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Entrevista

Especialista rechaça críticas à prática ortomolecular: ‘fazem parte da ignorância’

Por Renata Farias

Foto: Divulgação
Como parte dos tratamentos para uma série de problemas, a prática ortomolecular propõe mudança de hábitos de vida e suplementação nutricional. No entanto, a técnica é criticada por muitos profissionais, sendo classificada até como placebo por alguns. Pioneiro na prática ortomolecular no Brasil, o médico paulistano Efrain Olszewer afirmou que comentários similares estão ligados a ignorância, já que são necessárias bases bem fundamentadas para promoção de uma discussão científica. "Tem muita ciência por trás da prática e está tudo referenciado em trabalhos científicos. Está tudo na literatura e é só procurar", argumentou. O especialista esteve em Salvador no último final de semana para ministrar o workshop Prática Clínica Ortomolecular. De acordo com Olszewer, a prática tem como principal benefício a ausência de efeitos colaterais, com tempo de recuperação similar ao de tratamentos convencionais. "A prática ortomolecular vai perceber as alterações bioquímicas que aconteceram no organismo para levar o paciente a ter essa dor. Nós utilizamos remédios com doses muito menores, menos efeitos colaterais e maximizando os benefícios ao paciente", explicou. A prática ortomolecular pode ser usada, segundo o médico, no tratamento de quase todas as doenças degenerativas crônicas existentes atualmente, além de tratar também problemas psiquiátricos como transtorno de ansiedade e depressão.

Quais são as bases da medicina ortomolecular?

Basicamente, a medicina ortomolecular hoje é denominada no Brasil como prática ortomolecular. É reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina e tem várias resoluções. Orto quer dizer muito e molecular, moléculas. Quer dizer que o organismo está formado por trilhões de moléculas. Quando essas moléculas estão em equilíbrio, você tem saúde. Quando não estão em equilíbrio, você tem a doenças. A prática ortomolecular é praticamente igual à clínica médica. O diagnóstico, o questionário, os exames de laboratório... O diferencial maior talvez seja na parte do tratamento. A gente usa os remédios convencionais em concentrações muito menores e complementa o tratamento do paciente com nutrientes, que podem ser vitaminas, minerais, ácidos graxos, proteínas, aminoácidos e outros disponíveis no mercado farmacêutico.
 
Quais são os problemas que podem ser tratados com a prática ortomolecular?
Como a prática ortomolecular anda de forma paralela com a clínica médica, ela ode atender quase todas as doenças degenerativas crônicas que existem no mercado. Só para te dar um exemplo, pacientes que têm artrose, aterosclerose, formação de placas de gorduras nas paredes das artérias, desgaste na cartilagem, ou pacientes que tenham processos inflamatórios, como artrite reumatoide. Eu diria que, em termos práticos, a ortomolecular é uma clínica médica que faz uso de suplementos nutricionais no tratamento das doenças.
 
Com o uso reduzido de medicamentos, o paciente tem os mesmos resultados quando comparado a outros tipos de tratamentos?
Nós usamos medicamentos porque o medicamento é o melhor tratamento para o problema agudo do paciente. A prática ortomolecular vai perceber as alterações bioquímicas que aconteceram no organismo para levar o paciente a ter essa dor. Nós utilizamos remédios com doses muito menores, menos efeitos colaterais e maximizando os benefícios ao paciente. O resultado final é igual a qualquer outro tipo de tratamento.
 
É necessário um tempo maior de tratamento, já que são utilizadas doses menores dos medicamentos?
O tempo é exatamente igual ao de qualquer terapia convencionalmente estabelecida, porque na fase aguda da doença, por exemplo, um paciente com artrite reumatoide vai ser tratado com medicamentos e suplementos. Você vai usar uma dose menor dos remédios, mas vai utilizar uma série de suplementos que servem para modular bioquimicamente o processo inflamatório do paciente. Em termos de evolução, é bastante similar, com a vantagem de apresentar menos efeitos colaterais. Você pode utilizar a suplementação por um longo período de tempo sem apresentar efeitos colaterais.
 
