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Gás natural, estratégia e desenvolvimento: a Bahia entre exceções nacionais

Por Leonardo Mosimann Estrella

Foto: Divulgação

Num setor marcado pela financeirização e fragmentação das concessões públicas, a Bahia seguiu um caminho distinto: manteve o controle da Bahiagás, estruturou a distribuição e associou sua política ao desenvolvimento regional. Na última década, a companhia quase triplicou sua base de clientes, ampliando em 23% o volume distribuído. A receita bruta cresceu 190%, mesmo com tarifa real média sendo inferior à de 2014.

 

No contexto da privatização da Gaspetro, o governo da Bahia, diferente da maioria dos estados, ampliou participação na concessionária estadual de gás. A decisão fortaleceu a capacidade do setor público de atuar em um segmento estratégico. Em 2024, a tarifa média foi de R$ 2,20/m³, a mais competitiva entre as distribuidoras do país, e o consumo manteve-se concentrado em atividades produtivas. A indústria respondeu por 63% do volume total distribuído, o setor automotivo representou 4,5%, a cogeração 6,7% e os segmentos comercial e residencial somaram apenas 3,4%.

 

A diversificação de supridores, imposta pelo novo mercado do setor, reforça a estratégia voltada à competitividade em preço. Atualmente, compõem o mix de suprimento, com volume de 3,58 milhões de m³/dia, as empresas PetroReconcavo (30,7%), Origem (29,3%), Galp (12,6%), Alvopetro (11,2%), Petrobras (9,9%), Brava (2,8%), Equinor (2,8%) e Shell (0,7%).

 

O modelo de atuação da Bahiagás ganha mais relevância no contexto de reindustrialização na Bahia. A reativação da FAFEN (Petrobras) recoloca a Bahia na cadeia nacional de fertilizantes. A planta não apenas integra um ecossistema químico estratégico, como depende diretamente do gás natural para produzir amônia. A modicidade tarifária local é, portanto, uma condição objetiva para a viabilidade de cadeias industriais.

 

Contudo, a industrialização permanece concentrada na Região Metropolitana de Salvador. A expansão de gasodutos para o interior, com projetos como o Gás Sudoeste, pode auxiliar na reversão de parte desse quadro, desde que articulada a estratégias de integração produtiva e valorização de economias locais. Além disso, a parceria entre Bahiagás, Petrobahia e GNLink para interiorizar a oferta GNL sinaliza uma oferta para regiões desabastecidas.

 

A experiência da Bahiagás mostra que o setor de gás natural, sob planejamento estatal, pode impulsionar o desenvolvimento regional. Diferentemente de muitas concessões no país, a Bahiagás adota uma política energética orientada pelas necessidades produtivas, garantindo preços competitivos, estimulando cadeias industriais e dinamizando economias locais, sem deixar de avançar a infraestrutura. Reconhecer o gás como insumo estratégico, e não como mero ativo financeiro, é parte central do projeto.

 

*Leonardo Mosimann Estrella é pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) na área de Gás Natural e Fertilizantes

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