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Artigo

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Setembro triste e amarelo

Por Paulett Furacão

Ao adentrarmos o mês do Setembro Amarelo, venho, por meio deste texto, fazer um profundo apelo ao debate sobre a prevenção ao suicídio, reforçando a importância do mês que faz referência ao jovem estadunidense Mike Emme, de 17 anos, que tirou a própria vida em 1994. Trata-se de uma pauta urgente e necessária para o controverso e desafiador século XXI.

 

Não é de se estranhar que a nossa capital, Salvador, palco de inúmeras lutas e resistências, também carregue marcas profundas de dor. Foi aqui que se projetaram os primeiros cenários de suicídio no Brasil, resultado direto do violento sistema de escravização que atravessou raças, classes e gêneros. Essa herança cruel formou uma interseccionalidade de fatores que ainda hoje alimentam o adoecimento mental e os dados estatísticos de suicídio em nosso país.

 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 14 mil pessoas se suicidam todos os anos no Brasil. Isso significa que, em média, 30 pessoas tiram a própria vida por dia, consolidando o suicídio como um grave problema de saúde pública.

 

Entre os grupos mais vulneráveis estão pessoas transexuais e travestis. Esse segmento é sistematicamente empurrado ao adoecimento mental por fatores como: ausência de políticas públicas, disforia de gênero, rejeição familiar, discriminação no trabalho, exposição vexatória, violência patrimonial, manipulação afetiva e dependência emocional. O sufocamento cotidiano, vivido 365 ou 366 dias ao ano, é reforçado por uma sociedade cisnormativa que ainda insiste em excluir corpos que não se enquadram na binariedade de gênero.

 

A falta de oportunidades e as barreiras sociais empurram esse segmento para as margens, tornando a prostituição compulsória uma realidade de sobrevivência. Não por acaso, o Brasil é o país que mais mata pessoas trans e travestis no mundo, e, contraditoriamente, também é o que mais consome pornografia com este segmento.

 

Quando falamos em automutilação, forma de punição ao próprio corpo sem intenção de provocar suicídio, vemos um crescimento alarmante entre adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. Curiosamente, essa prática raramente se repete entre travestis e transexuais com a mesma finalidade. Entre as décadas de 70 e 90, cortes no corpo eram usados como mecanismo de defesa, estratégia de enfrentamento à brutalidade policial que violentava profissionais do sexo nas estradas e vielas do Brasil.

 

Falar de prevenção ao suicídio exige compromisso coletivo. Nenhum indício pode ser negligenciado. A rede de atenção psicossocial precisa ser contínua, acolhedora e acessível, alcançando todos, todas e todes que têm negado o direito ao cuidado em saúde mental.

 

*Paulett Furacão é coordenadora do Coletivo LGBTQIANP Laleska d’ Capri

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias

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