Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias
Você está em:
/
Fernando Duarte

Artigos

David Luduvice
A urgência da adoção de Governança Fiscal pelos Municípios
Foto: Divulgação

A urgência da adoção de Governança Fiscal pelos Municípios

E agora, Prefeitos, como agir diante da Resolução CNJ n.º 547/2024 e as extinções em massa das execuções fiscais abaixo de R$ 10.000,00 que já começaram pelo país? A resposta é proatividade imediata, através do que denomino de Governança Fiscal.

Multimídia

Bruno Reis rebate críticas e cita reconhecimento da Caixa por gestão sustentável: "A oposição fala o que quer"

Bruno Reis rebate críticas e cita reconhecimento da Caixa por gestão sustentável: "A oposição fala o que quer"
O prefeito Bruno Reis rebateu, nesta quinta-feira (16), críticas que recebe de opositores políticos e nas redes sociais em relação a falta de árvores e a projetos de viadutos na cidade. Reis participou nesta manhã da abertura do 2º Congresso de Direito e Sustentabilidade, que acontece até esta sexta-feira (17) no Hotel Wish da Bahia.

Entrevistas

Grupo de Trabalho estuda drenagem na região da Cidade Baixa durante fortes chuvas e maré alta em Salvador

Grupo de Trabalho estuda drenagem na região da Cidade Baixa durante fortes chuvas e maré alta em Salvador
Foto: Reprodução / TV Bahia
Tendo assumido a Secretaria de Sustentabilidade (Secis), logo no início de abril, Ivan Euller pretende, durante sua gestão, focar na atuação do melhoramento da drenagem da Cidade Baixa, em Salvador, região duramente afetada por alagamentos e inundações nos períodos chuvosos e de maré alta na capital baiana. O então subsecretário assumiu a pasta após a saída da vereadora licenciada Marcelle Moraes (União) que deve disputar, novamente, uma cadeira na Câmara Municipal de Salvador (CMS). 

Fernando Duarte

Opinião: Marcha dos Prefeitos vai consolidar protagonismo de baianos na causa municipalista
Foto: Divulgação/ UPB

Na semana da Marcha dos Prefeitos, em Brasília, a Bahia deve consolidar o protagonismo na chamada "causa municipalista", em meio a um cabo de guerra envolvendo o governo federal e o Congresso Nacional. Após muita tensão, o acordo pela desoneração das folhas de municípios foi firmado e os prefeitos ganharam um fôlego no ano eleitoral, depois que a Advocacia-Geral da União (AGU) protocolou uma ação que gerou a renoneração para diversos setores, inclusive para os Executivos municipais. E ao menos três baianos ganharam visibilidade no processo: os senadores Angelo Coronel e Jaques Wagner e o presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB), Quinho, de Belo Campo.

 

A causa municipalista sempre imbuiu parlamentares baianos. No Senado, a primeira voz a ser ouvido sobre o tema, durante muito tempo, era a de Otto Alencar. Todavia, ao longo da tramitação do projeto de lei sobre a desoneração das folhas, coube ao correligionário levantar o tom. Ele foi relator do texto na Câmara Alta e, frequentemente, um crítico à forma como o governo federal tentava tratar o assunto. Coronel assumiu tal protagonismo trazendo o gancho dos municípios como a grande motivação para manter o que o Congresso havia aprovado, com redução da alíquota de contribuição para 8%. Em algumas situações, o baiano fez um confronto direto com interlocutores do Ministério da Fazenda e saiu como um "defensor dos prefeitos".

 

Wagner, líder do governo, manteve-se com a habilidade de tentar encontrar um meio termo entre os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva e os setores atingidos. Agora, assume a relatoria do acordo, cuja insatisfação de Fernando Haddad foi sentida e noticiada. O ministro perdeu a disputa e se viu obrigado a recuar, mas Wagner vai mitigar os efeitos da dura negociação, numa tramitação célere, exatamente para aproveitar a ocasião da Marcha dos Prefeitos para que Lula lucre politicamente com o entendimento. Algo bem típico do Galego, como já estamos acostumados.

 

Foi nessa disputa dura com Haddad, inclusive, que surge o nome de Quinho como também protagonismo do processo. A troca de farpas gerou moções de apoio ao presidente da UPB depois que o ministro sugeriu que ele mentia sobre as conversas em torno do texto em discussão no Senado. O representante do "sindicato dos prefeitos da Bahia" conseguiu então engajar um discurso pró-municipalismo que contribuiu para que Haddad se tornasse menor no embate. Ganhou uma batalha contra um dos principais homens de Lula e controlador das chaves do cofre, algo essencial no arrocho das contas que ainda lidamos.

