Governo reage a união de governadores de direita, e Gleisi fala em incentivo à intervenção de Trump
Integrantes do governo Lula (PT) reagiram à união de governadores de direita após a megaoperação contra o Comando Vermelho, no Rio de Janeiro, criticando o que classificaram como tentativa de dividir politicamente o país.
Além disso, aliados de Lula dizem que os chefes dos Executivos estaduais atuam para colocar o Brasil no radar de intervenções do governo Donald Trump, num incentivo à ofensiva do americano contra a soberania brasileira. Na semana passada, por exemplo, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), um dos filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), sugeriu que os EUA atacassem barcos que supostamente carregassem drogas no Rio.
Nos últimos meses, os Estados Unidos reforçaram a presença militar na América Latina com o envio de caças, navios de guerra e soldados sob o argumento de atuar contra o narcotráfico, principalmente na Venezuela.
Na quinta-feira (30), governadores se reuniram no Rio de Janeiro para demonstrar apoio a Cláudio Castro (PL), após a operação policial mais letal da história do Brasil, que deixou 121 mortos até o momento. Em tom de campanha eleitoral antecipada, os governadores fizeram ataques ao governo Lula e anunciaram a criação de um grupo que chamaram de "Consórcio da Paz", que reunirá os chefes dos Executivos estaduais para articular ações de combate ao crime organizado.
Auxiliares do presidente da República dizem enxergar motivação eleitoral na união dos chefes dos Executivos estaduais num momento em que o governo federal acumulava maré positiva, com aumento da aprovação da gestão petista.
A megaoperação gerou tensão entre o governo estadual do Rio e o Executivo federal numa disputa de narrativas acerca da ação e seus desdobramentos, com troca de acusações e críticas de um lado ao outro, tendo como pano de fundo a disputa eleitoral em 2026. A pauta da segurança pública deve ser um dos principais temas do pleito do próximo ano.
A ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) afirmou que os governadores que agora se unem foram contra a PEC (proposta de emenda à Constituição) da Segurança, enviada pelo Executivo ao Congresso, que prevê constitucionalizar o Susp (Sistema Único de Segurança Pública), estabelecendo diretrizes mínimas a serem seguidas por órgãos de segurança de todo o país.
"Ao invés de somar forças no combate ao crime organizado, como propõe a PEC da Segurança enviada pelo presidente Lula ao Congresso, os governadores da direita, vocalizados por Ronaldo Caiado, investem na divisão política e querem colocar o Brasil no radar do intervencionismo militar de Donald Trump na América Latina", afirmou em publicação nas redes sociais.
A ministra disse ainda que os governadores não conseguem esconder o desejo "de entregar o país ao estrangeiro", citando atuação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos EUA. "Segurança pública é uma questão muito importante, que não pode ser tratada com leviandade e objetivos eleitoreiros. Combater o crime exige inteligência, planejamento e soma de esforços."
O ministro Guilherme Boulos, da Secretaria-Geral da Presidência, chamou a iniciativa dos governadores de "consórcio antipatriótico" e disse que eles querem usar a crise no estado do Rio de Janeiro para "fazer demagogia eleitoral".
Em publicação nas redes sociais, afirmou que os chefes dos Executivos estaduais se reuniram para "atacar o governo federal e defender a posição de Trump que qualifica o narcotráfico como terrorismo".
"Na verdade é um consórcio antipatriótico, que pretende atiçar intervencionismo estrangeiro contra o Brasil. Se estivessem de fato preocupados com o combate ao crime organizado teriam dado apoio à PEC da Segurança Pública", escreveu.
O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), disse em publicação nas redes que os governadores, em vez de apoiarem a PEC "preferem o uso político da barbárie e transformam a tragédia em palanque eleitoral". "O consórcio de governadores é uma encenação: são os mesmos que pediram anistia a Bolsonaro e agora sabotam uma proposta que fortalece a cooperação nacional."
Na Câmara, parlamentares governistas criticaram a possibilidade de ser votado nos próximos dias um projeto de lei que equipare facções criminosas a grupos terroristas. A proposta deverá ser relatada pelo deputado Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de segurança pública do governo Tarcísio de Freitas, e enfrenta resistência na base governista.
Um parlamentar diz à reportagem que esse projeto, caso aprovado, servirá para trazer riscos à soberania brasileira, abrindo espaço para intervenções estrangeiras no país.
