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Artigos

Nelson Cadena
Conceição da Praia. A origem incerta
Foto: Acervo pessoal

Conceição da Praia. A origem incerta

A festa da Conceição da Praia, de data incerta quanto as suas origens, como todas as festas populares da Bahia, com exceção do Senhor do Bonfim (todas as datas de suposto origem foram inventadas por historiadores e pela imprensa ao longo dos séculos e a desinformação cristalizada) tudo indica que tenha surgido em meados do século 17. O compromisso da recém instituída Irmandade de Nossa Senhora da Conceição, em 1646, obrigava a “celebrar com particular ofício, e festa, sua Santíssima e Imaculada Conceição”. Qualquer data anterior à existência da Irmandade é fake news.

Multimídia

Paulo Souto afirma que ‘soutismo’ nunca existiu: “Fiz um propósito de nunca brigar com ACM"

Paulo Souto afirma que ‘soutismo’ nunca existiu: “Fiz um propósito de nunca brigar com ACM"
Em mais de 40 anos de atuação política na Bahia, Antônio Carlos Magalhães (ACM) liderou um grupo político de influência no Estado: o "carlismo". Uma das figuras do grupo era Paulo Souto, que foi governador da Bahia entre 1995 e 1998 e de 2003 a 2006. Comandando o executivo baiano, em dois mandatos, alcançando o Senado Federal entre eles (1999-2003), a popularidade de Paulo Souto cresceu ao ponto do surgimento de rumores da existência do "soutismo", que seria um grupo político dentro do carlismo e que apoiava Paulo Souto incondicionalmente. No entanto, os rumores são apenas isso, já que o grupo nunca existiu. Pelo menos foi o que afirmou Paulo Souto, durante entrevista ao Podcast Projeto Prisma, do Bahia Notícias.

Entrevistas

"Descaso da Via Bahia virou verdadeiro circo sem lona que enfraquece essa Casa", critica Eures Ribeiro

"Descaso da Via Bahia virou verdadeiro circo sem lona que enfraquece essa Casa", critica Eures Ribeiro
Foto: Carine Andrade / Bahia Notícias
Deputado estadual mais votado na região oeste, com mais de 70 mil votos, Eures Ribeiro (PSD) é um homem que ascendeu na política. Começou como vereador de Bom Jesus da Lapa, foi eleito deputado estadual (2011-2015), tendo renunciado em dezembro de 2012 para assumir o primeiro mandato de prefeito; também foi presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB), em 2017. Ao Bahia Notícias, Eures creditou às vitórias consecutivas nas urnas a sua simplicidade. “Eu fui criado na roça, carregava lata d’água na cabeça e olha onde eu cheguei? Eu devo tudo o que conquistei a Deus, ao povo e a espiritualidade”, refletiu, com olhar emocionado. À reportagem, o parlamentar falou de tudo um pouco: articulações políticas visando às eleições de 2024, CPI da Via Bahia, impactos da queda na receita do Fundo de Participação dos Municípios, PEC da Reeleição para presidente da Assembleia Legislativa, entre outros assuntos.

Equipe

Luis Ganem

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Produtor musical responsável por diversos sucessos nos anos noventa, trabalhou com política no governo Paulo Souto. Atualmente é crítico especializado em música da Coluna Holofote do Bahia Notícias.

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Últimas Notícias de Luis Ganem

Luis Ganem: O Jesus Sangalo que conheci, e que todo mundo deveria conhecer
Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

A vida é cheia de reparações. Se formos parar pra ver, sempre e a qualquer tempo estamos rearrumando a ordem das coisas, ou pelo menos, em tese, tentando. E nessa coisa de rearrumar, é preciso sempre rever o passado. Como bem disse o escritor irlandês Edmund Burke, “um povo que não conhece a sua história, está condenado a repeti-la” – no que concordo em gênero, número e grau.

 

Com isso e, falando em história, Fábio Almeida, ex-empresário de Ivete Sangalo, trouxe alguns dias atrás na entrevista que deu ao podcast Bargunça, parceiro do Bahia Notícias, a possibilidade de se revisar um pouco a história de Jesus Sangalo, tendo como pano de fundo as declarações do aludido entrevistado sobre as acusações imputadas a Jesus quando da saída dele do grupo IS. Importante mais uma vez ressaltar que esse texto aqui é muito mais sobre um amigo, do que sobre fatos ocorridos em outrora. Até porque a fala de Fábio Almeida trouxe, de pronto, um avivamento da amizade que comunguei com Jesus até a sua partida.

 

Conheço os Sangalo da adolescência, mais precisamente do Edifício Sparta. Esse que está situado no bairro da Pituba, na esquina da Rua Bahia com a Avenida Manoel Dias da Silva. Meu contato começa aí e se extingue, momentaneamente, também aí. Por circunstâncias da vida, depois de alguns anos, esse hiato é desfeito quando do reencontro em pontuais momentos de minha passagem pelo mundo artístico, e também quando nos esbarrávamos em um restaurante que gostávamos muito. Virava e mexia – no restaurante –, ou ele estava com a irmã ou sozinho. Sempre que podíamos, batíamos alguns papos (às vezes descontraídos, às vezes tensos), mas sempre com a cordialidade habitual de ambos.

 

E assim foi até que, num desses reencontros, por um acaso no Shopping Barra, em uma tarde de sábado, nos cumprimentamos e, por vontade mútua, acabamos mais uma vez conversando informalmente sobre vida, negócios e dia a dia. Daquele reencontro inusitado fez ressurgir ou surgir – como queiram– uma amizade que iria durar até a sua partida. 

 

E essa amizade só fez se fortalecer, pois por pensarmos sempre em negócios, acabava que quase todos os dias nos falávamos. 

 

Vendo a entrevista do agora ex-empresário Fábio e, dentro dessa amizade com Jesus, lembro que não foram poucos os momentos em que dado às lágrimas, falava da injustiça do julgamento público a que tinha sido submetido, e como se ressentia de não ter sido ouvido. Nesses momentos, sozinho com ele ou na companhia de seu também grande amigo, o produtor e empresário artístico Cícero Meneses, escutávamos e nos compadecíamos.

