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Entrevista

Agosto Branco: Oncologista alerta para importância de realizar tomografia com baixa dose de radiação para diagnóstico de câncer

Por Victor Hernandes

Fotos: Bahia Notícias

Foi iniciada no último dia 1º, a campanha Agosto Branco, realizada para conscientizar sobre o câncer de pulmão. Neste ano, a iniciativa é realizada após o Instituto Nacional de Câncer do Ministério da Saúde apontar 32.560 novos casos por ano de câncer de traqueia, brônquio e pulmão para o triênio de 2023 a 2025. Além do consumo de cigarro e produtos do tipo, a ação de saúde ainda alerta para o crescimento no uso dos vapers (cigarros eletrônicos) no país, o possível vício que o objeto pode trazer e também do aumento em jovens brasileiros. 

 

Segundo a oncologista Fernanda Sampaio, o maior acesso da população a procedimentos médicos que detectam o câncer de pulmão é um dos fatores que contribuem para o aumento da doença. 

 

“Bem, há um certo tempo a gente tinha muita dificuldade, principalmente no acesso ao diagnóstico. Hoje em dia, a realização de exames de imagem a exemplo de uma tomografia, passou a ser muito mais acessível, incluindo no âmbito do SUS, onde conseguimos de uma forma mais rápida. A população já tem uma certa conscientização na busca de algum profissional para investigação do câncer de pulmão. Na verdade o câncer de pulmão normalmente, em algumas situações, pode ser descoberto de forma incidental. Sempre alguém faz um raio-X de tórax,  às vezes para um pré-operatório, porque teve uma pneumonia ou porque teve um quadro de gripe e muitas vezes aparece uma mancha que começa a ser investigada”, disse Sampaio. 

 

Além disso, a especialista explicou ainda que o pós-Covid-19 e uso de vapes pode impactar também neste crescimento, além do estilo de vida. 

 

“No pós-covid também tivemos um grande aumento, pois as pessoas passaram a fazer mais tomografias, principalmente aqueles que tiveram coronavírus. Então muitas vezes esses diagnósticos aconteceram de uma forma incidental. Apesar de que no nosso país o tabagismo teve uma redução muito drástica há alguns anos atrás com as campanhas que tivemos de combate ao tabagismo, o que vem crescendo hoje é o uso de cigarro eletrônico. O estilo de vida, os hábitos, exposição ao tabagismo, ao estresse, ao sedentarismo também são fatores que contribuem nesta maior incidência”, explicou Fernanda. 

 

A oncologista alertou ainda para importância de realizar tomografia com baixa dose de radiação em pacientes tabagistas e não tabagistas para que a enfermidade seja detectada. 

 

“Normalmente a gente orienta pacientes tabagistas e ex-tabagistas, que precisam de um acompanhamento com pneumologista. O que indicamos é a tomografia com baixa dose de radiação, pois utilizamos uma quantidade de radiação menor, para que esses pacientes possam fazer tomografias de forma regular e detectar a doença de forma mais precoce. A chance de um paciente tabagista ter câncer é maior do que a de um paciente não tabagista”, contou. Confira entrevista completa:

 

