A mente do jogador: psicóloga do Vitória explica trabalho realizado com atletas do clube
Por trás da vida idealizada do jogador de futebol e da realidade dos milhões que tentaram e não “chegaram lá”, está a mente de quem atua em alto nível, pressionado a entregar desempenho vestindo camisas pesadas da Série A do Campeonato Brasileiro.
No mês marcado pela campanha do Setembro Amarelo, o Bahia Notícias apresenta uma série de reportagens sobre saúde mental no esporte. Após abordar a vida e mente de atletas amadores e da terapia ocupacional, agora mergulhamos na psiquê dos jogadores de futebol — no país do futebol.
Em conversa com o BN Esportes, Maíra Ruas, psicóloga do Vitória desde 2024 e com nove clubes no currículo, detalhou tópicos da sua atividade no clube, revelando desafios da profissão e estratégias para lidar com a pressão dentro e fora de campo.
Com 22 anos de experiência no esporte, Maíra está em sua segunda passagem pelo Rubro-Negro — a primeira foi em 2013, ano do histórico 5° lugar na Série A. Ao longo da carreira, Ruas trabalhou em outros clubes de expressão, como Cruzeiro, Botafogo e Vasco, e seu trabalho envolve contato direto com os jogadores individualmente e coletivamente, sempre em sintonia com a comissão técnica.
Lucas Mattos e Maíra Ruas, psicólogos integrantes do Núcleo de Saúde e Performance do Vitória
Maíra faz parte de uma equipe que integra o Núcleo de Saúde e Performance do Vitória, coordenado por Rafael Daltro, e que também conta com Lucas Mattos, outro psicólogo do clube, focado na parte do treino cognitivo.
“Meus trabalhos são individuais e coletivos, sempre muito alinhados ao treinador, a quem está no comando. São atividades voltadas para a preparação mental dos atletas e também para desenvolver a consciência coletiva, capacitando-os para os campeonatos”, explicou.
A pressão no futebol brasileiro, no entanto, não vem apenas do apertado calendário ou dos difíceis adversários da elite nacional. Lidar com torcedores, inevitavelmente, também fazem parte dessa vivência.
No último dia 27 de agosto, jogadores do Vitória se reuniram com integrantes da organizada Os Imbatíveis, que cobraram melhores após um ano de expectativas frustadas nas Copa do Brasil, do Nordeste e Sul-Americana, e vice-campeonato baiano.
A semana mais difícil do ano rubro-negro veio após o chocante 8 a 0 contra o Flamengo, no Maracanã. Segundo Maíra, o péssimo resultado foi tratado buscando "transformar cobrança em aprendizado". Para a psicóloga, "a autocobrança, em execesso, é pior que cobranças externas".
“Não só neste episódio (a reunião com a TUI), mas toda a semana foi difícil. Nenhum jogador quer passar por isso, mas aconteceu, foi um dia ruim e veio a consequência. Pior do que a cobrança da torcida é a própria autocobrança, quando ela é em excesso. É preciso transformar isso em conhecimento, buscar caminhos e conseguir melhores resultados. Esse foi o foco do trabalho”, contou.
Foto: Victor Ferreira/EC Vitória
Agora lutando contra o rebaixamento e com Rodrigo Chagas como técnico, após demissões de Thiago Carpini e Fábio Carille, manter o equilíbrio emocional é tão importante quanto treinar fundamentos físicos ou táticos. Maíra contou que o acompanhamento psicológico oferece ferramentas para que os jogadores lidem com pressão, ansiedade e frustrações acumuladas.
“É validar o atleta como um ser humano, com demandas como qualquer outro profissional. Por isso, o acompanhamento individualizado e as atividades em grupo são fundamentais para superar os desafios, especialmente no Vitória, que luta para se manter na Série A. Precisamos muito da torcida unida. Esse equilíbrio mútuo é essencial”, destacou.
Apesar dos avanços e maior aceitação, a psicologia ainda encontra resistência em alguns clubes e jogadores. Com 22 anos na área, Maíra avalia que os clubes nunca estiveram tão atentos ao lado mental do jogo.
“Ainda existem clubes que não entendem a importância ou desconhecem a função do psicólogo, assim como a forma correta de escolher um profissional capacitado. Mas isso tem melhorado bastante e já vemos a maioria dos clubes se importando com a área”, avaliou.
Faltando "15 finais" até o fim da jornada do Vitória na Série A, o próximo compromisso rubro-negro será neste sábado (20), às 16h, contra o Fluminense, pela 24ª rodada do Brasileirão, em um Barradão lotado, com expectativa de cerca de 30 mil pessoas — imagine a pressão?
Abrindo a zona de rebaixamento, no 17° lugar, o Leão soma 22 pontos, um a mais que Vasco (15°) e Santos (16°). Hoje, o Vitória divide o Z4 com Juventude (21 pontos), Fortaleza (18) e Sport (11) e a busca para permanecer na Série A passa, também, por um forte poder mental.