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"A ciência ficou por tempo demais num pedestal": Baiana Kananda Eller transforma conhecimento em ferramenta de emancipação

Por Redação

Fotos: Jordan Vilas

Entre as ruas de Plataforma, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, nasceu a curiosidade que mais tarde levaria Kananda Eller à ciência. Formada em Química pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e mestranda em Ensino de Ciências Ambientais pela Universidade de São Paulo (USP), a baiana, que hoje reúne mais de 400 mil seguidores nas redes sociais, cresceu cercada pelo mar, pela força da família e pela rotina de uma escola técnica que despertou nela o desejo de entender e transformar o mundo ao redor.

 

“Minha família sempre valorizou muito a educação. Minha avó teve um papel essencial, porque me colocou no Sesi, uma escola com abordagem técnica. Foi ali que tive acesso a laboratórios e professores de Química, Física e Biologia”, relembrou. O contato precoce com o ambiente científico acendeu a vontade de intervir no entorno. Ainda no Ensino Médio, integrou um clube de ciências e desenvolveu sacolas plásticas feitas com fécula de mandioca. A experiência a fez perceber que poderia usar o conhecimento para promover mudanças concretas.

 

Essa ideia de transformação a acompanhou até a universidade, onde cursou Química e encontrou explicações para realidades que sempre fizeram parte de sua vivência, mas ainda não tinham nome. “A Ufba me deu ferramentas para compreender o que eu já enxergava. Passei a entender por que fui ensinada a rejeitar minha própria identidade e por que tantas mulheres ao meu redor enfrentavam violências. Entendi que meu papel como cientista precisava estar conectado com a minha comunidade, que está fora dos muros da universidade”, afirmou.

 

Dessa inquietação nasceu o projeto “A Deusa Cientista”, criado por Kananda para popularizar o conhecimento científico e questionar as estruturas de machismo e racismo dentro e fora da academia. O projeto parte de uma premissa simples e poderosa: a ciência deve estar ao alcance de todos.

 

Tornar esse ideal acessível ao público, no entanto, exige um mergulho constante em sua própria trajetória. “Divulgar ciência de forma acessível, divertida e relevante é, para mim, um processo de reconexão com a minha história, com os saberes dos meus ancestrais e com uma ciência que não se aprende em espaços formais”, explicou. A tarefa demanda confiança no próprio conhecimento e consciência das barreiras que impedem o acesso equitativo à informação.

 

 

Com uma linguagem clara e didática, Kananda utiliza as redes sociais como ponte para democratizar o saber e mostrar que a educação também pode ser um caminho de sucesso e transformação. “As referências de pessoas pretas bem-sucedidas costumam ser artistas ou atletas. Quero que os jovens entendam que a educação também pode ser um caminho de emancipação. Quando eles me veem e pensam ‘eu existo, estou aqui’, isso gera uma transformação profunda”, afirmou.

 

Essa conexão se fortalece à medida que ela aproxima a ciência do cotidiano. Em séries como “Hora da Química”, a baiana mistura ciências exatas e humanas para mostrar que o conhecimento está presente em tudo, desde o cabelo crespo à cosmologia africana. 

 

Para ela, falar sobre ancestralidade é também uma forma de despertar orgulho e senso de pertencimento. “Quando os jovens se veem representados, desenvolvem autoestima para se posicionar em sala de aula. Já ouvi relatos de estudantes que desistiram de cursos por não se sentirem pertencentes, porque a universidade ainda é um espaço majoritariamente branco. Ter alguém que inspira faz com que a pessoa entenda que há um propósito para estar ali”, salientou.

 

Reconhecida por seu trabalho, Kananda já participou do Le Défilé da L’Oréal, foi finalista do Shark Tank Brasil Creators, na categoria Educação com Impacto Social em 2024, e entrou para a lista Forbes Under 30 no mesmo ano. Mais do que prêmios, ela vê nessas experiências a possibilidade de romper bolhas. “A ciência ficou durante muito tempo em um pedestal, distante das pessoas. Quando consigo acessar espaços como esses, levo comigo conteúdos que talvez nunca chegassem a esses públicos. Isso abre portas e reafirma que estou no caminho certo: popularizando o conhecimento e valorizando saberes que foram historicamente apagados”, observou. 

 

 

Kananda, que reúne mais de 400 mil seguidores nas redes sociais e uma comunidade altamente engajada, leva a sério a responsabilidade de informar em um cenário digital marcado pela desinformação. Durante a conversa, ela destacou que se dedica constantemente aos estudos para oferecer conteúdos confiáveis, especialmente em um ambiente onde temas polêmicos tendem a ganhar mais visibilidade e, muitas vezes, alimentam a desinformação.

 

O futuro, para ela, continua guiado pelo desejo de estudar, comunicar e transformar. “Quero continuar pesquisando, levar essa mensagem para o audiovisual, para os livros e seguir na carreira acadêmica. Ainda estou em formação, mas quero ocupar o espaço que sempre sonhei”, concluiu.

 

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