 

O que mais me impressionava naquilo tudo é que sempre via que a conta da culpa imputada não fechava. Quem conviveu com ele percebia a vida comedida e regrada, comparando ao período anterior a seu afastamento.

 

Mas como disse, não estou aqui para fazer apontamentos, nem cabe, mas sim para homenagear meu amigo, e contar algo que pra mim corrobora com a figura dele, nas inúmeras histórias que ouvi.

 

Vou contar uma que, pra mim, é fantástica. O ano é 2010. Ivete vinha em alta já há alguns anos no mercado musical brasileiro – nunca saiu, diga-se de passagem. Mas um inquieto Jesus achava que faltava algo. E esse algo, como ele mesmo dizia, era Ivetinha – nome falado com sotaque carregado do menino juazeirense – tocar no Madison Square Garden. Mas pra isso, tinha que convencer gravadora, artista, conseguir a data no Madison, angariar parcerias e muito mais.

 

Enfim, tudo muito difícil para pessoas que pensam reto. Mas lembrando da história, vejo que meu amigo Cetáceo (nos chamávamos assim, nunca entendi o porquê) não só pensava no resultado, mas também em como conseguir esse resultado. 

 

E foi com essa premissa de êxito que ele resolveu naquele momento – como me contou  – bater na porta da então TAM, hoje LATAM, para falar com alguém da presidência ou coisa assim sobre o projeto Madison. Isso sem marcar horário ou ter relação com a empresa – além do fato da banda e artista voar com eles em shows pelo Brasil, como qualquer outra produtora.

 

Mas o fato é que lá foi ele na cara de pau conversar. Recebido foi, e vendeu de forma clara a intenção da TAM ser a empresa parceira do maior acontecimento da década (e que ainda continua sendo um marco, na minha visão), que era o show de Ivete em Nova York.

 

De pronto, a diretoria ali presente ficou toda entusiasmada, mas logo com o valor pedido o entusiasmo deu lugar a uma frustração, quando perceberam que não teriam como bancar a jornada. Lembro bem que perguntei a Jesus se, quando ele tinha ido conversar, não sabia que o valor pedido iria ser negado – me permito não comentar de forma explicita, mas era alto. 

 

Como resposta, tive um “sim”. Ele sabia que iria ser negado, mas como tática comercial primeiro ele iria deixar todo mundo feliz com a proposta, depois triste com o valor, e finalmente feliz com a solução que ele apresentaria.

 

Queria poder comentar aqui qual foi o formato final, mas posso garantir que, literalmente, foi coisa de gênio. Lembro dele dizendo algo como: “Cetáceo, o povo da TAM sorria de um lado a outro”.  Enfim o que Jesus queria era dar o que eles precisavam, mas primeiro teria que dar o “doce”, puxar e devolver, pra todo mundo ficar feliz.

 

E assim aconteceu um dos DVDs mais importantes da música baiana, e da carreira da irmã, e que teve seu investimento retornado praticamente no decorrer da gravação. Falando isso, como uma alegria, um brilho nos olhos e bastante emocionado, para deleite de poucos ouvintes, eu entre eles.

 

Lembro bem da publicização desse megaevento com Ivete Sangalo fazendo uma performance de comissária de bordo da empresa aérea na viagem para Nova York. Algo inusitado para passageiros. 

 

Jesus partiu e deixou saudades. Jesus ajudou muita gente, mas muita gente mesmo! Foi amigo dos muitos que dele precisaram, e foi lepra pra alguns quando precisou. 

 

Falei com ele pouco antes da sua partida em uma ligação feita pelo mesmo, com ele gritando: “CETÁCEO”. Lembro que atendi respondendo da mesma forma. Tivemos nesse momento uma breve conversa de videofone. Era uma despedida. Era mesmo.

 

Jesus faz falta. Que bom que o empresário Fábio Almeida pôde tocar nesse assunto, e reafirmar o que Cetáceo falou até partir: que nunca roubou nada. Que bom aqui também poder contar um pouco da história dele, um pequeno ato, diga-se de passagem, diante de tudo que fez.

 

Finalizando meu texto, é como se estivesse vendo ele dizer com sua ironia: “esse Cetáceo é uma onda, todo emotivo”, com um sorriso irônico franzindo a testa.

 

Saudades, amigo Cetáceo. Saudades.

Luis Ganem: Se avexe não!

Luis Ganem: Se avexe não!
Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

Não estou aqui para falar mal de ninguém ou entender que esse ou aquele artista deve ser dono ou cativo de espaço. Mas há alguns dias nesse nosso mundo da música – que não o da música baiana –, um fato chamou mais uma vez a atenção. E digo mais uma vez porque já tinha havido um manifesto desse que vou comentar, salvo engano, em 2017, feito pela cantora Elba Ramalho. Só que, dessa vez, a polêmica se deu muito forte por conta das redes sociais. Falo do desabafo de Flavio José. Cantor de forró, renomado e veterano, que, nas palavras do mesmo, teve que diminuir o seu show para atender uma solicitação do cantante sertanejo Gusttavo Lima. 

 

Óbvio, o desabafo não foi a perda de tempo, mas sim o quanto o tradicional forró nordestino tem perdido espaço no período de São João para outros ritmos, principalmente o sertanejo.

 

Diminuir tempo é algo meio na medida do possível: nada demais. Fato corriqueiro até, dentro de um mercado onde os pares se conhecem. De forma pessoalista ou não, a pedidos, deve sim se manter um mínimo de relação de cortesia que é algo salutar inclusive. Mas fica complicado quando falamos de festas tradicionais, principalmente aquelas que reverenciam a cultura local enquanto pano de fundo.

 

O Nordeste quase todo – com exceção da Bahia – tem o forró como seu ritmo anual. Excluo a Bahia pois somos um Estado múltiplo em se tratando de música. Abarcamos vários ritmos de agosto até fevereiro e, de março até agosto, ficamos somente no forró – ao menos, deveria ser assim. Em outros Estados do Nordeste (não sei se em todos), o forró é algo cotidiano, enraizado na cultura do povo nos trezentos e sessenta e cinco dias do ano. 

