Resenha BN: Overdose de música com Zeca Baleiro e Lenine
A chuva forte que caía sobre Salvador ameaçava miar o encontro de dois grandes talentos da música brasileira, marcado para às 22h do último sábado: Zeca Baleiro e Lenine. O pé d’àgua prosseguiu, mas não foi suficiente para desanimar quem ansiava pelo show. Enquanto algumas pessoas corriam do carro até a entrada do Bahia Café Hall, local do evento, para não se molhar, teve gente que se aproveitou da situação para descolar um trocado oferecendo carona de guarda-chuva até a porta por R$ 2.
A casa estava cheia, apesar de muitos fãs terem ficado de fora por não poder abarcar o custo do ingresso - R$ 140 (inteira). 45 minutos depois do previsto, em meio a vaias de um público mal educado e irritado pelo atraso do artista, o maranhense Zeca Baleiro subiu no palco. Antes disso, um anúncio com informativos sobre o show “Calma ai, Coração” avisava que a turnê do novo CD , “O Disco do Ano”, seguiria “até o final de 2012, acabe o mundo ou não”. Bem ao estilo Zeca de ironizar os clichês sociais em voga.
Vestido com um blazer quadriculado preto e branco, uma camisa verde cana, uma calça branca com grandes quadrados pretos e uma sandália de couro que subia sobre o seu calcanhar como uma bota, ele abriu o show com o rap em parceria com Chorão, do Charlie Brown Jr., “O Desejo” e seguiu com o repertório do novo disco: “Nada Além”, “Tattoo”, “Último Post”, “Ela Não se Parece com Ninguém” e “Calma Aí, Coração”. Um início bem morninho, com uma plateia tímida, muitos casais abraçadinhos e quietinhos.
Depois, a apresentação ganhou um tom mais intimista, a banda se aproximou da frente do palco e todos sentados em meia lua reproduziram versões acústicas de diversas composições: “Quase Nada” de Zeca, “Maresia” de Adriana Calcanhoto e até “Price Tag” de Jessie J. Isso tudo ao som de ukelele, escaleta, banjo, cajon, gaita e recursos eletrônicos. Um som pop que lembrou o jovem Bruno Mars.
O clamor do público foi mais intenso durante as passagens de voz e violão dos hits “Bandeira” e “Salão de Beleza”. Entre as novas composições, a música coreografada “Funk da Lama”, que não faz parte do CD, foi a mais ovacionada. Sem dúvidas, pela surpresa e entusiasmo dos espectadores diante dos músicos, que bastante sérios, dançavam os passos criados pelo próprio Zeca para a canção, mistura de funk com macarena e axé. “É uma brincadeira, uma gozação com o universo das músicas coreografadas. Uma ironia”, disse o artista. O refrão “Vem cachorra, nem precisa de cama” gruda tanto quanto “Eu quero tchu, Eu quero tcha”. Rapidinho, toda a plateia já estava cantando.
De última hora, a produção do evento decidiu que Lenine, ainda atrasado, dividiria o palco com Zeca para uma canção em homenagem ao centenário de Luiz Gozanga. Juntos, sob muitos aplausos, eles cantaram “Assum Preto”.
Depois foi a vez de o pernambucano fazer o seu show. A expectativa era grande. Foi difícil perceber qual dos dois artistas era o preferido dos presentes. Lenine foi reverenciado por uma plateia já aquecida pela apresentação anterior. E, em Salvador, todos sabem que ele é um querido de muita gente. “Aqui eu estou mal acostumado. Tenho total intimidade com o público. Muitas memórias vão se somando do TCA, da Concha”, disse. Para o show, que seria um reencontro da sua banda, ele escolheu um repertório bem livre, com músicas famosas e algumas do novo disco “Chão”- canção de abertura do show.
Os hits “Leão do Norte” e “Jack Soul Brasileiro” foram acompanhados com ardor pela plateia. Mas o ápice mesmo foi “Hoje Eu Quero Sair Só”, cantada em coro pelos fãs, enquanto a banda tocava e Lenine só sorria. Com toda a sua simpatia e talento, ele mostrou com desenvoltura que está mesmo à vontade em solo baiano.
Durante a canção “Se Não For Amor, Eu Cegue”, o pernambucano fez mais uma homenagem a Gonzagão com a inserção de “Pagode Russo”. Do novo disco, ele cantou também “Envergo Mas Não Quebro”.
Apesar do afastamento da banda, durante a turnê de “Chão”, que apresenta um formato diversificado, sem o baixista Guila e o baterista Pantico Rocha, os músicos estavam muito entrosados e acompanhavam a pulsação do show com um movimento bonito sobre o palco. A novidade foi a presença de mais uma guitarra, comandada por Bruno Giorgi, filho de Lenine.
