um aumento de 2,4°C a 2,6°C na temperatura média global.
UNFCCC
Sigla em inglês para Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Criada em 1992, é uma plataforma adotada por 198 partes (197 Estados e a União Europeia) com a intenção de evitar a intervenção humana perigosa no sistema climático global.
COP
Abreviação de Conferência das Partes, como são conhecidas as reuniões de integrantes de diferentes acordos internacionais. Há COPs sobre temas diversos, da proliferação de armas nucleares à desertificação, com a tarefa de decidir o que será implementado. Apesar disso, o termo COP é mais conhecido em relação às discussões climáticas.
A COP30, que acontece em Belém neste ano, é a 30ª conferência dos membros da UNFCCC. As decisões são tomadas por consenso -ou seja, todos os membros precisam aprovar os acordos e, caso um membro discorde, as discussões emperram.
CÚPULA DOS LÍDERES
Reunião do mais alto nível das autoridades mundiais -como chefes de Estado e de governo. Acontece nos dias 6 e 7 de novembro, logo antes da COP30, e serve como uma chancela política para as negociações do evento principal.
No total, 143 nações estarão representadas durante essa cúpula, que prevê receber 57 líderes máximos de seus países, além de 39 ministros.
IPCC
Sigla em inglês para Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. É um comitê de centenas de cientistas que têm a tarefa de produzir revisões da literatura científica para orientar os tomadores de decisão. A análise é feita a partir de milhares de estudos e resulta em extensos relatórios sobre o clima atual e cenários para o futuro.
ACORDO DE PARIS
Firmado em 2015, em uma COP realizada na capital francesa, o Acordo de Paris é um tratado ratificado -ou seja, aprovado como lei doméstica- por 196 partes (195 países e a União Europeia). É obrigatório cumpri-lo, mas o caminho para chegar ao seu objetivo de frear o aquecimento global é definido por metas nacionais fixadas voluntariamente.
NDC
O cerne do Acordo de Paris. A NDC (sigla em inglês para Contribuição Nacionalmente Determinada) é a meta climática elaborada por cada país e apresentada periodicamente à ONU. O documento diz quando, quanto e como acontecerá o corte das emissões de carbono.
Neste ano, os signatários do Acordo de Paris deveriam apresentar uma atualização mais ambiciosa das suas metas climáticas. O prazo original era fevereiro, mas quase ninguém entregou o documento e, por isso, a UNFCCC estendeu o prazo até setembro —mais uma vez, sem muito sucesso.
Grandes poluidores, como a União Europeia e a Índia, devem entregar suas NDCs durante a cúpula dos líderes mundiais, que antecede a COP30.
GGA
Abreviação do inglês para Meta Global de Adaptação. É a principal decisão a ser tomada nesta COP e consiste na definição de indicadores que possibilitem medir o progresso de ações de adaptação climática.
Após anos de debate, o número de critérios passou de mais de 5.000 para cerca de 100, mas seguem indefinidos. Aspectos como medidas para mobilizar financiamento, transferência de tecnologia e capacitação (conhecidos como "meios de implementação") devem ser o ponto mais contencioso dos debates.
TFFF
O Fundo Florestas Tropicais para Sempre é o trunfo do Brasil para a COP30. Em meio a um cenário geopolítico complexo, o país-sede da COP30 vem arquitetando um novo mecanismo para recompensar a conservação de florestas.
O TFFF funciona como um instrumento financeiro tradicional, que remunera seus acionistas com parte dos lucros, a taxas de mercado, e mais US$ 4 (R$ 21) para cada hectare de floresta tropical no mundo. Comunidades tradicionais devem receber 20% dos recursos.
Idealmente, ele vai ser composto por US$ 125 bilhões: US$ 25 bilhões seriam investidos por países, e os outros US$ 100 bilhões, capitalizados no setor privado.
BLOCOS DE NEGOCIAÇÃO
Consenso dá trabalho. Como seria inviável ouvir individualmente 196 representantes em cada das discussões paralelas que acontecem nas COPs, foram formados grupos de negociação entre os países com interesses ou características comuns.
Alguns exemplos são a União Europeia, o Umbrella Group -formado por EUA, Japão, Canadá, Nova Zelândia, Austrália e Noruega- e o G77 + China -que, apesar do nome, é formado por 133 nações em desenvolvimento. Sendo um bloco tão grande, o G77 têm subgrupos internos, como o Aosis, formado pelas pequenas nações insulares, e o Basic, formado pelos países considerados emergentes: Brasil, África do Sul, Índia e China.
COLCHETES
Mais uma vez, consenso dá trabalho. Os acordos firmados nas COPs passam por longuíssimas discussões, que se debruçam sobre detalhes da linguagem diplomática. Assim, os termos que aparecem nos rascunhos dos documentos oficiais e ainda são provisórios aparecem entre colchetes.
Analisando o que some dos colchetes e o que entra no texto oficial é possível entender melhor como as negociações se desenrolam.
