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Marca Bahia Notícias Saúde

Entrevista

Médico de Pablo e Cigano, Gabriel Almeida fala como prega e mantém uma vida saudável

Por Lucas Cunha / Bruno Luiz | Fotos: Virgínia Andrade

Dr. Gabriel Almeida | Foto: Virgínia Andrade / Bahia Notícias
Antes de ser o responsável pela mudança corporal de artistas como Pablo e pela alta performance de atletas como Júnior Cigano, o médico baiano Gabriel Almeida, que hoje ostenta uma boa forma, era, como mesmo relata, “um gordinho”. Após perceber que, aos 28 anos e com 1,69 metros de altura, pesava 94 kg e já estava em situação de obesidade, Almeida decidiu mudar de vida. Deixou os antigos hábitos alimentares de lado e a dura rotina de vida da sua profissão como cirurgião-geral, para adotar um estilo de vida que aliou exercícios físicos, dieta alimentar saudável e medicina, abandonando o antigo emprego para se dedicar ao trabalho com a prática molecular. Foi desta forma que, segundo ele, começou sua evolução e o fez se tornar a pessoa “que sou hoje”. Atualmente, Gabriel, além de adotar o estilo de vida saudável, prega isso aos seus clientes. Em entrevista ao Bahia Notícias, o “médico das celebridades baianas”, falou sobre os desafios de se coordenar mudanças muitas vezes completas nas pessoas, não aceitou a pecha de milagreiro e afirmou que tudo vem com dedicação.  “Eu sempre falo que não existe mágica. Existe dedicação. Você não consegue sem dedicação”, pontua. O médico critica também as chamadas dietas da moda e chama de irresponsáveis as pessoas que tentam dar dicas de saúde online. Almeida também faz um apelo: “Se tiverem dúvidas, não procurem o dr. Google, liguem para o seu médico e peçam esclarecimentos”.
 
Vimos que você, aos 28 anos, pesava 94 quilos. Você já estava nesse caminho com a prática ortomolecular? Como foi essa mudança para esse caminho mais saudável?
Sou cirurgião-geral de formação. Tinha uma vida digna de cirurgião-geral, que é plantão em cima de plantão, estresse, ter a vida do paciente sempre em suas mãos. E o que é que eu notei? Eu notei que me dedicava à medicina e acabava não me dedicando a mim mesmo. Foi quando quis mudar. Eu vi em outras áreas, como nutrição e educação física, pontos para conseguir mudar. Se a educação física pode me ajudar, a nutrição pode me ajudar, a medicina deve existir alguma coisa que pode me ajudar. Por que a gente pensa em medicina e a gente pensa doença? Na verdade, medicina não é isso, medicina pode ser prevenção. Eu tentava achar na medicina alguma área que linkasse essa parte de prevenção e qualidade de vida. Aí eu comecei a me dedicar a estudar prática molecular, que é uma prática reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina. Com ela, eu comecei a usar alguns subsídios para linkar nutrição, atividade física e medicina. Foi quando eu comecei minha evolução. Eu tinha 94 quilos, gordura no fígado em grau dois e era extremamente sedentário. Quando eu comecei a modificar esses parâmetros, eu comecei a perder peso, comecei a melhorar minha disposição, comecei a controlar algumas compulsões que eu tinha, como compulsão por doces, comecei a melhorar minha disposição para atividades físicas, meu sono, tudo melhorou. Comecei a ter um processo de mudança de estilo de vida. Com esse processo, me tornei quem sou hoje em termos de pessoa. Hoje não tenho mais gordura no fígado. Antes, tinha 34% de percentual de gordura no fígado. Eu era obeso grau um. Hoje sou atleta, pratico atividade física. Eu peguei toda essa minha experiência e a experiência da ortomolecular e apliquei aos meus pacientes.  O que aconteceu? Resultado semelhante. Mudança de estilo de vida, mudança de perfil corporal, surgindo novos indivíduos, como eu ressurgi. Hoje, com 35 anos, eu sou muito mais ativo, consigo trabalhar muito mais do que quando tinha 28 anos.
 