 

Para quem olha a grande fotografia desse processo, é possível observar o quão atores políticos da Bahia foram relevantes para a conquista de uma reoneração gradual dos setores atingidos pela matéria. Os prefeitos têm muito a agradecer, bem como os representantes dos outros setores beneficiados. Como esses baianos vão aproveitar o capital adquirido, todavia, ainda é uma resposta que o futuro vai dar. Wagner e Coronel podem tentar a reeleição em 2026. Quinho, até aqui, manifestou o interesse em governar uma cidade maior que Belo Campo para então crescer mais na política. Mas isso ficaria só para 2028. Ou seja, muita água vai rolar até lá.

Opinião: Quedas de Prates e de Pimenta serão freio de arrumação na comunicação do governo Lula?
Foto: Divulgação

Coincidência ou não, dois entraves para a comunicação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva caíram no mesmo dia. O mais relevante para o mercado é o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que esqueceu que assumiu a estatal e manteve-se como agente político nos mesmos moldes de quando herdou a vaga de senador do Rio Grande do Norte. Porém a “queda para cima” de Paulo Pimenta também é representativa daquela que pode ser uma oportunidade para que o governo consiga evitar as sucessivas derrotas nas narrativas digitais.

 

Prates meteu os pés pelas mãos em mais de uma oportunidade. Provocou a queda das ações da Petrobras em mais de uma oportunidade com tweets (ou éxisses/ xis) descabidos e mostrou-se arredio com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, içado ao primeiro escalão como uma sinalização ao mercado. A saída do ex-senador da Petrobras não era questão de “se”, mas de “quando”. Aproveitando a justificativa de um trimestre abaixo dos números do próprio passado recente, Lula paga de preocupado com os lucros da petrolífera e substitui um calo no sapato - que já incomodava pelo menos desde o primeiro ano de governo, quando ainda havia certo grau de otimismo da população e do mercado.

 

Já o caso de Paulo Pimenta é mais umbilical com a comunicação. Ainda em fevereiro de 2022, quando da posse do Congresso Nacional, o deputado licenciado reagiu de maneira brusca ao ser questionado se o governo perdera a mão ao lidar com o fatídico 8 de janeiro anterior. Pimenta, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, não admitia que o governo tinha problemas de comunicação e fingia que tudo estava dentro do previsto. Talvez apenas ele e o núcleo do governo que acredite piamente que tudo são flores (há quem acredite em fadas).

 

Do primeiro mês do governo Lula 3 até aqui, foram raros os momentos em que a percepção da população sobre a gestão melhorou. Basta ver as sondagens de opinião realizadas pelos mais diversos institutos de pesquisa - até mesmo aqueles mais simpáticos ao governo. Pimenta tem uma imensa parcela de responsabilidade nesse processo, já que vinha dele, em tese, a condução da forma como o governo se apresentava publicamente.

 

O exemplo mais fresco na memória é o embate sobre a tragédia no Rio Grande do Sul, pela qual agora o deputado federal licenciado será coordenador da Autoridade Federal. Publicamente com postagens nas contas do ministro e através de notas, a Secom do governo federal discutiu infantilmente sobre a crise em volta da errática matéria do SBT sobre multas a veículos com doações para os gaúchos e sobre o vazio debate sobre a disponibilidade de equipamentos pelo Uruguai (que era uma meia verdade, mas o governo classificou a Folha de S. Paulo como propagadora de Fake News). E, por ironia do destino, caberá a Pimenta cuidar das ações do governo federal no Rio Grande do Sul.

 

A forma como governos petistas lidam com a comunicação precisa ser revista. A extrema-direita tem um domínio amplo do campo das redes sociais e, até aqui, não há vislumbre de que o cenário pode mudar. Lula 3 tem uma oportunidade de ouro, com a coincidência da saída de dois dos problemas na área. Restam alguns outros tantos, mas pelo menos a zona de conforto foi remexida.

Opinião: Transporte público segue como bomba-relógio para Bruno Reis

Por Fernando Duarte

Opinião: Transporte público segue como bomba-relógio para Bruno Reis
Foto: Betto Jr./ Secom-PMS

Em 2021, pouco tempo após tomar posse como prefeito de Salvador, Bruno Reis relatou que a questão do transporte público era o que mais preocupava na gestão da capital baiana. A herança do modelo proposto por ACM Neto, com outorga onerosa, se mostrou falho e as concessionárias começavam a dar sinais mais explícitos de que não seria sustentável. O resultado vem se arrastando desde então e, às vésperas de uma nova eleição, o transporte rodoviário se confirmou como uma grande dor de cabeça.