Além da ausência de efeitos colaterais, há alguma outra vantagem para os pacientes?
Digamos que ausência de efeitos colaterais já é uma grande vantagem, já que outros tratamentos você tem que usar por períodos controlados de tempo. E a maior parte dessas doenças não tem cura. São doenças que, uma vez diagnosticadas, você terá que tratar pelo resto da vida. Um paciente que tem diabetes, por exemplo, termina piorando o processo evolutivo da diabetes.  É possível tomar muito menos remédio e usar a suplementação necessária. O mais importante inclusive para pacientes com diabetes é um dos grandes avanços que a prática ortomolecular permitiu nos conceitos convencionais é conseguir diagnosticar 100% dos pacientes que teriam diabetes tipo 2 amanhã. Com isso, é possível fazer todos os procedimentos para que esse paciente não tenha diabetes.
 
Muitos médicos criticam a prática ortomolecular comparando inclusive a placebo. Qual a opinião do senhor sobre esse tipo de visão?
Eu acho que quando a crítica é bem fundamentada, é motivo de discussão. As críticas baratas, como essa que compara com placebo, fazem parte de um conceito chamado ignorância. No lugar de falar “eu não sei do que se trata”, a pessoa faz uma crítica barata comparando com placebo. Aproveito e faço um convite para discutir placebo ciência. Essa é a única forma que se discute ciência. Quando você define ciência dessa forma, está mostrando que não conhece o assunto. E aceito isso porque sei que a maior parte dos colegas tem uma certa dificuldade para continuar estudando. Aprendem um paradigma e repetem esse paradigma com todos os pacientes. De repente, esse paciente está mal e vai procurar um médico ortomolecular e se dá bem, aí eles dizem que é o efeito placebo. Só que tem muita ciência por trás da prática e está tudo referenciado em trabalhos científicos. Está tudo na literatura e é só procurar na internet. Está tudo disponível, não precisa nem ir à biblioteca. Assim como estamos disponíveis para esclarecer a todos os que tiverem dúvidas.
 
A prática ortomolecular já é utilizada também para tratamento de transtornos psiquiátricos, como síndrome do pânico. Como funciona isso?
A síndrome do pânico tem várias causas que podem condicionar o paciente. A síndrome de pânico é quando o paciente, por alguma razão alheia à vontade dele, apresenta um estado de temor constante. Na maior parte das vezes, vem associado a um aumento da frequência cardíaca, uma sensação de pressão no peito e no pescoço e até uma alteração comumente denominada de prolapso de válvula mitral. Esses pacientes têm uma forte resposta de um neurotransmissor chamado dopamina. É necessário controlar a dopamina através de substâncias que aumentem um outro componente do organismo que acalma, denominado Gaba (ácido gama-aminobutírico). Os mecanismos que o tratamento ortomolecular usa nesses casos servem para controlar o excesso de emoção ou de temor do paciente e, por outro lado, aumentar os níveis de Gaba para que o paciente encontre o estado de paz e tranquilidade.
 
O tratamento ortomolecular pode ser usado para quais outros problemas psiquiátricos?
Inclusive psiquiátricos para pacientes que têm transtornos de depressão, transtornos de angústia e ansiedade. Claro que pode ser usado na maior parte das neuroses que existem no mercado. Normalmente se utiliza psicotrópicos, que têm uma série de efeitos colaterais, sem contabilizar que muitos deles engordam e criam dependência química e psicológica. Esses mesmos produtos podem ser utilizados em doses muito menores para maximizar os benefícios e minimizar os efeitos colaterais.
 
Há alguma restrição para o tratamento ortomolecular ou é possível para qualquer pessoa?
Falar qualquer pessoa é demasiado genérico, e a medicina não é genérica. Eu sou da opinião de que a prática ortomolecular beneficia quem tem alterações na saúde. O paciente que é saudável, se alimenta bem, faz atividades físicas, não fuma, não bebe, não tem estresse – o que é difícil hoje – não precisa de nenhum aporte. Agora os pacientes que têm um nível elevado de estresse, que são obesos, sedentários, que fumam, bebem e ainda não têm doença podem eventualmente se beneficiar com mudanças de hábitos e costumes e de uma eventual suplementação. Agora aqueles pacientes que já têm doenças, que já ultrapassaram todas as possibilidades conhecidas dentro dos conceitos de tratamento convencional e não se beneficiaram, com certeza vão encontrar um caminho dentro da ortomolecular, a não ser que seja completamente irreversível. Já os pacientes que estão na fase inicial das doenças e querem minimizar os efeitos colaterais, vão se beneficiar com a prática ortomolecular.

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