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Fernando Duarte

Artigos

Tadeu Paz
O maior adversário de Lula é ele mesmo
Foto: Ricardo Filho/ Divulgação

O maior adversário de Lula é ele mesmo

O terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva reúne um paradoxo curioso: os principais indicadores são positivos, mas sua popularidade não segue a mesma trilha, embora tenha tido um refresco nos últimos três meses, muito por conta da contenda, e agora as pazes feitas, com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Multimídia

Angelo Almeida avalia críticas ao sistema logístico baiano e garante: “Tudo tem o porquê da coisa”

Angelo Almeida avalia críticas ao sistema logístico baiano e garante: “Tudo tem o porquê da coisa”
O secretário estadual de Desenvolvimento Econômico (SDE), Angelo Almeida (PSB), avaliou as críticas relacionadas a fragilidade do sistema de logística e escoamento de produtos e serviços na Bahia. Durante entrevista no Projeto Prisma, nesta segunda-feira (3), o gestor afirmou que “toda a crítica é construtiva”, porém destacou que a falta de investimento nacional atrasaram a evolução estadual neste sentido.

Entrevistas

Afonso Florence garante candidatura de Lula em 2026 e crava retorno ao Congresso: “Sou parlamentar”

Afonso Florence garante candidatura de Lula em 2026 e crava retorno ao Congresso: “Sou parlamentar”
Foto: Fernando Vivas/GOVBA
Florence foi eleito a Câmara dos Deputados pela primeira vez em 2010, tendo assumido quatro legislaturas em Brasília, desde então.

Fernando Duarte

Opinião: Direita pós-bolsonarismo sequestra segurança pública e tema deve repercutir até na Bahia
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O governador Cláudio Castro (PL) deu à direita brasileira uma pauta para chamar de sua e suplantar o bolsonarismo — ainda que dele tenha sido aliado até aqui. A “megaoperação” do Rio de Janeiro sequestrou a pauta da segurança pública como uma bandeira na qual a direita tem melhores condições de enfrentar os problemas e, com isso, reaqueceu a militância antipetista que batia cabeças após sucessivos episódios de “enterro” do clã Bolsonaro. O tema tende a ter mais força em 2026, o que, em tese, deveria acender um alerta nos locais onde o assunto já vinha sendo explorado politicamente, a exemplo da Bahia.

 

Segurança pública é o principal calo do governo Jerônimo Rodrigues (PT). Ainda que problemas na área de saúde, educação e infraestrutura estejam no dia a dia da população, é a segurança que tem aparecido com mais frequência nas pesquisas qualitativas realizadas nos últimos tempos. Tanto que o grupo político adversário, comandado pelo ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União), tem explorado diuturnamente a temática. Agora, com a Operação Contenção, gestada por um controverso Cláudio Castro, veio a vitrine perfeita para criticar a gestão baiana.

 

A exploração política e eleitoral do episódio fluminense começou desde o dia da realização da operação, quando os dados oficiais chegavam à metade do número total de mortos. De um lado, o governador do Rio de Janeiro, paladino da justiça e contra facções criminosas. Do outro, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, supostamente anuente com o crime. Todavia, os fatos expuseram a contradição e Cláudio Castro se viu obrigado a recuar. Ainda assim, já estava alçado à condição de exemplo a ser copiado.

 

Nos dias que se seguiram, governadores órfãos do bolsonarismo fizeram endossos à distância e até presencialmente, quando lançaram o “Consórcio da Paz”, uma organização cuja justificativa de enfrentamento da violência parece plausível, porém esconde o caráter eminentemente antipetista, recalculando a rota da direita pós-Bolsonaro. Essa nova fase promete a ser decisiva para os rumos que esse segmento político deve tomar para 2026, especialmente quando Lula parecia voar em céu de brigadeiro para a reeleição.

 

O governo federal conseguiu conter os potenciais danos das acusações políticos de Cláudio Castro. No entanto, a pecha de que a esquerda — leia-se o PT — não consegue dar conta de enfrentar a violência voltou a ganhar tração. Falas públicas de símbolos do que parte da população considera um exemplo, como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), que brada não haver crime sem punição em terras goianas, passaram a ecoar com mais vigor.

 

Fora do país, ACM Neto não discorreu publicamente sobre as reações do eixo de governadores de direita à megaoperação do Rio de Janeiro. Dado o histórico dele, como quando realizou o SOS Bahia, evento patrocinado pela Fundação Índigo, presidida pelo ex-prefeito de Salvador, é natural que ele enverede pelo caminho de se apropriar do discurso contra a violência e antipetista para faturar eleitoralmente no próximo ano.

