Panorama: coordenador fala de dois filmes da programação da mostra competitiva nacional
Branco Sai, Preto Fica
Um bairro semi-destruído, cenário de ficção científica de um futuro nada promissor. Sons de máquinas precárias em funcionamento em uma espécie de abrigo nuclear. Em uma cadeira de rodas, um sujeito claramente marcado pela guerra. No rosto dele, tristeza, cansaço e desilusão. Mas, mesmo na dor a poesia se impõe. E tomaremos conhecimento de sua história através da música que ecoa com tal força que não poderemos mais ficar impassíveis a « Branco Sai, Preto Fica », de Adirley Queirós.
Marquim, na cadeira de rodas, é um dos três protagonistas. O segundo, Shockito, possui uma perna mecânica e também está marcado emocional e fisicamente pela violência do passado. Já Dilmar vem do futuro. Ele investiga crimes perpetrados pelo governo brasileiro. Dilmar vai até Ceilândia, cidade satélite do Distrito Federal, para juntar provas de um crime cometido por policiais, que entraram em um baile funk, em passado recente, e atiraram contra os frequentadores, de forma deliberada.
O longa é tão imperfeito quanto seus personagens. Da precariedade, Adirley extrai a potência e filma os espaços como poucos cineastas brasileiros. « Branco Sai, Preto Fica » não é um filme do ressentimento. É um filme de ação política, cujos resultados ainda estão para eclodir. Ou explodir, como no filme.
O longa será exibido hoje (domingo, 02/11), às 16h05, e na segunda-feira (3) às 20h30. A sessão traz ainda os curtas “Parque Soviético”, de Karen Black e “Mater Dolorosa”, de Daniel Caetano e Tamur Aimara.
Veja o trailer do filme:
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Ventos de Agosto
Do que trata « Ventos de Agosto », de Gabriel Mascaro? Em princípio, da força da juventude em um local pacato, cercado pelo mar. Shirley tem a energia do punk-rock que ela escuta em cima do barco, enquanto passa coca-cola para se bronzear. Parece que não está nem aí para nada, apenas vive a sua juventude. Ela possui a inquietude dos que trepam em árvores e namoram em meio aos cocos. Mas, a força de Shirley está a serviço de sua avó, que necessita de cuidados devido à idade avançada. O tempo da jovem colocado em função do Tempo. Entendemos, então, que « Ventos de Agosto » trata da vida, que inclui a morte.
Tudo muda com a chegada do pesquisador de ventos, vivido pelo próprio Gabriel Mascaro. O cineasta, fotógrafo do próprio longa, vai captar o que não se vê, mas se sabe porque se sente. « Ventos de Agosto » é um filme que buscar falar sobre o invisível. E, para isso, ele deve se debruçar sobre os corpos, que restam quando as almas se vão. Restos mortais que serão engolidos pelo mar.
« Ventos de Agosto » é sobre a generosidade, em vida e morte. E o filme deixa alguns buracos para que o espectador caminhe sozinho, algumas arestas não aparadas que não são defeitos, mas virtudes pois nos deixam pensar.
O filme será exibido com Estátua!, de Gabriela Amaral, também premiado em Brasília; e “Carranca”, produção baiana de Marcelo Matos de Oliveira e Wallace Nogueira, contemplada no Festival de Gramado. As sessões acontecem hoje (domingo, 02/11), às 18h, e 03/11 (segunda-feira), às 13h.
Veja o trailer:
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