 

Depois de fazer intervenções em empresas e gerar subsídio municipal para tentar segurar o valor da tarifa - ancorado especialmente na justificativa eleitoral de que perderia votos com um novo reajuste -, Bruno Reis tentou transferir parte da responsabilidade pelo encaminhamento dado pelas concessionárias de Salvador de um aumento de, no mínimo, R$ 0,25 na tarifa para o governo federal e a desoneração da folha de pagamento. No entanto, não dá para tratar apenas esse fator como determinante nos reiterados reajustes do bilhete na capital baiana.

 

Desde a implantação do modelo de outorga onerosa, especialistas sinalizavam que, no longo prazo, não seria sustentável. As empresas, obviamente, miram o lucro e, com retorno abaixo da expectativa, dificilmente iriam manter a curva de investimento necessário para evitar o sucateamento acelerado da frota e as sempre urgentes demandas dos rodoviários. Tanto que a revisão do processo foi iniciada pelo próprio ACM Neto, que concebeu o modelo. Só que a batata continuou quente e só com Bruno Reis que estourou.

 

Ainda no período de Jair Bolsonaro, houve um esforço por uma aliança com o governo federal para que houvesse subsídio para o setor de transporte público nas cidades com mais de 100 mil habitantes. À época, diversos municípios enfrentavam o rastro de destruição da Covid-19 que impactaram a circulação de passageiros e gerou uma espécie de pico da crise. O subsídio não veio no plano federal e, tampouco, veio do governo da Bahia, no caso de Salvador.

 

Para além das disputas nas urnas, não havia interesse do governo baiano evitar a fadiga eleitoral que transporte público debilitado poderia gerar ao grupo político que comanda a prefeitura de Salvador. Então, por mais que Bruno Reis tenha reiterado um pedido para que o governo reavaliasse a cobrança de ICMS sobre combustíveis para o setor, o assunto foi empurrado para debaixo do tapete e quase não se fala mais dele. Como a reunião esperada entre o governador Jerônimo Rodrigues e o prefeito da capital nunca aconteceu, talvez nunca saibamos efetivamente se esse debate só circulou pela imprensa e naquele momento mais delicado. Claro que ainda há o fator extinção do trem do subúrbio e a promessa do VLT que sequer tem um prazo palpável de conclusão da instalação da substituição.

 

Como Bruno Reis almeja a reeleição, o argumento usado por ele para tentar atravancar impactos negativos na pressão das concessionárias por um reajuste em ano eleitoral foi mudar o foco do problema para a judicialização da desoneração da folha de pagamento feita pelo governo federal. É uma estratégia que funciona, mas não se sustenta para quem sabe que o buraco é bem mais embaixo e envolve também o governo estadual e, principalmente, o município. E, no final das contas, atinge especialmente os usuários do transporte público rodoviário de Salvador.

Opinião: Rui insiste na roupa de governador da Bahia e gera saia justa para 2026
Foto: Joá Souza/GOVBA

Na mesma semana em que a Folha de S. Paulo divulgou que o ministro da Casa Civil, Rui Costa, recebe um prefeito baiano a cada dois úteis em Brasília, o editor de política do Bahia Notícias, Mauricio Leiro, trouxe a informação que o ex-governador da Bahia não descartaria retornar ao Palácio de Ondina em uma disputa em 2026. Não há fumaça quando não há fogo, então Rui manterá o direito de espernear contra a imprensa - como sempre o fez -, ao mesmo tempo em que vê suas projeções sendo frustradas ainda no nascedouro.

 

A orquestração para que Rui volte a ser candidato ao governo obrigaria um crescente desgaste de Jerônimo Rodrigues, que, dado à dívida de gratidão que ainda mantém, sequer se propõe a criar uma marca para si no governo da Bahia. Isso não parece ser um problema para o ex-governador, que já emplacou a própria esposa, Aline Peixoto, no Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) sem qualquer pudor e volta e meia dá as caras pela Bahia sem se sentir constrangido por eventualmente criar uma sombra para que o sucessor não consiga ter o lugar ao sol que lhe fora prometido.

 

Jerônimo não é um pobre coitado, mas está longe de ter a agilidade política que há tempos se criticava em Rui. O ministro da Casa Civil até tentou dar as caras como articulador e se viu obrigado a permanecer no governo a contragosto, mesmo que tenha emplacado a indicação do sucessor. Desde que saiu de Ondina (com atraso, inclusive) para uma sala no Planalto, todavia, o comportamento de Rui não é de um ex-governador. É um eterno candidato que, nas horas vagas, faz as vezes de ministro. Como não deve realizar o sonho de ser candidato a presidente, graças a provável tentativa de reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva e a fila petista colocar Fernando Haddad à frente, ele centra as forças na Bahia.