 

A vitrine do enfrentamento duro à crise da segurança pública, ainda que haja danos colaterais com imagens chocantes de mortos enfileirados, é um bom mote para reforçar que Jerônimo Rodrigues não tem dado a resposta à altura do que as facções criminosas exigem. O bordão “ou soma, ou suma” poderia encaixar para os dois lados da disputa política. Porém, só a direita, ainda que limpinha, vai querer usar.

Opinião: “Ou soma ou suma”: Rio de Janeiro exporta necropolítica no enfrentamento ao narcoestado
Foto: Tomaz Silva /Agência Brasil

Da última vez em que uma grande operação tentou retomar o espaço urbano do Rio de Janeiro, sob controle do narcotráfico, o restante do Brasil passou a conviver com o espraiamento do Comando Vermelho. Na época, comunidades de Salvador, até então sob influência de pequenas facções locais, iniciaram um processo de intercâmbio com foragidos daquele enfrentamento do Estado ao “narcoestado”. Passados 15 anos, não é necessário falar muito: a sensação de insegurança arromba a porta dos baianos como se fosse natural convivermos com violência.

 

A questão da segurança pública é multifatorial. É infame tentar resumir ou simplificar o problema. No entanto, o que testemunhamos com as imagens assombrosas do Rio de Janeiro é mais uma batalha perdida, numa guerra em que estamos distantes de vencer. Sempre com autoridades públicas trocando acusações, culpas e fingindo que há normalidade em país cujas milícias e facções criminosas não somente ocupam espaços urbanos, como se tornaram um Estado paralelo, bancados pelo narcotráfico.

 

De todas as alternativas lançadas até aqui, o “necroestado” talvez seja a que mais impacta na opinião pública. A lógica do “bandido bom é bandido morto” prevalece na sociedade, especialmente quando se trata de pretos, pobres e da periferia – a maioria deles, inclusive, reunindo as três condições. E não é algo exclusivo do Rio de Janeiro, onde corpos enfileirados devem atrair atenções internacionais, como num cenário de guerra civil não oficializada no Brasil.

 

Seja nas zonas periféricas do Rio de Janeiro ou da Bahia, os brasileiros lidam com a morte no café, no almoço e no jantar. É rotina. Quando essas mortes furam as bolhas da pobreza, elas são plastificadas por declarações do Estado oficial e até pela imprensa, que tornam o conteúdo mais palatável e distante da realidade de quem acompanha com um distanciamento seguro. Ainda que tais mortes tenham acontecido a poucos metros do limite imposto pela geografia física e social das comunidades e dos bairros de classe média ou alta. E, enquanto isso, a sociedade brasileira não parece se importar.

 

Do que deveria ser um marco do enfrentamento ao narcoestado, em 2011, vimos a exportação do modus operandi do Comando Vermelho para diversas partes do país. Para enfrentar isso, o Brasil optou por uma necropolítica, que não demonstrou resultado. E nem adianta simular que houve melhora recente ou que existem boas perspectivas. Simbolizado pela fala desastrada e partidarizada do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, no “ou soma ou suma”, fica mais do que evidente: a carne mais barata do mercado continua sendo a carne negra.

Opinião: Sombra de ACM Neto parece assustar petismo na Bahia, que insiste em “desistência” dele
Foto: Reprodução/ Redes sociais

Na política não se escolhe adversário. Essa é uma máxima repetida da direita à esquerda, quase como um dogma. Pois, ao que parece, não é como o petismo baiano tem se comportado nos últimos meses. A cada vez que o nome do ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União), surge no noticiário, mesmo que não seja colocando-o como candidato ao governo da Bahia em 2026, há um esforço reiterado do entorno do governador Jerônimo Rodrigues (PT) em colocar o adversário como “desistente” ou “fora da disputa”, quase como se tivessem receio de um novo confronto direto.

 

É claro que existe a possibilidade de ACM Neto não estar na disputa. Tanto que ele, em diversas oportunidades, frisa que só deve definir o próprio futuro no começo de 2026 – a velha conversa para boi dormir, mas que fingimos acreditar. A chance do ex-prefeito de Salvador não estar nas urnas é bem pequena e talvez esteja na mesma proporção de Jerônimo não tentar a reeleição. Todavia, política não é uma conta matemática simples, razão pela qual esse assunto de desistência parece não sumir das falas de petistas.

