‘A Luta do Século’ encerra XII Panorama Coisa de Cinema com presença de ídolos do Boxe
O documentário “A Luta do Século”, que explora a rivalidade histórica entre os pugilistas Reginaldo Holyfield e Luciano Todo Duro, foi escolhido para encerrar a edição desse ano do Panorama Internacional Coisa de Cinema, na noite da última quarta-feira (16). O baiano Sérgio Machado, que assina a direção do longa-metragem, explicou em entrevista ao Bahia Notícias que a ideia original era produzir uma ficção protagonizada por Lázaro Ramos, que ficou responsável pela produção do documentário, e Wagner Moura, nos papeis do baiano e do pernambucano, respectivamente.
"Logo quando comecei a pesquisa, saquei que era uma história bonita, que tem seu lado engraçado, mas que também tem seu lado dramático e profundo. Me emocionei muito de conhecer os dois, e saquei logo que era uma história importante para ser contada. O Lázaro no meio do processo disse: 'Olha, o único perigo é você se empolgar tanto com o documentário e esquecer da nossa ficção'. E acho que foi o que aconteceu", conta. O realizador não descarta retomar ao plano original, mas afirma que está tão feliz com o resultado do documentário que não tem mais certeza se vale a pena abordar o tema através da ficção.
Vencedor do Festival do Rio 2016 na categoria documentário, “A Luta do Século” foi exibido pela primeira vez no estado pela mostra “Panorama Brasil”, como normalmente tem acontecido em outros lugares: com as presenças de seus protagonistas sendo celebradas com um uma boa dose de bagunça e gritaria. "Você sabe que nós somos privilegiados. Eu não gosto dele, mas na verdade nós fizemos história. O esporte hoje dentro do norte-nordeste foi parar no cinema”, comemora Holyfield. O lutador se disse feliz por representar o boxe da Bahia, e reconheceu que seu maior rival tem um valor semelhante para o estado de Pernambuco. “Essa coisa gostosa que todo mundo gosta é uma briga, mas todo mundo quer ver. É uma luta, mas as pessoas gostam de viver esse momento, de gritar, chorar e se envolver", observa.
Durante a entrevista, Holyfield para imediatamente por uns 40 segundos ao constatar a presença de Todo Duro no ambiente. Ele encara o oponente a poucos metros de onde está com um misto de alerta, desconfiança e uma raiva alto contida. Instantes após conceder entrevistas e interagir como os fãs — cada um em um canto do saguão do Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha —, um princípio de briga acaba explodindo entre eles como em tantas outras ocasiões. "Esse filme foi feito eu lá em Recife e ele aqui. Pessoalmente não podemos ficar juntos porque esse negão é maluco. Ele é doido, velho! Tem que entender que aqui é um cinema. Mas se partir para cima, eu 'atolo' e só sossego quando arrancar dele uns oito dentes ou dez", provoca Todo Duro.
Foto: Reprodução / Roberto Ramos
O também boxeador Acelino Popó Freitas, que participou de algumas das lutas preliminares que antecederam confrontos entre a dupla no início de sua carreira, garante que não há fingimento algum nas explosões de fúria que Holyfield e Todo Duro destilam um contra o outro fora dos rings. “Eu participei de toda essa guerra aí. Não é uma guerra de marketing, é algo pessoal mesmo. Já estive em pesagens que, do nada, Todo Duro levanta e dá um tapa no peito de Holyfield iniciando uma confusão generalizada. Se um soco de Holyfield pega nele, não tem luta no dia seguinte”, recorda.
Essas e outras situações acabam sendo registradas pelo filme através de um minucioso trabalho, composto por imagens de arquivo, reportagens e recortes de jornais que tomam toda a primeira metade da projeção. Já nos dias atuais, a câmera de Machado busca os pequenos momentos cotidianos de dois homens que, não tendo alcançado o estrelato pleno individualmente, parecem estar destinados a desfrutar, unidos, da imortalidade que só cinema pode proporcionar. "Acho que o boxe funciona como uma metáfora para a vida: Duas pessoas ali, correndo perigo de vida, se enfrentando dentro de um espaço limitado. John Huston, Hitchcock, Scorsese, Kubrick... Acho que todos os grandes diretores filmaram isso. E eu, que não sou um grande diretor, filmei também", conclui Machado.