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Artigo

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Nova crise

Por Cláudio André de Souza

Foto: Reprodução / Youtube
A aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff pela Câmara dos Deputados potencializou a divisão do país, algo resultante da falta de consenso jurídico e político em torno do julgamento por crime de responsabilidade. Este cenário difere bastante do que ocorrera em 1992 quando o congresso encerrou o mandato de Collor, pairando um clima de consenso sobre o fato, o que está longe de ocorrer no momento político atual.

Se por um lado, os partidos a favor do impeachment pouco consideram o mérito do afastamento da presidente (lembram das justificativas pelo voto “sim” ao impeachment?), por outro, aumenta na sociedade uma recusa ao sistema político, diante da perda de confiança nas instituições e nos políticos, reiterando a crise como algo maior do que os desacertos do PT à frente do governo. A oposição não parece mensurar o risco à democracia mediante um impeachment a ser aprovado nessas condições. O que o PMDB e o PSDB parecem ignorar é o fato de que as críticas ao PT entre os cidadãos comuns pouco representam uma ampla margem de confiança na oposição.

Seja qual for o desfecho do impeachment, tudo aponta para uma nova crise em andamento na política brasileira que tem como enredo: a) a pouca confiança dos cidadãos em um governo Temer, que será apoiado, inclusive, por partidos e políticos investigados pela Operação Lava Jato. O próprio vice-presidente e a cúpula do PMDB se encontram em situação semelhante; b) o reconhecimento dos movimentos sociais de que Temer pretende seguir princípios ultra-liberais e solapar direitos e políticas de sentido igualitário produzidas pelo lulismo, o que pode dar vez a um novo ciclo de protestos no país; c) a potencial indignação da classe média com a corrupção, o que pode potencializar uma crise de representação do governo pemedebista.

A continuidade da crise ultrapassa em si a performance de Temer na presidência, que será cobrado pela legitimidade em existir, pelas ações a serem tomadas e, sobretudo, pelo trato com o combate à corrupção. Como pensar nessa conjunção de fatores quando se trata dos mesmos atores que estiveram em cena na coalizão fracassada do governo Dilma?


* Cláudio André de Souza - Doutor em Ciências Sociais (UFBA) e Professor de Ciência Política da UCSAL e da Faculdade Baiana de Direito.
E-mail: claudioandre.cp@gmail.com


* Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias

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