 

Daí que começa a ser estranho, ao menos na visão dos mais tradicionalistas – e me coloco entre eles – certas exceções, que não se abarcam dentro das tradições culturais locais. E digo isso na tranquilidade de não ter vindo do forró, enquanto iniciação musical. Mas, independentemente das minhas vontades ou gostos, esse ritmo tem uma importância ímpar na solidificação de um povo. Seja por seu ritmo ou pela cultura composta nele. 

 

Ouvi enquanto contraponto dessa história toda da exigência do cantor Gusttavo Lima, inclusive como justificativa para tal situação, que, nos grandes eventos da cultura sertaneja, outros ritmos, inclusive o forró com seus grandes ícones a exemplo de Solange Almeida e Wesley Safadão – citando os dois maiores do forró – são permitidos, não ficando a grade somente voltada para o mundo sertanejo. 

 

Realmente desconheço a história e não sei dizer se é verdade ou não. E nem acho que tenha que se começar uma guerra musical entre ritmos. 

 

O que na minha visão talvez pese mais nisso tudo, e aí serve de alerta para qualquer ritmo de qualquer estrela musical, é a onda de boçalidade e desrespeito que tem vindo junto com alguns artistas sertanejos. 

 

Talvez (e digo “talvez” dando o direito ao contraditório e à ampla defesa”, o que mais me incomoda nessa história do direito de um em detrimento do outro é o famoso da atualidade se achar maior – por estar em alta no mercado comercial – e não respeitar o artista que está começando ou que já tem uma larga carreira consolidada e seu espaço garantido, porque precisa sair logo.

 

O que tem que ser pensado aqui, penso eu, além de ter que existir bairrismo sim na manutenção das tradições das festas Juninas, é o respeito ao artista de forró, à sua cultura e à sua gente.

 

Pra mim, além do descaso pela forma com que o fato passado por Flávio José foi tratado pelo cantor sertanejo, foi ver o seu deboche na justificativa do mesmo nas redes sociais, dizendo que passou por um “perrengue” e dando risada do fato. Isso sim é algo a ser questionado pelo meio artístico, principalmente pelos artistas do Nordeste.

 

A fruta podre em um cesto acaba com todas as outras. Infelizmente parece que o sertanejo começa a ficar “podre” pela soberba dos que se acham, sendo preciso que um freio seja dado pelos nossos artistas nordestinos, movidos ou não pelo ritmo do forró.

 

Particularmente o ritmo sertanejo não me atrai. E com esses gestos a vontade é menor ainda. Mas se eu não preciso de artista sertanejo pra viver, eles dependem do povo para sobreviverem enquanto artistas. E partindo dessa premissa, quem não respeita minha cultura e tudo que ela traz junto não merece meu aplauso.


Minha solidariedade a Flávio José e a todos os artistas de forró.

 

Viva São João, Viva São Pedro, viva o povo nordestino, viva o Nordeste Brasileiro!

 

 

Luis Ganem: Mais uma vez a mesma chatice

Luis Ganem: Mais uma vez a mesma chatice
Foto: Bahia Notícias

Esse meu mais recente texto, confesso, demorou. Estou aqui pela enésima vez pensando o que iria comentar, o que iria trazer enquanto análise crítica para o contexto do nosso mercado musical baiano. Os fatos artísticos e musicais que se sucederam na festa de momo deste ano são, talvez, dignos de nota – mas talvez, eu disse talvez. Clique aqui e leia o texto completo.

Luis Ganem: Mais uma vez a mesma chatice

Luis Ganem: Mais uma vez a mesma chatice
Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

Esse meu mais recente texto, confesso, demorou. Estou aqui pela enésima vez pensando o que iria comentar, o que iria trazer enquanto análise crítica para o contexto do nosso mercado musical baiano.

 

Os fatos artísticos e musicais que se sucederam na festa de momo deste ano são, talvez, dignos de nota – mas talvez, eu disse talvez.

 

Daí, queria algo que fosse novo, um fato à parte, mas de todo modo como é preciso escolher dentre os assuntos estão aí e, até para expressar a minha visão crítica, parei em algo que sempre observo e por isso pergunto: será que somente eu reparei, ou mais alguém percebeu a faixa etária das nossas estrelas baianas? Não que faixa etária seja demérito, e não é, mas será que foi somente eu que reparei, ou mais alguém percebeu que quase não existe nova safra na música da Bahia?

 

Dito isso, alguns vão dizer que existe renovação sim, e que está acontecendo de forma paulatina, sem pressa, sem pressão. Mas não é essa a impressão que tive e que vi. O que percebi de forma clara e inequívoca foi um apanhado de remakes, além de uma publicização feita a fórceps para vender o que já existe há muito tempo em total detrimento do novo.

 

Engraçado esse fenômeno de negação da renovação. É tão perceptível a falta de vontade de abrir espaço, é tão inacreditável, que passa despercebido. O espaço do sucesso está tão pequeno que nunca fez tanto efeito a história da “Farinha pouca, meu pirão primeiro”. E seja com artista de qualquer grandeza. 

 

Já falei tanto e falo há tanto tempo sobre isso, que chega a ser chato essa resenha, mas ninguém quer abrir os olhos pra isso, nem dar oportunidade para o novo. E quando falo ninguém, me refiro também às rádios – viu, senhores e senhoras coordenadores, que não propõem um espaço na sua grade pra apresentar o novo?

 

Dá pra contar nos dedos a renovação na nossa música. É chato ficar cobrando toda hora, eu sei, mas se isso não for feito, vai chegar o momento em que nada teremos pra mostrar e apenas receber e festejar os artistas vindos de fora. 

 

Inclusive não sei como isso não se tornou algo comum ainda. Já que tivemos alguns “ensaios” por aqui. Desde a vinda do cantor Michel Teló, passando por Jorge e Mateus e depois Wesley Safadão e mais alguns, essa tentativa de furar a bolha vem acontecendo sempre.

 

Vai chegar um momento em que isso vai se tornar o normal, mesmo que digam que nosso povo tem suingue próprio e não consegue aceitar o que vem de fora assim facilmente. Mas, lembre-se que, lá atrás, as festas eram sempre com mais artistas locais do que forasteiros, e agora, na sua grande maioria, salvo as de pagode suingueira, somos apenas coadjuvantes. Isso na minha visão, óbvio. Uns chamam isso de modernidade, de fator progresso; eu chamo de vacilo, de falta de visão, de desinteresse, de má vontade mesmo.

