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Travelling

Davidson pelo Mundo: A diária vista por relógios diferentes

Por Davidson Botelho

Foto: Freepik

Era uma manhã qualquer, dessas em que o sol não tem pressa de nascer, mas o hóspede já está ansioso por sair. O relógio da recepção, no entanto, não se comove com malas prontas, nem com olhos inchados de quem viajou a noite inteira. Ele marca 15h implacável; o horário oficial do check-in. Antes disso, só paciência ou a taxa extra.

 

De um lado, o gerente ergue a sobrancelha com ar de quem guarda segredos milenares: “Senhor, as regras são para todos”. Do outro, o viajante, com a mala de rodinhas já sem rodinhas, implora um cantinho para descansar. Não se trata de luxo, apenas de compaixão. Mas as normas, ah, as normas não enxergam olheiras.

 

E então o tempo, essa entidade invisível, torna-se personagem principal do turismo. O hóspede acorda cedo no último dia de estadia, não porque queira, mas porque o relógio o expulsa às 10 ou, no máximo, 11h, como um despertador coletivo que toca no corredor inteiro. Quem ousa atrasar paga multa; quem obedece, carrega mala na calçada até a hora do voo.

 

Eis o paradoxo: o hotel vende descanso, mas cobra pressa. Vende aconchego, mas mede cada minuto de permanência com régua de comerciante. O que poderia ser simples — “chegue quando puder, saia quando eu determinar” — transforma-se numa dança cronometrada entre recepcionistas e viajantes.

 

Talvez um dia inventem o check-in emocional, que começa quando o corpo precisa parar, e um check-out humano, que termina quando a alma já está pronta para partir. Até lá, seguimos nesse jogo de empurra, entre malas ansiosas e relógios nervosos.

 

E, no fundo, todo hóspede aprende a lição: nas viagens, o tempo não pertence a quem vive, mas a quem cobra a diária.

 

Muitos hóspedes acreditam que a diária de um hotel deveria equivaler a 24 horas completas a partir do momento do check-in. Mas, na prática da hotelaria, isso não é viável. A diária não se refere apenas ao tempo de permanência no quarto, mas a todo o funcionamento da estrutura e da equipe que torna a estadia possível. Conheça particularidades da hotelaria:

 

1. Tempo de limpeza e manutenção
Após a saída de um hóspede, o quarto precisa passar por um processo rigoroso de higienização, troca de enxoval, checagem de equipamentos e, muitas vezes, pequenos reparos. Isso exige algumas horas entre o check-out e o próximo check-in.

 

2. Padronização para organização
Ter horários fixos (ex.: check-in às 14h e check-out às 12h) permite ao hotel organizar fluxos de entrada e saída, otimizar mão de obra para essa tarefa específica, evitar sobreposição de hóspedes e garantir qualidade no atendimento.

 

3. Operação além do quarto
O hóspede não consome apenas a acomodação. Ele usufrui de recepção, restaurante, lavanderia, lazer, segurança e outros serviços que precisam ser planejados em turnos. Um sistema de 24h por hóspede quebraria esse equilíbrio operacional.

 

4. Modelo internacional
A diária com horários pré-definidos é um padrão consolidado mundialmente na hotelaria. Isso facilita reservas, planejamentos de viagem e conexões com transportes (aéreos, rodoviários, cruzeiros).

 

5. Flexibilidade sob demanda
Muitos hotéis oferecem early check-in ou late check-out mediante disponibilidade ou cobrança extra, justamente para atender casos especiais sem comprometer toda a operação.

 

Em resumo: a diária de hotel não mede apenas “horas de estadia”, mas sim a experiência completa de hospedagem, conciliada com a logística necessária para manter a qualidade do serviço.

 

Porém, muitos hotéis abusam, impondo horários que ultrapassam o limite da razoabilidade. Atualmente, tramita no Congresso um projeto de lei que define que os hotéis precisam disponibilizar ao menos 22 horas de hospedagem aos seus clientes e horários fixos de check-in e check-out. Particularmente, tenho minhas dúvidas se isso será aprovado, ou, caso seja aprovado, se irá funcionar.

 

Os horários de entrada e saída devem ser, sim, fixos. Isso facilita a operação, otimiza custos e cria uma organização boa para o hotel e para os hóspedes. Não sei se em somente duas horas seria o suficiente para organizar os apartamentos, principalmente nos hotéis médios e grandes, o que demandaria aumento de funcionários e, consequentemente, de custos — e isso seria repassado para os clientes.

 

Também acho um exagero a prática de alguns hotéis exigirem a saída às 10 ou 11h e só liberarem o check-in às 15 ou 16h. Isso inviabiliza totalmente a programação de viagens de muita gente.

 

Enfim, esse é um tema que realmente precisa ser debatido, e que se chegue a um denominador comum bom para ambas as partes, buscando saídas para incentivar o aumento do turismo, para que todos pensem o turismo como algo prazeroso e não uma atividade geradora de dores de cabeça.

 

Boa viagem!

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