Poema Polícia e Política: tópicos sobre o poema de Lívia Natália e a PM baiana
É exaustivamente conhecida a truculência e violência da PM em relação ao corpo negro. São exemplos irrefutáveis dessa afirmação o índice alarmante de assassinatos de homens negros pela PM brasileira, como também, os materiais de treinamento militar que vazam vez ou outra, exibindo sempre, em suas cartilhas e manuais, um homem negro como suspeito. Na Revista Exame, numa reportagem que lista a polícia brasileira como a que mais mata no mundo, é mostrada a seguinte estatística: “99,5% das pessoas assassinadas, no Rio de Janeiro, por policiais, entre 2010 e 2013 eram homens, dos quais 80% negros e 75% com idade entre 15 e 29 anos”, estatísticas e pesquisas que reafirmam e generalizam esses dados, por todo Brasil, são facilmente encontradas, escuso-me aqui de listá-las.
Porém, não bastasse o controle ostensivo e biopolítico que o Estado e seu braço armado, a PM, fazem sobre o corpo negro, ontem, a PM da Bahia estendeu seu arsenal de controle e requereu a retirada de um poema de um outdoor, na cidade de Ilhéus, por “incitar o preconceito e intolerância contra policiais militares”. Eis o poema de Lívia Natália: “Maria Não amava João. Apenas idolatrava seus pés escuros. Quando João Morreu assassinado pela PM, Maria guardou todos os seus sapatos”. O poema propõe pensarmos a subjetividade interditada desse corpo negro, (quando rompe a cadeia amorosa que remete a intertextualidade com o poema de Drummond), sinaliza o abandono em que, muitas vezes, é condenada a mulher negra, denuncia, ao mesmo tempo, a violência com que a PM pratica seu genocídio contra o povo negro. É o amor, a subjetividade desse ser-negro, pensado, pelo Estado, sempre como um corpo suspeito que é tema. Maria não teve tempo de amar João. E o assassinato pela PM é apenas uma das formas pela qual essa subjetividade do negro brasileiro foi interditada, pela violência, e o poema usa dela para denunciar essa interdição, esse amor que não chegou a ser. Portanto, em nenhum momento, este poema pode ser pensado como “um poema contra a PM”, não só.
O protesto, encabeçado pelo deputado estadual, Prisco, acusa o governo do Estado de apoiar o projeto “Poesia nas Ruas”, contribuindo para a criação de uma imagem negativa da PM. Essa falácia encabeçada pelo deputado, sabemos nós, é o xadrez de um jogo político entre DEM e seus opositores. Acusações de gasto de verba pública e de má gestão da PM, circularão de um lado a outro desse teatro dantesco que é a política baiana.
Mas, o mais perigoso disso tudo é a suposição da PM baiana, de poder, através de suas representações na câmara, estender seu controle do poder (força) para o saber. Achar que pode interditar a fala, silenciar o negro, além de matá-lo, é uma presunção inadmissível. Aceitar o silêncio é aceitar as mortes, é imperativo que os organizadores do projeto Poesia nas Ruas, que o Movimento Negro, que os outros deputados, os poetas, as Universidades se pronunciem e impeçam a retirada do outdoor com o poema. E se há um dado positivo nisso tudo, é que a poesia está no seu lugar, aquele de desarrumar o arranjo harmônico dos silêncios.
Porém, não bastasse o controle ostensivo e biopolítico que o Estado e seu braço armado, a PM, fazem sobre o corpo negro, ontem, a PM da Bahia estendeu seu arsenal de controle e requereu a retirada de um poema de um outdoor, na cidade de Ilhéus, por “incitar o preconceito e intolerância contra policiais militares”. Eis o poema de Lívia Natália: “Maria Não amava João. Apenas idolatrava seus pés escuros. Quando João Morreu assassinado pela PM, Maria guardou todos os seus sapatos”. O poema propõe pensarmos a subjetividade interditada desse corpo negro, (quando rompe a cadeia amorosa que remete a intertextualidade com o poema de Drummond), sinaliza o abandono em que, muitas vezes, é condenada a mulher negra, denuncia, ao mesmo tempo, a violência com que a PM pratica seu genocídio contra o povo negro. É o amor, a subjetividade desse ser-negro, pensado, pelo Estado, sempre como um corpo suspeito que é tema. Maria não teve tempo de amar João. E o assassinato pela PM é apenas uma das formas pela qual essa subjetividade do negro brasileiro foi interditada, pela violência, e o poema usa dela para denunciar essa interdição, esse amor que não chegou a ser. Portanto, em nenhum momento, este poema pode ser pensado como “um poema contra a PM”, não só.
O protesto, encabeçado pelo deputado estadual, Prisco, acusa o governo do Estado de apoiar o projeto “Poesia nas Ruas”, contribuindo para a criação de uma imagem negativa da PM. Essa falácia encabeçada pelo deputado, sabemos nós, é o xadrez de um jogo político entre DEM e seus opositores. Acusações de gasto de verba pública e de má gestão da PM, circularão de um lado a outro desse teatro dantesco que é a política baiana.
Mas, o mais perigoso disso tudo é a suposição da PM baiana, de poder, através de suas representações na câmara, estender seu controle do poder (força) para o saber. Achar que pode interditar a fala, silenciar o negro, além de matá-lo, é uma presunção inadmissível. Aceitar o silêncio é aceitar as mortes, é imperativo que os organizadores do projeto Poesia nas Ruas, que o Movimento Negro, que os outros deputados, os poetas, as Universidades se pronunciem e impeçam a retirada do outdoor com o poema. E se há um dado positivo nisso tudo, é que a poesia está no seu lugar, aquele de desarrumar o arranjo harmônico dos silêncios.
*Jorge Augusto é poeta, professor da UNEB, doutorando em Literatura e Crítica da Cultura/UFBA e editor da organismo editora
* Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias