Luis Ganem: Nem sempre arte é música e música é arte
É engraçado notar que muitas pessoas “acham” muitas coisas sobre a música baiana. No final das contas, poucas realmente param para olhar e ouvir mais, ao invés de falar e achar menos.
O interessante é que essa lógica deveria ser muito usada no nosso mercado musical – mas infelizmente não é. Não que com isso a crítica a um produto a se inserir no mercado não possa e não deva ser feita. Muito pelo contrário. Fazer essa crítica é importante para impulsionar curiosidades ou despertar do comodismo ou da inercia certos produtos musicais, “senhores” em sempre se achar acima de tudo e ou de todos.
Mas enfim, duas conversas tidas por mim há poucos dias me fizeram ver de forma mais ampla os pontos que podem ser apontados como verdades e os pontos que sempre devemos ponderar e refletir. Os fatos se deram, primeiro, assistindo a um(a) novo artista do nosso universo musical que faz do seu som e do seu show algo muito pessoal, e no qual percebi que, diferentemente do que pensam, existem pessoas já não tão preocupadas em ganhar dinheiro e sim, fazer arte.
E em outro momento, assistindo a um show de um já renomado artista que gosto muito e que já possui seu nome marcado na música nacional, percebi que já não tem importância primaria – pela forma como o show se dá – a ideia de se fazer um grande show comercial, mas sim de fazer arte, “cenotecnia” musical, de estabelecer para quem assiste um show com luzes, coreografia e tudo mais que cabe em um palco.
Agora, deixa eu explicar para não parecer que esses artistas “citados” desistiram de pagar a suas contas – já que fazem um show sem interesse comercial. Se você, leitor, conseguir perceber esse detalhe que percebi, verá que algumas pessoas se põem a vender sua arte, apenas a sua arte. Normalmente quando o artista começa a vida, ao longo dela o mesmo tem em mente uma visão mercantilista da coisa, se preocupando logo em começar a viver apenas do seu ofício. Ou seja: ganhar dinheiro.
Apenas com o passar dos anos, essa ideia do dinheiro começa a perder força. Lógico, se o artista já estiver consolidado. Mas a partir de então, ele começa a não se preocupar muito com as mudanças do panorama musical. Ele já não quer surfar na “onda do momento”, já se permite emitir opinião sincera sobre o que gosta de tocar e cantar, sem a preocupação de agradar a gregos e troianos, soteros e politanos.
Mas, infelizmente, nem todos podem fazer isso, pois viram escravos das suas escolhas e passam uma vida inteira se mal dizendo e amaldiçoando, como é o caso de certas estruturas carnavalescas que insistem em manter uma performance ultrapassada e chata.
Olha! – dirá um incauto – Carnaval desse ano tem muita coisa a comemorar, veja a coisa pelo lado positivo!!! E daí pergunto eu: Que lado positivo é esse? O lado de quem vive de datas para justificar eventos. Chega me arrepio quando ouço que vai “rolar um axé das antigas”. Nada contra, sou inclusive totalmente a favor de se reviver os sons da nossa música, mas desde que seja mesclado com as novas tendências, que exista espaço para a renovação, enfim... aquele mesmo papo chato de sempre.
Onde toda essa minha história chega afinal de contas? Na reflexão das opções que a vida nos impõe, e o preço que pagamos pelas mesmas. Pois se música é arte, o correto é a música pelo dinheiro ou a música pela arte? E no carnaval talvez vejamos muito isso; arte e sobrevivência misturadas mas em paralelo percorrendo a avenida.