 

Pois esse foi o ponto de vista mais gritante pra mim no Carnaval que passou. Maior que a guerra de bastidores pelo lugar na fila do desfile na Barra, maior que nosso “Bozo” baiano que se acha, mas na verdade não percebe que tem um nariz vermelho na face, maior que ver artista de fora querendo cantar de galo longe do seu quintal, ou ainda perceber que aquele ou aquela artista toca o mesmo repertório há mais de “trocentos anos” – nada contra –, ou ainda perceber que existe um novo alento para o Campo Grande, mas que vai perpassar pela vontade das nossas autoridades locais. Enfim... A falta de renovação é maior que tudo isso que vi a mais.


Fui!

Luis Ganem: Vale a pena fazer um EP - sim ou não?
Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

Não vou começar meu texto dizendo que ‘já é carnaval cidade, acorda pra ver’. Nada contra a música do meu amigo Gerônimo – o compositor e cantor –, mas não vou começar com esse trecho da música, pois ele já é muito usado. Por mais que seja um ícone de versos carnavalescos, tal como a música de Nizan Guanaes, ‘We are the world of carnaval” – obviamente nada contra nenhuma das duas – dessa vez eu passo de fazer o jargão.

 

Mas, estamos no carnaval, e carnaval é música. Nem por isso quero falar sobre o título de melhor ou a mais tocada, ainda que, por óbvio, até o fim do meu texto eu vá expressar a minha opinião. O que quero falar mesmo é sobre o fenômeno do encolhimento de que a música baiana está acometida, já há alguns anos, por comodismo ou por falta de conteúdo mesmo.

 

Quero falar da falta de obras musicais completas. Quero falar sobre a falta de um álbum completo – já foi LP, depois CD, agora álbum ou o tal do moderno EP (extended play, com duas a cinco músicas e duração na casa de 30 minutos). É isso mesmo! Quero falar sobre o momento cômodo ou não, de não se ter mais uma obra musical completa como se tinha antigamente, como se a música que se produz nessa terra em tempos de Momo se resuma a apenas uma música empurrada goela abaixo, tendo que ser aceita de qualquer jeito. 

 

Comumente, a partir da introdução ao tema, esclareço nos meus textos como a coisa funcionava ou como era antigamente, fazendo o contraponto com o agora. Faço isso até como uma forma de poder exercer o meu ponto de vista para o tema por mim proposto. 

 

Já existiu um tempo na música baiana em que produzir um trabalho não era somente algo a ser feito em uma música ou faixa. Produzir uma obra musical completa era algo que demandava um razoável tempo na vida do artista. Em muitos casos, ao fim da folia – ainda na quarta de cinzas – já estava pensando o artista, grande ou pequeno, em preparar seu próximo disco – como era conhecido antigamente por conta de sua forma redonda e achatada. 

 

Nesse momento de outrora, fervilhava na Bahia uma gama extensa de compositores nos mais diversos ritmos, os quais eram procurados, assediados e até bajulados (os mais renomados) para que pudessem entregar algo novo, alguma nova música, aquele sucesso mais conhecido como a música do carnaval. 

 

Esse trabalho que estava sendo garimpado vinha em forma de um álbum completo. Quando digo completo falo de, pelo menos, doze faixas que eram disponibilizadas aleatoriamente, e que davam a oportunidade de se conhecer um pouco da virtuosidade do artista ou da banda, com os mais diversos formatos. 

 

O disco de um artista da Bahia, independentemente do ritmo que tocasse, vinha sempre recheado de andamentos. Da música lenta à mais acelerada, de um tudo se tocava e cantava.

 

E dava trabalho para levantar as músicas. Para se fazer isso, era preciso ir aos espaços onde a música acontecia – já falei sobre isso em outros textos. Do Beco de Gal na Vasco da Gama, passando pelos ensaios da terça do Olodum, na periferia de Salvador ou, ainda, através de amigos e achegados, conseguir músicas boas era extremamente trabalhoso. 

 

Era tanto trabalho correr atrás das músicas que se levava quase dois meses para isso. Essa recolha começava um pouco antes do carnaval, parava no período da folia, voltava logo após e só terminava no fim de março ou meados de abril por conta das tendências musicais que iriam ser apresentadas na folia, afinal, era preciso saber o que de novo estava sendo lançado e mesclar o ano que passou com o ano que viria e, isso demandava tempo. 

 

Isso sem contar as tendências que um artista ou outro lançava e que mudavam totalmente a linha de pensamento artístico daquele ano, o que também, a bem da verdade, não significava muito, pois a aposta do verão poderia estar escondida entre doze músicas de famosos ou não.

 

Hoje, ao que se vê, isso é obsoleto. Ao menos para a grande maioria do mercado, a tônica virou lançar duas músicas por ano, sem escolhas, empurradas como se o consumidor tivesse a obrigação de ouvi-las e aceitá-las como boas, sem o direito de escolher entre mais algumas, o que caracteriza a meu ver um empobrecimento cultural imenso. Afinal, pra que compor o tempo todo se a escolha recai em apenas uma música ou duas e mais nada?

 

Lógico, digo isso pela forma como o mercado se coloca, não querendo com isso acabar com o sonho de ninguém. Mas, é preciso deixar clara essa situação atual. 

 

O que já é diferente do sertanejo, que lança álbuns completos e não apenas singles. Ou quando lança o tal do single, o faz como faixa de um álbum ou trabalho mais completo. 


As tendências precisam mudar e é preciso que os mais conhecidos façam isso até como estímulo para os mais novos. 

 

Sou do entendimento de que é preciso continuar o garimpo de boas músicas, mesmo tendo sido criada a cultura da venda antecipada, do escritório agenciador de compositores e tudo mais. Gosto da tese de que o pouco é nada e que o muito é importante, sem essa de que tudo em excesso é sobra. 

 

Os melhores exemplos pra mim de que essa tendência pode e deve voltar são os lançamentos de EPs de Ivete Sangalo e Claudia Leitte – se não escutou, escute –, lançados salvo engano agora no fim de janeiro e que trazem uma mescla de músicas para todos os gostos e todas as escolhas. 

