O maior adversário de Lula é ele mesmo
O terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva reúne um paradoxo curioso: os principais indicadores são positivos, mas sua popularidade não segue a mesma trilha, embora tenha tido um refresco nos últimos três meses, muito por conta da contenda, e agora as pazes feitas, com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Mas por que um presidente que entrega resultados concretos não consegue mobilizar o mesmo apoio popular que o consagrou nos anos 2000?
Nos dois primeiros governos de Lula (2003-2010), o país viveu um ciclo de crescimento econômico e inclusão social raramente visto. Programas como o Bolsa Família e o Fome Zero tiraram milhões da extrema pobreza e tiraram o Brasil do mapa da fome. A classe média cresceu de forma exponencial, especialmente nas regiões historicamente mais vulneráveis.
O acesso ao ensino superior foi democratizado com a criação de universidades e institutos federais, e a saúde básica avançou com o Programa Mais Médico, levando atendimento a regiões antes desassistidas. O Brasil parecia, naquele momento, ter encontrado um caminho de desenvolvimento com justiça social.
Esse avanço, no entanto, criou um novo patamar de expectativa. A chamada nova classe média passou a demandar mais qualidade de vida, segurança, consumo e serviços públicos. Lula, ao voltar ao poder em 2023, herdou um país profundamente polarizado e desgastado por crises econômicas, uma pandemia e ataques às instituições democráticas.
Ainda assim, seu governo apresenta resultados sólidos: o país beirando o pleno emprego, inflação de alguma forma controlada e recorde na geração de empregos formais.
Por que, então, o atual mandato de Lula enfrenta dificuldades em termos de aprovação popular?
Um dos fatores é justamente o peso do próprio legado. O “sarrafo” subiu tanto nos dois primeiros mandatos que qualquer avanço atual parece modesto. O impacto social de programas como o Bolsa Família, quando lançado, foi transformador. Hoje, seu efeito simbólico é menor.
Além disso, temas como patriotismo e soberania nacional foram apropriados pela retórica da direita nos últimos anos. Lula tenta ocupar esse espaço com discursos duros contra o “tarifaço” de Trump, por exemplo, reforçando a ideia de um Brasil soberano e protagonista.
A comunicação também é um desafio. A percepção de melhora nem sempre acompanha os dados. Falta narrativa que conecte os avanços do presente com o imaginário de transformação do passado, mas parece que esse caminho começa a ser trilhado.
Lula 3 entrega números robustos, mas ainda busca reconquistar o coração de uma população que espera dele não apenas crescimento, mas um novo salto histórico, tão ousado quanto aquele que mudou o país na primeira década deste século.
Para Lula, seu passado (próspero) o condena.
*Tadeu Paz é jornalista
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