 

É uma estratégia que parece “bancada” pela estrutura estatal com o intuito de transformar ACM Neto ainda mais em azarão, brincando com o favoritismo previsível de um governador candidato à reeleição. Das inúmeras variáveis, a torcida contrária de aliados de Jerônimo não deve ser considerada pelo vice-presidente do União Brasil. Afinal, é mais que natural que os adversários o queiram como “desistente”. A veemência com que isso vem acontecendo é o que chama atenção.

 

Jerônimo é um nome mais do que competitivo. Tem a máquina estatal nas mãos e uma articulação política que conseguiu converter, até aqui, antigos adversários em novos aliados. É o governador que mais percorreu cidades do interior da Bahia e essa marca tem sido evidenciada no discurso não apenas dele, mas também no entorno mais próximo. Tanto que até a fábula do sapato sujo de barro versus o governante de gabinete voltou a ser alimentada repetidas vezes.

 

O cenário nacional também se desenha favorável ao petismo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o grande eleitor da Bahia, confirmou ser candidato ao quarto mandato no Palácio do Planalto. E ainda viu os ventos virarem a seu favor a partir de sucessivas barbeiragens da direita acuada pelo bolsonarismo radical. Com Lula forte, as chances Jerônimo ser reeleito aumentam exponencialmente, o que, eventualmente, poderia até explicar o receio de ACM Neto, que sequer tem um candidato a presidente para chamar de seu.

 

Mas o ex-prefeito de Salvador precisa sobreviver politicamente como líder da oposição na Bahia. Para isso, precisa levar a cabo a candidatura contra o favoritismo de Jerônimo. Por isso, é difícil alguém apostar que ele desde já anuncie estar fora do jogo para perder por WO. A não ser que ele simplesmente aborte a ideia de permanecer na política, é muito remota a chance de jogar a toalha. E, ainda assim, os governistas insistem que ele já desistiu ou está prorrogando a desistência por “medo” de enfrentar os próprios fantasmas.

 

Se o ex-prefeito é tão irrisório politicamente quanto pregam — e olha que na última semana nem no Brasil ele está —, por que razão tem havido um esforço descomunal para desconstruí-lo enquanto candidato? Ou o petismo baiano resolveu escolher adversário, ou realmente a sombra de ACM Neto parece ser bem maior do que eles parecem desacreditar...

Opinião: Esperar que o Judiciário e seus membros não sejam políticos é um misto de hipocrisia e utopia
Foto: Antonio Augusto/STF

Todas as vezes em que uma vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) é aberta, a sociedade brasileira convive com a hipocrisia que o Judiciário não é um poder político. É claro que parte da população permanece e permanecerá inteiramente alheia a quem Luiz Inácio Lula da Silva vai indicar. Porém outra parte vai encher os pulmões para reclamar que não deve haver politização da Corte, como se vivêssemos em uma utopia. E, nessa gangorra que oscila a depender de quem esteja no poder, seguimos nos enganando sob a expectativa de imparcialidade - que mesmo o jornalismo já admite não existir.

 

O STF ganhou excessivos holofotes desde o julgamento do mensalão. Antes, quase não falávamos do tema e era comum o apagamento coletivo sobre quem integrava a Corte. Agora, o brasileiro médio é capaz de conhecer mais ministros do que jogadores da Seleção Masculina, algo improvável devido ao estigma de "país do futebol". Ou seja, os tempos mudaram, mas o fato do Poder Judiciário ser um poder político ainda segue como algo distante da interpretação da consciência coletiva nacional.

 

Há um erro crasso em avaliar que juízes não são seres políticos - e politizados. Sempre foi assim. Sempre será assim. Quem identifica os elementos mais rapidamente, conhece melhor o funcionamento da sociedade e passa a jogar melhor dentro das regras do jogo. Logicamente, isso não quer dizer que os magistrados não devam seguir o que prega a lei. Porém a própria hermenêutica jurídica permite interpretações múltiplas de uma mesma legislação. Dependendo do contexto político, econômico e social, a forma com que a lei é entendida muda. E isso passa pelo "ser político" que veste toga. Enquanto se debate se um ministro do STF é de esquerda, de direita ou indicado por ter relação pessoal com o presidente da República, esquecemos que, desde a ponta, no Juízo de Primeiro Grau, já há interferências políticas na forma como qualquer titular de Comarca rege suas decisões.