Teve algum ponto de virada, alguma coisa foi determinante para esse estalo de mudança?
Na verdade, foi o espelho. Quando você começa a engordar, você não percebe. Teve uma hora que eu olhei no espelho e comparei com uma foto minha anterior. Eu tomei um susto e falei: “Meu Deus do céu!”. Eu tenho um 1,69, quando subi na balança, 94 quilos. Eu disse ”Não”. A tendência era eu chegar aos três dígitos e quanto mais gordo você é, maior a chance de você se manter gordo. Eu gosto de dizer aos meus pacientes que nós, hoje em dia, somos feitos para sermos gordos, não só pela alimentação. Pare para analisar: há 15 mil anos o homem pré-histórico caçava, ficava muito tempo sem comer. Qual o ser que, pela evolução da espécie, sobreviveria? Os que guardassem energia. A evolução fez com que nos tornássemos os guardadores de energia. Só que hoje o alimento não falta e você sendo um guardador numa época que não falta alimento, você vai guardar energia como? Em forma de gordura. Outro parâmetro interessante. Quando eu era bem novinho, eu ia no cinema e comprava refrigerante de 300 ml. Hoje, você chega no cinema e um copo de 500 ml custa R$ 7,00. O de um litro custa R$ 8,00. Você acaba comprando o de um litro. Tudo está nessa proporção. A tendência é o indivíduo começar a engordar.
 
Como se deu a questão de você usar sua imagem a seu favor como uma forma de dizer que prega aquilo, mas que também pratica? Você faz muito isso em seu Instagram? 
Eu comecei a utilizar isso há uns dois anos. Acho interessante que meus pacientes dizem “Dr. Gabriel, tô muito feliz! Posso postar em seu Instagram?”. Me homenageia lá, me dê seus parabéns. Então, vamos lá. Nós dois vamos ganhar. Todo mundo vai ver seu exemplo e vai querer seguir e, para mim, vai ser perfeito, pois não existe melhor do que o paciente chegar para você e dizer que você mudou a vida dele. São pacientes teoricamente saudáveis que chegam ao escritório, que chegariam em qualquer médico e o médico perguntaria assim para ele: “Qual é o seu problema?”. Ele diria que não tem problema algum, que só queria melhorar, e o médico diria: “Volte só quando você estiver com alguma coisa”. Eu não lido com a doença em si. Claro que a obesidade é uma doença, mas o fato de você pegar uma pessoa já saudável e deixá-la ainda melhor, para mim, é perfeito. Por isso, comecei a utilizar o Instagram e o que eu faço: quando chega fim de semana, escrevo as quatro postagens que vou fazer na semana, tem um rapaz que trabalha a imagem e eu posto no Instagram. 
 
Você abandonou a carreira como cirurgião-geral para se dedicar à prática molecular?
Totalmente. Eu não me identificava tanto com a cirurgia-geral, eu me identificava mais com o estilo de vida que tenho hoje. Não é à toa que eu vivo o que prego. Eu acho muito contraditório você chegar em um profissional e o profissional pregar uma coisa e viver outra. É a mesma coisa de você ir a um pneumologista e ele dizer para você não fumar. Quando o paciente sai do consultório, ele pega um cigarro e fuma. Não dá! Por isso, acho que o profissional deve seguir o que prega. Uma vez falaram com relação ao educador físico. Muita gente fala que ele deve ser malhado, deve ter um corpo escultural. Eu não acho isso tão verdade, pois muitas pessoas têm patologias que impeçam isso. Eu acho que o educador físico deve praticar atividade física, que o nutricionista deve seguir uma dieta saudável. É o que prego.
 
