Turbilhão Feminino: Um pulo para a história
No mês da Consciência Negra, o projeto “Mulheres negras que revolucionaram o esporte brasileiro”, é dividido em quatro partes.
É lógico que o Brasil, um país com mulheres negras brilhantes, não se resume aos nomes que serão citados no texto, vamos muito além, a intenção principal é enfatizar a grandeza delas nos esportes.
Quando falamos de alguns esportes, só vemos o resultado final e com base nele julgamos o sucesso (ou a “falta dele”) por prêmios e títulos. Entretanto, qualquer modalidade é muito mais que só resultados, por trás de cada processo, existem treinos, esforços, dores, choros, abdicações e, muitas vezes, distâncias das pessoas que amamos para darem o melhor de si.
Aída dos Santos foi a única mulher na delegação, de 68 atletas, nas Olimpíadas de 1964 realizada em Tóquio, no Japão. Desconhecida da maioria dos que lerão esse texto, sofreu um dos maiores descasos da história do esporte olímpico brasileiro, nem sequer tinha material para competir. Aída resistiu apesar dos dirigentes brasileiros acharem que ela não existiu. Para competir recebeu em um estande um sapato de sprint (não ideal para competir) e tornou-se a primeira brasileira a chegar a uma final olímpica.
Na fase de classificação torceu o tornozelo e o apoio veio do peruano Roberto Abugatas e a pedido da atleta Miquelina Cobian, Aída foi atendida pela equipe médica da delegação de Cuba. Ao final da competição Aída ficaria em 4º lugar e estabeleceria a melhor posição de uma mulher brasileira, até 1996, em uma Olimpíadas.
Primeira ginasta, entre homens e mulheres, a conquistar um ouro no mundial, Daiane dos Santos, fez parte da primeira equipe completa a disputar uma olimpíadas, em Atenas. Dois movimentos foram nomeados após ser a primeira ginasta a realizar: Dos Santos I e Dos Santos II. Ao som de brasileirinho (som de Waldir Azevedo) encantou o mundo a realizar um desempenho no solo, ao final da competição ficaria na quinta posição. Um ano antes (2003) conquistou seu primeiro ouro mundial superando a romena Catalina Ponor e a espanhola Elena Gomez.
Em bate papo com a Eliane Santos, G1, falou sobre o preconceito racial e social que sofreu, foi com seus pais que aprendeu as regras de três: Negros têm que ser três vezes melhor.
Daiane não é só lembrada por suas nove medalhas mundiais ou por performances maravilhosas, mas é, também, por ser inspiração para gerações que vieram e está vindo, como é o caso da ginasta Rebeca Andrade:
“A Daiane foi com quem eu me identifiquei, olhava para ela na TV e pensava: 'nossa, nós somos iguais', o carisma e a vontade de querer ajudar. A Dai, desde quando eu era pequena, até o decorrer do tempo, ia para o CT, conversava com a gente, falava para não desistirmos. A gente consegue entender o poder da representatividade" (Declaração dada ao programa Bola da vez da ESPN).
Multi-campeã, Rebeca fez história ao ser a primeira campeã olímpica e ganhar duas medalhas em uma edição. Com duas medalhas olímpicas e nove em mundiais, tornou-se uma das maiores campeãs na modalidade.
Baile de favela! O ouro olímpico levou o funk a Tóquio e o ritmo (muitas vezes criminalizado) fez parte de uma trajetória incrível, 14.400 foi a nota que a colocou no mais alto lugar do pódio e como ela mesmo disse mostrou do que o preto é capaz.
"É para mostrar do que o preto é capaz. Eu me sinto muito orgulhosa de levar essa música para o mundo todo, feliz que ela buscou o ouro. Acho muito, muito, legal que as pessoas tenham realmente gostado da música, da coreografia. Você vê como o público se levanta", afirmou, em entrevista ao SporTV.
"No Brasil, são muitas dificuldades que uma pessoa preta tem para chegar ao alto rendimento. Para chegar, eu tive muita ajuda, de todo o mundo, dos vizinhos, dos que emprestaram dinheiro, fiquei na casa dos outros para treinar. Então, representa toda a minha história, toda a minha luta. Espero continuar fazendo história", acrescentou.
E fez e faz. Ontem um pouco antes de concluir este texto assisti Rebeca conquistar mais um ouro, desta vez no Pan-americano disputado no Chile.
Conquistas e frustrações marcaram a carreira destas incríveis mulheres e atletas brasileiras.
Que Aída, Daiane e Rebeca sirvam de inspiração para as novas gerações. Que as novas gerações possam ter mais apoio e respeito. Que nós amantes do esporte não nos esqueçamos de quem veio antes e trilhou um caminho para chegarmos até aqui.
Viva as Aídas, Daianes e Rebecas!