 

Um exemplo: em breve, inclusive, o Tribunal de Justiça da Bahia vai viver um momento bem político, com a eleição para a Mesa Diretora prometendo disputa acirrada entre desembargadores. Nenhum deles é filiado a partido político, mas todos vão gastar lábia para convencer os pares sobre quem será melhor gestor. Com uma campanha intensa e que começou antes mesmo da posse da atual presidente. Não é só uma questão de "democracia interna". É uma disputa política e quem discorda dessa perspectiva vive numa realidade paralela.

 

Lula será o presidente com maior número de indicados no STF com a vaga aberta pela aposentadoria de Luís Roberto Barroso. A indicação dele será contestada, independente de quem seja o escolhido. E não achemos que há garantia de que o novo ministro seja automaticamente alinhado politicamente a quem o indicou. Dias Tóffoli é a maior expressão disso - se alguém pode ser tratado como "traidor" sob essa perspectiva, ele é o nome. Então, para avançarmos enquanto sociedade, é preciso parar com a hipocrisia de tornar o Judiciário apolítico. No entanto, diante de tantos desafios, esse não é um ao qual estamos dispostos a avançar como civilização no futuro imediato.

Opinião: Ora Rui, ora Wagner e a chapa dos sonhos do PT em 2026 pode não se concretizar
Foto: Ricardo Stuckert / PR

Ao longo dos últimos dias, sinais confusos e diversos passaram a circular no entorno do governador Jerônimo Rodrigues e da chamada “chapa dos sonhos” para 2026, formada por ele, pelo senador Jaques Wagner e pelo ex-governador Rui Costa. Nos cenários apresentados, ainda que especulativamente, o senador Angelo Coronel (PSD) manteria a cadeira a que tem direito, para tentar a reeleição, e Wagner e Rui seriam “obrigados” a escolher entre si o destino da segunda vaga do PT na majoritária do próximo ano.

 

Rui foi o único a falar publicamente sobre o tema na última semana. E reforçou o desejo de ser candidato ao Senado, ao mesmo tempo em que tentou apaziguar a relação com Coronel e o PSD. Mais recluso, Wagner, dessa vez, não concedeu entrevista ou falou diretamente sobre o assunto. Foi assim que surgiram rumores que sugerem ora que Rui pode substituir Wagner, ora que o desejo do ministro da Casa Civil pode ser adiado para 2026.

 

Após a divulgação de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desejaria que Rui permanecesse no governo durante a campanha eleitoral, coube ao próprio Lula citar o pedido durante entrevista. Logicamente, o conteúdo, tratado com desdém por alguns petistas, mostrou que a apuração do editor de política do Bahia Notícias, Mauricio Leiro, mostrava um caminho não aventado até então. Só que o próprio presidente ponderou que não impediria nenhum dos ministros de ser candidato. Ou seja, mordeu e assoprou – algo típico de um político do calibre de Lula.

 

A conta de Rui, de ter o desejo de voltar as urnas em 2026 realizado, não leva em conta apenas o desejo da “chapa imbatível”, formada pelo criador dele, Wagner, e pelo pupilo, Jerônimo. É uma questão de sobrevivência. Tanto que, há algum tempo, circulam rumores de uma eventual substituição da candidatura à reeleição do governador por um retorno de Rui. É uma forma de manter recall político, dado à possibilidade de ficar duas eleições fora das urnas. A chance de perder musculatura e prestígio assusta, razão pela qual a maioria das situações criadas sempre colocam o ex-governador como protagonista das narrativas – e antagonista da manutenção da unidade da base aliada ao PT na Bahia.

 

Wagner conhece o sucessor bem. Sabe que, caso resolva mexer as peças no tabuleiro político, pode gerar a tão estabilidade do grupo, ao mesmo tempo em que pode contrariar os interesses de Rui. Talvez seja essa a razão pela qual ele foi um dos primeiros a defender a tal “chapa dos sonhos”, evitando escantear o pupilo antes das negociações serem iniciadas ou efetivadas. Ser afoito na política, pode custar mais do que amizades, algo que o abre-caminhos do PT na Bahia sabe mais do que outros.

 

Enquanto os sinais trocados circulam, Coronel e o PSD aguardam qual caminho seguir, sem também colocar o carro antes dos bois. Experimentados, sabem que um confronto direto e antecipado só geraria caos e tensão, algo evitável por agora. Talvez, na virada do ano, quando as perspectivas estiverem mais claras nos mais diversos cenários, aí sim pode ser o momento de incitar a guerra. Antes disso, é evitar perder as batalhas. Tal qual o disse me disse dos bastidores insiste em simular.

