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Coluna

Governança e Desenvolvimento: Governança em empresas familiares - Chave para a sucessão e crescimento

Por Roberta Carneiro

Fotos: Mari Neto / Divulgação

Cuidar das empresas familiares é, em grande proporção, cuidar da economia brasileira. Basta analisar as maiores companhias do país para se ter noção do impacto dos grupos de perfil familiar na produção de riqueza e na geração de empregos. Só no nosso estado, das 17 empresas baianas na lista Exame Melhores e Maiores 2024, mais da metade é familiar. 


As companhias que têm membros de uma mesma família no seu controle e gestão apresentam vantagens e dificuldades em comum. Por um lado, costumam ter mais clareza sobre seus princípios e valores, visão de longo prazo e cuidado com seus públicos de interesse. Por outro, conduzir a sucessão, mantendo esses princípios ao longo dos anos e das mudanças de contexto e tecnologia, é uma questão sensível.

 

Sobrevivência

Um estudo do Banco Mundial mostrou que apenas 15% das empresas familiares sobrevivem a partir da terceira geração. Em outro levantamento, de 2024, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa revelou que a ausência de planejamento sucessório é o principal desafio dessas corporações. Questões familiares, decisões de herança e repartição societária entram nessa equação, assim como aspectos emocionais, disputas por poder e diferentes visões de mundo e de negócios.


Pense na pessoa que fundou uma companhia e prosperou. Seus filhos provavelmente a sucederão no comando. E, depois, os filhos dos filhos. Em três gerações, a organização inicialmente centralizada na figura fundadora vira uma “sociedade de primos”, na expressão do economista Daniel Augusto Motta.


Uma pesquisa da KPMG feita em 2023 com 100 empresas familiares brasileiras de médio e grande portes revelou que apenas 15% das lideranças atuais consideram a próxima geração da família preparada para participar da gestão da companhia. E, sobre os principais atributos para a escolha de sucessores, 59% dessas lideranças responderam “conhecimento do negócio e da empresa”, enquanto que “educação formal de qualidade” só foi mencionada por 25%. Ou seja, ser alguém “de dentro” parece importar mais do que a formação técnica.

 

Papel dos Consultores e Conselheiros
Mas, se o sucessor é escolhido internamente, trabalhar com pessoas “de fora” pode ajudar muito, não só no processo sucessório, como na própria gestão da companhia. 


Consultores e membros independentes nos Conselhos de Administração têm papel importante na governança da empresa. Eles servem de elo entre os interesses familiares, as estratégias empresariais e as demandas do mercado. Livres da carga emocional que interfere em determinadas decisões, atuam para a perenidade do negócio.


A engenheira Monika Conrads, experiente conselheira de empresas, pontua que, nas companhias jovens, o conselheiro "assume o papel de educador, ajudando a introduzir boas práticas sem desrespeitar a cultura da família. Em empresas já maduras, sua função é garantir que a governança continue evoluindo e que a empresa siga inovando sem  perder a essência.” 


Em relação à sucessão, ela defende que o conselheiro ajuda a família a entender que esse tema deve ser pensado com antecedência, de forma estruturada, para que os herdeiros se preparem para assumir papéis de liderança. Ou auxiliar na escolha de executivos externos que tenham alinhamento com os valores da família e com a cultura da organização.

 

Pequenas e médias

Sempre gosto de lembrar que governança não é assunto só para empresas familiares grandes. As pequenas e médias só têm a ganhar se implementarem estruturas, regras, processos e controles internos desde cedo. Isso colabora para profissionalizar a gestão, melhorar a tomada de decisões, atrair investimentos, ter acesso a mercados internacionais, aumentar a transparência, construir um bom clima organizacional, gerir riscos e fortalecer a reputação.


Em outras palavras, vão ganhar vantagens competitivas, com impacto positivo no crescimento sustentável e na perenidade da empresa, na geração de riqueza e de postos de trabalho e no desenvolvimento do país.

 

Roberta Carneiro é advogada especializada em Sistema de Integridade/Compliance, Governança Corporativa, Ética Empresarial, Diversidade & Inclusão (D&I) e sustentabilidade. Conselheira certificada em CCoAud+ IBGC. Sócia-fundadora da Consultoria Eticar. Atua como Conselheira de Administração, exercendo a função de membro independente, em Comitê de Auditoria, Comitê de Ética, Comitê de Risco, Comitê de Governança e Comitê ESG. Coordenadora da Comissão de Ética e Integridade do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) 2023-2024. Coordenadora-geral do IBGC Capítulo Bahia. Mestre em Direito, pós-graduada em Direito Público, com especializações em Compliance e Criminal Compliance. Especialista em Materialidade conforme as normas e padrões GRI 2021, IFRS e ODS, certificada internacionalmente pela Global Reporting Initiative (GRI) para Relato de Sustentabilidade.