Opinião: Anuário de Segurança Pública expõe, mais uma vez, maior calo do petismo na Bahia
Por Fernando Duarte
Mais uma vez, os números do Anuário de Segurança Pública trazem más notícias para os baianos, com o topo de mortes violentas, de mortes por ações da polícia e de mortes de policiais. Um combo de dados que mostram que os esforços firmados até aqui pelo governo da Bahia não deram certo. Trata-se de um cenário pragmático para a oposição fazer uso político-eleitoral de uma guerra não declarada que vivemos.
Por mais que haja um discurso de terceirização da violência por parte de agentes públicos, no longo prazo não funciona. De certo, a responsabilidade sobre o tema deve ser compartilhada com outros entes, como a União e os municípios. Mas não apenas. E isso é que gera um incômodo com os quase 20 anos da Bahia sob a égide do PT. É como se, nas sucessivas batalhas contra a violência, temos perdido a guerra. Com a sensação de que já naturalizamos um noticiário funesto e com pitadas de sadismo com sangue alheio - majoritariamente de jovens negros e periféricos (ainda que esse último conceito não se aplique diretamente aos pequenos municípios).
Pelo menos desde Rui Costa, as reações do governo da Bahia aos números da violência têm sido pouco eficazes. O atual gestor, Jerônimo Rodrigues, não perdeu a mão com analogias futebolísticas, porém também esteve longe de dar uma resposta eficiente - do ponto de vista discursivo - para tranquilizar os baianos. O máximo que ambos fizeram foi ressaltar os investimentos na área de segurança pública, que não se converteram em sensação de segurança à população. Ou seja, mesmo sob a perspectiva do discurso, estamos a léguas de enfrentar seriamente a violência.
Tais dados transformam o tema em um prato cheio para a oposição, que tem reiterado o agendamento do debate público da segurança pública. Logicamente, os apoiadores do governo insistem em minimizar os impactos das críticas, principalmente ao desconsiderarem qualquer discussão sobre a temática. O próprio líder-mor dos adversários, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, tem sido relativamente cortês ao falar sobre o assunto, e todas as vezes a resposta dada foi de que ele não teria envergadura para ser crítico. Ao invés da mensagem ser o foco, o mensageiro é o problema. Um erro que até tem funcionado como estratégia eleitoral, mas que dá sinais de desgastes.
Quando chegar em 2026, será compreensível que a segurança pública seja explorada eleitoralmente. O tom, por enquanto, está controlado e sem o alarme que poderia ter. Porém Jerônimo tende a ser jogado nas cordas e, algumas vezes quando provocado, já deu exemplos de uma postura reativa e fora do esperado. Caso ACM Neto saiba como atingi-lo, o calo do tema vai ser o mais dolorido do legado petista até aqui.