 

Ato pensado? Não sei. Só sei que, pra mim, pegou muito bem, mas muito mesmo. Pois talvez traga de volta uma tendência com viés positivo pra nosso mercado musical. 


Nosso mercado precisa ser reaquecido. É algo absurdo perceber a falta de produtividade musical/cultural da nossa música pela falta de procura. É preocupante perceber que não existe mais pluralidade na escolha e que é tudo fruto da mesma ideia dita de forma diferente. 

 

Não desqualifico o que é feito, pois pra mim tudo é música. Não crio apontamentos, mas óbvio que gostaria de ter a possibilidade de escolher algo entre o muito e não do que está aí. 

 

Aceitar do jeito que está, ou parecer descolado dizendo da falta de necessidade de se fazer mais é algo que não consigo. Não vou aceitar. Portanto, mais uma vez, fora do senso comum, penso ser necessário se repensar essa coisa de fazer uma ou duas faixas por ano e esperar apenas que se crie uma referência em rede social para que isso seja colocado como destaque de sucesso.

 

Quanto à música que mais gostei, ouvi todas. De meu amigo Bell, passando pelo gigante Léo, Escandurras, Xanddy Harmonia, Ivete Sangalo, Claudia Leitte etc., como disse, ouvi todas, apreciei todas, mas, gostei de uma que, por um acaso, ouvi despretensiosamente e que não está na lista que tem sido colocada para escolha.

 

A minha aposta por entender que a “possibilidade” de escolha entre as que estão fora da lista é algo salutar, mas, obviamente, dentro do meu feeling musical, é: ‘Se saia’ (Gigi Cerqueira, Ivete Sangalo, Radamés Venâncio, Samir Trindade), faixa do EP de Ivete Sangalo, que, pelo visto, não é a aposta nem a queridinha de ninguém, mas que se tornou a minha referência deste ano, por toda a alegria e espontaneidade que a sua harmonia e letra trazem.

 

Daí… não concorda? ‘Se saia’ e leva o trio, Motô!

Luis Ganem: Tive a oportunidade de tocar em um ensaio com Saulo
Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

Alguém aqui que não é músico, nem trabalha no meio artístico, tem ideia de como é tocar em um trio ou com artistas da música baiana? Acredito que ninguém – e me incluo – tem ideia de como é tocar em cima de um trio, por mais de três, quatro, cinco, seis horas, levando consigo um bloco e uma multidão a reboque. Pois bem, resolvi encarar esse desafio e conto um pouco agora como é tocar (ensaiar) com um grande músico. Clique aqui e leia o texto completo!

Luis Ganem: Tocando com Saulo

Luis Ganem: Tocando com Saulo
Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

Alguém aqui que não é músico, nem trabalha no meio artístico, tem ideia de como é tocar em um trio ou com artistas da música baiana? Acredito que ninguém – e me incluo – tem ideia de como é tocar em cima de um trio, por mais de três, quatro, cinco, seis horas, levando consigo um bloco e uma multidão a reboque.

 

Pois bem, resolvi encarar esse desafio e conto um pouco agora como é tocar (ensaiar) com um grande músico. Neste caso, estou falando de Saulo Fernandes, a quem pude finalmente (explico melhor no final) ver tocar em um pequeno show de mais ou menos uma hora. E lhe digo: é algo que beira a loucura e a extenuação.

 

Pois essa minha labuta começou há mais ou menos um mês, desde que encontrei com Saulo no aeroporto. Ele, indo para algum lugar que não lembro onde – salvo engano, Rio de Janeiro –, e eu voltando de São Paulo. 

 

Naquele momento conversamos um pouco, falamos sobre 2023, do fato dele ter uma agenda lotada, sobre o carnaval e as novas parcerias que ele trazia na “manga” para o verão. Enfim, falamos de tudo um pouco que se pode falar em um saguão de embarque/desembarque de aeroporto. E, com a chamada do voo, lá foi ele embora com cara de sono – nos encontramos quase de madrugada. 

 

Quando no carro, já deslocando para casa, me veio a ideia de fazer um texto em que pudesse expressar o que sente na pele um músico ao tocar por horas seguidas sem parar: que aflições acontecem ali no espaço do palco/trios, apenas bebendo líquidos e mais nada – quase sempre. No meu pensamento e tendo falado há pouco com Saulo, pensei: por que não fazer esse texto através de Saulo, um amigo de tantos anos?

 

A saber, sou músico amador – não toco por profissão. Sou um entusiasta do piano, instrumento de paixão desde a adolescência e que, há mais ou menos uns oito anos, resolvi trazer de novo a meu cotidiano. Com isso, voltei a praticar as técnicas musicais essenciais para ser um bom músico, ou pelo menos um mediano.

 

Mas fomos lá ensaiar com Saulo. De primeiro, é importante ressaltar que ficaria sendo a sombra do teclado principal, faria os timbres que faltassem ao Diretor Musical (Adriano Gaiarsa) e mais nada – até porque não teria tempo hábil de aprender todos os arranjos e convenções. Resolvi por conta disso, e como regra básica de qualquer músico, saber quais músicas teria que aprender no repertório. Afinal, mesmo me considerando um músico de bom ouvido, seria preciso saber os tons de cada música pra não ficar parando e voltando toda hora.

 

Somente essa parte, para se ter ideia, é algo que demanda um tempo absurdo. Tocar com um grande artista exige detalhes em cada música, que muitas vezes passam despercebido pelo público em geral, mas que são quase uma assinatura de qualidade musical de cada membro do produto. Pequenos detalhes como, por exemplo, fazer um acorde invertido ou a nota em voicing, trazem um prazer pessoal de tocar e atestam para uma comunidade própria – a comunidade musical –, o nível de capacidade técnica que se possui. 

 

E enfim estava lá eu a tirar as músicas e encaixar nelas os timbres que faltavam. Os músicos da banda de Saulo já se conhecem pelo olhar e pelo sorriso. Os desacertos – não posso considerar uma nota subtonada ou esquecida um erro pela qualidade musical dos caras – são falados e sacaneados com os olhos. Todos se compreendem a partir disso.