A campanha Agosto Branco, iniciada no último dia 1º, objetiva a conscientização do câncer de pulmão. As estimativas de câncer de traqueia, brônquio e pulmão para o triênio de 2023 a 2025 são de 32.560 novos casos por ano, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), do Ministério da Saúde. O que tem impactado o crescimento desses números e estimativas? 
Bem, há um certo tempo a gente tinha muita dificuldade, principalmente no acesso ao diagnóstico. Hoje em dia, a realização de exames de imagem, a exemplo de uma tomografia, passou a ser muito mais acessível, incluindo no âmbito do SUS, onde conseguimos de uma forma mais rápida. A população já tem uma certa conscientização na busca de algum profissional para investigação do câncer de pulmão. Na verdade, o câncer de pulmão normalmente, em algumas situações, pode ser descoberto de forma incidental. Sempre alguém faz um raio-X de tórax, às vezes para um pré-operatório, porque teve uma pneumonia ou que teve um quadro de gripe e muitas vezes aparece uma mancha que começa a ser investigada. No pós-Covid também tivemos um grande aumento, pois as pessoas passaram a fazer mais tomografias, principalmente aqueles que tiveram coronavírus. Então muitas vezes esses diagnósticos aconteceram de uma forma incidental. Apesar de que no nosso país o tabagismo teve uma redução muito drástica há alguns anos atrás com as campanhas que tivemos de combate ao tabagismo, o que vem crescendo hoje é o uso de cigarro eletrônico. O estilo de vida, os hábitos, exposição ao tabagismo, ao estresse, ao sedentarismo também são fatores que contribuem nesta maior incidência.

 

O cigarro eletrônico e outros produtos do tipo também podem influenciar no crescimento de casos e óbitos por câncer de pulmão? 
É bem possível que influencie no aumento de câncer de pulmão. Ainda é cedo para gente calcular. Tem poucos anos que os cigarros eletrônicos são utilizados em nosso país, então para a gente ter um impacto no aumento desses índices será em alguns anos próximos, caso a situação continue progressiva como vem acontecendo. Porém acreditamos que, na grande maioria das vezes, o crescimento dessa incidência, talvez mais seja pela procura e pela facilidade de detecção da doença. Em algumas situações, o câncer de pulmão, ainda tem um agravante, pois é uma doença que, em algumas situações, não tem sintomas logo no estágio inicial. Depende muito da localização do tumor para poder provocar uma tosse, uma falta de ar. Apesar de todos os exames disponíveis que a gente tem hoje, só conseguimos detectar no estágio 4 da doença, que chamamos tecnicamente de localmente avançada ou uma doença avançada. Essa fase acontece quando passa a não ser possível de ser operada ou ela já dá metástase, que são raízes para os outros principais órgãos. 

 

Quais são as principais consequências e danos causados pelo câncer de pulmão? 
Os sintomas debilitam muito o paciente. Um paciente quando está no estágio 4, provavelmente ele já está bem debilitado e mais consumido, pois existe um consumo da doença. A depender do sítio de metástase, ele pode perder peso também ou ter uma metástase para coluna ou ficar paraplégico. São situações que podem acontecer. Então tudo depende muito de como esse paciente chega para nós. Hoje nós estamos melhorando muito não só no diagnóstico, mas também na terapêutica do câncer de pulmão. Se formos avaliar alguns anos atrás, tínhamos o índice de mortalidade altíssima. Continuamos tendo, já que o câncer de pulmão é o mais letal. No entanto, com o advento de novas drogas que a gente chama drogas alvo ou monoterapia, conseguimos ter pacientes com uma estimativa de vida maior, de mais anos de vida, que é algo avançado, já que não existia em alguns anos atrás. 

 

 

Quando é recomendado que a população procure por tomografias, exames e procedimentos para identificar um possível câncer de pulmão? 
Normalmente a gente orienta pacientes tabagistas e ex-tabagistas, que precisam de um acompanhamento com pneumologista. O que indicamos é a tomografia com baixa dose de radiação, pois utilizamos uma quantidade de radiação menor, para que esses pacientes possam fazer tomografias de forma regular e detectar a doença de forma mais precoce. A chance de um paciente tabagista ter câncer é maior do que a de um paciente não tabagista. Só que temos visto pacientes também não tabagistas que nunca fumaram serem diagnosticados com câncer de pulmão. Indicamos acompanhamento médico e tomografias de baixa dose também para pessoas tabagistas com uma carga tabágica, maior que 20 maços ano, que é um cálculo que é feito com número de maços de cigarro e a quantidade de tempo que o paciente fuma. Essas pessoas podem procurar o acompanhamento de um pneumologista que ele vai saber indicar. 