 
Nós recentemente fizemos uma entrevista sobre a dieta paleo. Em uma entrevista, você criticou as “chamadas dietas do momento”, e a paleo está em uma espécie de hype do momento. O que é que você acha da dieta paleo e dessas dietas milagrosas, já que seu trabalho não é o de passar uma dieta, mas o de mudança de pensamento? 
Para todos os pacientes eu digo que dieta deve ser prescrita pelo nutricionista, não pelo médico. O treino deve ser prescrito e avaliado pelo educador físico, cada um em sua área. Já a dieta paleo eu não chamaria de dieta da moda. A dieta paleo é uma dieta saudável, na qual você não tem o açúcar, com um consumo de proteínas de alto valor biológico, não é uma dieta da moda. Dieta da moda que eu falo é a “dieta da Lua”. Ah, aumente a quantidade de água que bebe para depois diminuir. Aumente a quantidade de sopa na refeição. Ah, isso não existe! O paciente vai perder peso, mas ele perde massa muscular. Você perder peso e gordura são coisas completamente diferentes, pois você pode estar perdendo peso e engordando ao mesmo tempo. Um exemplo clássico: você tem noventa quilos, tem cinquenta de músculos e quarenta de gordura. Você perde dez quilos de massa muscular. O que aconteceu? Seu percentual de gordura aumentou, pois, proporcionalmente ao seu peso, você tem mais gordura. Ou seja, você perdeu peso e engordou. Você pode ganhar peso emagrecendo. Por exemplo, eu tenho 75 kg e aumento para 80 kg. Eu ganhei cinco quilos, mas ganhei oito de massa magra e perdi três de gordura. Essas dietas milagrosas não funcionam. Podem funcionar por um curto período de tempo, você vai perder massa muscular, mas quando você perde massa muscular, você fere a principal base do seu metabolismo: a taxa metabólica basal. Imagine que você tem 70 quilos e 50 de músculos. Sua taxa metabólica basal é 1.400 calorias. Se você come mais que isso, você engorda, com 1.400 você mantem no peso, abaixo disso você emagrece. Se você perde peso de músculos, sua taxa cai para 1.200. Antes, com 1.400, você estava empatando. Agora, você está engordando. Por isso que a massa muscular é importante e a perda de peso através da muscular, na balança, você vai estar mais leve, mas vai ter o efeito sanfona. Sou contra dietas da moda. 
 
Nós vimos em seu Instagram que você tem clientes bem famosos. Você tem desde músicos, como o Pablo, até atletas, como o Júnior Cigano. São pessoas que precisam de uma alimentação muito voltada para seu estilo de vida. O Cigano é um atleta de altíssima performance. Já o Pablo tem um período grande de shows e foi uma pessoa que teve uma mudança muito recente no físico, muito comentada até. Como é o trabalho com clientes que têm necessidades tão diferentes?
É bem diferente. O atleta de alta performance precisa de uma dieta adequada. Eu não consigo fazer um campeão. Só que um campeão pode perder uma luta por causa de uma alimentação e suplementação inadequada. O que eu faço é ajudar o atleta a ter um rendimento melhor na luta. Neles, você precisa de uma dieta mais apertada. Uma dieta com alta quantidade de carboidratos. Se eu reduzir demais, o atleta quebra. Já com os cantores, é mais complicado. O Pablo tem shows todo dia para fazer. Ele chegou para mim dizendo que queria ganhar massa muscular, pois tava se achando muito fraquinho. Eu perguntei se ele comia direito, ele dizia que não, se ele treinava e ele dizia que não. Pablo é um caso de muita disciplina. Se alimentava direito todos os dias, tinha a suplementação toda em dia. Desse jeito, ficou até mais fácil. Mas não é fácil. Dieta é questão de logística, você tem que se programar. Eu mesmo programo minha alimentação toda noite. Se eu deixar para preparar de manhã, vou sair na correria e não vai dar tempo. Os artistas têm uma grande dificuldade por conta da agenda. O lutador precisa daquilo, pois aquilo vai repercutir diretamente na performance dele.
 
Muitos devem chegar lá achando que você deve fazer mágica, que você vai dar a fórmula para ele ficar magro. Mas fica muito claro que é uma questão de mudança de estilo de vida. Como é o trabalho de convencimento dos diversos clientes para conseguir essa transformação, para fazer com que os clientes entendam que você é muito mais um condutor de todo o processo?
Eu sempre falo que não existe mágica. Existe dedicação. Você não consegue sem dedicação. Logo no início de minha transformação, eu fui a um profissional e disse que queria aumentar massa muscular, não queria ficar muito forte, mas ter um abdômen definido. Ele disse: “Não dá. Você tem genética de gordo, nasceu para ser gordo”. Só que isso me desafiou e eu falei que ia conseguir. Muitos pacientes consegue mudanças significativa, só que tem paciente que chega bem gordo, com obesidade grau 1, grau 2, e dizendo que emagrecer em dois meses e ficar com abdômen definido. Isso é impossível. Nem com cirurgia você consegue. Você pode conseguir, mas isso demora. Algumas pacientes, principalmente mulheres, chegam no consultório dizendo que querem ter o corpo de uma Juju Salimeni. Poxa, para ter aquele corpo ali foram dez anos de muita dedicação. É impossível transformar uma pessoa assim em dois meses. Se uma pessoa se dedicar da mesma forma que ela, ainda corre o risco de ela não ficar igual, pois têm as limitações genéticas. Tem que ter dedicação. Você muda, mas não é uma mudança imediatista.
 