 

Em um primeiro momento, confesso, já não aguentava mais. Digo pra você que a fome vem em alta, sendo a primeira sensação desagradável. A sede e o cansaço mental chegam devagar. Ali perto da primeira hora, eu já estava pensando em parar tudo, estava realmente disposto a dar um stop. Mas, pelo pleno entendimento, resolvi tentar um pouco mais para conseguir entender as emoções de ser um músico profissional. 

 

A coisa é tão séria e tão profissional que, quando o cansaço faz você começar a se perder nas notas, bate um grande desespero. Entenda que tudo isso que estou contando aqui é na condição de tecladista, ou seja: tocando sentado em um banco, tendo um teclado à frente. Agora imagine quem fica em pé, que são todos os demais membros da banda, inclusive o cantor! Nunca imaginei – mesmo estando na música desde sempre – o quão difícil fosse tocar profissionalmente, principalmente no carnaval, que demanda horas e mais horas tocando. Desde então, quem faz da arte musical, especialmente a baiana, tem mais ainda o meu respeito e admiração. Olha, foram tantas sensações vivenciadas, e isso apenas em ensaios, que fiquei imaginando o nível de responsabilidade na rua, em que não é possível parar e voltar a música. 

 

E o meu corpo todo doía! Cóccix doía, coluna doía, meus dedos e punhos, por mais que tivesse feito alongamento antes de começar o ensaio, doíam. Eu suava às bicas, a camisa estava ensopada. No decorrer dos ensaios (foram quatro), tomei whisky, conhaque, energético, café com energético, água com açúcar, refrigerante, comi com uma das mãos, comi chocolate, pedi pra trazerem comida… Enfim, fiz todos os testes que pudesse fazer e digo pra quem acha que é moleza: não é. E digo isso mesmo estando em um ambiente “controlado”, no qual poderia parar a qualquer momento.

 

E foi isso que exatamente fiz, quando não aguentei mais. Parei a gravação pro Youtube do ensaio de Saulo Fernandes feito pela produtora Macaco Gordo, e resolvi escrever esse texto para reverenciar os músicos da nossa terra.

 

Isso mesmo! Meu ensaio com o cantor Saulo Fernandes foi feito em minha casa, eu acompanhando o mesmo, em uma série denominada MACACO SESSIONS, da produtora baiana Macaco Gordo. Lógico, adoraria que fosse algo real pra ter essa sensação de forma mais realista, mas o fato de ter levado a sério, e feito meio que igual como seria ao vivo, me permitiu ter mais ou menos uma ideia dos desafios de se tocar em trios e palcos.

 

Nossos músicos são especiais. São realmente diferenciados. Hoje compreendo mais do que nunca a energia que existe em um aplauso. E posso agora afirmar que músico tem que ganhar muito bem, muito bem mesmo. Valorizado e muito, pois quem segura o “barco” são eles. Por isso que o ganho tem que ser algo proporcional ao dono ou donos das bandas. 


Se antes aplaudia os amigos músicos, depois da experiência em diante, acredite: mesmo que seja uníssono, baterei palmas entusiasticamente para todo e qualquer músico dessa terra.

 

Nossos Gigi, Cesário Leone, Gerson Silva, Adriano Gaiarsa, Cara de Cobra, Maguininho, Luciano Sustenido, Robson Nonato, Bajara, Ziê, Cezar Túlio, Tiago Nunes, Márcio Brasil, Rambo, citando alguns grandes músicos ainda em atuação do ritmo axé, dentre muitos outros desse e de outros ritmos e, ainda passando pelas estrelas da nossa música, merecem muito, mas muito mais do que nosso aplauso. Merecem nosso respeito.

 

Ah! Quem quiser me convidar pra fazer um som, estamos aí! 

Luis Ganem: Meu encontro com Bell

Luis Ganem: Meu encontro com Bell
Foto: Bahia Notícias

Agora que acabou política, vamos falar um pouco de música, entretenimento. Apesar do futebol estar vindo aí com a Copa, é preciso falar também do nosso mercado musical, seus lamentos e suas histórias.

 

E uma delas quero contar aqui, sobre um bate-papo agradável que tive com Bell Marques em um encontro inusitado fora da Bahia, num ensolarado dia de domingo, desses que o sol e o céu parecem paisagem.

 

Lá estava eu em São Paulo resolvendo questões pessoais. Tinha saído de Salvador sexta-feira logo no voo da madrugada para poder chegar em SP cedo e, de pronto, começar a tratar tudo que precisava. Importante ressaltar que em São Paulo, a depender de onde você vá, das quatro opções uma: ou só se consegue andar depois das dez da manhã por conta do rodízio de carros; ou se fica preso em engarrafamentos imensos; ou, na via, se anda em velocidades mínimas; ou ainda, nada disso. Por isso minha pressa em chegar logo cedo.

 

São Paulo – diga-se de passagem, graças a Deus – voltou a ser uma grande casa para a nossa música. Falo de todos os nossos ritmos, inclusive o axé. A saber, todo ou quase todo o fim de semana tem um artista baiano tocando. Sempre que vou a São Paulo, procuro lugares onde a música Baiana esteja presente, o que antes da pandemia, com o estado de “coma” do Axé, estava ficando muito raro. Qualquer oportunidade que tenho, arranjo um pretexto para entender como anda nossa música Brasil afora, e São Paulo é importante nesse processo, por ser o celeiro cultural do País. Mas enfim, durante o dia e no decorrer do fim de semana, tendo resolvido quase tudo que queria, fiz meu roteiro musical e encontrei boas referências.

 

De Pablo a Tierry – hoje morando em terras Paulistas –, passando por Felipe Pezzoni da Banda Eva e chegando a Bell Marques, o fim de semana em São Paulo é uma festa metade baiana, metade sertaneja. Graças a Deus!

 

Mas sempre chega o domingo e, como em qualquer lugar do mundo, o domingo é o dia de nada a fazer. Domingo é aquele dia em que a preguiça chega com vontade e, em muitas vezes, se puder, você passa o dia todo na cama. Mas lembrando, eu estava em São Paulo, e fazer nada em terras paulistanas é algo improvável. 

