Futebol está ficando chato

Vivemos no século do politicamente correto e todo cuidado com o que se fala é pouco. Hoje em dia fazer uma piada pode deixar o autor em maus lençóis. Programas de humor já sofrem com a “censura”. E agora, a patrulha do politicamente correto desembarcou de vez no futebol. Em um passado não distante era comum as provocações sadias entre os jogadores. Quem não se lembra de Romário e Túlio com suas frases de efeitos? O Baixinho sempre afirmava: “Quando não faço um gol em um jogo, tenho que fazer dois no outro”. Costuma promete que iria vencer o jogo e na maioria das vezes conseguia.
O eterno camisa 7 do Botafogo, ia na mesma linha de Romário e sempre com um sorriso escancarado provocava os adversários, como um típico moleque travesso. Mas hoje tudo mudou. Não se pode nem pensar, quanto mais afirmar que vencerá o rival, que será taxado de arrogante e prepotente. Hoje, jogadores brincalhões, fanfarrões foram praticamente dizimados. Raramente nos dias atuais se ouve algo do tipo. No máximo, algumas danças nas comemorações e olhe lá, pois vez ou outra são condenados pela tal patrulha. Se alguém quiser homenagear Paulo Nunes ou Viola, nas celebrações, certamente será jogado na fogueira.
Por pressão dos “missionários dos bons costumes”, diversas leis foram criadas e contribuíram para a chatice. Não se pode tirar mais o uniforme durante a celebração de um gol ou homenagear sua cidade natal através de uma mensagem na camisa, que certamente a lei irá abraçar o infrator. A justificativa é que o patrocinador investiu para estar presente na camisa. Mas quem devia controlar isso são os clubes que recebem o patrocínio e não a Fifa.
O atacante Loco Abreu, ídolo no Botafogo e atualmente defendendo o Figueirense, foi provocado pela torcida do Flamengo, no jogo válido pela 15ª rodada do Brasileirão quando se preparava para cobrar um escanteio. Ele respondeu com um beijo no escudo do Alvinegro carioca. Recebeu um cartão amarelo e agora corre o risco de ser suspenso por até seis partidas por “provocar o público durante a partida”, conforme artigo 258-A do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD). O cara é xingado, responde com um beijo no escudo e agora pode desfalcar sua equipe. Vale lembrar que não houve nenhum gesto obsceno. Está perto de chegar o dia em que será proibido comemorar um triunfo, festejar um campeonato, pois será considerado um desrespeito ao adversário.
Se gozar de algum colega do trabalho ou vizinho porque o time dele perdeu e o seu ganhou, será pior ainda. Vai ser chamado de praticante de bullyng com requintes de crueldade, sofrer alguma punição socioeducativa e virar pauta de algum programa sensacionalista com o seguinte título: “Aparência de bacana, mente de bandido. Conheça o homem que tripudiou o vizinho, torcedor do Tabajara.” Isso não é exagero. Se continuar nesse ritmo, é apenas questão de tempo.
A punição e com rigor, tem que ser para os atos violentos, tanto dentro de campo, como fora. As brigas entre torcidas que na maioria das vezes ceifam vidas. Isso sim, tem que ser extinto. E não as gozações e brincadeiras sadias que são a essência do futebol brasileiro, que aprendi a admirar. Como diz Pedro Henrique, de nove anos, filho de um grande amigo meu: - Tá chato tio.
Que as “barricadas” do politicamente correto não acabe com a alegria do futebol. E irreverência juntamente com o bom humor voltem a contribuir com o espetáculo.