 

Ao falar publicamente que é candidato à reeleição ao Senado e que Jerônimo tentaria a reeleição em 2026, o também ex-governador Jaques Wagner demarcou uma posição clara: não compactua com qualquer tentativa de demover o governador do direito de tentar permanecer no cargo - algo que ele próprio fizera e Rui repetiu. E o reforço de que estaria consolidado como candidato ao Senado, mais uma vez, aponta que, se Rui quiser tentar a cadeira, terá que ser a outra vaga, atualmente ocupada por Angelo Coronel e o PSD. Ou alguém, com o mínimo de racionalidade política, acredita que é possível que o PT concentre todas as principais posições da chapa do próximo pleito majoritário? A não ser que o Avante aceite ser mais do que emprenhado...

 

Não é de hoje que, nos bastidores, a imprensa ouve a existência de uma tensão entre Wagner e Rui. Criador e criatura não concordam em muita coisa, mas evitam tratar do tema de uma maneira explícita. Há até um esforço reiterado de tratar como falsa qualquer animosidade entre ambos - especialmente por parte do ministro e do seu entorno. No entanto, onde há fumaça, há fogo. E, convenhamos, por mais que Rui tenha adquirido habilidade política, o especialista em apagar - e evitar - incêndios é Wagner.

Opinião: União pode inviabilizar pequenos e grandes municípios ao questionar desoneração; entenda
Foto: Bruno Concha / Secom PMS

O governo federal focou na arrecadação da viúva quando questionou no Supremo Tribunal Federal a desoneração da folha de pagamento para 17 setores da economia. A medida, estendida pelo Congresso Nacional em 2023, tem como pano de fundo a manutenção de uma perspectiva de investimento nessas áreas, consideradas por deputados e senadores como essenciais para que a economia brasileira mantenha algum nível de pujança. Por trás, todavia, o debate envolve também a sobrevivência de outros entes federativos, especialmente os municípios. E isso impacta desde os pequenos com coeficientes baixos na tabela de habitantes, até os maiores como as capitais. Por isso os prefeitos permanecem tensos com o tema.

 

Nos pequenos, a reoneração de 8% para 20% da contribuição para a previdência já a partir de maio de 2024 preocupa o fechamento das contas até o final de 2024. Até a liminar concedida por Cristiano Zanin, os prefeitos remodelaram as próprias contas para, com essa alíquota mais baixa, usar os recursos para outros fins. Obviamente, quem é candidato à reeleição, colocou na ponta do lápis essa “sobra” orçamentária e fazia planos para fazer menos economia no último ano do mandato, numa espécie de legado ampliado. O mesmo vale, inclusive, para quem tem um nome para chamar de seu no próximo pleito, pois o uso da máquina é algo constante para a manutenção de um determinado grupo político no poder.

 

Já o caso dos grandes municípios, a situação é ligeiramente mais complexa, pois o impacto é indireto. Um exemplo foi o posicionamento da Integra, sindicato das concessionárias de ônibus de Salvador, que apontou a possibilidade de aumento da tarifa em até R$ 0,25 nos próximos meses. Obviamente, essa manifestação coloca uma espécie de “faca no pescoço” do prefeito Bruno Reis, que tem opções bem restritas para evitar o repasse desse reajuste para os usuários, dado que a capital baiana tem subsidiado parte da tarifa ao longo dos últimos anos. Publicamente, o gestor não deve falar claramente sobre o tema, mas não duvide que o assunto deve permear os pesadelos de quem é candidato à reeleição.

 

O exemplo de Salvador é apenas o mais próximo da realidade dos baianos. Porém o mesmo acontece em diversos outros municípios, tanto pela perspectiva do transporte público e pela contribuição com a previdência, quanto pelo impacto indireto, já que a movimentação da economia tende a diminuir e, consequentemente, a arrecadação dos municípios seguindo o mesmo caminho. E olha que, por aqui, só tratamos dos impactos no setor público, sem debater as consequências dessa senha arrecadatória da União contra o setor privado - a mobilização do governo contra o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse) é outro caso sui generis disso.

 

A viúva sempre tem fome. E a União sempre concentrou recursos para si, especialmente após a reorganização do Estado brasileiro pós-ditadura. Por isso a reforma tributária tem sido tratada como prioritária há tanto tempo. A repactuação federativa também é urgente, mas é uma pauta que tem sido colocada em segundo plano há bastante tempo também.