 

Os vapes e cigarros eletrônicos podem viciar? Podem causar câncer de pulmão? É possível encontrar nicotina nesses cigarros eletrônicos?
É possível [viciar] sim e ainda tem um agravante, pois o vape de uma forma ou de outra, é um cigarro que é possível fumar sem incomodar ninguém. A lei antitabagismo impede a população de fumar cigarro em lugares públicos, mas não impede que o cigarro eletrônico seja fumado em qualquer momento, em qualquer lugar. Isso de uma forma faz com que a pessoa reduza a quantidade de cigarros fumados, pois dentro de um evento que alguém esteja, por exemplo, ela não vai ficar saindo para fumar a todo instante. Já o vape não, ninguém precisa se levantar de uma mesa para fumar. Então essa essa incidência, esse tempo que você fica à disposição ao vape é muito maior do que com o cigarro comum. Então, por isso que a gente acredita que o cigarro eletrônico vicia mais e tem uma tendência maior, uma dependência. Fora que ele ainda tem sabores diferentes, então você não se incomoda. 

 

A Anvisa tem discutido muito sobre a regulamentação do comércio do cigarro eletrônico. Como vocês enxergam essa possível norma? Qual o posicionamento dos especialistas sobre isso? 
Estamos combatendo. A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica e a Sociedade Brasileira de Pneumologia junto com o Conselho Regional estamos tentando frente a Anvisa diminuir as possibilidades, mostrando que é preciso barrar a comercialização e a autorização do vape. Uma outra coisa que a gente vem se preocupando muito é que o cigarro eletrônico já está no país, ele entra por meios de formas ilícitas e já está no país, e o pior ele está dentro das escola. Então as sociedades vêm se mobilizando, principalmente nessa questão da conscientização. Pais e alunos, com campanhas dentro das escolas, então isso aí é um dos fatores que nós temos buscado e sempre há um tempo atrás o Agosto Branco não era assim tão forte a exemplo do Outubro Rosa, Novembro Azul, mas veio crescendo, principalmente depois do uso dos cigarros eletrônicos.

 

Quais os danos e problemas de saúde que os jovens podem ter utilizando o cigarro eletrônico? Eles podem desenvolver câncer de pulmão? 
Está crescendo bastante o número de casos de câncer de pulmão em não tabagistas. Muitas vezes a gente pega pacientes jovens de 28 ou 29 anos. Avaliamos mutações dentro desses tumores. Então ninguém sabe quem tem mutação. Ninguém faz testes para saber se tem mutações, se tem histórico familiar. Um jovem pode sim desenvolver de uma forma precoce e não precisa fumar anos para desenvolver [câncer], por mais que tenham um ou dois anos usando cigarro eletrônico, se ele tiver a mutação para o cigarro, ele pode ter este fator externo, que vai ser um estopim para desencadear aquela célula que pode se transformar em uma célula maligna e começar a proliferar e aparecer o câncer. Por isso que a gente tenta o máximo possível evitar que os jovens se exponham a esse tipo de fator externo que no caso é o cigarro eletrônico. Então é raro raro mas pode acontecer.

 

Quais os pacientes que são mais diagnosticados com câncer de pulmão? Homens ou mulheres e de qual faixa etária? 
Se a gente for avaliar os índices do INCA, o câncer de pulmão é mais comum no homem, porém ele vem crescendo muito também nas mulheres. Isso já é algo que já vem acontecendo há um certo tempo. Quando a mulher começou a fumar ficou mais equiparado. Porém acontece mais em homens, na grande maioria das vezes ainda maior em tabagistas Dentro do nosso cenário aqui da Bahia, está aumentando o número de câncer, principalmente em pessoas com mais de 40 a 50 anos. As mulheres vem se acrescentando também, mas comparativamente com o resto do país, a gente ainda tem índices baixos, principalmente em comparação com Sul e Sudeste, onde a população fuma mais. 

 

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