 
Muitas celebridades têm sido criticadas nas redes sociais por pessoas que enxergam um excesso delas na busca pelo corpo perfeito, como Gracyanne Barbosa, Paula Magalhães, Luciana Gimenez. Você, que trabalha com celebridades locais e nacionais, como vê esse excesso na busca pelo corpo saudável. Como você lida isso com seus clientes?
É aí que eu tenho de estar lá para dizer: “tá bom”. Tá bom aí, vamos trabalhar nisso. Eu tenho que orientar. Eu sou aquele que vai limitar. Não vamos aumentar mais, não vamos emagrecer mais. Eu tenho que alertar, tenho que ter esse feeling, pois o paciente se perde. Alguns têm até patologias, como a anorexia. Gente que teria ter o mesmo peso que tinha quando tinha 10 anos de idade. Se for de forma saudável, eu deixo o paciente chegar no objetivo dele. No caso de Gracyanne, é péssimo para imagem dela estar magra. Ela gosta daquela imagem, daquele corpo. Então, a gente tem que deixar. Contanto que seja saudável.
 
No seu Instagram, você dá algumas dicas alimentares. Você recebe críticas por conta disso? A Bela Gil, por exemplo, foi muito criticada, pois analisam que ela se excede nestas dicas. Que preocupações você tem ao dar essas dicas, para que não se exceda?
Eu dou uma dica de alimento saudável e explico. O paciente chega: “Doutor, qual a quantidade que tenho de usar por dia?”. Eu respondo que isso precisa ser avaliado. Não existe uma receita de bolo. E eu coloco com referência, de onde vem o estudo que diz aquilo. Eu procuro sempre aconselhar para que as pessoas procurem um médico.
 
Você acha que as pessoas que se utilizam de sua formação para dar essas dicas atuam de forma irresponsável?
Sim. É muito complicado você indicar doses e um tratamento para uma pessoa que você nunca viu. Primeiro que isso não pode. É crime. Você não pode fazer consultas, receitar online. Muitos pessoas de outros estados me perguntam  como é que faz para ter uma consulta comigo. Eu digo que ela tem que vir até Salvador. Não existe consulta por videoconferência, por Skype. A consulta com o médico tem que ser presencial. Quem faz de forma diferente, faz errado. Não é indicado e, pelo conselho, não é liberado.
 

 
Além de Pablo e Júnior Cigano, existem outros casos de celebridades que foram seus clientes e de que você se orgulha, algo que sirva de exemplo?
Tem o caso do Júnior, de Brumado. Eu consegui fazer com que ele saísse dos 166 quilos, para abaixo dos 90. É um paciente de que me orgulho. Ele perdeu isso em menos de um ano. É um paciente que eu tirei da cirurgia bariátrica. Você perder peso de forma natural é fantástico. É um paciente ímpar, um caso que até hoje me emociona. 
 
E políticos? Tem alguém que tenha te procurado para buscar essa mudança de estilo de vida?
Ah, tem o meu amigo Cacá Leão (deputado federal pelo PP-BA). Quando começou o tratamento, ele tinha 99 quilos, chegamos a 71 quilos. Ele chegou pedindo emagrecimento. Ele foi muito disciplinado, muito bom em seguir minha dieta. É um paciente de que me orgulho demais.
 
Qual a dica que você deixa para as pessoas que buscam o emagrecimento e mudança para um estilo mais saudável de vida?
O ideal é você procurar uma ajuda médica, não seguir dica de sites, de blogs. Muitas vezes, são dicas de pessoas que nem são na área médica. Muito cuidado com a internet. Procurem sempre o médico. Se tiverem dúvidas, não procurem o dr. Google, liguem para o seu médico e peçam esclarecimentos.

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