Opinião: Geraldo Jr. e a versão ambientalista que não sobrevive à história do ex-presidente da Câmara
Foto: Antonio Queirós/ CMS

Memória curta é uma aposta muito comum entre os membros da classe política. Principalmente quando há mudanças bruscas no “método” de fazer política. O exemplo mais recente disso é o comportamento contraditório - para não chamar de ambíguo - do vice-governador Geraldo Jr. (MDB) que, após conduzir sucessivas tentativas de desmontes a proteções ambientais enquanto presidente da Câmara de Vereadores de Salvador, agora tenta se passar por paladino da moralidade ambiental na capital baiana.

 

Em propaganda recente do MDB, para, em tese, promover a filiação de novos membros ao partido, Geraldo Jr. assumiu a função de candidato a prefeito de Salvador e, de repente, tentou passar uma borracha em todos os esforços para, por meio de “jabutis”, alterar a legislação soteropolitana a fim de flexibilizar diversos instrumentos legais da cidade. A forma começou ainda no primeiro mandato dele à frente da Câmara, quando o prefeito era ACM Neto (União), e foi intensificado já com Bruno Reis (União) no Palácio Thomé de Souza - com direitos a sucessivos vetos do Executivo, que mitigou os efeitos tentados por ele.

 

A estratégia foi usada repetidas vezes: a prefeitura mandava um projeto para a Câmara e, desde a Comissão de Constituição, Justiça e Redação Final, já eram feitas emendas diversas para atender aos interesses defendidos até então por Geraldo Jr. Hoje aliados, os opositores chegavam a criticar a postura, mas esqueceram rapidamente todas as críticas quando o então presidente da Câmara mudou de lado e passou a ser um “representante” da esquerda na capital baiana. A anuência, em algumas vezes, não era restrita aos governistas, como era esperado. Boa parte da oposição também ficava silente a cada novo “jabuti” inserido nos textos. Era um acordo que beneficiava Geraldo Jr. e, muitas vezes, prejudicava a cidade.

 

Agora, na versão soft e esquerdista do candidato da base do governador Jerônimo Rodrigues (PT) em Salvador, Geraldo Jr. tenta manter em alta a falta de memória da população, como se, num passe de mágica, fosse possível esquecer de todos os intentos realizados por ele durante quatro anos como presidente da Câmara de Salvador, em movimentos por vezes contrários ao Palácio Thomé de Souza, mas também com uma articulação para “obrigar” a articulação de Bruno Reis a ceder para as demandas apresentadas por um dirigente que se dizia defensor da independência do Legislativo - quando, por vezes, atuava como um representante sindical dos mais diversos segmentos. Talvez daí tenha vindo a verve da “esquerda” pregada como uma realidade para figurar ao lado de nomes históricos da esquerda baiana como Lídice da Mata e o próprio Jaques Wagner e Rui Costa - se bem que, esse conceito anda tão fluído que até Igor Kannário se tornou socialista.

 

Entre o novo posto de ambientalista de propaganda eleitoral e a realidade dos fatos, Geraldo Jr. se comporta como a caricatura daquilo que há tempos os próprios políticos tentam afastar do protagonismo, ao mesmo tempo em que retroalimentam para que nenhum deles perca o status quo. Ter problemas de memória é uma aposta alta, mas que não afeta todo mundo. Se os novos aliados agora preferem fingir que tudo não passou de um devaneio, é provável que os novos adversários não o façam. Ou seja, na campanha tudo pode vir à tona não como uma vaga lembrança...

Opinião: Carletto e Avante "brilham", mas Rui e Wagner roubam a cena sobre 2026
Foto: Divulgação

Mais uma vez, o Avante de Ronaldo Carletto mostrou força ao realizar um encontro nacional no último sábado (4) em Salvador e reunir os figurões da base aliada do governo baiano -leia-se os caciques petistas - nesse evento. Serviu como mais um aviso que o partido reorganizado sob a tutela de Carletto não caminha para aceitar ser um mero coadjuvante de luxo, como tantas outras siglas satélites ao PT na Bahia. O ex-deputado, que emigrou do Progressistas com articulação e apoio de Rui Costa e Jaques Wagner, demarcou bem o aviso para adversários e também aliados.

 

Porém não foi necessariamente Carletto quem mais chamou atenção no encontro. Sempre discreto e quase que arredio com a imprensa, as falas de Rui e Wagner se tornaram bem emblemáticas sobre o que está em jogo para 2026 e como essa equação será resolvida em um ambiente cuja a insaciável fome petista tem preponderância na cena local. Carletto busca o protagonismo - e tem condições de conquistá-lo -, mas as concessões a serem feitas pelo cardeais petistas é que colocam em dúvida até onde ele pode avançar.

