Caso Amendoim: quando o sorriso esconde a dor da alma!
Piadas, descontração, explosões de alegria. A atualidade pede ostentação, festas, sorriso vibrante, mas que logo podem desaparecer depois dos primeiros flashes e postagens nas redes sociais. O mundo virou um local em que as pessoas podem se mostrar, se fantasiar, dissimular e, o pior, esconder a dor que corrói a própria alma. É neste aspecto que vamos falar de profissionais humoristas e influencers como o Amendoim, mas também do Marcos, do Matheus, da Maria, da Ana, do Valdomiro... anônimos que não tiveram suas trágicas históricas divulgadas pelos veículos de comunicação.
Sobre o Amendoim, sabíamos da alegria contagiante, das piadas bem arranjadas. Parecia cercado por amigos, celebridades, luxos e outros influenciadores. Mas, nos últimos dias, os noticiários destacaram que a alegria mostrada no celular parecia ser fake. A verdade é que muitos indivíduos que ocupam hoje ótimas posições sociais, muitas vezes, escondem uma realidade dolorosa por trás de seus sorrisos. São aqueles que possuem a chamada "depressão sorridente", pessoas que, apesar de enfrentarem a depressão, se esforçam para manter uma aparência de força e alegria, especialmente em ambientes de trabalho e nas redes sociais. Ou seja, diariamente vestem a máscara!
A "depressão sorridente" é um subtipo de depressão atípica, em que as pessoas podem ter momentos de bom humor, mas logo se sentem deprimidas. Elas tendem a sofrer com críticas e rejeição, magoam-se facilmente e podem ter alterações no sono e no apetite. Para profissionais que ocupam cargos estratégicos e sentem-se pressionados a atender às expectativas do público, devem estar atentos à sua saúde mental. No caso do Amendoim, é relatado que ele também geria um negócio e estava sendo visto, aplaudido e muitas, mas muitas vezes, criticado. Pois, assim é a internet. É um mundo em que as pessoas não se mostram, se escondem através dos seus IGs e usam e abusam do psicológico das pessoas.
Nas redes sociais, a "felicidade fake" muitas vezes contribui para uma imagem irreal de sucesso profissional e emocional. A busca constante pela imagem idealizada leva a um distanciamento do eu real, um vazio existencial e, em alguns casos, quadros depressivos. A pressão social e o uso de substâncias para aliviar o vazio emocional estão contribuindo para o aumento de problemas de saúde mental. Nas posições de liderança, a pressão de ser um exemplo de apoiar os outros e de manter a produtividade é intensa. Muitos líderes e gestores sentem que precisam ocultar suas próprias lutas emocionais para não parecerem fracos ou ineficazes.
Neste sentido, as organizações desempenham um papel fundamental em criar um ambiente onde as pessoas que possuem a "depressão sorridente" não precisam esconder sua dor. Aliás, antes disso, é importante desmistificar a vulnerabilidade, natural da nossa essência, como fraqueza. Elas devem garantir um programa de atenção estruturado em saúde mental no trabalho que contemple capacitação de toda equipe de profissionais, considerando alguns eixos como liderança saudável, segurança psicológica, saúde mental e gestão emocional ou letramento emocional. Além disso, ter equipe preparada para acolher e direcionar os profissionais que se percebam em algum nível de sofrimento.
Alguns sinais de que alguém pode estar sofrendo de depressão sorridente incluem: esforço excessivo para parecer feliz ou positivo; alterações de humor repentinas; tendência a se isolar; falta de interesse em atividades que antes eram prazerosas; alterações no sono ou no apetite; dificuldade de concentração e pensamentos negativos ou destrutivos.
Se você acha que alguém que conhece pode estar sofrendo de depressão sorridente, aqui estão algumas dicas de como oferecer apoio:
• Ofereça seu ouvido. Muitas vezes, o que as pessoas mais precisam é de alguém que as escute com empatia e compreensão.
• Não julgue. É importante lembrar que a depressão é uma doença real e que não é culpa da pessoa.
• Incentive a pessoa a buscar ajuda profissional. Ofereça-se para encontrar um profissional de saúde mental.
É hora de lembrarmos que por trás de um sorriso pode haver dor. É tempo de vigilância e do autocuidado. Quando superamos a depressão, o sorriso pode voltar a ser verdadeiro!
*Ana Paula Teixeira é médica do Trabalho, especialista em Medicina do Trabalho com atuação em Saúde Mental no Trabalho, Bem-Estar e Resiliência Corporativa | CRM-BA 12797 RQE 7237
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