Fernando Guerreiro avalia a influência da política partidária na gestão: “São contradições que me incomodam”
Em entrevista ao Bahia Notícias, o presidente da Fundação Gregório de Matos (FGM), Fernando Guerreiro, conta que as rivalidades entre grupos políticos já foram um grande incômodo durante sua gestão. Tendo sido convidado ao cargo em 2012, no primeiro mandato de Antônio Carlos Magalhães Neto (ACM Neto) na Prefeitura de Salvador, o diretor teatral conta que a posição gerou desconfiança dos colegas.
“Eu tenho uma questão aí delicadíssima, que é uma grande contradição que a gente vive. Eu supostamente estou numa gestão de um grupo mais à direita [no espectro político], então muitos artistas não aderem publicamente a isso, e por melhor que seja feito o trabalho, ainda ficam com o pé atrás”
Ele conta que nos doze anos à frente da Fundação, essa ressalva da classe artística com o grupo político a frente do Município, foi, de certa forma, prejudicial ao trabalho. Ao BN, Fernando Guerreiro revela que no período eleitoral recebeu incentivos “secretos” dos colegas. “Agora na eleição, muita gente de esquerda votou em Bruno Reis, mas muita gente me mandou mensagem temporária: ‘vou votar em Bruno’ e aí apagava, para eu não ter o print dessa traição dessa pessoa, supostamente. ‘Vou votar em Bruno por causa de você’”, conta.
“Então, foi genial quando eu fiz essa reunião com a classe artística agora em novembro, que os artistas foram em peso. Talvez há cinco anos atrás não fossem, porque tinha uma questão ideológica. ‘Guerreiro está com Neto’, ‘Guerreiro está com ACM’, então essa questão é muito primária, inclusive”, diz. Ele ressalta ainda que apesar de acabar recebendo todo o crédito pelo trabalho implementado no órgão que é vinculado a Secretaria Municipal de Cultura, o engajamento do líder do Executivo é indispensável.
“Outra coisa, tanto Neto como Bruno, as pessoas diziam ‘é por sua causa’, e não, é porque tem apoio do gestor”, comenta. “São contradições que às vezes me incomodam, posturas assim: ‘Reconheço o trabalho, mas ele está com Bruno Reis’, então como os artistas tem mais uma tendência à esquerda isso às vezes é uma questão que incomoda, mas eu nunca fiz restrição alguma a que nada seja apresentado” conclui.
Ao falar sobre sua postura em decorrência as cobranças da classe artística, a qual ele mesmo fez e ainda faz parte há mais de 40 anos, ele explica como lida com as críticas:
“No ínicio é muito difícil, hoje, eventualmente, eu entro na região da mágoa, mas eu digo assim, ‘se eu estou nesse lugar, eu não posso perder tempo me magoando’, então no máximo meu companheiro, alguns amigos próximos eu vou desabafar, mas eu não vou ficar criando problema, de jeito nenhum. No momento que eu sou gestor público, eu não posso [falar] ‘Ah, estou com uma birra com fulano que falou mal de mim’, eu não posso, não existe isso. Se esse cara for brilhante, ou essa mulher, eu não tenho como discutir, se teve birra ou não teve birra”
“Eu não tenho processo nenhum de censura, não veto projeto de ninguém e ganhei muito inimigos porque não privilégio conhecidos”, afirma. “Porque quando você transforma [as seleções] num processo burocrático, muita gente que tinha o costume de ser privilegiada por A, B ou C, se atrapalha com os documentos, se você não sabe lidar com dinheiro, o dinheiro não vai chegar, então é importante lidar com esse jogo”, completa.
Confira o trecho:
