Com IA e longevidade, vamos trabalhar por mais tempo em jornadas menores, diz Haddad
A expectativa de vida em elevação, os avanços na automação, na robótica, na inteligência artificial e nos medicamentos demandam uma nova visão sobre o modelo de trabalho atual, disse neste sábado (27) o ministro Fernando Haddad, da Fazenda.
O chefe da equipe econômica evitou qualquer defesa ou crítica à proposta de vedar a escala de trabalho 6x1, que prevê seis dias de trabalho para cada folga. Ele afirmou, porém, que vê a necessidade de um novo equilíbrio entre o tempo dedicado ao trabalho e o tempo livre.
"Tudo me leva a crer que o equilíbrio entre essas coisas vai exigir que a gente trabalhe mais ao longo da vida em menos dias por semana para usufruir melhor da vida", disse, em entrevista ao podcast 3 Irmãos. "Não vai fazer sentido o cara se aposentar com 60 anos", afirmou, e citou o próprio exemplo –o ministro tem 62 anos.
Em outro momento da entrevista, Roberto Andrade, um dos anfitriões, disse que o ministro da Fazenda estava "no formol", expressão em geral usada para dizer que alguém não aparenta a idade que tem, pois está "conservada". "Logo, vai estar todo mundo no formol", afirmou Haddad, citando o avanço de medicamentos como o Ozempic, que atua no controle do diabetes e cujo princípio ativo foi aprovado para tratamento de obesidade.
"A economia deveria ser para servir o ser humano", disse. "Precisamos entender uma forma de liberar tempo". Para Haddad, não faz sentido um trabalhador que tem um filho passar 12 horas no trabalho. "Nós não precisamos consumir tanto assim."
Para Haddad, ao longo da história nem capitalismo nem comunismo tentaram garantir ao homem um jeito de viver melhor. Os avanços tecnológicos, na avaliação dele, ajudarão nesse processo.
O fim da jornada 6x1 é alvo de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) em andamento na Câmara. O texto propõe a limitação da jornada legal de trabalho a 36 horas semanais, com não mais do que 8 horas diárias. Segundo levantamento feito por pesquisadoras do IE-Unicamp (Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas), a alteração beneficia diretamente 37% dos trabalhadores, todos esses com carteira assinada.