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Entrevistas

Entrevista

No EI, André Henning começou a 'narrar' jogos aos 8 anos na Fonte Nova: ‘Baiano de coração’

Por Gabriel Rios

Foto: Reprodução / Instagram

Nascido em Guarulhos (SP), mas “baiano de coração”, o narrador André Henning conta sobre sua relação com a Bahia, onde viveu por 13 anos. “É para Salvador que eu vou sempre nas férias, para aniversários... Tenho a chance de ir para vários lugares, mas sempre vou a Salvador. Nasci em Guarulhos, mas é para Salvador que pretendo voltar”. Principal voz do Esporte Interativo, o jornalista estudou na Escola Pan Americana e no Colégio São Paulo. Colega de Vladimir Brichta e calouro de Wagner Moura, fez parte da turma de 1995.2 da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Sua primeira experiência com a área foi na Rádio Cidade, após conhecer Chico Kertész, mas foi no canal esportivo que se tornou referência no jornalismo. André bateu um papo com o Bahia Notícias e comentou o fim do Canal EI, a importância da Fonte Nova em sua carreira, lamentou não poder mais narrar a Copa do Nordeste e disse que não deve demorar para se aposentar.

 

Para começar, conte sobre a sua relação com a Bahia...

Eu não tive o privilégio de nascer em Salvador, mas me considero soteropolitano. Sou baiano de coração. Fui muito pequeno para a Bahia, com sete anos. Meu pai foi trabalhar na TV Aratu e fui junto com a família. Morei uns 13 anos entre idas e vindas. Aí [em Salvador] fiz meus grandes amigos que são até hoje. Minha formação como estudante e como profissional começou aí. Escola Pan Americana e depois no Colégio São Paulo, onde fiquei desde a 5ª série até o colegial. Foi lá que joguei basquete, que fiz grandes amigos. O Chico Kertész, ainda garoto, me indicou para rádio, pois me conhecia e sabia que eu gostava de rádio. Então estudei na Facom e trabalhei na Rádio Cidade. Depois fui embora de Salvador, precisava tocar minha vida, mas é para Salvador que eu vou sempre nas férias, para aniversários. Eu tenho a chance de ir para vários lugares, mas sempre vou para Salvador. Nasci em Guarulhos, mas é para Salvador que eu pretendo voltar.

 

Nos jogos que você transmite de Bahia e Vitória, é perceptível a sua naturalidade para falar dos clubes, dos estádios e da cidade.

A Fonte nova é o estádio onde fui criado. Saía de Itapuã para ver o Bahia, para ver o Ba-Vi, para ver o Corinthians, quando ia jogar. Conheci a Fonte como torcedor e tive o privilégio de depois voltar e narrar grandes jogos. É uma trajetória que tenho muito orgulho.

 

Ainda nessas histórias da Bahia, tem algum “causo” que você viveu por aqui?

O grande dia que a ficha caiu que eu estava realizando algo importante pessoalmente foi uma semifinal da Copa do Nordeste entre Bahia e Sport. O Bahia estava perdendo no primeiro tempo e precisava virar o jogo. No intervalo eu fui ao banheiro e vários torcedores do Bahia falavam: ‘o Bahia vai virar’. No segundo tempo, realmente, a Fonte Nova lotada, aconteceu algo... Parecia o time de 1988 [Campeão Brasileiro]. Torcedor jogando junto e o Bahia virou o jogo. Quando acabou a partida, que baixou a adrenalina da narração, caiu a minha ficha. Relembrei de quando meu pai me levava para a Fonte Nova. Ele trabalhava na TV Aratu e eu ficava na cabine para ficar narrando o jogo. Eu anotava as coisas e narrava jogo do Bahia com oito anos de idade para guardar para mim. E naquele dia eu estava narrando para os meus amigos, para os torcedores, para a Bahia, para o Nordeste, para o Brasil, mostrando aquele estádio que fez os meus sonhos germinarem. De repente eu estava nesse estádio, numa cabine de transmissão 35 anos depois, fazendo isso. Foi um dia que a ficha caiu que eu tive uma trajetória bem legal. Estou fazendo o que sempre quis fazer.

André Henning na Fonte Nova com a bola da final da Copa do Nordeste Foto: Reprodução / Instagram

O Esporte Interativo apostou na Copa do Nordeste, e todo mundo sabe o sucesso que teve esse tratamento diferenciado do EI com o futebol nordestino, por exemplo. Essa sua relação com a Bahia/Nordeste ajudou nessa aposta do canal para um futebol que não é tão visado pela mídia?

Eu acho que sim. Vi o sofrimento dos meus amigos ao querer ver o time dele na TV e não passava. Sou de uma época que não passava nem Bahia e nem Vitória na televisão. O torcedor era obrigado a ver jogos do Flamengo, Corinthians... Eu sei o que é o sofrimento do torcedor do Nordeste em sempre ter sido rejeitado. Quando tive a oportunidade de vestir essa camisa da Copa do Nordeste... [tinha] não só o conhecimento da região, [mas] de conhecer os lugares, porque eu fui atrás de micareta em todos os estados do Nordeste na minha época de garoto. Fui várias vezes a Recife, Aracaju... Conheço o Nordeste faz tempo, o que me deu uma propriedade maior para falar sobre a região e com o torcedor dos clubes nordestinos.