 

Umas das coisas que se pensa em São Paulo, além de trabalho, é comer – eu e todo mundo! Fora a cultura, comer é algo para todos os gostos. Pense em algo pra comer, pode ter certeza ser quase impossível não existir em São Paulo e, nesse dia particularmente de calor insuportável – fazia uns vinte oito graus com uma sensação de trinta e três –, estava eu a pensar onde mataria a fome. Por etapa, ir para barzinhos de rua traria a contrariedade de ficar em uma fila sem saber por que foi formada – paulista adora fila. E no calor que estava fazendo, impossível eu, gordinho (gordo mesmo!), ficar. Da mesma forma que procurar um restaurante fora de shopping me deixaria na fila com fome e, possivelmente, todo suado. Daí o que me restava era ir para algum shopping com o ar-condicionado torando e... enfrentar uma fila (risos!). E foi isso que fiz: fui parar num shopping de São Paulo. 

 

A melhor coisa de almoçar em qualquer lugar fora do seu Estado, principalmente em São Paulo, é que em quase todo estabelecimento tem um baiano, ou um nordestino trabalhando. E lá estava eu almoçando em um desses restaurantes de shopping, quando a movimentação da garçonzada nordestina e dos transeuntes, além daquela voz com sua característica risada, me chamaram a atenção. Pensei: “rapaz, essa voz e essa risada eu conheço!”.

 

A Bahia musical tem muito disso, traços particulares em alguns dos nossos artistas que reconhecemos de pronto. E como percebi: lá estava o homem! Washington “Bell” Marques da Silva. Primeiro fiquei apenas observando a aproximação das pessoas. Estávamos em um shopping de alto poder aquisitivo paulista e, em tese, pessoas endinheiradas não se propõem a bajular ninguém, mas com Bell a coisa não funcionou assim. Muito assediado e mesmo ali almoçando com amigos, foi festejado a todo o momento e não deixou hora nenhuma de se levantar para atender a todos, sempre com seu sorriso característico no rosto.

 

Todo mundo, principalmente os jovens, paravam e pediam uma foto. Aqui confesso meu orgulho de ver isso acontecer. E, assim sendo, depois de ver tudo isso, olhei pra ele e falei: “Diga, Bell!”. De pronto, um sorriso e a voz igual à do carnaval (risos!) e uma resposta: “Diga, Luis!” – rapaz, parecia que estava no trio. Cumprimentos à parte, de forma prática, começamos um bate-papo sobre a música baiana.

 

Além da atenção dada, a conversa foi, por assim dizer, deveras interessante. Se eu tivesse alguma cisma (o que não tinha), teria acabado ali. Além da simpatia característica dele – o que evidenciou que a resenha que ele faz não é um formato carnavalesco que acontece somente em cima do trio ou no palco –, a lucidez e a visão do mercado aliada à simplicidade foram pontos que, confesso, me impressionaram.

 

Bell tem uma visão otimista do mercado, vê o momento da música baiana em um gráfico crescente, principalmente do Axé. Lá no dia, ele me falou que tem feito uma elevada média de shows mensais e que hoje o ritmo já está em alta em alguns lugares do Brasil, coisa impensável até pouco tempo atrás. O impressionante é que, enquanto a conversa rolava na mesa – preciso ressaltar a minha falta de educação, pois entrei no almoço dele com o empresário baiano Marcelo Pessoa, pra poder conversar sobre música e, por mais que Marcelo, por educação, tenha sido partícipe do assunto por mim trazido à baila, meio que atrapalhei a conversa dos caras –, as pessoas continuavam a vir pedir uma foto e eram sempre atendidas com entusiasmo.

 

Conversamos sobre quase tudo. Sobre ele, sobre Rafa e Pipo (seus filhos, também artistas da música Baiana), sobre parcerias com o Sertanejo e com o Forró Eletrônico... Disse a ele em dado momento da nossa conversa que já o critiquei por entender que ele atrapalhava os voos dos meninos, mas entendi a visão do Pai. Enfim, falamos sobre o carnaval 2022/2023, o qual Bell acredita que será o ano da virada da nossa música. 


Bell está feliz, ao menos pareceu assim. Foi bom ouvi-lo. Mesmo que logicamente me veja ali como um ente da mídia, não percebi em momento algum a vontade de parecer maior do que já é, ou vender ilusões ou algo irreal.  A renovação de metas fez bem pra ele, o renovou. Me pareceu um cara feliz, bem resolvido consigo mesmo. Pude conhecer também um Bell clássico, refinado e de uma fina educação. Apreciador de bons vinhos – passaram bons rótulos pelo seu paladar –, Bell tem uma fala linear, pausada, limpa como o som do seu trio. Como disse, pilotar o novo vem fazendo bem pra ele e, acredito, para o mercado. É fato e perceptível que ele conhece seu lugar e sua representatividade nesse nosso negócio.

 

Nossa música é um reino lúdico cheio de nobres. De rainhas como Daniela, Ivete, Claudia, a Reis e príncipes como Durval, Léo Santana, Pablo, Tierry, Xandy do Harmonia e muitos outros, no nosso reino encantando da música Baiana, talvez e somente talvez, também tenha seu Embaixador, aquele que consegue levar o nome do seu reino a todos os cantos.

 

Vi esse personagem em Bell, não pela conversa em si, mas por ter ali naquele shopping que representa o PIB da burguesia paulistana e paulista, várias deferências a sua presença.

 

E como o mesmo diria: Eh! Eh!...Vai! Vai! Vai!

 

Fui.

Luis Ganem: Adeus Barra, Welcome Boca do Rio!

Luis Ganem: Adeus Barra, Welcome Boca do Rio!
Foto: Divulgação

A saída do carnaval do bairro da Barra é algo meio que um sonho dos seus moradores há muito tempo. Creio que, desde que o circuito foi criado, seus moradores começaram a sonhar com o fim dele. É forçoso dizer que o circuito, na sua concepção original, previa, salvo engano, melhoria nas ruas principais e adjacências do bairro, além do incremento do comércio, trazendo mais movimento comercial para a Barra, que era até então somente um bairro residencial. Mas, infelizmente – na visão dos moradores –, com a chegada do circuito e sua consolidação, a melhora que era um sonho acabou-se tornando uma realidade muito dura. O que eventualmente foi bom para o comércio – até onde eu sei – tornou-se ruim para os moradores. Clique aqui e leia a coluna completa!

Luis Ganem: Adeus Barra, Welcome Boca do Rio!

