Hytalo não pode ser bode expiatório para discutir adultização, diz advogado

O advogado Bruno Galhardo, que defende o influenciador Hytalo Santos, afirma que seu cliente não deve ser transformado em bode expiatório no debate sobre a adultização infantil. "O debate público sobre isso é bem-vindo e é algo que tem que ser discutido", diz ele.
 

Segundo Galhardo, "fatos sérios estão sendo imputados" a Hytalo. Ele reforça que o influenciador deve ser julgado com base na lei e nos elementos concretos do caso, e não usado como símbolo de uma discussão mais ampla.
 

Hytalo é investigado pelo Ministério Público da Paraíba e pelo Ministério Público do Trabalho desde 2024 sob suspeita de exploração e exposição de menores de idade em conteúdos produzidos para as redes sociais. Ele nega as acusações.
 

O youtuber Felca publicou um vídeo, no último dia 6, fazendo denúncias sobre a exploração e adultização de jovens em conteúdos na internet e citou Hytalo. O vídeo aborda o caso de uma jovem de 17 anos que, segundo ele, vive com Hytalo desde os 12. Em trechos de vídeos, ela aparece sendo filmada dormindo com pouca roupa, acompanhada do namorado, após uma cirurgia para colocação de próteses de silicone nos seios.
 

Hytalo e o marido, Israel Nata Vicente, foram presos na última sexta-feira (15). Segundo o despacho da Justiça, a prisão preventiva (sem prazo) era necessária para impedir novos atos de destruição ou ocultação de provas ou a intimidação de testemunhas —fatos que já estariam ocorrendo desde que o influenciador soube da investigação, de acordo com a Promotoria.
 

Para a defesa de Hytalo, a repercussão do vídeo acelerou a ação das autoridades —a tese também é compartilhada por advogados criminalistas ouvidos pela reportagem.
 

"Houve uma movimentação muito grande e uma prisão tempo recorde", analisa Galhardo. "Embora a gente acredite no Poder Judiciário e saiba que ele tem que estar alheio a essas interferências externas, os fatos falam por si."
 

Ele diz que a acusação de exploração e tráfico humano não tem fundamento. Para Galhardo, o caso do influenciador precisa ser analisado com "mais carinho". "Ele queria que pessoas na mesma condição de onde ele veio, em situações de vulnerabilidade, esquecidas pelo próprio estado, também ganhassem visibilidade na internet e trilhasse um caminho de sucesso."
 

Hytalo e seu marido, conhecido como MC Euro, foram encaminhados para o CDP 1 de Pinheiros, a unidade é superlotada —o local possui capacidade para 521 presos, mas a atual população carcerária é de 889, segundo dados de 15 de agosto.
 

Nesta terça, o STJ (Supremo Tribunal de Justiça) negou o pedido de habeas corpus da defesa. Na decisão, o ministro Rogerio Schietti Cruz diz que não há razão para reverter a decisão da Justiça da Paraíba. "O decreto prisional indicou, de maneira fundamentada, a existência de crimes graves no caso, especialmente a produção e divulgação de material audiovisual sexualizado envolvendo adolescentes."
 

Além disso, a Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu que os dois devem ser encaminhados para o sistema prisional da Paraíba.
 

Os advogados tinham solicitado também que o casal deveria aguardar a transferência na penitenciária de Tremembé, que foi negado. Desde segunda-feira, eles estão no CDP 1 de Pinheiros. O prazo da Justiça é que a mudança aconteça em até cinco dias.
 

Tremembé é conhecido como o "presídio dos famosos". Para lá são levados os presos que correm risco em penitenciárias comuns por causa da atenção que receberam no noticiário. O ex-jogador Robinho, Thiago Brennand, Fernando Sastre, Alexandre Nardoni, Cristian Cravinhos, Gil Rugai e o médico Roger Abdelmassih são nomes que já passaram pelo local ou estão lá até hoje.
 

"Lá, tem as melhores condições para atender a particularidade do caso, é um caso midiático. Todos sabem que a P2 de Tremembé recebe presos de casos de repercussão nacional", afirma Galhardo, que cita que o presídio também seria mais seguro ao fato de Hytalo e seu marido serem homossexuais. "Lá teria melhores condições de atendê-los em relação a isso."
 

Sobre a transferência do casal para o estado de origem, o advogado diz que não há oposição. "Ele teria até mais suporte familiar, é muito querido por lá", diz Galhardo.
 

O influenciador foi preso por ordem da Justiça da Paraíba, onde ele vivia. De acordo com a defesa, Hytalo passava férias em São Paulo, fato que não era escondido e que foi divulgado nas redes sociais. Para a polícia, porém, há uma suspeita de que o casal planejasse uma fuga do Brasil. Por isso, eles estariam com um carro da Paraíba na cidade em que passavam férias.
 

"Essa questão da fuga é sem fundamento. Eles são pessoas públicas, são influenciadores digitais com milhões de seguidores", diz o advogado. A polícia afirmou que um dos indícios da fuga seria a vinda para São Paulo com um carro da Paraíba. Para o advogado, a escolha do meio de transporte se tratou de uma "questão pessoal". "Não muda nada", afirma.