Bahia, líder de empresas inovadoras no Nordeste
Há números que não são apenas números, são sinais: 332 empresas ativas. É disso que se fala quando se fala da Bahia no Inova Simples, esse regime que a lei brasileira inventou para que os que sonham pudessem, enfim, formalizar os seus sonhos. Em outras partes do Nordeste, os números são menores — 291 em Pernambuco, 226 no Piauí, 192 no Rio Grande do Norte, 174 no Ceará. Na soma de todos, uma constatação: a Bahia lidera. E lidera não por acaso, mas porque há mãos que semeiam, há instituições que se debruçam, há uma vontade coletiva que faz da palavra inovação mais do que discurso: faz dela prática.
O Inova Simples nasceu para reduzir a burocracia. CNPJ imediato, processos online, prioridade na fila das patentes. É como abrir portas antes emperradas, permitindo que ideias passem com mais naturalidade. O resultado é visível: mais de vinte mil postos de trabalho diretos e indiretos criados por empresas de base tecnológica no estado. E se é verdade que estatísticas são frias, não menos verdade é que atrás de cada número há um rosto, uma história, uma família sustentada por aquilo que antes era apenas uma ideia na cabeça de um jovem engenheiro, de uma pesquisadora, de uma empreendedora do semiárido baiano.
Mas não se deve confundir sorte com planejamento. O crescimento da Bahia no Inova Simples é efeito direto de políticas públicas. A Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação, a Fapesb, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, a Junta Comercial da Bahia e o Sebrae atuaram em conjunto, cada qual cumprindo o seu papel: reduzir entraves, estimular a formalização, atrair investimentos. A engrenagem funciona porque há combustível, e esse combustível chama-se fomento.
De 2024 a 2025, mais de R$ 23,9 milhões foram injetados no ecossistema de inovação pela Fundação de Amparo à Pesquisa da Bahia (FAPESB). Recursos destinados não ao abstrato, mas a 206 empresas concretas. Se somarmos desde 2019, a conta chega a R$ 41,2 milhões e 276 empresas beneficiadas. Editais como o Tecnova III, com R$ 13,4 milhões, ou o Programa Startup Nordeste – Bahia, com R$ 3,12 milhões em bolsas para 80 empresas, mostram a robustez dessa política. O Azeviche, voltado para povos e comunidades tradicionais, levou R$ 3,3 milhões a 41 empreendimentos. O Inventiva II, R$ 3,3 milhões para 40 empresas lideradas por mulheres. O Inova Cerrado, R$ 780 mil para 20 negócios em bioeconomia. E poderíamos ainda citar o ICT Empresa Competitiva, o Centelha Bahia, o Governo Inteligente. Cada edital é uma porta aberta, cada cifra é uma semente.
O efeito é multiplicador. Startups formalizadas com o apoio desses programas tendem a sobreviver mais, a escalar mais rápido, a contratar mais gente. É por isso que em 2025, apenas neste ano, 168 novas empresas surgiram na Bahia sob o guarda-chuva do Inova Simples. É por isso que no ranking nacional a Bahia ocupa a 7ª posição, mas entre os estados do Nordeste, está sozinha na dianteira. No Brasil, a Bahia está um pouco atrás do Rio Grande do Sul com 390 empresas ativas e Santa Catarina com 366.
Essa liderança não se limita ao Inova Simples. De acordo com dados do IBGE de 2022, utilizados no recentemente publicado Índice Brasil de Inovação e Desenvolvimento (IBID), a Bahia também lidera o ranking de Empresas de Alto Crescimento no Nordeste, com 7.526 empresas. E mais: o estado lidera no número de pessoas empregadas nessas empresas, com 372.660 trabalhadores assalariados, o que reforça o impacto estrutural da inovação na geração de emprego e renda.
E há ainda outra liderança: as chamadas empresas gazelas, que o IBGE também mede e que foram incorporadas ao IBID. As gazelas são empresas jovens com grande dinamismo, definidas por apresentarem crescimento médio anual superior a 20% em volume de negócios ou pessoal, durante ao menos três anos consecutivos. São diferentes das startups, pois já superaram a fase inicial de incertezas e buscam consolidar um crescimento acelerado. Uma empresa pode ter começado como startup, mas quando atinge o status de gazela, significa que já encontrou um modelo de negócios viável e está numa fase de expansão consistente.
No Nordeste, a Bahia lidera também este ranking, com 429 empresas gazelas e 14.670 pessoas empregadas assalariadas nessas organizações. Em seguida aparecem Pernambuco (358 empresas, 11.971 empregados), Ceará (301 empresas, 10.013 empregados), Maranhão (198 empresas, 5.242 empregados), Rio Grande do Norte (145 empresas, 5.825 empregados), Paraíba (124 empresas, 4.277 empregados), Alagoas (111 empresas, 3.631 empregados), Piauí (108 empresas, 4.534 empregados) e Sergipe (63 empresas, 1.656 empregados).
E como se falasse o poeta, poder-se-ia dizer que o IBID lança luz e sombra ao mesmo tempo: revela o vigor da Bahia e do Nordeste em empreender com tão pouco, mas também mostra o retrato de uma desigualdade estrutural que insiste em permanecer. Todos os estados do Nordeste apresentam desempenho abaixo da média nacional nos sete pilares do índice. Ainda que as diferenças sejam menores em “Infraestrutura”, “Instituições” e “Economia”, nenhum estado supera a média. Essa uniformidade no déficit é mais que estatística, é metáfora das lacunas persistentes na forma como o país distribui seus recursos de ciência, tecnologia e inovação. E, todavia, mesmo com o pouco que lhes chega, os nordestinos fazem nascer empresas, inventam caminhos, criam futuro. Aqui mora tanto a denúncia das assimetrias quanto a prova de uma capacidade inquebrantável de inovar.
E se os números são a prova, a celebração vem a seguir. No próximo dia 2 de outubro, no Centro de Convenções de Salvador, a Bahia abre as portas para o Bahia Tech Experience (BTX), o maior evento de startups do Nordeste. Não será apenas uma feira, nem apenas um encontro. Será o reflexo de uma caminhada, a mostra viva de que a Bahia sabe, pode e quer ser protagonista em inovação. Ali estarão empreendedores, investidores, pesquisadores, curiosos e sonhadores. Ali se verá que liderança não é ponto de chegada, mas de partida.
A Bahia lidera hoje no Inova Simples, nas Empresas de Alto Crescimento e nas Empresas Gazelas, mas mais do que isso: lidera na crença de que a inovação é o caminho para o desenvolvimento. E se há algo que esta terra aprendeu ao longo da sua história é que liderar, quando se trata de futuro, significa abrir espaço para que todos caminhem juntos.
*Marcius de Almeida Gomes é doutor e professor titular pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação da Bahia (Secti); e Sócrates Gomes Pereira Bittencourt Santana é jornalista, conselheiro do Parque Tecnológico da Bahia e Diretor de Inovação e Competitividade da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Bahia (Secti)
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