 

Wagner foi bem direto ao garantir que deve estar na chapa em 2026 como candidato ao Senado mais uma vez. O Galego entende o papel que desempenha no governo de Luiz Inácio Lula da Silva e já teria conquistado a liberação de Fátima Mendonça para se manter nesse posto - caso contrário, ele não falaria publicamente sobre o tema. O pioneiro petista no governo baiano, tal qual em 2018, não teria problemas em construir essa candidatura à reeleição, dado o histórico de quem conhece bem o reequilíbrio das forças locais. Além, claro, de ter uma espécie de "lugar cativo" nessa chapa.

 

Rui e o evasivo "depois, depois, depois" quando questionado sobre como estará presente nas urnas em 2026 mostra que ele mantém as pretensões de 2022, quando até tentou articular ser candidato ao Senado e acabou frustrado pela não viabilidade de manter a base coesa em torno desse projeto. Como ministro da Casa Civil e homem forte do governo Lula, ele tem a tinta da caneta para reivindicar o espaço que desejar e, a não ser que migre de partido, vai "obrigar" os aliados a engolirem uma chapa cujas três principais funções tendem a ser ocupadas por petistas - já que ninguém duvida que Jerônimo Rodrigues será candidato a reeleição ao governo e muito menos sacrificado para que Rui alcance seu intento.

 

Carletto entra ainda de maneira tangencial nessa disputa que deve ainda "empurrar" Angelo Coronel (PSD) para um limbo político, pois defender o direito à reeleição entra em conflito direto com as pretensões dos aliados petistas. Ou seja, sobram incógnitas nessa equação e o Avante com a realização de grandes eventos e com a perspectiva de emergir das urnas em outubro como uma potência política na Bahia é apenas uma delas. Os recados foram dados e agora é saber como devem se comportar os aliados. Ou aceitam serem figuras ligeiramente menores para que o PT mantenha seu projeto de poder na Bahia ou lutam com mais afinco para mostrar que não estão apenas como mero espectadores da história a ser contada a partir de 2026.

Opinião: Lupi usa Ana Paula Matos como "menina dos olhos" e Bruno Reis terá desafio de reduzir tensão com PDT
Foto: Mauricio Leiro/ Bahia Notícias

A vice-prefeita Ana Paula Matos segue em alta conta no PDT. Depois de ser alocada no partido e ter conquistado uma vaga como candidata a vice de Ciro Gomes na corrida presidencial de 2022, a vice de Bruno Reis em Salvador tem um papel crucial no processo político envolvendo o futuro do PDT na Bahia e os rumos que a legenda deve tomar após 2024. Principalmente após o estranhamento entre o presidente estadual da sigla, Félix Mendonça Jr., e o grupo ao qual Bruno integra, mas ainda se mantém sob a batuta do ex-prefeito ACM Neto.

 

Apesar da história de proximidade entre os Mendonça e os Magalhães ser de outrora, há muito tempo o PDT na Bahia permaneceu na zona de influência do PT, especialmente nos anos "dourados" do lulismo, encerrados abruptamente com o impeachment de Dilma Rousseff em 2016. Os pededistas, então, tentaram alçar voos sem a sombra do petismo e o exemplo mais explícito desse movimento nem chegou perto da Bahia. Foi as duas disputas entre Ciro Gomes e os petistas Fernando Haddad, em 2018, e o próprio Luiz Inácio Lula da Silva, em 2022. Ciro e seu temperamento peculiar, dispararam sucessivos petardos que, inclusive, alimentaram a máquina antipetista que levou a extrema direita ao poder por quatro anos. Agora, já em Lula III, o dirigente maior do partido, Carlos Lupi, protagonizou a reaproximação e ganhou direito até a um ministério.

 

E o que Ana Paula Matos tem a ver com tudo isso? Pedetistas e ex-pedetistas fizeram e fazem um movimento constante para que Félix Jr. siga o adesismo típico dos "governos de colisão" e abandone o barco a que se juntou oficialmente em 2020 para retornar ao seio petista na Bahia. Em resumo: anseiam e externam o tempo inteiro que o mais correto é que o PDT marche em 2026 ao lado do projeto do PT na Bahia - e até mesmo no Brasil, a depender do desempenho de Lula e os desdobramentos do próximo xadrez majoritáro nacional. A vice-prefeita se torna, portanto, um dos bastiões do PDT a manter vínculos fincados com o grupo de ACM Neto e Bruno Reis, algo muito maior, por exemplo, que o próprio Leo Prates, deputado federal e que flerta com a esquerda ao mesmo tempo em que se declara fiel escudeiro do amigo e ex-prefeito de Salvador.