Opinião: Um Galinha no meio de raposas: como a Assembleia vai responder por um deputado preso?
Foto: Ascom/ AL-BA

A prisão do deputado estadual Binho Galinha (PRD), após dois dias foragido, deixou a Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) em uma situação, no mínimo, constrangedora. Desde a deflagração da primeira fase da Operação El Patrón, era esperado que os parlamentares iniciassem a avaliação da possível quebra de decoro do deputado de Feira de Santana. As acusações eram graves e, de tão graves, tornaram o Legislativo baiano "refém" de um integrante da própria Assembleia - as aspas na palavra são uma referência a expressão utilizada pelo então presidente da AL-BA, Adolfo Menezes (PSD), ao tratar do tema.

 

Agora, com o encarceramento de Binho Galinha, os deputados tendem a evitar que o caso respingue na classe política. Afinal, em tese, ter como colega o suposto chefe de uma milícia seria razão suficiente para dar andamento à virtual cassação do parlamentar.

 

Todavia, é possível que haja apenas a suspensão temporária do mandato. E o motivo é falado nos cantos, nos corredores, mas sem rostos ou declarações públicas. Todos têm medo de quem pode vir a ser Binho Galinha.

 

Em 2022, ao emergir das urnas, o novo deputado era um ilustre desconhecido da maioria da população baiana. Com votação predominante na região de Feira de Santana, houve uma busca por entender quem era Binho Galinha. Ali, antes mesmo da posse, alguns parlamentares comentavam, em off, que a fama do novo deputado não seria das melhores. Ainda assim, preferiam dar o benefício da dúvida, para saber se os rumores que circundavam o novo colega eram verdade.

 

E foi assim até dezembro de 2023, quando o Ministério Público da Bahia (MP-BA) fez a primeira incursão contra Binho Galinha, com a El Patrón. O que era tratado como rumor ganhou contornos de uma realidade dura e que colocava a AL-BA contra a parede em um nível sem precedentes na história recente.

 

Entre idas e vindas, um Conselho de Ética foi instalado, como uma espécie de resposta à pressão social que se formava. Contudo, o colegiado permaneceu inoperante, ainda que a denúncia tivesse sido aceita e Binho Galinha tenha se tornado réu pelos diversos crimes listados pelo MP-BA. Era como se a sombra do parlamentar inspirasse receio de que qualquer posicionamento em desfavor dele sempre estivesse presente.

 

Tudo o que se falava sobre o tema era cercado de cautela, para evitar contrariar os interesses de um deputado sempre presente e cuja naturalidade espantava, ainda que contra ele fossem imputados crimes graves.

 

Presente na sessão do último dia 30, Binho Galinha parecia bem confortável na casa do povo. Já não era mais o patinho feio que chegara como desconhecido e inspirava medo. Distribuía simpatia e, sim, continuava a inspirar medo. Tanto que, com mandado de prisão em aberto, fugiu para não ser preso no dia seguinte a uma última ida no plenário. Ficou dois dias foragido antes de se entregar a Polícia Federal com apoio de uma defesa milionária que assegura que ele é mais uma vítima do que um criminoso.

 

Atrás das grades, Binho Galinha deve ser julgado politicamente pelos pares. Por um constrangimento que os deputados postergaram o máximo possível.

 

A Assembleia, sempre formada por raposas políticas das mais diversas estirpes, se vê numa situação bem atípica. Lá, é um Galinha que amedronta as raposas. E haja razões para temer. O caso Binho Galinha deve ser um marco das relações políticas entre um Estado paralelo e o Estado real. De qual lado estaremos no futuro?

Opinião: Wagner e Otto sinalizam abrandamento de penas ao invés de anistia para condenados do 8 de janeiro
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Se a PEC da Blindagem já é uma página virada no Congresso Nacional, outro tema que engrossou o caldo das mobilizações há duas semanas voltou a ocupar espaço privilegiado nos debates. A anistia a condenados pelo 8 de janeiro de 2023 ganhou corpo com citações de políticos como Jaques Wagner (PT-BA) e Otto Alencar (PSD-BA), já na posição de não críticos absolutos do projeto. Sinal de que há a possibilidade de construção de consenso em um dos temas mais polêmicos e emblemáticos dos últimos anos.

