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Luis Ganem: Se avexe não!

Por Luis Ganem

Luis Ganem: Se avexe não!
Foto: Igor Barreto / Bahia Notícias

Não estou aqui para falar mal de ninguém ou entender que esse ou aquele artista deve ser dono ou cativo de espaço. Mas há alguns dias nesse nosso mundo da música – que não o da música baiana –, um fato chamou mais uma vez a atenção. E digo mais uma vez porque já tinha havido um manifesto desse que vou comentar, salvo engano, em 2017, feito pela cantora Elba Ramalho. Só que, dessa vez, a polêmica se deu muito forte por conta das redes sociais. Falo do desabafo de Flavio José. Cantor de forró, renomado e veterano, que, nas palavras do mesmo, teve que diminuir o seu show para atender uma solicitação do cantante sertanejo Gusttavo Lima. 

 

Óbvio, o desabafo não foi a perda de tempo, mas sim o quanto o tradicional forró nordestino tem perdido espaço no período de São João para outros ritmos, principalmente o sertanejo.

 

Diminuir tempo é algo meio na medida do possível: nada demais. Fato corriqueiro até, dentro de um mercado onde os pares se conhecem. De forma pessoalista ou não, a pedidos, deve sim se manter um mínimo de relação de cortesia que é algo salutar inclusive. Mas fica complicado quando falamos de festas tradicionais, principalmente aquelas que reverenciam a cultura local enquanto pano de fundo.

 

O Nordeste quase todo – com exceção da Bahia – tem o forró como seu ritmo anual. Excluo a Bahia pois somos um Estado múltiplo em se tratando de música. Abarcamos vários ritmos de agosto até fevereiro e, de março até agosto, ficamos somente no forró – ao menos, deveria ser assim. Em outros Estados do Nordeste (não sei se em todos), o forró é algo cotidiano, enraizado na cultura do povo nos trezentos e sessenta e cinco dias do ano. 

 

Daí que começa a ser estranho, ao menos na visão dos mais tradicionalistas – e me coloco entre eles – certas exceções, que não se abarcam dentro das tradições culturais locais. E digo isso na tranquilidade de não ter vindo do forró, enquanto iniciação musical. Mas, independentemente das minhas vontades ou gostos, esse ritmo tem uma importância ímpar na solidificação de um povo. Seja por seu ritmo ou pela cultura composta nele. 

 

Ouvi enquanto contraponto dessa história toda da exigência do cantor Gusttavo Lima, inclusive como justificativa para tal situação, que, nos grandes eventos da cultura sertaneja, outros ritmos, inclusive o forró com seus grandes ícones a exemplo de Solange Almeida e Wesley Safadão – citando os dois maiores do forró – são permitidos, não ficando a grade somente voltada para o mundo sertanejo. 

 

Realmente desconheço a história e não sei dizer se é verdade ou não. E nem acho que tenha que se começar uma guerra musical entre ritmos. 

 

O que na minha visão talvez pese mais nisso tudo, e aí serve de alerta para qualquer ritmo de qualquer estrela musical, é a onda de boçalidade e desrespeito que tem vindo junto com alguns artistas sertanejos. 

 

Talvez (e digo “talvez” dando o direito ao contraditório e à ampla defesa”, o que mais me incomoda nessa história do direito de um em detrimento do outro é o famoso da atualidade se achar maior – por estar em alta no mercado comercial – e não respeitar o artista que está começando ou que já tem uma larga carreira consolidada e seu espaço garantido, porque precisa sair logo.

 

O que tem que ser pensado aqui, penso eu, além de ter que existir bairrismo sim na manutenção das tradições das festas Juninas, é o respeito ao artista de forró, à sua cultura e à sua gente.

 

Pra mim, além do descaso pela forma com que o fato passado por Flávio José foi tratado pelo cantor sertanejo, foi ver o seu deboche na justificativa do mesmo nas redes sociais, dizendo que passou por um “perrengue” e dando risada do fato. Isso sim é algo a ser questionado pelo meio artístico, principalmente pelos artistas do Nordeste.

 

A fruta podre em um cesto acaba com todas as outras. Infelizmente parece que o sertanejo começa a ficar “podre” pela soberba dos que se acham, sendo preciso que um freio seja dado pelos nossos artistas nordestinos, movidos ou não pelo ritmo do forró.

 

Particularmente o ritmo sertanejo não me atrai. E com esses gestos a vontade é menor ainda. Mas se eu não preciso de artista sertanejo pra viver, eles dependem do povo para sobreviverem enquanto artistas. E partindo dessa premissa, quem não respeita minha cultura e tudo que ela traz junto não merece meu aplauso.


Minha solidariedade a Flávio José e a todos os artistas de forró.

 

Viva São João, Viva São Pedro, viva o povo nordestino, viva o Nordeste Brasileiro!