 

Para além de manter Ana Paula na vice, Bruno terá que movimentar as peças muito bem para que, reeleito, consiga deixar saciados os apetites do PDT e dos filiados que controlam a legenda e que, por enquanto, ainda pendem mais para o lado não petista da balança política baiana. A vinda de Lupi, na última sexta-feira, para mais uma vez reafirmar que Ana Paula é o nome do partido nessa concertação eleitoral é um detalhe nesse grande teatro político em que há o interesse maior em ser governo, independente de qual esfera e de quanto contraditório posssa parecer. Isso passa até por promessas para que, em 2026, os pededistas ganham uma das quatro cadeiras majoritárias que entrarão em disputa. Em um universo com possibilidades menos restritas do que no último pleito, Félix Jr., pode se tornar uma peça nessas disputas por poder e Bruno Reis terá que usar a lábia desde agora para distender o relacionamento que não vive em céu de brigadeiro.

 

Aos olhares menos atentos, talvez a vice fosse apenas uma figura sem tanta expressividade política, dado o fato de nunca ter sido testada sozinha nas urnas. Porém a ascensão de Ana Paula e a forma como ela conseguiu atrair a atenção dos caciques partidários de uma sigla na qual ela se filiou aos 45 minutos do segundo tempo em 2020 mostram que ela não é desprezível na construção das alianças. Em Salvador, ela já está em uma situação confortável. No plano estadual, pode partir dela a manutenção do PDT no arco de alianças do grupo político de ACM Neto. Estão nas mãos dela e também de Bruno Reis as ferramentas para controlar arroubos pró-PT entre os pededistas. E, convenhamos, não houve motivação racional que justifique uma ruptura entre as legendas na capital baiana e até mesmo na Bahia.

Opinião: Oposição usa “cidade de papel” para atacar Bruno Reis, mas prefeito sobrevive às primeiras chuvas
Foto: Divulgação

Fechada a primeira quinzena de abril, quando historicamente Salvador lida com fortes chuvas, o prefeito Bruno Reis ganhou o direito de respirar ligeiramente aliviado. Afinal, mesmo com diversos percalços e a cidade acumulando muita chuva em um curto espaço de tempo, não houve mortes e grandes desastres. É certo que a oposição tentou se aproveitar da situação, como era natural de acontecer, porém a imagem do prefeito não chegou a ficar desgastada excessivamente. E olha que as chuvas ainda não cessaram.

 

O impacto das águas dos céus como as registradas na capital baiana seria um calcanhar de Aquiles para o prefeito em um ano eleitoral. No entanto, a Defesa Civil passou no teste e com certo nível de louvor. O sistema de monitoramento das zonas de risco emitiu alertas e a população não ficou exposta como em anos anteriores. Dentro da perspectiva histórica das construções irregulares e dos acidentes geográficos que compõem a cidade, é algo a se comemorar.

 

Entretanto, não deixou de ser interessante ver que, ao tratar do assunto, Bruno Reis não escondeu a tensão que envolvia o tema. Tanto que os adversários martelaram que a cidade não teria preparo para a chuva em mais de uma oportunidade - e com múltiplas vozes. De alguma forma, pareceu um esforço concentrado e orquestrado para tentar fazer com que a versão “cidade de papel” vingasse e o prefeito tivesse que lidar com o ônus de uma capital que enfrenta dificuldades quando chove muito em pouco tempo.

 

Para o azar desses adversários, as águas de março que emendaram abril não provocaram nenhuma grande tragédia até aqui, o que diminuiu os riscos dessa temática impactar negativamente na gestão do prefeito. Isso não quer dizer que não existam riscos até outubro, mas pelo menos o período que é considerado mais complicado tradicionalmente não houve um arranhão muito forte na imagem de Bruno Reis. O virtual “caos” foi momentâneo e, ainda que seja algo que atinja diretamente a população, há tempo suficiente para que eventuais ranhuras sejam corrigidas.

 

Problemas com as chuvas são o tipo de tema mais simples de serem comunicados, tal qual outros calos da gestão pública, como a segurança pública, por exemplo. Só que esse segundo assunto é transferido tradicionalmente para o governo e as forças de segurança, então dificilmente estará em debate no pleito de outubro. Já outros temas, como desafetação de terrenos para venda e o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) sem debate, apesar de serem relevantes, não são palatáveis para o grande eleitorado, o que dificulta a atuação da oposição.

 

Ainda assim, é possível identificar digitais de adversários políticos no processo de manter acesas as desafetações e a revisão não feita do PDDU na esfera pública. É um esforço especialmente para atingir as camadas que anteriormente eram conhecidas como “formadoras de opinião”. Trata-se de uma estratégia conhecida e que, em outras oportunidades, funcionou para pressionar o gestor que prefere não arriscar a própria imagem numa corrida eleitoral. Vencendo as fortes chuvas, talvez esses assuntos sejam um chuvisco para Bruno Reis.