 

Não restam dúvidas de que o movimento do 8 de janeiro de 2023 foi o ápice de movimentações para um golpe de estado - mal-sucedido, mas, ainda assim, um golpe. A condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e o núcleo considerado principal na trama golpista será considerado, pelos livros de história do futuro, como uma espécie de marco refundador da democracia no Brasil. Todavia, centenas de pessoas, massas de manobra desse segmento político, pagaram com o encarceramento a falta de discernimento ante o golpismo fracassado. São essas pessoas que, agora, tendem a ser beneficiadas com uma "anistia" moderada.

 

Pelas manifestações públicas e nos bastidores de atores políticos relevantes - incluindo aí ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) -, criou-se a perspectiva de abrandamento das penas, em um esforço para mitigar o efeito negativo de quem critica eventuais excessos nas condenações. Não se fala mais em anistia ampla e irrestrita, como o bolsonarismo-raiz tentou empurrar na Câmara dos Deputados. A própria escolha de Paulinho da Força (SD-SP) mostra que a moderação passou a ser crucial para "apaziguar o país" (as aspas também servem como ironia neste caso). Ou seja, se houver um consenso, os apenados pela tentativa de golpe podem ser beneficiados.

 

Talvez por isso as falas de Wagner e Otto sejam tão relevantes nesse contexto. Como líder do governo no Senado, o petista baiano abriu a porta para a possibilidade do entorno de Luiz Inácio Lula da Silva não criar dificuldades para a aprovação do projeto. E olha que a matéria sequer foi votada na Câmara ainda, sinal também de uma "preparação de terreno" para quando o "PL da anistia" avançar no Congresso. E ressaltemos: Wagner não falou em anistia irrestrita, apenas comentou sobre reduções de algumas penas.

 

Pouco depois, foi a vez de um poderoso Otto Alencar, responsável por sepultar a PEC da Blindagem na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, lançar mão de uma postura similar. Sugeriu o abrandamento das penas para pessoas com renda abaixo de R$ 5 mil, demarcando uma espécie de "justiça social e econômica". Surfando na própria construção de liderança respeitada, Otto mostra que, se houver consenso e uma preocupação não partidarizada dos condenados, ele pode evocar para si a responsabilidade desse diálogo.

 

Se houve combinação entre os dois senadores baianos, só o tempo para confirmar. Entretanto, o timming em que ambos se manifestaram sobre o mesmo tema sinaliza que existe espaço para discutir uma versão limitada de anistia aos acusados de golpe. Bem diferente daquela que pregaram os bolsonaristas radicais, que desejavam apenas beneficiar Bolsonaro e seus asseclas. Resta saber se a capacidade de mobilização que ajudou a por uma pá de cal na PEC da Blindagem vai manter o questionamento à anistia, transformada agora em abrandamento das penas.

Opinião: Chance de ACM Neto desistir de candidatura ao governo é remota – e improvável
Foto: Gabriel Lopes/ Bahia Notícias

Apesar dos adversários terem comemorado a hipótese de desistência de candidatura de ACM Neto ao governo da Bahia em 2026, a chance de concretização é baixa. Os mais diversos interlocutores que mantém contato frequente com o ex-prefeito de Salvador sobre o próximo pleito garantem: ele está estruturado e preparado para enfrentar o projeto de reeleição de Jerônimo Rodrigues – ou de quem eventualmente possa substituir o governador, caso se confirmem prognósticos pessimistas do petismo na Bahia. Porém, a frequência com que a saída de cena dele passou a ser notícia foi ampliada especialmente por “fogo amigo”.

 

Parte dos aliados do ex-prefeito querem, desde agora, que ele assuma compromissos difíceis de serem cumpridos. Especialmente do ponto de vista do financiamento de candidaturas. O nível de promessas do lado da base governista teria inflacionado o valor das campanhas, gerando pressão expressiva para que a oposição tente igualar as cifras. Essa leitura é feita não apenas no entorno mais próximo de ACM Neto, mas também de parlamentares que tentam a reeleição e mantém vínculos com lideranças do interior baiano.

 

Sem poder dizer “não” sorrindo, já que as máquinas sob comando da oposição têm limitações óbvias, o pré-candidato do União Brasil segue mitigando os impactos dos avanços da articulação política de Jerônimo, bem como os tais incêndios acesos por aliados – que estão mais preocupados com a própria campanha do que com a construção de uma musculatura política para enfrentar a consolidação dos 20 anos do PT no poder. Quase um beco sem saída, cujas opções são parcas e bem limitadas.

