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Notícia

Rei Momo não é majestade no Carnaval de Salvador, afirma gestor de concurso

Por Francis Juliano

Foto: Reprodução G1
Apesar do título de nobreza e de uma história que remonta à Grécia Antiga, o Rei Momo não reina e muito menos a rainha e as princesas exercem algum poder no Carnaval de Salvador. Quem traz essa afirmação é Gorgônio Loureiro, que não petrifica como o olhar da criatura Górgona da mitologia grega, mas não tem receio de disparar contra o que chama de desrespeito às tradições do carnaval. Ele está à frente da organização do concurso que elege a corte da festa há 21 anos e de lá para cá acompanhou o que chamou de elevação de nível do evento junto com o amargor e a falta de prestígio dispensados pelas autoridades e empresários “A coisa é tão desestimulante que, só para você ter ideia, nenhum bloco convida o Rei Momo, a rainha e as princesas para subirem nos trios. É preciso a gente ir na ‘cara dura’ exigir nosso lugar”, conta Loureiro ao Bahia Notícias. “De agora em diante se a gente não for para a frente do trio, não vale”, comentou enquanto discutia a programação da sexta-feira (8) com a equipe de produção da corte momesca soteropolitana. 
 
Para referendar os depoimentos, o também publicitário lembra o fatídico episódio em 2007 quando o Rei Momo daquele carnaval foi barrado no camarote de Daniela Mercury. “Ele estava empolgado e disse que ia entrar no camarote de Daniela. Eu falei: ‘você tem convite?’ Porque se não tem é melhor nem tentar” rememora. O episódio frustrante ganhou as páginas do principal jornal impresso da Bahia naquele ano.  Outro imbróglio que pesou, principalmente no bolso de Loureiro, ocorreu um ano depois. Informado que teria os R$ 30 mil da Empresa de Turismo Salvador (Emtursa), ligada á prefeitura e antiga patrocinadora do prêmio, para pagar as despesas de premiação e de organização do evento, ele conta que até hoje espera sentado a chegada do montante. Atualmente, quem paga os custos do concurso Rainha do Carnaval é a Bahiatursa (ligada ao Estado), que, de acordo com o gestor, não tem desonrado o pagamento, apesar de a conta dos vencedores da competição ter de esperar alguns meses para receber o crédito.
 

Gorgônio Loureiro / Foto: Reprodução
 
Tido como um dos mais valiosos destaques de exportação da Bahia, o carnaval soteropolitano tem espaço em feiras e eventos internacionais, mas nem por isso dá lugar a esses símbolos tradicionais da folia. “ O baiano vende o carnaval como a maior festa do mundo no exterior. Mas pergunte a alguém que acompanha esses eventos, qual foi a vez que se levou a figura do Rei Momo para fazer parte da representação? Nenhuma”, esbraveja. Para Gorgônio, o maior problema vem de quem deveria dar todo o apoio. “As autoridades e os empresários não estão nem aí para nós. Em Recife, logo ali, a escolha do Rei é feita em um baile de gala e tem a presença do governador. Aqui, em todos esses anos que estou à frente, nenhum prefeito pisou os pés lá para saber como é”, lamentou.
 
Nível melhorado
 
Gorgônio Loureiro começou a participar da organização do concurso momesmo no ano de 1992, em parceria com o sócio Raimundo Pastori, falecido em 1995. A Associação Baiana dos Cronistas Carnavalescos, a ABCC, promotora da festa, hoje está ligada ao Ficet (Fórum Internacional de Comunicação de Ecologia e Turismo), entidade presidida por Loureiro, que detêm os direitos do concurso Rainha do Carnaval. Quando iniciou no prêmio, o também publicitário e jornalista diz que pouca gente dava crédito ao concurso e a premiação era discriminada. “Tinha gente que via as meninas como garotas de programa, dando cartão, oferecendo grana, e muitas delas se comportavam até como tal”, recorda. 
 
De alguns anos para cá, mudou-se o formato e fez-se algumas exigências como o ensino médio completo e a idade mínima de 18 anos. A rainha deste ano, a bela morena Ísis Rosário, tem a idade limite e estuda para ser oficial da Polícia Militar da Bahia. Entre as 36 candidatas que passaram para a semifinal, 20 eram universitárias, e das 12 que foram à finalíssima, metade já estudam em faculdades. O prêmio também se tornou o grande atrativo. O Rei Momo fatura R$ 15 mil, e outros R$ 15 são distribuídos entre a rainha (R$ 7 mil), a 1ª princesa (R$ 5 mil) e a 2ª princesa (R$ 3 mil). Antes, de acordo com Loureiro, o valor era algo em torno de R$ 500 para a rainha.
 
Neste ano, o evento comemorou a 70° edição e Gorgônio Loureiro diz que, mesmo com as contrariedades da nem tão diletante função, se sente realizado. “Conseguimos mudar o nível do evento e tanto o Rei Momo como as rainhas e princesas podem sair daqui e ter oportunidades pelo fato de terem sido premiados”, disse em tom mais aliviado.

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