De fogo em fogo, Rui assume papel de bombeiro para manter a base
Por Fernando Duarte
Passada a euforia com o início, ainda que capenga, da campanha de vacinação contra a Covid-19 e a tristeza com a saída da Ford da Bahia, assuntos menores devem voltar à pauta política baiana, como, por exemplo, a reforma do secretariado do governador Rui Costa. O petista não deu qualquer sinal de quais mudanças deve fazer, porém a bolsa de apostas aponta a substituição de interinos e, no máximo, a arrumação de espaços para “punir” os infiéis que embarcaram no projeto de Bruno Reis e ACM Neto em Salvador.
Essa reconfiguração do primeiro escalão promete novas tensões na base aliada. Rui teve um primeiro incêndio com a sucessão na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), após o Progressistas tentar bancar a manutenção da presidência sob o seu guarda-chuva. Deu trabalho, porém o governador conseguiu debelar as chamas, após muita conversa e também muita reclamação de aliados, que consideravam a postura do PP desleal ao partir do descumprimento de um acordo chancelado por Rui. Nessa disputa, o PSD e Adolfo Menezes acabaram beneficiados, ainda que isso tenha aumentado o poder da legenda.
Acontece que, malmente as cinzas tinham começado a se formar, um novo foco de incêndio apareceu, com a declaração de que João Leão iria para a Casa Civil e o ainda presidente da Assembleia, Nelson Leal, herdaria a Secretaria de Desenvolvimento Econômico. A informação partiu, como se sabe, do núcleo ligado ao vice-governador, que tentou empurrar Rui, mais uma vez, contra a parede. Ao sugerir essas mudanças, Leão estaria tentando compensar a força do PSD no governo, sob o pretexto de que o PP é uma das principais forças políticas e estaria desprestigiado.
Há muito gogó de Leão, mas também a experiência de quem não dá ponto sem nó. O vice sabe que tende a ser o elo mais frágil da tríplice aliança e está construindo, meio que sem compromisso, os argumentos que justifiquem um eventual rompimento em 2022. O PP é o grande partido da base de Rui mais próximo ao grupo político de ACM Neto e não seria surpresa se desembarcasse do projeto petista na Bahia. Na dúvida sobre que caminho seguir, melhor deixar pronto um pacote de desculpas para justificar a decisão.
A ida de Leão para a Casa Civil não chegaria a ser inédita. Nos últimos instantes de João Henrique na prefeitura de Salvador coube a ele esse papel - piada pronta que imagino que Rui não queira imitar. Porém premiar Nelson Leal após criar a tensão que quase gerou uma fratura precoce na base aliada não parece ser muito o perfil de Rui. Dar as duas cadeiras ao Progressistas, ainda que sirva de consolação para o futuro ex-presidente da AL-BA, não combinaria com o histórico do governador.
Dos aliados, apenas o deputado Marcelo Nilo (PSB) bradou. É um dos poucos a ter coragem de criticar publicamente Rui. Por mais que os motivos não sejam apenas esses relacionados ao PP, Nilo expõe que Leão criou uma nova fagulha que pode incendiar a base do governo. A versão bombeiro do chefe do Executivo vai ter que voltar a atuar para não ampliar a celeuma. E a reforma do secretariado será apenas mais uma das muitas que se rascunham até 2022.
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