 

Por óbvio, o cenário não é mais dos positivos para ACM Neto. Especialmente pela falta de uma candidatura a presidente que o permita chamar de sua desde agora. Enquanto o favorito da centro-direita, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), não sai de cima do muro sobre ser candidato ao Palácio do Planalto, as conversas seguem em banho maria. Contudo, independente de ser Tarcísio ou não, o ex-prefeito de Salvador não teria que lidar com o fardo de uma candidatura de Jair Bolsonaro – o que seria o principal fator para uma desistência prévia de estar nas urnas.

 

A naturalidade com que a base de Jerônimo se refestelou com a possibilidade – remota – de ACM Neto não figurar como candidato no próximo ano é uma demonstração de que o grande nome da oposição na Bahia continua sendo um adversário expressivo e representativo. Caso contrário, o ex-prefeito seria ignorado, tal qual aconteceu com outros nomes que estiveram com o nome nas urnas e foram rapidamente sobrepujados pelos governistas. Ou seja, há receio do eminente enfrentamento entre os dois projetos nas urnas no próximo ano.

 

Jerônimo segue como favorito e como candidato a ser batido. Entretanto, diferente de 2022, quando foi eleito como o candidato do PT e de Lula, terá a gestão colocada à prova e uma realidade bem diferente do discurso da unificação do “Brasil democrático” contra a “ameaça Bolsonaro”. Nesse contexto, dentre outros fatores, ACM Neto teria poucos motivos para abandonar o barco.

Opinião: Condenação de Bolsonaro fragiliza bolsonarismo na Bahia e movimento tende a migrar apoio integral a ACM Neto
Foto: Max Haack/ Divulgação

Já praticamente irrisório na Bahia, o movimento bolsonarista deve ficar ainda mais fragilizado após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos de prisão. Ainda que existam figuras que se vangloriem como representantes legítimos dele por essas bandas, as chances de sobrevivência em um cenário adverso ficam ainda menores. Resta saber quanto tempo eles vão resistir na penúria de não ter mais o principal líder disponível nas urnas.

 

No último dia 7, algumas centenas de bolsonaristas se reuniram no Farol da Barra, em Salvador, numa tentativa de mostrar força no apoio à anistia e ao ex-presidente. O ato demonstra que tal grupo não está completamente morto. Só que, em um contexto da Bahia polarizada por outros dois grupos políticos - o petismo atualmente liderado por Jerônimo Rodrigues e a oposição com ACM Neto -, os apoiadores de Bolsonaro tendem a ficar cada vez mais isolados e cada vez menos representativos. Principalmente se houver o cumprimento da pena a partir de dezembro, como previsto após o fim do julgamento.

 

Obviamente, haverá quem insistirá na tese que Bolsonaro é maior que a prisão, transformando-o numa espécie de mártir tal qual os petistas fizeram no episódio da prisão de Luiz Inácio Lula da Silva. Essa mobilização, inclusive, pode dar um fôlego extra, evitando que haja a decretação do fim do bolsonarismo. Como a rejeição ao ex-presidente na Bahia sempre foi ampla, manter-se atrelado a Bolsonaro pode significar, no longo prazo, morrer por inanição, algo que, convenhamos, nenhum ator político almeja. É a lógica entre pular do barco enquanto é tempo ou afundar abraçado com uma figura que se mostrou individualista em diversas oportunidades.

 

Órfãos de uma liderança, não será antinatural que esse grupo migre para o representante do antipetismo na Bahia. Ou seja, ACM Neto tende a ser o beneficiário do esfacelamento do bolsonarismo por essas bandas. Por isso, já é perceptível a intensificação do discurso dos adversários de que o ex-prefeito de Salvador fora bolsonarista desde sempre. É uma mentira que, repetida muitas vezes, tem se transformado em uma verdade entre eleitores locais. Acuado em 2018 e 2022, formalmente, ACM Neto nunca aderiu a Bolsonaro com todas as suas forças e somente agora, com a federação entre União Brasil e Progressistas, assumiu pautas defendidas pelo entorno de Bolsonaro.

 

Uma espécie de atestado de que o bolsonarismo está fragilizado é a ausência de mobilização na Bahia após a condenação do ex-presidente. Depois de ameaças diversas, de que o Brasil iria parar caso o Supremo Tribunal Federal fosse por esse caminho, nada se cumpriu. No máximo, declarações de que houve "suprema injustiça" ou publicações em redes sociais. Os ativistas de sofá, então, parecem fazer mais volume em plataformas digitais do que na vida real. E a vida vai seguinte, como se estivéssemos vivendo um momento como outro qualquer. Ao que parece, os baianos viraram a página rápido. Mesmo os bolsonaristas.