Opinião: Precisa-se de um vice petista para dar algum impulso a Geraldo Jr. em Salvador
Foto: Thuane Maria/GOVBA

Era janeiro quando as últimas insurgências petistas ainda questionavam a escolha única de Geraldo Jr. para representar a base aliada do governador Jerônimo Rodrigues em Salvador. Já naquele momento, destacávamos a necessidade quase imperativa do vice do vice-governador ser alguém do PT. Agora, com o afunilamento após o fim do período de filiações, o movimento para que haja um petista na chapa parte também do entorno de Geraldo Jr. - ainda que de maneira bem discreta.

 

O nome da vez é do ex-vereador Moisés Rocha. Militante antigo e que há algum tempo não teve votos suficientes para se manter na Câmara, ele é uma opção para tentar mobilizar o chão de fábrica do PT, algo imprescindível em uma campanha que tende a não ter tanto brilho. Antes dele já circularam outros nomes, a exemplo da secretária Fabya Reis, que se manteve no primeiro escalão e caiu na bolsa de apostas, mas que não foi descartada tecnicamente por não ter se desincompatilizado, pois o prazo seria junho.

 

O PT tem um número grande de opções para além desses citados. O problema é tornar esse nome palatável para Geraldo Jr. e para os eleitores sem parecer forçado. Quanto mais houver demora nesse processo, maior a chance da aliança camarão se concretizar, com a cúpula petista garantindo o apoio público e o "corpo" migrando para outra alternativa. Naturalmente seria o PSOL e Kleber Rosa, mas depende muito da condução da campanha, visto que é a primeira vez que esse grupo tem uma janela de oportunidade tão escancarada. Fazer os ajustes para evitar uma maior desidratação da candidatura do vice-governador desde agora é algo que deveria ser prioridade. No entanto, não é isso que se vê com a ausência de movimentos palpáveis da base aliada em Salvador.

 

Lógico que há um esforço de comunicação para transformar Jerônimo no grande eleitor de Geraldo Jr. na eleição de outubro. Tanto que a aprovação do chefe do Executivo estadual ganhou manchetes e foi usava pelos aliados para contrapor o favoritismo de Bruno Reis na busca pela reeleição. Entretanto, aprovação não significa transferência de votos, vide as boas avaliações de Rui Costa e os resultados em 2016 e 2020 na capital baiana. Se em 2022 Geraldo Jr. foi uma tentativa de transformar Jerônimo competitivo em Salvador, agora tentam o caminho contrário, numa equação complexa demais até para os mais experientes analistas políticos.

 

Achar um vice ou uma vice para Geraldo Jr. é um desafio extra a ser vencido pela base aliada do governo em Salvador. O fato de Bruno Reis já estar encaminhado com a manutenção de Ana Paula Matos também contribui para pressionar o entorno da candidatura governista para agilizar a indicação da composição da chapa do emedebista. Se for um quadro do PT, menos chance de fragorosa derrota na capital baiana. Caso contrário, não vai adiantar apostar apenas em Jerônimo como transferidor de votos ou no fato do vice-governador ser papagaio de pirata nos atos estaduais.

Curtas do Poder

Ilustração de uma cobra verde vestindo um elegante terno azul, gravata escura e língua para fora
Enquanto a equipe do Ferragamo se esforça pra deixar a eleição mais acirrada, o Vice ainda busca quem vai ficar na vice. Mas a gente sabe que, no fim, política é quase um esquema de pirâmide. O bom de ano eleitoral é que o povo se anima. O ruim é que o povo se empolga além da conta. Já quem não vai disputar eu tô achando meio fraco. Né, Adolfinho? Saiba mais!
Marca Metropoles

Pérolas do Dia

Fernando Haddad

Fernando Haddad
Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

"Para de lacrar na rede". 

 

Disse o oministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou o sucesso da parceria entre governo e Congresso e foi firme ao dizer que o país vai ter crescimento do PIB com inflação reduzida em 2024 e debater com o deputado federal Kim Kataguiri (União).

Podcast

Projeto Prisma entrevista Adolpho Loyola, chefe de Gabinete de Jerônimo Rodrigues

Projeto Prisma entrevista Adolpho Loyola, chefe de Gabinete de Jerônimo Rodrigues
O Projeto Prisma da próxima segunda-feira (20) recebe o chefe de Gabinete do Governo da Bahia, Adolpho Loyola. A entrevista começa às 16h com transmissão ao vivo no YouTube do Bahia Notícias.

Mais Lidas