 

Pela sua relação com a Bahia, fazer jogos da dupla Ba-Vi é diferente para você?

Com certeza. Eu tive a chance de narrar dois Ba-Vi na semifinal da Copa do Nordeste e foram muitos especiais. Eu adoro fazer jogos em Fortaleza, Campina Grande... Mas pessoalmente para mim tem um sentimento diferente. Quando vou para Salvador, eu não saio para jantar nos restaurantes dos turistas. Eu fico na casa dos meus amigos, saio para tomar uma no Caranguejo junto com eles. Sei exatamente aonde e com quem ir. É bem diferente.

 

Não podemos deixar de falar sobre o fim do canal, que pegou todos de surpresa. Conta para gente como isso aconteceu, como você – um dos pilares do canal, desde o início – recebeu essa notícia. Como ficará a copa do Nordeste e o próprio Brasileirão do ano que vem...

Eu não tenho autoridade e nem conhecimento para falar desse assunto. Não sou da área de Direito, não sou da área responsável pela extinção do canal. O que posso dizer como a primeira e última voz do canal é que sinto um baita orgulho do que construímos e tenho segurança de dizer que não morreu. O Esporte Interativo só saiu daquele canal na televisão. Mas ele, como a TV do mundo inteiro, está se modernizando muito forte nas mídias digitais, com uma grande cobertura de Liga dos Campeões e de Brasileirão já confirmadas. A vida de todo mundo está passando pela internet. Por que a dos canais esportivos não passaria? Não sou um profundo conhecedor do futuro da Copa do Nordeste... Posso garantir que vou ficar muito triste de não transmitir mais, que é o que eu sei até hoje. O que eu sei é o que foi falado publicamente, que iremos fazer a Liga e o Brasileirão. Se eu não narrar a Copa do Nordeste mais, sentirei um grande vazio. 

André foi a primeira e a última voz do Esporte Interativo como um canal Foto: Reprodução / Instagram

Como você vê essas novas formas de acompanhar os jogos por Streaming e Facebook? Você acredita que será mais comum nos próximos anos?

Com certeza. É a tendência mundial. Eu, por exemplo, não compro mais livro em livrarias, camisas de time em lojas de esporte... Eu faço pesquisa e compro na internet. A vida de todo mundo está passando pela internet e a tendência é essa. Nas transmissões também. Mas quero deixar claro que é uma opinião minha. Por exemplo, há algumas temporadas vejo jogos do meu time na NBA pelo streaming e é ótimo.

 

Você sempre faz questão de fazer transmissões ao vivo no Instagram, abre debates com os seguidores, comenta sobre os jogos da rodada. Como surgiu essa ideia?

Eu estou descobrindo um lugar novo para matar uma grande vontade minha que é ter um Talk Show, tipo estilo de rádio. Debater vários assuntos, ir conversando com as pessoas... Eu encontrei na Live do Instagram uma ferramenta muito adequada ao que eu quero. Comecei a fazer bem despretensiosamente, continuo, mas comecei a ter umas ideias diferentes. Fiz coberturas na Copa, passei a ter uma intimidade maior com o público sobre diversos assuntos. Procuro uma linguagem diferente. O canal de televisão está preocupado em analisar muito ‘bla bla bla’... E lá eu tenho espaço para falar algo diferente no meu Instagram, do meu jeito.

 

Você nunca apresentou nenhum projeto sobre um Talk Show?

Quando o "No Ar" [programa que André apresenta] começou era um talk show. Ele era diário, não era de entrevista. Tinha um convidado para falar dos assuntos do dia e ficou um tempo no ar. Mas acabou que virou um programa de entrevista. Até agora não tive essa oportunidade. Tomara que eu ainda tenha.

Apresentador do "No Ar", André sonha em ter seu próprio Talk Show | Foto: Reprodução / Instagram

Os torcedores dos clubes nordestinos sempre reclamam da mídia não valorizar os times daqui. Você acha que a diferença de contratos das emissoras com os clubes do chamado "Eixo" [RJ-SP] acabam dificultando as trajetórias desses clubes nos principais campeonatos do país?

Eu acho que sim, mas quando a gente fala de dinheiro. Não acredito nas teorias da conspiração que Flamengo e Corinthians são ajudados, que têm que ficar sempre em evidência porque a Globo paga mais dinheiro para eles, eu não acredito nisso. Eu acredito sim que existem mercados e contratos que algumas televisões acham e consideram alguns times mais valiosos que outros. Mas tenho certeza que o mercado dos clubes do Norte e Nordeste também é muito atraente e que, se os clubes conseguirem mostrar que são importantes, os contratos serão melhores. Não só para as emissoras, mas para anunciantes, patrocinadores, fabricantes de material esportivo... Eu acho que a tendência é aos poucos ir mudando, se valorizar mais o futebol do Nordeste. E a Copa do Nordeste deu um pontapé inicial bem importante.

 

Você tem previsão de quando encerrará a carreira?

Não. Mas não vou demorar muito. Não tenho apetite para ficar décadas no trabalho. Será antes do que muita gente imagina.

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