Opinião: STF põe fim a narrativa de golpe que Bolsonaro construiu para si e para o Brasil
Foto: Lula Marques/ Agência PT

É impossível fingir que o roteiro do julgamento da trama golpista na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) não era esperado. Sem entrar em tecnicidades, é fato que houve um golpe tentado contra a democracia e a república entre 2019, quando tiveram início as narrativas já com o poder nas mãos, até o dia 8 de janeiro de 2023. Não enxergar o intento é tapar o sol com a peneira, algo que muitos fazem sem medo de queimar os olhos.

 

Jair Bolsonaro e o núcleo principal dessa trama, condenados à prisão nesta quinta-feira (11), simularam muito até chegarmos aqui. Simularam que não eram políticos, simularam que eram patriotas, simularam preocupações reais com o Brasil... No entanto, esses simulacros, felizmente, não resistiram às instituições, que, aos trancos e barrancos, sobreviveram - ainda que não incólumes.

 

O julgamento do STF é didático não por condenar a pessoa física Jair Bolsonaro. Mas por sepultar o esforço em golpear a ainda frágil democracia brasileira, reconquistada duramente há cerca de 40 anos. Os asseclas de Bolsonaro, tenha sido ele partícipe do golpe (ou não, como quis simular o ministro Luiz Fux), são tão culpados quanto as elites brasileiras que, em outras oportunidades, deram lastro para derrocadas da República no passado (sem esquecer que ela própria foi um golpe contra o Estado de então).

 

Infelizmente, há uma incompreensão grande sobre o antes, o durante e o após as construções narrativas que colocaram em xeque a estrutura democrática do Brasil. Tanto que vão pulular defensores da inocência e da anistia desse símbolo que tentam transformar em mártir e que, por uma peça pregada pelo destino, ocupou o Palácio do Planalto por quatro anos. De certo, viveremos ainda as instabilidades geradas e alimentadas por aqueles que preferem evitar obviedades.

 

A nova condenação de um ex-presidente não deveria ser motivo de celebração. Ao Brasil, caberia, principalmente, a vergonha de ver um ex-chefe de Estado ser colocado sob julgamento e acabar condenado. Porém, entre se omitir como aconteceu ao final da última ditadura e culpar quem crimes cometeu, a segunda opção é o melhor remédio possível (mesmo que amargo). Que a condenação de Bolsonaro seja um exemplo sobre como a democracia tem seus problemas e é cara. Mas consegue ser melhor que as outras opções de regimes de governo disponíveis.

 

Nesse duelo maniqueísta, que coloca o Brasil como uma referência no enfrentamento ao golpismo que incensa o mundo, tivemos um passo importante para salvaguardar o que entendemos por viver em liberdade. Aproveitemos!

Curtas do Poder

Ilustração de uma cobra verde vestindo um elegante terno azul, gravata escura e língua para fora
Sabe como os pais fingem que não têm um filho preferido? A mesma coisa acontece com os políticos. E vale tanto do lado do Soberano quanto do Cacique. Mas tem gente que corre o risco de perder o lugar. Fica de olho, DuBicho. Já a equipe do Bonitinho não sei se está muito satisfeita com o chefe. Enquanto isso, o Ferragamo é que parece que não gosta de si mesmo... Ou gosta demais, vai saber. Saiba mais!

Pérolas do Dia

Jaques Wagner

Jaques Wagner
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

"Te afianço que vamos corrigir, tanto em cima como embaixo". 


Disse o líder do governo, Jaques Wagner (PT-BA), durante a discussão na Comissão de Assuntos Econômicos sobre o projeto que eleva a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, indicando que a faixa de cobrança dos chamados “super-ricos”, que ganham acima de R$ 600 mil, precisaria ser retificada a cada ano.

Podcast

Projeto Prisma entrevista secretário de Desenvolvimento Econômico da Bahia Angelo Almeida

Projeto Prisma entrevista secretário de Desenvolvimento Econômico da Bahia Angelo Almeida
Secretário de Desenvolvimento Econômico da Bahia, e deputado estadual licenciado, Angelo Almeida (PSB) é o entrevistado Projeto Prisma nesta segunda-feira (3). O programa é exibido no YouTube do Bahia Notícias a partir das 16h.

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