Izamar Reis, secretário de Meio Ambiente e Turismo de Sento Sé
Desde abril passado, não se fala outra coisa em Sento Sé, no Sertão do São Francisco, do que o garimpo de ametistas da Serra da Quixaba. A 54 km da sede do município, a mina já levou milhares de pessoas ao local, com o sonho de mudar de vida. No entanto, o garimpo é considerado ilegal pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Em entrevista ao Bahia Notícias, o secretário de meio ambiente e turismo municipal, Izamar Reis, disse que área deve ser liberada pelo DNPM até o final do ano. Enquanto a certificação não vem, a cidade deixa de arrecadar em torno de R$ 3 milhões por mês, quantia que poderia ser usada para investimentos públicos. Ainda assim, Reis estima que cerca de 800 moradores já conseguiram trabalho a partir do garimpo. Já para quem vem de fora ou não é do ramo, o secretário adverte que a fase de “empolgação momentânea” passou e só permanece na lida o “garimpeiro nato” e o “aventureiro que conseguiu produzir”. “As últimas notícias do garimpo, e eu já presenciei o fato também, é que várias caminhões, e muitos pessoas, já estão indo embora”, afirmou. Leia abaixo a entrevista na íntegra:
Foto: Tâmara Tárcia
Como anda a regularização do garimpo de ametistas? O que avançou e o que não evoluiu até agora?
Olha, já existe uma cooperativa já formada dentro do município a Ascomix (Cooperativa de mineração de Sento Sé). Inclusive, a presidenta da cooperativa esteve na última semana em Salvador para cadastrar essa cooperativa no DNPM.
Nós entramos em contato com o DNPM e eles afirmam que o garimpo ainda é considerado ilegal.
Sim, o garimpo é ilegal. Houve uma audiência pública no dia 16 de agosto, convocada pelo Ministério Público. A recomendação foi de que as cooperativas que fossem requerer a área agilizassem o trabalho. O garimpo continua ilegal, mas várias pessoas continuam explorando a área. E, na verdade, mesmo o garimpo funcionando dessa maneira, o fato é que deu uma melhorada na cidade. Muitas pessoas de deixaram de ficar desocupadas e passaram a ter um ganho, uma renda.
O senhor acredita que a regularização deve ocorrer quando? É possível que neste ano ainda?
O DNPM, de Brasília, colocou que a área foi disponibilizada só para requerimento de cooperativas. E esse processo já está sendo feito. Até final de 2017, a gente regulariza a mina.
Foto: Tâmara Tárcia
Agora, com a regularização, qualquer pessoa vai poder trabalhar no garimpo?
A cooperativa é quem vai gerir a área. Então, para a pessoa trabalhar lá, ela vai ter que ser cooperada.
A descoberta da mina de ametistas fez a cidade vivenciar um “boom” na economia. Os preços de produtos e serviços chegaram a crescer de forma exagerada, com uma garrafa de 500 ml de água sendo vendida a R$ 10 na área do garimpo. Essa situação ainda continua?
Aquilo ali foi uma empolgação momentânea. Hoje, a gente já vê a normalidade nos preços, seja em aluguel, nos produtos do comércio, que já está com valores acessíveis. Mas a movimentação na cidade continua. Em relação à época da descoberta, o valor da pedra caiu. Na verdade, o valor voltou ao preço normal, com uma variação de R$ 100 a R$ 200. Sendo a pedra entupida, vendida por um preço mais baixo, e a desentupida, pelo valor mais alto. A entupida é aquela pedra que não foi lapidada, em que às vezes 50% do material é descartado. No caso da desentupida, é possível aproveitar 100% da pedra.
Foto: Tâmara Tárcia
Em relação às condições de acesso à Serra da Quixaba, onde estão as ametistas, já ocorreram melhorias? É mais fácil agora chegar até o garimpo?
A estrada que tinha foi melhorada. Os garimpeiros reivindicaram e a prefeitura deu uma melhorada no acesso. Hoje, se pode chegar até o local tranquilamente.
O senhor falou antes que a economia do município ficou fortalecida. Existe algum número sobre essa evolução econômica antes e depois das ametistas da Serra da Quixaba? Outra coisa: quanto o município já fatura e o que deixa de arrecadar por conta de o garimpo ainda ser ilegal?
De abril quando o garimpo foi aberto até final agora de agosto, nesses quatros meses, o município deixou de arrecadar mais de R$ 3 milhões por conta de o garimpo está ilegal. Mas mesmo assim, se movimenta em torno de uns R$ 2 milhões por mês. Esses R$ 2 milhões vem por venda de mercadorias, mão de obra, isso é informado por alguns garimpeiros e compradores de pedras.
Muita gente de fora já foi até Sento Sé para ganhar dinheiro com as pedras. E no caso da população local, boa parte dela foi beneficiada com o garimpo?
Na área próxima ao garimpo e distritos que ficam perto da mina, a gente já nota uma mudança satisfatória na melhora de vida. Na própria sede do município, a gente percebeu que ficava um vazio devido ao deslocamento das pessoas para o garimpo. Aqueles que não tinham serviço, iam lá para catar a isca, que é o descarte que os garimpeiros fazem, e isso dava uma diária boa para eles. Na prefeitura, a gente percebeu isso também. Não se vê mais as pessoas atrás da prefeita pedindo ajuda, como era antes. Diminuiu bastante isso.
Foto: Tâmara Tárcia
Mas o senhor tem informação de quantos deixaram de ficar desocupados com o surgimento do garimpo?
A gente calcula que cerca de 800 pessoas conseguiram ocupação. Essa quantidade é de moradores que foram para lá garimpar, gente que botou comércio, pessoas que foram catar os descartes.
Ainda há muita gente de fora que chega à cidade para garimpar?
As últimas notícias do garimpo, e eu já presenciei o fato também, é que várias caminhões, e muitos pessoas, já estão indo embora. Só está ficando o garimpeiro nato, além daqueles que vieram como aventureiros, mas conseguiram produzir. Esses continuam.
Essa foi a primeira jazida de ametistas encontrada no município?
Essa é a segunda. A primeira jazida de ametista encontrada em Sento Sé foi no distrito de Cabeluda, na década de 70. Mas já não funciona mais. Na época, tinha muita água e não tinha energia na época para auxiliar o trabalho.
Foto: Tâmara Tárcia
Com a provável regularização do garimpo, a prefeitura já tem uma previsão onde vai investir com a verba do dinheiro arrecadado? Quais são as grandes necessidades da população local?
A intenção do município é receber esse reforço e trabalhar no social. Trabalhar na área do garimpo, melhorar o acesso, construir um posto de saúde na região de Quixaba, onde uma área já foi disponibilizada. Já tem engenheiros trabalhando nesse projeto. Tem o problema do hospital daqui que é cheio. Tem a questão da segurança, enfim, esse recurso vai nos ajudar muito.