Luis Ganem: Adeus Barra, Welcome Boca do Rio!
Foto: Divulgação

A saída do carnaval do bairro da Barra é algo meio que um sonho dos seus moradores há muito tempo. Creio que, desde que o circuito foi criado, seus moradores começaram a sonhar com o fim dele. É forçoso dizer que o circuito, na sua concepção original, previa, salvo engano, melhoria nas ruas principais e adjacências do bairro, além do incremento do comércio, trazendo mais movimento comercial para a Barra, que era até então somente um bairro residencial. Mas, infelizmente – na visão dos moradores –, com a chegada do circuito e sua consolidação, a melhora que era um sonho acabou-se tornando uma realidade muito dura. O que eventualmente foi bom para o comércio – até onde eu sei – tornou-se ruim para os moradores.

 

Importante lembrar que no começo do circuito Barra, tudo era bom (sossegado). Desde a tranquilidade de acesso, passando por onde estacionar – quando praticamente se parava na rua paralela à principal, nada era complicado. O Circuito era tão família que as pessoas levavam seu isopor – isto mesmo: isopor! – ou ficavam em algumas barracas dispostas no circuito, principalmente em ondina, para poder apreciar o que passava, fosse bloco ou trio.

 

Mas, enfim, o começo do fim chegou ou começou a chegar. Como tudo sempre acaba, eis que a prefeitura se pronunciou e começou a informar da grande chance do carnaval da Barra ir para outro local. Não sei dizer se por completo ou só uma parte, mas a verdade é que já existe, agora de forma explícita, o pensamento de um novo local para o carnaval acontecer nos próximos anos.

 

E com isso, mais que pertinentes, começam as perguntas, ao menos algumas, para tentar entender o desenho do que virá por aí. É preciso entender que, se antes adaptávamos o carnaval a uma avenida e nela encaixávamos os detalhes, agora, com o anúncio da possibilidade de mudança, poderemos fazer um carnaval planejado na sua estrutura.

 

É fato que, não raro, o novo traz consigo questionamentos, fake news, teorias da conspiração e tudo o mais que a mente humana imagine ou possa vir a imaginar, e, é por isso, que, na minha opinião, o ente público precisa o quanto antes começar a publicar as regras do novo circuito, para que não fiquem dúvidas sobre esse espaço.

 

O bom dessa história toda – e, felizmente, sempre tem algo de bom – é que ao menos o carnaval volta a ter alguma visibilidade, mínima que seja, com essa possibilidade de mudança ou criação de outro circuito. O anúncio serviu para alguns poucos comentarem com outros poucos o que pode vir a ocorrer, e isto já ajuda, uma vez que antes, com o axé apagado do cenário, nada se falava.

 

O interessante nisso tudo é de como será o circuito (sem corredor da folia, com corredor da folia, fechado cobrando ingresso, aberto pra quem quiser vir), enfim, vamos ver como tradicionais blocos e camarotes serão distribuídos na festa e, como será o pleito dos novos que também vão querer um lugar ao sol e uma fatia desse bolo. Isso sim, é algo que fará parte de muitas rodas de resenha, muitos achismos e teorias. Até porque, tudo vai girar em torno de qual vai ser a modalidade de circuito, penso eu.

 

E nisso, estamos falando de muitos critérios indefinidos até o momento, como, por exemplo: caso o circuito tenha pórtico de entrada e de saída e, a depender onde seja esse pórtico e, se acontecer de dia, quem seria ou quem será o primeiro bloco a sair? O formato será o mesmo da Barra, já que só fez mudar de lugar?

 

Como serão dispostos os camarotes ao longo da avenida? Em sendo o mesmo formato da Barra, que camarote fica na entrada do circuito e qual fica na saída – em princípio os melhores lugares da festa. O camarote vai precisar passar pelo crivo da prefeitura; será sorteio ou quem chegar primeiro?

 

Nos moldes desse novo circuito, é importante frisar que a identidade histórica do carnaval de Salvador, que é a espontaneidade do circuito de rua, perderá metade do seu valor histórico, compreendendo que o carnaval surgiu como manifestação popular, pelas ruas da cidade velha (Avenida Sete de Setembro).

 

Em sendo assim, teremos aí os moldes das grandes micaretas fora de época, que trazem como principal característica o “controle” total do espaço, com todas as logísticas possíveis e imagináveis.

 

Lógico que, dito tudo isso, é preciso saber que os tradicionais circuitos deverão continuar a existir e apenas o business passará a ser em um novo espaço, liberando os tradicionais para dar voz e vez ao folião que não mais conseguia se expressar, “engolido” que foi pelos blocos, camarotes e suas estrelas.

 

 

Afinal, se para alguns o Carnaval é negócio, para outros ainda é a melhor forma de extravasar, liberar e jogar tudo para o ar!!! (risos!).

Curtas do Poder

Ilustração de uma cobra verde vestindo um elegante terno azul, gravata escura e língua para fora
Mexeram numa história com tão complexa na Câmara de Salvador que tão tirando o sono da casta alta. Se eu fosse Mumu, desligava o celular. Enquanto isso, Peter foi pedir umas dicas pra Bell. Mas de tanta dica, acho que o Cacique tá ficando cada vez mais igual ao Molusco. E o Ferragamo quase tem motivos pra comemorar. Saiba mais!
Marca Metropoles

Pérolas do Dia

Binho Galinha

Binho Galinha
Foto: Ascom AL-BA/ Agência ALBA

"Confio na justiça e estou à disposição". 

 

Disse o deputado estadual Binho Galinha (Patriota) ao comentar sobre as acusações que apontam o parlamentar como chefe de uma milícia. 
 

Podcast

Terceiro Turno: Em busca do balanço da gestão e política, Jerônimo Rodrigues chega ao final do primeiro ano de mandato

Terceiro Turno: Em busca do balanço da gestão e política, Jerônimo Rodrigues chega ao final do primeiro ano de mandato
Arte: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias
Representando a continuidade de um projeto vitorioso na Bahia, o governador Jerônimo Rodrigues está chegando ao seu primeiro ano de gestão com o comando da máquina estadual. Passado um ano da eleição, Jerônimo segue buscando imprimir sua marca no governo.

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